Ceticismo Moderno e Ceticismo Invertido
(Da série O Ceticismo e os Limites da Dúvida)
Por Acauan
O Ceticismo Moderno é uma ferramenta útil para orientar julgamentos em um mundo caracterizado pela abundância infinita de informação.
Decidir no que acreditar em meio a potencialmente ilimitadas versões do mesmo fato exige cuidado para não cairmos nas armadilhas montadas por nossas próprias ignorâncias, preconceitos, superstições, condicionamentos, doutrinações, paixões, conveniências, comodismos e tantos outros partidarismos mentais que nos induzem a acreditar antes e mais no que preconcebemos do que no que concluímos, fazendo com que nossas análises sirvam apenas para justificar crenças estabelecidas a priori.
Assim o Ceticismo serve ao autoconhecimento nos permitindo entender porque e como acreditamos no que acreditamos, o que nos ajuda a classificar nossas crenças sem necessariamente confirmá-las ou desmenti-las.
O Ceticismo Moderno também nos protege do julgamento induzido, promovido por aqueles que manipulam nossos partidarismos mentais para nos fazer acreditar no que eles querem, como políticos, ideólogos, publicitários, líderes religiosos e o que se convencionou chamar de formadores de opinião.
As perguntas fundamentais do cético são "Por que eu acredito nisto?" e "Por que eu deveria acreditar naquilo?". Excluídos os fatos autoevidentes, sempre concluiremos que nossas crenças são motivadas por outras. Se aplicamos a mesma indagação à resposta e repetimos o processo algumas vezes, executamos um exercício como o do exemplo:
1 - Por que acredito que o homem foi à Lua?
- Porque acredito nas evidências documentadas do fato.
2 - Por que acredito nas evidências documentadas?
- Porque acredito que são autênticas.
3- Por que acredito que são autênticas?
- Porque considero a possibilidade delas serem autênticas maiores que as de serem falsas.
4- Por que acredito que a possibilidade de serem autênticas é maior?
- Porque acredito que não era viável tentar falsificar um evento desta magnitude.
5 - Por que acredito que não era viável?
- Porque havia uma corrida espacial no contexto da Guerra Fria e os russos seriam os primeiros a ter interesse em denunciar a falsificação e porque a fraude exigiria um pacto de silêncio entre um enorme número de envolvidos fazendo os riscos tão maiores que as chances de sucesso que dificilmente políticos, militares, cientistas, técnicos, empresários e demais pessoas envolvidas no programa espacial chegariam a um consenso sobre porque deveriam apoiar tal mentira arriscando suas próprias reputações e interesses.
Nem sempre que aplicarmos estes cinco por quês a alguma de nossas crenças chegaremos a uma resposta autossustentável na primeira tentativa, mas este e outros processos de autocrítica tendem a aprimorar nossa visão de mundo.
Ceticismo Invertido é como chamo o comportamento atualmente observável de utilizar esta ferramenta não para a análise e crítica das próprias crenças e sim para analisar e criticar as crenças dos outros.
O modus operandi do Ceticismo Invertido é adotar arbitrariamente um partidarismo mental próprio como paradigma e com base nele julgar como falsa, infundada, supersticiosa, ignorante, preconceituosa ou manipulada qualquer crença alheia que contrarie o paradigma adotado.
Este paradigma pode ser religioso, filosófico, sócio-cultural, político-ideológico, materialista-cientificista ou qualquer outro conjunto de ideias com poder de doutrinação ou condicionamento.
Nestes termos, o cético invertido o é exclusivamente quanto às crenças de outros nas quais ele próprio não acredita, o que não aprimora em nada sua visão de mundo.
Adeptos do Ceticismo Invertido não se perguntam "por que eu acredito nisto?" e "porque deveria acreditar naquilo?". Preferem se perguntar "por que eles acreditam naquilo e não nisto, como deveriam?".
Enquanto o Ceticismo Moderno protege o indivíduo do julgamento induzido, em especial das induções projetadas para manipular as massas, o cético invertido tenta induzir julgamentos, se resentindo quando não o consegue.
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Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Eu sou cética, uma das opções criticadas é o materialismo-cientificista, vamos ver se é possível aplicar sua metodologia e torná-lo uma opção válida ao invés de ser apenas mais uma propaganda ideológica.
1- Por que acredito no materialismo* cientificista?
Porque acredito ser o modelo mais promissor para alcançar a verdade, ou no mínimo se aproximar mais dela.
2- Por que acredito ser o modelo mais promissor?
Porque tal modelo se sujeita a todos os tipos disponiveis de testes objetivos que dispomos realizados pelos melhores recursos técnicos que tivermos em mãos, ao contrário de teses teológicas ou filosóficas que ficam restritas a imaginação sem teste objetivo algum, salvo o da lógica formal.
3- Por que acredito que um modelo é mais promissor por se sujeitar a um número maior de testes?
Porque minimiza a chance do modelo estar errado, é claro que devido as nossas limitações nunca podemos atribuir a um modelo 100% de chances de estar correto por mais testado que seja e nem 0% de chances para outro modelo por mais irracional que pareça, no entanto, como só podemos trabalhar com probabilidades uma tese que se mantenha de pé no maior número possível de testes é a mais promissora.
Parei aqui, cheguei a escrever os outros dois porquês mais acabou sendo circular, três não é um resultado tão mal, é?
*Prefiro o termo fisicalista ao invés de materialista, embora no sentido que se quer nesse tópico ele serve existem diferenças entre materialismo e fisicalismo e meu pensamento estaria mais de acordo com o segundo.
P.S: Eu defendo uma opinião, não fico ressentida se discordarem, na verdade acho muito mais divertido debates com opiniões discordes do que concordes.
Cameron disse: Eu sou cética, uma das opções criticadas é o materialismo-cientificista...
Neste caso não foi feito nenhum juízo de valor sobre os paradigmas citados, apenas destacado que possuem potencial de doutrinação e condicionamento, mas só se submete a este poder quem opta por isto.
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Acauan dos Tupis
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Acauan disse: Este paradigma PODE ser religioso, filosófico, sócio-cultural, político-ideológico, materialista-cientificista ou qualquer outro conjunto de ideias com poder de doutrinação ou condicionamento.
Tem razão, esse detalhe acabou me escapando, minha resposta não foi adequada, sorry :(
Acauan disse: “Assim o Ceticismo serve ao autoconhecimento nos permitindo entender porque e como acreditamos no que acreditamos, o que nos ajuda a classificar nossas crenças sem necessariamente confirmá-las ou desmenti-las.”
Sim, isso que falou é muito interessante, pois é justamente neste ponto que no caso das questões religiosas, a fé poderia ser exercitada. Ou pelo menos serviria como mecanismo para desvincular o conhecimento do preconceito...
O individuo não estaria negando ou afirmando sua crença, só estaria exercendo o direito de reconhecer os limites quanto a tolerância das crenças alheias.
Lembrei da proposta do positivismo lógico que dentro das questões filosóficas restringiu e atribui todo o conhecimento a ciência, dando a ela poderes sobre as demais verdades...
Se todos procurassem pelo exercício de um ceticismo da afirmação determinista... Permita-me
Creio que o individuo poderia realmente dar espaço ao autoconhecimento.
Sei que a proposta do tema é sua Acauan, mas gostaria de saber sua opinião e a dos demais colegas...
Silvana disse: Lembrei da proposta do positivismo lógico que dentro das questões filosóficas restringiu e atribui todo o conhecimento a ciência, dando a ela poderes sobre as demais verdades...
O problema com o Positivismo e outras doutrinas cientificistas não é atribuir todo o conhecimento à Ciência e sim restringir o conceito de Ciência aos dogmas de sua própria facção.
Um conceito de Ciência abrangente classifica, interpreta e estuda de modo diferente os aspectos da realidade que podem ser experimentalmente testados e os que não podem.
Conceitos restritos de Ciência adotados por facções cientificistas simplesmente fingem que os aspectos da realidade que não podem ser testados não existem ou não tem qualquer importância para o conhecimento humano, o que é obviamente absurdo.
Acauan dos Tupis
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Fernando disse : Silvana Disse: Creio que o individuo poderia realmente dar espaço ao autoconhecimento.
Fernando_silva Disse: Usando que método?
Depende: Se para descobrir a fé em si ou em Deus. Acho que extático. Segundo a tradição mística de sua preferência.
Se para descobrir seu verdadeiro eu, sua psique, o método usado por uma das escolas da psicanálise, podem ajudar...
Porém, se pensar em utilizar um método "de conhecimento popular dos limites", pense em viver em extremos, largar conforto, família... Enfim, fazer uma daquelas coisas que alguns fazem quando no esgotamento de alguma crise pessoal...
De uma forma ou de outra, sempre irá descobrir algo novo sobre seus limites, desejos e verdades.
Silvana disse: Depende: Se para descobrir a fé em si ou em Deus. Acho que extático. Segundo a tradição mística de sua preferência.
Tipo os 'homens santos' da Índia que passam a vida de tanga, sem tomar banho, cortar o cabelo ou fazer a barba, vivendo de esmolas? Ou o cara que passou a vida com o braço direito para o alto até que ele atrofiou?
Ou se enfiar por toda a vida num convento com voto de silêncio, castidade e pobreza?
Silvana disse: De uma forma ou de outra, sempre irá descobrir algo novo sobre seus limites, desejos e verdades.
Se o preço desta descoberta for alto demais, é melhor ficar sem descobrir.
Silvana disse: Se para descobrir seu verdadeiro eu, sua psique, o método usado por uma das escolas da psicanálise, podem ajudar...
Fernando_silva disse: “Tipo os 'homens santos' da Índia que passam a vida de tanga, sem tomar banho, cortar o cabelo ou fazer a barba, vivendo de esmolas? Ou o cara que passou a vida com o braço direito para o alto até que ele atrofiou?
Ou se enfiar por toda a vida num convento com voto de silêncio, castidade e pobreza?”
Fernando, quando li está sua colocação minha primeira reação foi de ceticismo quanto a sua observação... embora algumas pessoas façam escolhas diferentes das suas, isso não as torna nem superiores a vc nem inferiores também, entende?
Alguns buscam uma iluminação que transcende uma compreensão dentro dos moldes sociais ao qual estamos acostumados.
Porém, outros(como eu) buscam uma iluminação mais próxima da realidade, onde os compromissos pesam, o cotidiano que não espera nosso lampejo de iluminação.
Na verdade esse é o tipo mais comum de praticante extático, digamos assim, porém somos muito “tentados” também, precisamos ter força de vontade para muitas coisas.
Bem, vou te dizer o que faço, eu pratico jejum, pratico meditação, respiração e mentalização e oro, rezo bastante... Exercito o que a minha consciência me diz, testo limites em meu caminho na prática que me dedico.
Para as pessoas que não conhecem, fica mais ou menos como olhar pela primeira vez para o estudo do Adão Kadmon ... Somente para ilustrar...
Porém, respeito a sua observação e a dos colegas, na verdade a vida é feita de escolhas...
Já quando citou a análise, não entendi vc se referiu ao seu micro universo, e fico feliz que nunca tenha precisado de nenhuma terapia, ou nada do gênero, vc é então um abençoado...
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Comentários
Eu sou cética, uma das opções criticadas é o materialismo-cientificista, vamos ver se é possível aplicar sua metodologia e torná-lo uma opção válida ao invés de ser apenas mais uma propaganda ideológica.
1- Por que acredito no materialismo* cientificista?
Porque acredito ser o modelo mais promissor para alcançar a verdade, ou no mínimo se aproximar mais dela.
2- Por que acredito ser o modelo mais promissor?
Porque tal modelo se sujeita a todos os tipos disponiveis de testes objetivos que dispomos realizados pelos melhores recursos técnicos que tivermos em mãos, ao contrário de teses teológicas ou filosóficas que ficam restritas a imaginação sem teste objetivo algum, salvo o da lógica formal.
3- Por que acredito que um modelo é mais promissor por se sujeitar a um número maior de testes?
Porque minimiza a chance do modelo estar errado, é claro que devido as nossas limitações nunca podemos atribuir a um modelo 100% de chances de estar correto por mais testado que seja e nem 0% de chances para outro modelo por mais irracional que pareça, no entanto, como só podemos trabalhar com probabilidades uma tese que se mantenha de pé no maior número possível de testes é a mais promissora.
Parei aqui, cheguei a escrever os outros dois porquês mais acabou sendo circular, três não é um resultado tão mal, é?
*Prefiro o termo fisicalista ao invés de materialista, embora no sentido que se quer nesse tópico ele serve existem diferenças entre materialismo e fisicalismo e meu pensamento estaria mais de acordo com o segundo.
P.S: Eu defendo uma opinião, não fico ressentida se discordarem, na verdade acho muito mais divertido debates com opiniões discordes do que concordes.
Neste caso não foi feito nenhum juízo de valor sobre os paradigmas citados, apenas destacado que possuem potencial de doutrinação e condicionamento, mas só se submete a este poder quem opta por isto.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Saudações a todos.
Antes de continuar... Muito boa sua proposição.
Sim, isso que falou é muito interessante, pois é justamente neste ponto que no caso das questões religiosas, a fé poderia ser exercitada. Ou pelo menos serviria como mecanismo para desvincular o conhecimento do preconceito...
O individuo não estaria negando ou afirmando sua crença, só estaria exercendo o direito de reconhecer os limites quanto a tolerância das crenças alheias.
Lembrei da proposta do positivismo lógico que dentro das questões filosóficas restringiu e atribui todo o conhecimento a ciência, dando a ela poderes sobre as demais verdades...
Se todos procurassem pelo exercício de um ceticismo da afirmação determinista... Permita-me
Creio que o individuo poderia realmente dar espaço ao autoconhecimento.
Sei que a proposta do tema é sua Acauan, mas gostaria de saber sua opinião e a dos demais colegas...
Obrigada.
Abraços a todos.
Usando que método?
O problema com o Positivismo e outras doutrinas cientificistas não é atribuir todo o conhecimento à Ciência e sim restringir o conceito de Ciência aos dogmas de sua própria facção.
Um conceito de Ciência abrangente classifica, interpreta e estuda de modo diferente os aspectos da realidade que podem ser experimentalmente testados e os que não podem.
Conceitos restritos de Ciência adotados por facções cientificistas simplesmente fingem que os aspectos da realidade que não podem ser testados não existem ou não tem qualquer importância para o conhecimento humano, o que é obviamente absurdo.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Depende: Se para descobrir a fé em si ou em Deus. Acho que extático. Segundo a tradição mística de sua preferência.
Se para descobrir seu verdadeiro eu, sua psique, o método usado por uma das escolas da psicanálise, podem ajudar...
Porém, se pensar em utilizar um método "de conhecimento popular dos limites", pense em viver em extremos, largar conforto, família... Enfim, fazer uma daquelas coisas que alguns fazem quando no esgotamento de alguma crise pessoal...
De uma forma ou de outra, sempre irá descobrir algo novo sobre seus limites, desejos e verdades.
Extático:
http://pt.wiktionary.org/wiki/extático
Abraços a todos.
Tipo os 'homens santos' da Índia que passam a vida de tanga, sem tomar banho, cortar o cabelo ou fazer a barba, vivendo de esmolas? Ou o cara que passou a vida com o braço direito para o alto até que ele atrofiou?
Ou se enfiar por toda a vida num convento com voto de silêncio, castidade e pobreza?
Se o preço desta descoberta for alto demais, é melhor ficar sem descobrir.
Nunca fiz análise e não pretendo fazer.
Pq francamente, o poltergeist está cansando meu ceticismo...hehehehe
Coisas estranhas acontecem, mas isto não justifica se adotarem explicações sobrenaturais logo de cara.
Vamos todos desejar sorte ao Apodman.
:\
Fernando, quando li está sua colocação minha primeira reação foi de ceticismo quanto a sua observação... embora algumas pessoas façam escolhas diferentes das suas, isso não as torna nem superiores a vc nem inferiores também, entende?
Alguns buscam uma iluminação que transcende uma compreensão dentro dos moldes sociais ao qual estamos acostumados.
Porém, outros(como eu) buscam uma iluminação mais próxima da realidade, onde os compromissos pesam, o cotidiano que não espera nosso lampejo de iluminação.
Na verdade esse é o tipo mais comum de praticante extático, digamos assim, porém somos muito “tentados” também, precisamos ter força de vontade para muitas coisas.
Bem, vou te dizer o que faço, eu pratico jejum, pratico meditação, respiração e mentalização e oro, rezo bastante... Exercito o que a minha consciência me diz, testo limites em meu caminho na prática que me dedico.
Para as pessoas que não conhecem, fica mais ou menos como olhar pela primeira vez para o estudo do Adão Kadmon ... Somente para ilustrar...
Porém, respeito a sua observação e a dos colegas, na verdade a vida é feita de escolhas...
Já quando citou a análise, não entendi vc se referiu ao seu micro universo, e fico feliz que nunca tenha precisado de nenhuma terapia, ou nada do gênero, vc é então um abençoado...
Abraços fraternos a todos...