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Comentários
O contador irá detectar o decaimento, quando houver, independente da observação do gato. Pois seja lá o que for que provoque o decaimento aleatório dentro do núcleo, estará isolado da capacidade bruta de observação de qualquer agente consciente externo.
Entretanto, o argumento é que, se justamente nada estiver observando o estado do núcleo ele deveria estar em um estado quântico, com as várias possibilidades de decaimento coexistindo ao mesmo tempo.
Mesmo assim o fato de observar o gato não infuiría no que ocorre dentro do núcleo, ademais as próprias interações entre as partes e forças do núcleo seriam os responsáveis pelos decaimentos, e pesquisas atuais parecem sugerir que os neutrinos também tem alguma influência nesses decaimentos.
'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)
Comentando a concessão deste Nobel de Física aos cientistas David Wineland e Serge Haroche, a última edição de Veja atribui o prêmio à verificação em laboratório do paradoxo da mecânica quântica, intitulado o Gato de Schrödinger, que estaria morto e vivo ao mesmo tempo. Vamos ao gato. Segundo as enciclopédias, este experimento mental consiste em um gato preso dentro de uma caixa sem transparências, junto a um frasco de veneno e um contador Geiger ligados por um relé, e um martelo. O contador Geiger será acionado ou não. Se for, transmitirá movimento através do relé; o martelo baterá no frasco de veneno quebrando-o e o gato morrerá. Mas se o contador não for acionado, o martelo não quebrará o frasco e o gato permanecerá vivo. Esse experimento mental foi proposto por Erwin Schrödinger em 1935 para demonstrar os estados de superposição quântica: só saberemos se o gato está vivo ou morto se abrirmos a caixa, mas se isso for feito, alteraremos a possibilidade do gato estar vivo ou morto. O princípio está intrinsecamente ligado ao Princípio da Incerteza de Heisenberg, que por sua vez está ligado ao paradoxo de Zenão de Eléia. A vigarice vem de longe. Ora, fere a evidência afirmar que um gato está morto e vivo ao mesmo tempo. Você pode jogar com palavras à vontade. Mas o gato ou está vivo...ou está morto. É espantoso como o homem contemporâneo é crédulo a ponto de negar o óbvio, desde que esta negação do óbvio seja proferida por alguma alta autoridade. E mais: que seja ininteligível. O ser humano adora crer no que não entende. Você pode até aceitar o paradoxo lógico. Mas lógica é criação mental. Realidade é outra coisa. Confesso não saber se foi por estas razões que o prêmio foi concedido. Até hoje há quem acredite que Einstein recebeu o Nobel pela teoria da relatividade. Não foi. O comitê do Nobel foi alertado de seu plágio e conferiu-lhe o prêmio pelo efeito fotoelétrico. Mas vamos que tenha sido pelo experimento de Schrödinger. Se o foi, o prêmio Nobel de Física cai, em meu conceito, para o mesmo conceito que tenho dos Nobéis de Paz e Literatura. Seja como for, Veja é muito crédula em matéria de vigarices. Em outubro de 2010, com o título de capa “Medicina e Fé”, a revista, em um atentado à ciência, fazia um aceno à terapia espírita, à impostação de mãos e ao tal de reiki. Ora, a imposição de mãos, na verdade, é uma antiga picaretagem, retomada por Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec (1804 – 1869), que misturou evangelhos com a teoria do magnetismo animal do austríaco Franz Anton Mesmer, com mais algumas pitadas de budismo, no caso, a reencarnação. Mesmer era médico, estudava teologia e instituiu como terapia a imposição das mãos. Criação nada original, afinal já está nos Evangelhos. Se voltarmos um pouco atrás, encontraremos a prática no Egito, no templo da deusa Isis, onde multidões buscavam o alívio dos sofrimentos junto aos sacerdotes, que lhes aplicavam a imposição das mãos. Segundo a revista, o biólogo Ricardo Monezi, pesquisador de medicina comportamental na Universidade Federal de São Paulo, testou a influência da impostação de mãos (técnica chupada tanto pelo reiki como pelos espíritas) em ratos com câncer, divididos em três grupos. No terceiro, submetido à impostação de mãos, as células de defesa foram até 50% mais eficientes no combate às células tumorais do que as dos outros ratos. (Comentei há pouco esta vigarice). Sem falar no famoso caso do boimate, que sempre é bom relembrar. Em 1983, a revista endossou como verdade científica uma brincadeira lançada pela revista inglesa New Science. Tratava-se de uma nova conquista científica, um fruto de carne, derivado da fusão da carne do boi e do tomate, que recebeu o nome de boimate. Se a editoria de ciências visse esta notícia num jornal brasileiro, evidentemente ficaria com um pé atrás. Para a revista, a experiência dos pesquisadores alemães permitia “sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica". Isso que a New Science dava uma série de pistas para evidenciar a piada: os biólogos Barry McDonald e William Wimpey tinham esses nomes para lembrar as cadeias internacionais de alimentação McDonald´s e Wimpy´s. A Universidade de Hamburgo, palco do "grande fato", foi citada para que pudesse ser cotejada com hambúrguer. Os alertas de nada adiantaram. Como se tratava de uma prestigiosa publicação européia, a Veja embarcou com entusiasmo na piada. Vejo no entanto que a imprensa internacional tem associado pelo menos o nome de Serge Haroche ao gato de Schrödinger. Consta inclusive que Brigite Bardot está exultante, porque desta vez tem certeza de que o gato vai sobreviver. Quanto a mim, reitero que nada entendo de física quântica. Já quanto à picaretagem...
http://www.baguete.com.br/colunistas/colunas/31/janer-cristaldo/17/10/2012/o-gato-de-schroedinger-e-a-humana-credulidade