Alemanha tem novo partido neonazista
A Direita disputará as eleições para o Parlamento Europeu no ano que vem
POR TONY PATERSON, DO “THE INDEPENDEN” 24/12/2012 19:29
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BERLIM — Christian Worch se diz orgulhoso das credenciais de extrema-direita de sua família. Seu pai era um membro da Waffen SS de Adolf Hitler. Sua avó, dizem, ajudou o infame torturador da Gestapo, Klaus Barbie, “O açougueiro de Lyon”, a fugir. Seu avô era membro devoto do partido nazista.
O próprio Worch passou mais de cinco anos preso por incitar ódio racial e negar o Holocausto. Fez campanha pelo retorno do partido nazista e participa de eventos em que se carregam cartazes com o slogan “Eu sou tão estúpido que ainda acredito que os judeus foram mortos a gás em campos de concentração”.
O filho de 56 anos de um médico é descrito no “Manual da extrema-direita” alemão como um dos “mais experientes neofascistas” do país. Embora tenha sido descrito como um personagem sem seguidores, Worch pode arriscar seu avanço político em 2013.
Ele é fundador e líder do mais recente partido político de extrema-direita da Alemanha, o Die Rechte (A Direita). O nome é uma jogada com o socialista Die Linke (A Esquerda), membro estabelecido da política da Alemanha reunificada. Lançado em maio, o A Direita pode se tornar o grande vencedor político de uma batalha legal para banir do país o Partido Nacional Democrata (NPD), racista e anti-imigrante.
A Câmara alta do Parlamento, que representa os líderes dos 16 estados do país, iniciou um processo para banir o NPD na corte constitucional após surgirem novos dados que exporiam o partido como fundamentalmente inconstitucional, abertamente racista e uma ameaça à democracia alemã.
O governo da chanceler federal Angela Merkel disse que vai decidir em março se apoia os estados. Especialistas dizem, porém, que eles podem tentar barrar o NPD sem a aprovação do governo federal. A proibição poderia valer para as eleições gerais de setembro de 2013. Pesquisas mostram que 70% dos alemães são a favor da proibição do partido.
Mas especialistas na extrema-direita têm poucas dúvidas de que se o NPD, partido com 6 mil membros, for banido, seus seguidores vão para o A Direita. Em novembro, uma legenda regional aliada ao NPD, de uma região próxima de Frankfurt, já trocou a aliança por uma com o A Direita.
— O A Direita está em compasso de espera. Se o NPD for banido, é virtualmente certo que o partido entrará para substituí-lo — disse Bernd Wagner, ex-policial e um dos mais experientes observadores da extrema-direita na Alemanha. Para ele, numa sociedade democrática, tornar ilegal um partido extremista significa quase que automaticamente a formação de um substituto.
O A Direita se formou antes de qualquer banimento, o que torna tudo ainda mais problemático. A única resposta seria outra proibição.
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O próprio Worch admitiu, cuidadosamente, que o eventual fim do NPD poderia ser “útil”. Ele, porém, tem tentado distanciar o seu partido do NPD. O partido afirma em seu site ser “menos radical”, além de seguir completamente à Constituição e se preocupar com a “preservação da identidade alemã”. Para os críticos, a linguagem é só uma tentativa de dar ao manifesto racista uma respeitabilidade entre a classe média.
Diferentemente do neonazista NPD, que ganhou assentos no Parlamento em dois estados do leste da Alemanha, o A Direita ainda não teve tempo para obter sucesso eleitoral.
O partido precisaria superar a cláusula de barreira — 5% dos eleitores — para concorrer numa eleição geral ou estadual. Mas a mesma regra não se aplica às eleições para o Parlamento Europeu, em 2013. Worch diz que a disputa será o primeiro teste de popularidade. Se a Alemanha banir o NPD, o A Direita pode ter cabos eleitorais suficientes à mão para substituir seu predecessor político condenado.
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