Acabaram os jogos Pan-Americanos e mais uma vez ficamos atrás de Cuba.
Mais uma vez!
Isso não está certo. Este paiseco tem apenas 11 milhões de habitantes e o nosso tem 192 milhões. Só a Grande São Paulo já tem mais gente que aquela ilhota.
Quanto à renda per capita, também ganhamos fácil. A deles foi de reles 4,1 mil dólares em 2006. A nossa: 10,2 mil dólares.
Pô, se possuímos 17 vezes mais gente do que eles e nossa renda per capita é quase 2,5 vezes maior, temos que ganhar 40 vezes mais medalhas que aqueles comunas.
Mas neste Pan eles ganharam 58 ouros e nós, apenas 48.
Alguma coisa está errada. Como eles podem ganhar do Brasil, o gigante da América do Sul, a sétima maior economia do mundo?
Já sei! É tudo para fazer propaganda comunista.
A prova é que, em 1959, ano da revolução, Cuba ficou apenas em oitavo lugar no Pan de Chicago. Doze anos depois, no Pan de Cáli, já estava em segundo lugar. Daí em diante, nunca caiu para terceiro. Nos jogos de Havana, em 1991, conseguiu até ficar em primeiro lugar, ganhando dos EUA por 140 a 130 medalhas de ouro.
Sim, é para fazer propaganda do comunismo que os cubanos se esforçam tanto no esporte. E também na saúde (eles têm um médico para cada 169 habitantes, enquanto o Brasil tem um para cada 600) e na educação (a taxa de alfabetização deles é de 99,8%). Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano de Cuba é 0,863, enquanto o nosso é 0,813.
Tudo para fazer propaganda comunista!
Aliás, eles têm nada menos do que trinta mil propagandistas vermelhos na cultura esportiva. Ou professores de educação física, se você preferir. Isso significa um professor para cada 348 habitantes. E logo haverá mais ainda, porque eles têm oito escolas de Educação Física de nível médio, uma faculdade de cultura física em cada província, um instituto de cultura física a nível nacional e uma Escola Internacional de Educação Física e Desportiva.
Há tantos e tão bons técnicos em Cuba que o país chega a exportar alguns. Nas Olimpíadas de Sydney, por um exemplo, havia 36 treinadores cubanos em equipes estrangeiras.
E existem tantos professores porque a Educação Física é matéria obrigatória dentro do sistema nacional de educação.
Até aí, tudo bem. No Brasil a Educação Física também é obrigatória.
A questão é que, se um cubano mostrar certo gosto pelo esporte, pode, gratuitamente, ir para uma das 87 Academias Desportivas Estaduais, para uma das 17 Escolas de Iniciação Desportiva Escolar (EIDE), para uma das 14 Escolas Superiores de Aperfeiçoamento Atlético (ESPA), e, finalmente, para um dos três Centros de Alto Rendimento.
Ou seja, se você tiver aptidão para o esporte, vai poder se desenvolver com total apoio do estado.
Pô, assim não vale!
Do jeito que eles fazem, com escolas para todos, professores especializados e centros de excelência gratuitos, é moleza.
Quero ver é eles ganharem tantas medalhas sendo como nós, um país onde a Educação Física nas escolas é, muitas vezes, apenas o horário do futebol para os meninos e da queimada para as meninas. Quero ver é eles ganharem medalhas com apoio estatal pífio, sem massificar o esporte, sem um aperfeiçoamento crescente e planejado.
Quero ver é fazer que nem a gente, no improviso. Aí, duvido que eles ganhem de nós. Duvido!
Malditos comunistas...
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
http://www.omarxistaleninista.org/search/label/Cuba
Comentários
Aliás, lembro de Nadia Comaneci, a ginasta romena, que era até torturada por seu treinador para que se esforçasse mais.
1. Quem apurou estes números?
2. Dá para comparar um país com 180 milhões de habitantes espalhados por um território do tamanho do nosso e uma ilha com tão pouca gente?
Você não acha que é muito mais fácil conseguir estes resultados com uma população pequena num território pequeno? Ainda mais com um governo que pode impor sua vontade sem oposição?
O que é melhor: um país com alta renda per capita e liberdade de expressão ou um país que ganha medalhas, mas onde a comida é racionada e todos são vigiados e vão presos se falarem contra o governo?
Países comunistas consistentemente tiveram desempenhos superiores em competições olímpicas.
Isso não se deve a eficiência geral desses regimes, mas ao status que os governos totalitários conferem aos atletas de esportes olímpicos relativamente obscuros.
A atividade esportiva profissional em qualquer lugar do mundo tem duas fontes principais de renda: o público pagante e o patrocínio privado ou estatal.
Muitos esportes tradicionais de jogos olímpicos são relativamente impopulares. O público pagante e os patrocinadores privados não se interessam muito por eles. Os diversos tipos de ginásticas e várias categorias de atletismo, por exemplo.
Em países onde o patrocínio esportivo é majoritariamente privado, esportes de maior popularidade tendem a atrair mais atletas. Esportes coletivos populares, como futebol, rugby, volêi, beisebol, ou esportes luxuosos e de pouca tradição e representatividade olímpica, como tenis, golf, vela e automobilismo; atraem mais atletas de ponta do que esportes tradicionais olímpicos.
Em países comunistas, a inexistência do patrocínio privado sufoca o desenvolvimento dos esportes mais populares.
Comites burocráticos definem a verba destinada para cada esporte, e esses comites visam justamente as medalhas de ouro nos jogos olímpicos como plataformas de propaganda de seus regimes. Assim eles sobre-investem em esportes de alta rentabilidade olímpica, como ginástica, ou classes obscuras de atletismo, pois há muitas medalhas para se ganhar ali.
Não faz sentido para eles investir em suas equipes de futebol, pois isso seria desperdiçar dez atletas de ponta para competir por uma única medalha, contra nações que já possuem boas equipes, já que futebol é um esporte popular no mundo inteiro.
Se Cuba fosse mesmo esse paraíso para atletas qual a razão deles quererem tanto fugir de lá na primeira oportunidade chegando ao extremo de pedirem asilo político?
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Vero
Quais são essas ações praticadas em Cuba?
Uma prestação dos atletas cubanos
Escravidão também funciona, e impulsionou modelos produtivos por séculos. Goste você ou não, reconheça isso.
Treinamento forçado, cárcere, e talvez até algumas formas de tortura.
Certamente teríamos os melhores atletas.
Qual a relação custo-benefício destas ações?
O que seria melhor para o povo cubano, mais medalhas olímpicas ou mais papel higiênico?
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
O problema com o argumento apresentado foi tentar apresentar a excelência esportiva como uma prova de que o regime cubano é excelente em todos os aspectos.
Ninguém aqui está negando que os atletas cubanos conseguem muitas medalhas, mas ... a que custo? Seria esta uma prioridade?
Estava vendo estes dias fotos de hospitais em Cuba. Parecem campos de concentração.
Não há falácia alguma, trata-se de um dilema econômico clássico conhecido como "canhões ou manteiga".
Para países que tem canhões, manteiga e papel higiênico sobrando, tanto faz.
Não é o caso de Cuba.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!