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Criacionismo: Engodo e Estorvo - parte I

AcauanAcauan Administrador, Moderador
Criacionismo: Engodo e Estorvo - parte I
Publicado originalmente em 26/5/2004 19:08:47

por Acauan

Engodo. S.m. 1. Isca ou ceva com que se apanham peixes, aves, etc. 2. Coisa com que se engoda ou seduz alguém. 3. Adulação astuciosa.

Estorvo. S.m. 1. Embaraço, dificuldade, obstáculo, estorvamento. 2. Coisa ou pessoa que estorva.

Novo Dicionário Aurélio - Primeira Edição

A forma de proselitismo fundamentalista cristão autodenominado criacionismo pode ser qualificada como sendo um engodo e um estorvo, com base em sua natureza e objetivos.

É um engodo por tratar-se de uma estratégia elaborada para promover a crença na interpretação literal do Gênesis, impedir que fiéis recalcitrantes sejam seduzidos pela Teoria da Evolução e servir de argumento auxiliar na doutrinação dos convertidos novos e potenciais.
É um estorvo por tratar-se de uma artimanha retórica que tenta atravancar a aceitação popular da Teoria da Evolução, destacando de modo exagerado e muitas vezes distorcido os pontos não resolvidos deste modelo científico.

Enquanto elemento de doutrinação religiosa, o proselitismo criacionista encontra-se protegido pelos princípios civilizados que garantem a liberdade de culto.
A partir do momento que tenta travestir-se de ciência, nega sua natureza religiosa confessional ou busca infiltrar-se de modo sub-reptício nas salas de aula, abre espaço para a sua crítica e contestação.

Uma análise crítica do significado do “criacionismo” pede em primeiro lugar uma clara separação dos autodenominados criacionistas em dois grupos:

- O primeiro é formado por crentes evangélicos fundamentalistas leigos em ciência, que em geral desconhecem completamente os fundamentos da Teoria da Evolução ou do método científico e que aceitam o proselitismo criacionista como uma extensão natural de sua fé na Bíblia. Muitos deles conhecem apenas fragmentos das argumentações criacionistas extraídos de resumos ou versões simplificadas, o que consideram suficiente para entenderem e apresentarem a Teoria da Evolução como absurda e ridícula.

- Um segundo grupo, muito menor, é formado por crentes com formação científica ou técnica em algum nível, com conhecimento da Teoria da Evolução e dos fundamentos do método científico. Estes “criacionistas” reconhecem o embasamento da Teoria da Evolução e concentram-se na tentativa de demonstrar que para cada evidência da evolução existiria uma explicação alternativa que favorecia a doutrina da criação ou, pelo menos, estabeleceria uma dúvida razoável.

Os autodenominados criacionistas do primeiro grupo, abundantes na Internet, não justificam uma atenção mais profunda, dado seu discurso antidarwinista ser, ironicamente, apenas uma repetição simiesca do adestramento que receberam em suas igrejas.

Já os do segundo grupo, no Brasil representados por organizações como a Sociedade Criacionista Brasileira merecem um olhar mais aprofundado, que pode nos ajudar a entender esta tentativa de amalgamar fé e ciência, cujos resultados parecem estapafúrdios para todos os que rejeitam a hipótese de que o método científico possa prevaricar deste modo com a religião confessional.

Uma análise dos conteúdos do site da S.C.B. nos dá dicas interessantes sobre como pensam aqueles que seriam os formadores de opinião do proselitismo criacionista no Brasil.

Um exemplo ilustrativo desta facção do pensamento criacionista é a entrevista concedida pela bióloga e microbiologista, Dra. Márcia Oliveira de Paula à Revista Adventista, sob o título Contradições do Evolucionismo, cuja íntegra está disponível no link fornecido.

Seguem alguns trechos selecionados da entrevista:

RA: No campo das evidências nenhuma teoria (evolução e criação) leva vantagem sobre a outra?

Dra. Márcia: Alguns criacionistas mal-informados acham que não existe nenhuma base para se acreditar na evolução, mas essas pessoas realmente não conhecem a ciência. É lógico que a teoria da evolução faz algum sentido, porque, se ela fosse totalmente absurda, não haveria milhares de cientistas e uma boa parte da população que a aceitaria. O evolucionimo tem alguma lógica, mas também tem muitas incoerências.

RA: No livro "Viagem ao Sobrenatural", recentemente publicado pela Casa, o autor Roger Morneau diz (nas págs. 54 e 55) que a teoria da evolução é uma arma eficaz nas mãos do inimigo. Por que?

Dra. Márcia: Porque desvia o pensamento de Deus como Criador. Para os que crêem em Deus e, ao mesmo tempo, aceitam a evolução (evolucionistas teístas), o Senhor não criou o homem de maneira pessoal e não criou a Terra para ser habitada. Para eles, Deus teria dado início à vida através da evolução. Só que isso elimina a credibilidade das Escrituras porque, se passarmos a considerar o livro de Gênesis como uma alegoria, também poderemos considerar os demais livros da Bíblia como não-verdadeiros.

RA: Então é impossível conciliar a teoria da evolução com a teoria da criação ...

Dra. Márcia: Algumas pessoas até tentam, mas não dá. Se você se torna um evolucionista teísta, tem que deixar de crer em grande parte da Bíblia. Você não crê no Gênesis, por conseguinte você não vai acreditar no plano da salvação. E também vai questionar a existência de Satanás, porque vai achar que o mal está dentro do ser humano. E para que a volta de Cristo, se o homem tem a capacidade de melhorar? Será que as profecias estão se cumprindo mesmo? Não seriam linguagem figurada, poesia, etc.? Realmente, eu acho muito difícil conciliar as duas coisas.
Os evolucionistas teístas acham que conseguem fazer essa conciliação. O problema é que muitos deles não conhecem, não aceitam e não lêem a Bíblia. Na verdade, alguns até aceitam algumas partes que lhes convêm, mas não aceitam a Palavra de Deus como um todo, porque não dá para fazer isso e continuar sendo evolucionista.

RA: Você acha, então, que a experiência da conversão é fundamental para que se aceite a Bíblia e o criacionismo?

Dra. Márcia: Sem dúvida. Duvido que, algum dia, alguém consiga convencer um evolucionista a se tornar criacionista sem aceitar a Deus primeiro. Eu acredito que um evolucionista se torna criacionista quando passa pela experiência da conversão, quando encontra e aceita a Deus. Aí, sim, ele vai tentar explicar a origem das coisas de uma outra maneira, porque saberá que Deus é o Criador.
É lógico que, se fizermos palestras apresentando as incoerências da teoria da evolução, poderemos até despertar na pessoa algumas interrogações que abrirão caminho para a busca de Deus.

A Dra. Márcia Oliveira de Paula é bióloga, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também concluiu seu mestrado em Ciências, com ênfase em Microbiologia. De 1989 a 1991, lecionou em várias universidades e faculdades particulares. Em 1998, concluiu seu doutorado na USP (também na área de microbiologia).

Contradições do Evolucionismo
Entrevista publicada em junho de 1999 na Revista Adventista
http://www.scb.org.br/entrevistas/Entrevista_2.htm

Dos trechos selecionados da entrevista com a Dra. Márcia Oliveira podemos tirar algumas conclusões:

1. A doutora é uma representante do pensamento criacionista com credenciais acadêmicas que atestam suas competências científicas;

2. A doutora declara que a Teoria da Evolução possui “muitas incoerências” mas não nega seu sentido e lógica, bem como chama de mal-informados os criacionistas que acusam a Teoria da Evolução de ser absurda;

3. A doutora admite que acredita que a Teoria da Evolução pode ser “uma arma eficaz nas mãos do inimigo”, ou seja, do diabo;

4. A doutora estabelece um vínculo necessário e inseparável entre o criacionismo e a fé na interpretação literal da Biblia;

5. A doutora opina que a conversão religiosa é necessária para que um evolucionista aceite a doutrina criacionista, transparecendo uma declaração tácita de que as alegadas evidências do criacionismo serão sempre insuficientes para promover esta mudança de posição.

Minha análise da entrevista da Dra. Márcia Oliveira, reconhece nela um saudável exemplo de honestidade intelectual, ao admitir que somente a conversão, o “aceitar Deus” dá sentido ao criacionismo, negando-se a afirmar que pesquisadores e teóricos da evolução possam tornar-se criacionistas com base apenas em suas alegadas evidências (espero que a doutora não acredite que é o diabo quem impede os evolucionistas de enxergar as evidências científicas da criação).

Mas é justamente aí que residem as características de engodo e estorvo do proselitismo criacionista.
Se este movimento se apresentasse como doutrina religiosa, comprometida antes de tudo com a promoção e defesa da fé na literalidade da Bíblia e admitisse sua disposição de só referendar evidências científicas que confirmem as Escrituras, descartando todas as outras, não haveria porque contestá-la, da mesma forma que não há motivo para se invadir algum culto dominical para questionar a veracidade do sermão do pastor.

O engodo se evidencia no uso indevido da ciência para promover a fé, enquanto o estorvo surge do uso indevido da fé para atrapalhar a ciência.
Post edited by Acauan on
Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!

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