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A rede social da genética
Pedro Doria
RIO - Pela linhagem materna, meu haplogrupo é o K1a1b1. Isso quer dizer que traçando uma linha reta pela árvore genealógica, incluindo só as mulheres, mãe, avó, bisavó, trisavó e lá se vai, chegamos à matriarca, uma moça nômade que viveu há 12 mil anos, e a ciência moderna batizou Katrine. Toda população europeia descende de sete mulheres, Katrine era uma delas, daí a letra K. Meu ramo específico, este 1a1b1 após o K, veio do Tirol e se concentrou na Grã Bretanha, Irlanda e norte da Ibéria. Somos maioria na Irlanda, 5% da população portuguesa e, ora, 5% dos cariocas. Esta avó primeira da gente era a mãe de todos os celtas. Sei disso por conta de uma rede social: 23andMe.com.
É uma rede social na qual custa dinheiro entrar: US$ 299. Em troca do pagamento, a turma envia um kit que inclui um tubo com certo preservante, dentro do qual o cliente cospe. Lacrado, enviado de volta, o DNA é devidamente analisado e mapeado. Infelizmente, a legislação brasileira trata a saliva como matéria biológica que não pode deixar nossas fronteiras. Então o correio tem de ser enviado dos EUA ou da Europa para que chegue ao destinatário.
A empresa 23andMe é cria da geneticista Anne Wojcicki, mulher de Sergey Brin, um dos dois inventores do Google. Foi financiada pelo Google. E não é apenas uma das muitas empresas que mapeiam o genoma de quem quiser. O fato de se organizar ao redor de uma rede social faz toda a diferença. E, nessa toada, levanta umas tantas polêmicas.
Saber que pela linhagem feminina direta você é celta é divertido. Astérix há de ter sido tio-avô. Mas meu mapa genético também indica que sou particularmente suscetível a doenças do sistema circulatório, que tenho duas vezes mais chances de ter câncer de próstata do que o descendente de europeu comum e que dependência química de nicotina é praticamente certa no segundo cigarro. (Neste último caso, já tinha descoberto antes.) Não por isso: também sei que minhas chances de ter qualquer outro câncer são menores do que a média e que não levarei para os filhos genes que influem em síndrome bipolar, aneurisma cerebral ou enxaqueca. Se sobreviver à próstata e à pressão alta, dizem meus genes, tenho até altas chances de passar dos100.
Nem todo mundo quer saber tanta informação sobre si. E a ideia de que dados tão pessoais nascidos de seu mapa genético se tornem públicos é desconfortável para muitos. Não apenas por pudores: se seguros de saúde começarem a cobrar pela possibilidade de uma doença futura, o custo financeiro pode ser alto.
Por outro lado, os geneticistas do 23andMe e seus clientes têm uma oportunidade única. De tempos em tempos, os cientistas fazem um novo pacote de perguntas para os usuários da rede. Perguntam coisas como qual a reação a um remédio, qual a dificuldade com determinado movimento, como reage a certa situação. As respostas, comparadas ao genoma de cada um, revelam as funções de certos genes. Quanto mais gente estiver lá, maiores os avanços esperados no futuro.
E, como é uma rede social, a lida com certas descobertas é atenuada. Sergey Brin, o marido da criadora, descobriu com o site que tem altíssimas chances de desenvolver Parkinson. O risco é atenuado por atividade física e uma dieta saudável. Por saber desde moço, se cuida. No site, encontra uma comunidade de outros que têm aquela mesma mutação no gene LRRK2 do 12 cromossoma. É quando o social da rede alivia.
Do 23andMe e similares nasceu também um imenso grupo de amadores que recolhem o mapeamento genético de pessoas em todo mundo com uma determinada característica. O gene marcador de uma doença ou o que indica uma descendência específica. São "gerentes" de um gene. Assim como astrônomos amadores que, com seus telescópios, descobrem cometas, estes geneticistas da rede ajudam a avançar a ciência. É ameaça à privacidade, mas quanto mais gente torna público seu código, mais a ciência avança.
O haplogrupo da linhagem masculina é o E1b1b1b2a. Magrebino. Berbere. Celta pelo lado da mãe, mouro invasor da Ibéria pelo pai. Vira-latas, pois. Genética é divertido.
pedro.doria@oglobo.com.br
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Comentários
O problema da origem genética é os neonazis descobrirem que têm origem indesejada.
Nesta caso, existe um pendor para se dizer, nobreza celta, escoria berbere.
Como português, herdeiro espiritual dos lusitanos, possuo a responsabilidade de louvar os ancestrais, eles são a razão da minha existência - Também, passar às novas gerações esta nobre responsabilidade.
Os lusos não são genes, não dependem da origem, dependem do que são na essência da alma. Não se nasce luso, tornamo-nos lusos. Por esse mundo fora, milhares de descendentes amam saudosamente a terra lusitana, embora, muitas vezes sequer a tenham pisado - Aqui, o ser luso inscreve-se na alma.
Vergonhosos lusos, os que habitando a lusitânia não a merecendo, choram pelo triste destino de os ter feito nascidos - Estes não sabem, ser luso conquista-se, alguns precisam de partir para terras distantes para o entender, outros morrem ingratos sem nunca ter compreendido...
"Vira-lata" se refere a cães sem raça definida por serem uma mistura de várias e suponho que o autor não insinuou que seus antepassados bérberes são escória.
Tem razão, fui eu que o fiz. Pretendi focar a ideologia racial. Os neo-nazis portugueses têm aversão à ideia de pertença mourisca.
O Pedro Doria, terminou o texto dizendo; "Genética é divertido". Não penso que a mensagem dele se enquadrasse no rumo que decidi tomar. Fui bom você apresentar a ressalva, para evitar mal-entendidos.
Pelo que já descobri de minha árvore genealógica, descendo de portugueses, espanhóis, italianos, holandeses, ingleses, judeus e nativos. E não devo ser diferente da maioria dos brasileiros.