Um e-mail que recebi e que resume o que era esse camaleão.
E aí, rocker, tudo mais ou menos?
Bem, não tem como estar. Nesta madrugada perdemos mais um de nossos heróis. David Bowie, aos 69 anos, entrou em sua nave e se mandou de volta pro espaço.
Há pouco mais de 10 dias, o Demiro esteve aqui, nessa mesma situação, pra falar sobre o Lemmy. Agora, praticamente no dia seguinte ao seu funeral, somos surpreendidos por mais essa notícia que inevitavelmente nos leva à pergunta que escuto de 11 entre 10 rockeiros ultimamente: o que será de nós?
Gosto de responder aniquilando qualquer traço de melancolia.
Será simplesmente tudo o que queremos que seja.
Essa resposta faz ainda mais sentido hoje. E sabe por que? Porque é exatamente a coisa mais importante que aprendi com David Bowie. Aprendi que posso ser o que eu quiser ser. Para bem e para o mal, a responsabilidade sobre esse tipo de decisão é só minha - de mais ninguém.
Não existe realidade que não possa ser questionada.
David Bowie teve incontáveis fases, todas elas marcadas por grandes personagens retratados em sua música. Por mais de uma vez, Bowie teve problemas psicológicos graves para distinguir esses personagens de sua personalidade real.
A obra de Bowie é sem dúvida uma das mais profundas, artística e intelectualmente falando. Tanto, que fica difícil se apropriar desse mito como ícone exclusivo do Rock n Roll. Ele era um dos artistas (no sentido mais amplo do termo) mais densos e complexos que consigo me lembrar.
Há muito tempo, Bowie tornou-se a própria Arte. Por isso, não pensávamos em sua morte. Arte não morre.
E assim, sua partida não poderia ser diferente. Blackstar, o álbum lançado na última sexta-feira, em seu aniversário de 69 anos, ganhou sentido completo nessa madrugada ao balancear a alegria e a leveza de seu aniversário com e o peso e a intensidade da morte. Tal qual uma estrela negra. Sua morte é a extensão de sua vida: uma obra-de-arte.
No clipe da música Lazarus, lançado como aquecimento para o novo álbum Blackstar, Bowie encarna um personagem delicadamente doente e transtornado que canta: Look up here, I'm in heaven / I've got scars that can't be seen / I've got drama that can't be stolen
Talvez uma das marcas mais notáveis de todo seu legado, seja sua habilidade sobrenatural de construir personagens e contar histórias fantásticas através de seu trabalho. E isso abriu (e ainda abre) portas para irmos além.
Major Tom, um astronauta viciado e exilado, tentando reestabelecer contato com a Terra.
Ziggy Stardust, um rockstar bissexual e alienígena, que veio até nós trazendo mensagens de outros povos galáxia afora.
Thin White Duke, um aristocrata entupido de cocaína e vazio, tentando extravasar emoções que ele nem mesmo sente.
David Bowie em 1972, dando vida a Ziggy Stardust - o rockstar alienígena andrógeno. Bowie estudou teatro e literatura por conta própria para aprimorar a construção de seus personagens.
Apesar do tom surreal dessas histórias, dar vida a esse tipo de personagem em álbuns e turnês teve (e ainda terá por muitos anos) um efeito bombástico em jovens do mundo todo, de qualquer idade.
Pela primeira vez na cultura pop existiu o culto ao esquisito, ao estranho, ao diferente.
Pela primeira vez a realidade era questionada de maneira tão subversiva e os olhos se voltavam para um rockstar que não reforçava os clichês patriarcais e comerciais.
A definição do biógrafo David Buckley beira à perfeição:
"Bowie nutria uma verdadeira compulsão pelo desrespeito aos códigos morais. Muito mais do que seu verdadeiro estado biológico e psicológico, sua arte era reflexo dessa compulsão."
Sexo, não necessariamente heterossexual, experiências sombrias e mórbidas com drogas e perplexidade lúcida diante de questões sociais, eram o tema principal dessas fantasias e abriram caminho para discussões e revoluções culturais importantes.
Não por acaso, mesmo que de maneira não-intencional, David Bowie acabou se tornando o símbolo da diversidade. Até hoje.
De Angela a Jagger. Do folk ao glam-rock.
De astronauta a extra-terrestre. De Mercury a Iggy Pop.
Do leite à cocaína. Da purpurina ao black-tie.
David Bowie e Fred Mercury, do Queen, em 1981. Naquele ano, eles gravaram o single "Under Pressure", que acabaria se tornando um dos maiores sucessos de ambas as carreiras.
Por isso, hoje é dia de saudar o Camaleão em alto e bom som. É dia de estufar o peito, olhar pro horizonte, e sair por aí sendo simplesmente o que queremos ser. E sim, nós podemos fazer isso.
A menina que gosta de meninas, o executivo que gosta de tatuagens, o caipira que gosta de Rock n Roll, não importa... nada disso deve ser segredo ou motivo de vergonha.
A única coisa que importa são as pessoas e o que elas têm a dizer, suas ideias, suas emoções e sua arte.
Isso, eu aprendi com David Bowie.
Por isso, não se preocupe. Ainda tem muita coisa pra gente ser nessa vida, rocker.
Hoje à noite, tem estrela nova no céu assistindo a gente. Não podemos desapontá-la.
"There's a starman waiting in the sky
Hes told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile"
Eu sou o Doutor. Venho do planeta Gallifrey da constelação de Kasterborous. Com a minha nave, a TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space (Tempo e Dimensões Relativas No Espaço) eu viajo por varios mundos e épocas combatendo as injustiças em minhas explorações. Eu o convido para me acompanhar em minhas aventuras, a maioria delas perigosas. Voce quer me acompanhar?
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