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Estatística do Movimento

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AGLOMERAÇÕES HUMANAS

Quando um evento reúne uma multidão, surge logo a estimativa do número de pessoas presentes. Quase sempre, quem promove o evento superestima o público presente, se não existir controle de bilheteria ou de portaria.

A suspeita de números inflacionados fez-me desenvolver estudo da área ocupada por uma pessoa adulta, em formação semelhante à do desenho abaixo:


Verifica-se que cada um ocupa 0,184m² (0,36m x 0,51m). Uma simples divisão da área (em m²) por 0,184 nos indicará o limite da ocupação, em formação militar ou de passeata.

No extremo da compactação, como no desenho a seguir, cada um ocupa 0,070m² (0,18m x 0,39m). Uma simples divisão da área (em m²) por 0,070 nos indicará o limite da ocupação.


A grosso modo, pode-se dizer que, em formação de desfile militar ou de passeata, acomodam-se 6 pessoas por metro quadrado e, em formação compacta (no corredor de um ônibus lotado, por exemplo), 14 pessoas por metro quadrado.



Um estudo de caso
Promotores de uma aglomeração carnavalesca alardeavam que estavam reunindo 20.000 foliões na entrequadra da 203-204 Sul, em Brasília. Fui conferir, com a ajuda de foto de satélite, graças ao Google Earth, que a área tem 2.945m² (veja a ilustração abaixo) e que, totalmente tomada, não suportaria além de 16.000 pessoas (2.945÷0,184). As imagens do evento e as observações "in loco" fizeram-me concluir que em nenhum momento a concentração de público atingiu um quarto disso (4.000 pessoas). É bem verdade que, a julgar pela destruição e sujeira deixadas na área, poder-se-ia imaginar que por ali passou uma horda de cinqüenta mil hunos!


Outro caso a estudar
Organizadores de eventos na Avenida Paulista, em São Paulo, insistem em alardear números milionários de manifestantes, como nos encontros religiosos e nos movimentos ideológicos. Na última Parada Gay, por exemplo (10/06/2007), promotores e imprensa paulistana cravaram 4 milhões de manifestantes. Na Parada do ano passado, conseguiram cravar no Livro Guinness de Recordes o impressionante número de 2,5 milhões de participantes. Ora, a avenida, com seus 117.000 metros quadrados (2.600m de extensão e 45m de largura disponíveis para passeatas), ocupada inteiramente, numa compactação de 6 pessoas por metro quadrado (nunca se viu isso ali), abrangeria 702.000 manifestantes. Para comportar 4 milhões de pessoas, elas teriam de ser imprensadas na avenida à razão de 34 por metro quadrado. Se isso fosse possível (não é), estaríamos diante da maior carnificina da história da humanidade! No limite do suportável – 14 pessoas imóveis, espremidas em cada metro quadrado, em toda a extensão da avenida – teríamos o número assustador de 1,6 milhões de manifestantes. Eu não quereria estar ali no meio, ainda que eu fosse o maior simpatizante do evento no mundo.

Fiquemos com a estimativa generosa que a avenida recebeu, na última Parada Gay, 300 mil manifestantes. E que, na proporção de público registrada pelos próprios organizadores do evento (2,5 milhões em 2006 para 4 milhões em 2007), foram 180 mil os participantes da Parada do ano anterior. Sirvam esses parâmetros também para outros eventos na avenida, ou seja, 270 mil pessoas, no máximo, para cada quilômetro inteiramente tomado. A divulgação de números superiores a isso, pela imprensa paulistana ou pelo Guinness, sem os correspondentes registros fotográficos aéreos que o demonstrem (onde estão as tomadas panorâmicas dos dois eventos em questão?), vai cheirar bairrismo, afago a anunciantes ou interesse de vender livros de recordes. Se a fotografia panorâmica é inviável (não sei por que o seria), o que impediu que algum órgão de imprensa fizesse a medição visual dos limites da ocupação, no auge da festa, extraísse amostra da densidade de concentração por metro quadrado e realizasse a simples conta de multiplicar comprimento x largura x densidade do tapete humano, para cumprir o seu dever de bem informar o público? É irritante quando a imprensa, que devia ser essencialmente informativa, lava as mãos e preguiçosamente proclama: "...na avaliação dos organizadores eram 4 milhões de manifestantes, nas contas de Romário são mil gols...", insinuando que não endossa as informações. Por que os repórteres não vão à luta e não apuram a realidade dos fatos, para bem infomar?


Cinco dias depois que publiquei o texto acima, o "ombudsman" da Folha de S. Paulo lavou a minha alma, publicando a matéria abaixo. É uma pena que o "ombudsman", via de regra, seja solenemente ignorado por seus patrões. Nunca vi conselho de "ombudsman" repercutir na redação do jornal. É mais fácil o "ombudsman" perder o emprego do que a equipe da redação reconhecer erros e mudar linhas editoriais.


A volta do "chutômetro"
É compreensível que organizadores de eventos, como a Parada Gay em São Paulo, batalhem por seus números; o errado é a Folha adotá-los

Mário Magalhães, Ombudsman da Folha, 17/06/07
Antes que a chuva desabasse, no fim da tarde de 18 de setembro de 1992, os animadores do comício pelo impeachment do presidente Fernando Collor alardearam a presença de quase 1 milhão de manifestantes no Anhangabaú.
Para a Polícia Militar, a audiência era de 650 mil. A Folha cravaria a marca de 70 mil, fundamentada em levantamento do Datafolha.
O instituto mapeara o vale, em São Paulo, medira as áreas ocupadas e observara a densidade (de duas a seis pessoas por metro quadrado).
A estimativa de multidões exige rigor, preconiza o "Manual da Redação": "Em evento importante, usar método científico de medição do local, com assessoria do Datafolha".
O jornal desafiou o bom senso ao sustentar, na última segunda, que a Parada Gay mobilizou na capital paulista o equivalente a 50 atos como o do auge dos caras-pintadas.
Junto a uma fotografia mostrando um mar de gente, a primeira página anunciou: "Parada Gay em São Paulo tem público recorde". Complemento: "Segundo cálculos dos organizadores, o evento reuniu 3,5 milhões de participantes".
O Folha deu o crédito para a organização, mas aceitou a conta, ao confirmar o "recorde". Cotidiano abraçou o número: "Parada Gay cresce; diversão e problemas, também". Por que cresceu? Porque em 2006 a avaliação "oficial" foi de 3 milhões.
Leitores apontaram a inconsistência. Na terça, o "Painel do Leitor" publicou carta de Adelpho Ubaldo Longo. Ele considerou a extensão e a largura da av. Paulista, com seis indivíduos por metro quadrado. Resultado: presença máxima de 806.400 pessoas.
Não havia aquela concentração na Paulista. E, na verdade, a parada tomou também a rua da Consolação. Para a Folha, ela se estendeu por 3,2 km. Mas não há como afiançar os 3,5 milhões. Os promotores falam em somar o público circulante e o do entorno do trajeto, mas não empregam método científico. É compreensível que eles batalhem por seus números. O errado é a Folha adotá-los.
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, confirma as conclusões do leitor. Sobre o público total, ele diz: "Só poderia afirmar com certeza se tivesse aplicado o nosso método". As medições do Datafolha foram feitas de 1985 a 2000.
A Redação lembra que creditou aos organizadores a projeção. Diz que o testemunho de repórteres e a comparação de fotos "parecem dar razão a todos que afirmam que o evento de 2007 foi o maior". Ou seja: dispensou o procedimento determinado pelo "Manual". Por que a Folha o abandonou?
Responde a Redação: "Porque os custos de medição são muito altos. [...] Tal investimento só se justifica quando a precisão da estimativa se mostrar indispensável para a avaliação da importância jornalística de determinado evento".
Pois era o caso da parada, de repercussão mundial. O jornal deveria resgatar o Datafolha para medir multidões. Em um texto de 1989, a Folha chamou cálculos alheios de "chutômetro". Hoje pode assegurar que não divulga chutes?


Ainda em São Paulo
Os organizadores da Marcha Para Jesus foram bem menos modestos do que os promotores da Parada Gay: publicaram em sua página oficial que o evento do dia 07/06/2007 (dia de Corpus Christi) reuniu "mais de 6 milhões de pessoas" na Praça dos Heróis da FEB.

Mas foram mais honestos: publicaram fotos aéreas da concentração, como a abaixo, que, confrontada com foto de satélite, mostra uma mancha populacional circunscrita a um retângulo de 185m x 100m, equivalentes a l8.500 metros quadrados. Em uma avaliação superestimada de 6 pessoas por metro quadrado, teríamos ali 111 mil pessoas, no momento da foto. Não havia essa concentração; note-se o grande vazio no canto superior da área delineada. Pode-se afirmar que a aglomeração ali nunca atingiu 100 mil pessoas.

Ora, a área inteira daquele campo tem 30.000 metros quadrados. Se em algum momento ele tivesse sido inteiramente tomado pelos manifestantes (isso não está nas fotos), à razão de 6 pessoas por metro quadrado, isso representaria 180 mil pessoas! Para conter 6 milhões de pessoas na praça, seria necessário espremê-las ali à razão de 200 por metro quadrado! Algo para ser considerado à luz da Teologia, porque no âmbito da Física esbarraríamos no princípio inexorável da impenetrabilidade dos corpos.


Já a Parada Heterossexual...
Segundo os organizadores, reuniu, no vão do MASP, o número "oficial" de 30 manifestantes, neste domingo, 17/06/2007. E a Folha de S. Paulo, na contramão da complacência que demonstrou com a turma da Parada Gay, reporta que ali havia menos de 25 pessoas, num gesto de evidente má-vontade com as minorias. Todavia, temos de concordar com a Folha: a fotografia mostra claramente apenas 10 pessoas no evento, se computado aquele heterossexual enrustido, no segundo plano. Mania dos organizadores de sempre inflacionarem os números em suas passeatas!


E em São Joaquim (SC)...
Como no resto do país, sucede-se a superestimativa de público. Os promotores do evento Natal Família (21/12/2010), no centro da cidade, não se conformam com o levantamento reportado pelo noticioso São Joaquim Online, e insistem na estimativa de 15 mil pessoas na rua, enquanto as fotografias mostram uma aglomeração de 640m² (40x16m), que se estende somente até a esquina do restaurante Tomogaki (2.880 pessoas, à razão de 4,5 por metro quadrado). O público de 15 mil demandaria uma densidade de 6 pessoas por m², desde a praça até a esquina seguinte da quadra do restaurante, em uma aglomeração de 2.500m² (156x16m), coisa que não está nas fotografias:




Enfim uma medição profissional
Finalmente, na Parada Gay de 2012 (10 de junho), depois de cinco anos do puxão de orelhas do seu "ombudsman" (texto anterior, "A volta do chutômetro"), a Folha saiu do seu torpor e colocou sua equipe de reportagens na rua, para realizar "medição de público com caráter científico", a exemplo do que já havia feito no mês anterior, na 28ª Caminhada da Ressurreição. A Folha de S. Paulo publicou o resultado no dia seguinte (11/06/2012): 270 mil pessoas, das quais apenas 65 mil teriam feito o percurso inteiro do evento. Eis aí um número sensato: 270 mil. Curiosamente eu mencionava esse mesmo número desde 2007, se a multidão tomasse 1km contínuo da Avenida Paulista, como teria sido o caso da Parada de 2012. Ainda acho muito generoso esse cálculo de 270 mil pessoas (teria de haver uma densidade de 6 pessoas por metro quadrado numa extensão contínua de 1km de avenida – situação que as fotografias não confirmam). Demos, todavia, o benefício da dúvida aos promotores do evento: 270 mil pessoas, em vez da estimativa delirante de 4 ou 5 milhões de pessoas, das quais a metade estaria sendo velada no dia seguinte, no maior sepultamento coletivo da história da humanidade, depois de se haver espremido à razão de 100 pessoas por m², num desafio tresloucado e suicida ao princípio da impenetrabilidade dos corpos. A Folha fica nos devendo fotografias aéreas, no auge da festa, para permitir medição física e isenta e acabar de vez com as estimativas fantasiosas difundidas pelos promotores do evento.

Imagine espremer 100 pessoas em um cubículo de 1m²:


Na Parada Gay de 2013 (2 de junho) a Folha de S. Paulo voltou à Avenida Paulista com sua equipe de reportagens, para realizar medição criteriosa de público. Concluiu que foram 220 mil os participantes do desfile. Os organizadores do evento não concordam: proclamaram o número de 5 milhões de foliões! Isso equivaleria a espremer na Av. Paulista, do MASP à Consolação (45.000m²), 111 pessoas por m²! Deslumbramento, loucura ou cinismo!

Já na Parada Gay de 2014 (4 de maio) - que teve como tema "Um país sem homolesbotransfobia" - a Polícia Militar de São Paulo avaliou um público de 80 a 100 mil pessoas. E, surpreendentemente, os organizadores do evento não responderam com uma estimativa de 6 milhões, como seria de se esperar! Estranhamente eles se calaram e não apresentaram qualquer número! Parece que finalmente perceberam o ridículo das superavaliações e a insanidade da insistência na afirmação que eles conseguem espremer mais de 100 pessoas em um cubículo de 1m²!

E na Marcha Para Jesus de 2012 (14 de julho) a Folha voltou com a "medição de público com caráter científico", desmascarando as avaliações mirabolantes de público, proclamadas pelos cardeais do movimento evangélico, do alto dos carros de som. O número fantasioso de seis milhões de pessoas caiu para 335 mil ao longo do dia, 217 mil no momento de maior concentração e 28 mil participantes de todas as atividades da Marcha. Ainda bem. A Folha nos tranqüiliza. Eu ficava imaginando 6 milhões de fiéis correndo ao encontro da fé na Praça dos Heróis da FEB, que tem 30.000m². Espremer 6 milhões de pessoas na praça, à razão de 200 por m², teria sido o segundo morticínio em São Paulo, no espaço de 34 dias, ao lado da catástrofe da Avenida Paulista, se a Parada Gay tivesse tido 5 milhões de participantes! Fiquem os cardeais e os fiéis com sua fé e fiquemos nós com as informações isentas dos profissionais da imprensa. Para acabar de vez com a falsa polêmica, só falta a Folha providenciar, de futuro, uma fotografia aérea, no auge da festa, o que permitiria "contar as cabeças" com uma margem de acerto inquestionável.

Agora imagine espremer 200 pessoas no mesmo cubículo de 1m²:


Curiosidade
Sabendo que é possível espremer 14 pessoas em uma área de 1m², podemos imaginar que é teoricamente possível espremer a população mundial (7 bilhões de pessoas) em um quadrado pouco maior do que a cidade de Brasília, pois 7 bilhões ÷ 14 = 500 milhões de m², equivalentes a um quadrado com 22.360m de lado:


Alguém me perguntou se a população do planeta caberia no estado de Sergipe. A resposta está no item anterior: se a população mundial cabe na cidade de Brasília, muito mais folgadamente cabe no estado de Sergipe, que tem a superfície de 21.910km² = 21,91 bilhões de m². Os 7 bilhões de terráqueos se acomodariam em Sergipe à razão de 0,3195/m², ou pouco menos de 32 para cada 100m², o que significaria uma fileira em que as pessoas estariam a quase 2m de distância uma da outra:


Por ocasião do réveillon de 2013 (31/12/2012) e da visita do Papa Francisco ao Rio (julho/2013) perguntaram-me se a Praia de Copacabana comportaria 2 milhões ou 3 milhões de pessoas. Eu fui medir a extensão das areias de Copacabana e cheguei à área de 480.000m². E a resposta é sim. A área comporta a aglomeração de 3 milhões de pessoas, com uma densidade de pouco mais de 6 pessoas por m² (densidade de passeata). E, se a multidão tomar também as calçadas e o asfalto da orla, poderemos concentrar ali mais de 4 milhões de pessoas, considerando que a avenida inteira tem cerca de 240.000m² (algo próximo de 4.000m de comprimento x 60m de largura). O que perfaz a superfície de 720.000m² e a capacidade de 4.320.000 pessoas, à densidade de 6/m². Observe-se a ilustração do levantamento da superfície da praia e da avenida:


Vê-se pela reportagem da Folha de S. Paulo, que a aglomeração no dia da missa papal (28/07/2013) ocupou do altar (na altura da Av. Princesa Isabel) à Rua Miguel Lemos, numa extensão de cerca de 2.250m (ver na fotografia abaixo). Isso significa cerca de 286.000m² de praia mais 135.000m² de área pavimentada (2.250x60). Cerca de 421.000m², que resultariam 2.526.000 pessoas, à densidade de 6/m² (densidade de passeata). Essa é a grande incógnita: por que o Datafolha afirma que o público ficou no máximo em 1,2 milhão de pessoas? Está o jornal sugerindo que a densidade média da aglomeração não passou de 2,85 pessoas por m²?


Aliás, que conta fez o Datafolha para afirmar que "Em toda a extensão da praia, do Forte de Copacabana ao Leme, mais as vias de acesso, há espaço para no máximo 2,7 milhões de pessoas, considerando-se a concentração máxima de sete pessoas por metro quadrado"? Ora, eu meço e remeço a área da praia (480.000m²) mais a área pavimentada da Av. Atlântica (240.000m²) e chego a 720.000m² e capacidade de 5,04 milhões de pessoas, à razão de sete por m². O Datafolha faz a conta de 385.000m² de área total, para chegar aos 2,7 milhões de pessoas.

Intrigado com a disparidade dos números, eu esquadrinhei a área total, dividi-a em triângulos-retângulos e fiz o cálculo (extenuante - foram 95 triângulos), tomando por base que há exatamente 1km de distância entre as ruas Siqueira Campos e Belfort Roxo. Confirmei o número de 720.000m² (mais precisamente, 726.642,5m²):


A popularização das miniaeronaves radiocontroladas (drones) deve desfazer finalmente a polêmica em torno do público presente nas grandes concentrações. Poderemos ter fotografias aéreas definitivamente esclarecedoras sobre o número de pessoas, com baixíssimo custo e risco, em comparação com o uso de helicópteros ou aeronaves tripuladas. Não haverá mais desculpa para as reportagens omitirem as imagens ilustrativas de grandes eventos:



[ ]* As coordenadas geográficas são particularmente úteis para visualizar, no Google Maps, o mapa ou a imagem de satélite da região focalizada. Basta transpor esses dados para o campo "Search Maps" do programa.

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A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
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Comentários

  • 4 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Os esquerdistas estão usando isso contra a manifestação .Os números do Data folha .
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    HELIO GUROVITZ
    Quantas pessoas cabem na Avenida Paulista?
    HELIO GUROVITZ
    22/03/2015 - 10h01 - Atualizado 22/03/2015 10h01
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    Até a semana passada, a Sabesp, companhia de água paulista, informava diariamente o nível do sistema de abastecimento da Cantareira como um percentual sobre o volume útil, de 982 bilhões de litros. Volume útil é a água que fica acima das comportas de captação. Ao longo da seca, esse volume se esgotou e foi acrescido de duas reservas, conhecidas como “volume morto”, um total de 287,5 bilhões de litros de água situados abaixo da linha das comportas, captados por meio de bombas. Em 17 de março de 2014, incluindo essas duas reservas técnicas, havia 435 bilhões de litros ao todo no sistema. Como elas ainda não eram contadas, a Sabesp divulgava ter apenas 147 bilhões de litros, ou 15% do volume útil. Um ano depois, em 16 de março de 2015, havia algo como 150 bilhões de litros, também 15% do volume útil. Em um ano, portanto, São Paulo perdeu quase 300 bilhões de litros de água – mais que as duas reservas somadas, ou quase um terço da capacidade útil. Mas os percentuais divulgados pela Sabesp e repetidos de forma quase automática na imprensa eram os mesmos, os tais 15%. Até que uma ação do Ministério Público levou a Sabesp a divulgar uma comparação mais sensata, embora ainda imperfeita.

    Tomemos outro exemplo. Na gigantesca mobilização popular do último dia 15 contra o governo Dilma Rousseff, a Polícia Militar de São Paulo estimou a multidão reunida na região da Avenida Paulista, no auge do protesto, em 1 milhão de pessoas. A Paulista tem aproximadamente 2,8 quilômetros de extensão e uma largura máxima de 47 metros, numa área total de uns 130.000 metros quadrados, incluindo aí canteiros, pontos de ônibus e trechos em obras. Em multidões concentradas, cientistas contam quatro pessoas por metro quadrado – sete equivalem ao aperto do metrô lotado. A PM informou que, para fazer suas contas, considerou cinco, na Paulista e em ruas adjacentes. Se a avenida estivesse realmente abarrotada em toda a sua extensão, como informou a PM, caberiam nela, no máximo, 650 mil. Para chegar ao milhão, seriam necessários ainda, por essas contas, mais 70.000 metros quadrados – ou mais de meia Paulista também abarrotada. A PM se recusou a divulgar as fotos aéreas com base nas quais fez sua estimativa, por isso é difícil avaliá-la. Há trechos mais abertos, gente chega, gente sai, gente anda. Ao levar isso em conta, o Instituto Datafolha calculou a multidão em 210 mil ao longo do protesto, ou 188 mil no auge. Seus critérios, explicados em seu site, deixam claro como é fácil subestimar ou superestimar a massa. Mas dá para engolir uma discrepância tão grande, de 800 mil pessoas?

    LIVRO DA SEMANA Analfabetismo em matemática e suas consequências John Allen Paulos Nova Fronteira 1988 (esgotado) 142 páginas R$ 37 (edição em inglês) (Foto: Divulgação)
    LIVRO DA SEMANA Analfabetismo em matemática e suas consequências
    John Allen Paulos
    Nova Fronteira
    1988 (esgotado)
    142 páginas
    R$ 37
    (edição em inglês)
    Não se trata de condenar este ou aquele órgão por manipular seus números. Muito menos de reduzir a dimensão espetacular das manifestações contra Dilma, que o próprio governo federal reconheceu. A questão central não é política. É matemática. Como aceitamos – nós, a sociedade brasileira – números de tão baixa qualidade? Como podemos tomar decisões se nem questionamos uma diferença absurda, de 800 mil pessoas? Se toleramos mais de um ano de crise hídrica com percentuais que não deixam claro quão perto estivemos do fundo do poço? A resposta é a incidência assustadora, no Brasil, de um mal que os americanos chamam de “innumeracy”, e nós, na falta de tradução melhor, de “analfabetismo em matemática” – a incapacidade de lidar com números, grandezas, estatísticas e raciocínios triviais. Esse é o tema de um pequeno livro publicado em 1988 pelo matemático John Allen Paulos e até hoje atualíssimo, Analfabetismo em matemática e suas consequências.


    Cometer erros de ortografia ou gramática é um embaraço, mas ninguém tem vergonha de dizer que “não tem jeito para números” – nem mesmo intelectuais sofisticados, comentaristas renomados, políticos ou presidentes da República. Pois deveriam ter. Não é à toa que nossas discussões sobre economia, água e energia sejam tão pedestres. Não se trata de problema só nosso. Egípcios estimaram a multidão reunida na Praça Tahrir, na Primavera Árabe, em até 34 milhões de pessoas, quando lá não cabem mais de 250 mil. Nem nações ricas como os Estados Unidos escapam. “Fico angustiado com uma sociedade que depende tão completamente de matemática e ciência e, contudo, parece tão indiferente ao analfabetismo matemático ou científico de tantos cidadãos”, escreve Paulos. Por que o analfabetismo em matemática está tão disseminado? Não é culpa do PT, do PSDB, da “mídia” ou do “sistema”. As razões, diz Paulos, são “educação fraca, bloqueios psicológicos e equívocos românticos sobre a natureza da matemática”. Ninguém precisa de doutorado para compreender absurdos como os descritos acima. Basta matemática básica. Como Paulos mostra com dezenas de exemplos didáticos e divertidos, ela é, além de acessível, essencial.


    http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/helio-gurovitz/noticia/2015/03/quantas-pessoas-cabem-na-bavenida-paulistab.html
    A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Não basta calcular a quantidade de pessoas numa avenida num determinado momento.
    Elas vão saindo e vão entrando outras.
    É preciso calcular a quantidade total de pessoas que passou por essa avenida durante toda a duração do evento.
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