Quanto mais o keynesianismo fracassa, mais ele é ressuscitado sob novas promessas de prosperidade
Esse fenômeno de inflação em alta ocorrendo simultaneamente a uma aguda recessão simplesmente não poderia ocorrer, de acordo com a visão keynesiana do mundo. Tais eventos não constavam no manual keynesiano.
Os economistas keynesianos afirmavam que ou a economia deveria apresentar uma expansão, sendo que nesse caso os preços estariam subindo, ou a economia deveria apresentar uma recessão com grande desemprego, sendo que nesse caso os preços estariam caindo.
Durante o período da expansão econômica, o governo keynesiano deveria "enxugar o excessivo poder de compra", elevando impostos — de acordo com a teoria keynesiana, isso reduziria os gastos da economia. Por outro lado, durante uma recessão, o governo deveria aumentar seus gastos e seu déficit orçamentário, com o intuito de estimular o nível de gastos da economia.
Mas e se a economia apresentasse ao mesmo tempo inflação e recessão com alto desemprego, o que o governo deveria fazer? Se o governo deve pisar no acelerador dos gastos durante as recessões e no freio durante as expansões, o que ele deve fazer se houver uma aguda recessão (com desemprego e falências) e uma vigorosa inflação ao mesmo tempo? Como poderia ele pisar no acelerador e no freio da economia ao mesmo tempo?
A resposta, obviamente, é que o governo e suas autoridades políticas e econômicas não poderiam fazer tal coisa. Ao constatarem isso, o pânico se alastrou entre os economistas keynesianos.
A inegável ocorrência de recessões inflacionárias, como a que vivenciamos atualmente no Brasil, viola os pressupostos fundamentais da teoria keynesiana, acabando assim com seu crucial programa político. Desde a década de 1970, que foi quando este fenômeno se manifestou pela primeira vez, o keynesianismo está intelectualmente acabado, tendo se tornado uma teoria obtusa.
O problema é que o cadáver se recusa a deitar, principalmente um que é composto por uma elite que teria de abrir mão de seus poderosos cargos no meio acadêmico e no governo. Uma regra crucial da política ou da sociologia é: ninguém jamais deve renunciar aos seus postos. E assim, os keynesianos se agarraram aos seus poderosos cargos o mais firme possível, dali jamais saindo.
Para sobreviver à débâcle da década de 1970, o keynesianismo foi desmembrado em novas correntes — os keynesianos clássicos, os neo-keynesianos e os pós-keynesianos —, cada uma acusando a outra de ter deturpado Keynes.
(Os pós-keynesianos se autoproclamam os verdadeiros keynesianos. Consideram os keynesianos clássicos muito pueris e os neo-keynesianos muito ignorantes e "chicaguistas" demais. Apenas eles, os pós-keynesianos, realmente leram e entenderam Keynes — ou é o que eles próprios dizem).
Contendas teóricas à parte, o fato é que o keynesianismo jamais foi abandonado. Ele apenas se reinventou. Na prática, desde a década de 1970, varia apenas a intensidade de sua aplicação. Há apenas aplicações mais brandas, há aplicações mais agressivas, e há aplicações mais extremas (como a que foi feita no Brasil por meio da Nova Matriz Econômica).
Normalmente, um período de políticas mais moderadas é seguido por um período de políticas mais agressivas, o que gera crises e, consequentemente, a necessidade de um retorno às políticas mais moderadas, reiniciando o ciclo.
Mas por que o keynesianismo perdura?
O keynesianismo é a teoria econômica favorita dos políticos simplesmente porque ela lhes concede um passe livre para fazer tudo aquilo que eles mais gostam de fazer: gastar dinheiro.
O keynesianismo diz que os gastos do governo impulsionam a economia; que expandir o crédito (melhor ainda se for subsidiado) gera crescimento econômico; que os déficits do governo são a cura para uma economia em recessão; que inchar a máquina estatal, dando emprego para burocratas, é uma medida válida contra o desemprego (quem irá pagar?); que regulamentações, se feitas por keynesianos, são propícias a estimular o espírito animal dos empreendedores. E, obviamente, que austeridade é péssimo.
Qual político resiste a isso?
Conhecendo-se a volúpia do ser humano por poder e controle sobre a vida alheia, seria genuinamente um milagre caso tais idéias não prevalecessem no mundo atual. E é por isso que os intelectuais acadêmicos, sempre ávidos por agradar o regime (e sempre de olho em cargos públicos), irão defender essa teoria.
No que mais, se você investiu toda a sua vida e toda a sua carreira acadêmica ou profissional defendendo teorias keynesianas, ou se a sua fé no estado é aquilo que dá sentido à sua vida, divorciar-se da economia keynesiana seria um choque e tanto.
Essencialmente, portanto, desprovido de seu fundamento intelectual, o keynesianismo tornou-se pura e simplesmente a economia do poder, comprometida apenas em manter o establishment funcionando, em fazer ajustes marginais até a próxima eleição na esperança de que, ao ficar mexendo nos controles, alternando rapidamente entre o acelerador e o freio, alguma coisa vai funcionar -- pelo menos o suficiente para preservar suas confortáveis posições por mais alguns anos.
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