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Pessoas-que-Acreditam-em-Coisas

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
Um clássico.

http://www.interney.net/blogs/lll/2009/01/15/pessoas_que_acreditam_em_coisas/
Pessoas-que-Acreditam-em-Coisas

Ocasionalmente, eu converso com pessoas-que-acreditam-em-coisas. Quase sempre, são pessoas que gostam muito de mim, me elogiam efusivamente, dizem que sou um espírito avançado, um homem libertário, uma mente aberta, e que por isso sabem que vou receber com carinho e respeito sua mensagem.

Entretanto, quando a conversa acaba, elas estão invariavelmente irritadas, frustradas e ofendidas. Um dedo sempre acaba sendo brandido na minha cara, em meio a palavras como: "você se acha muito mente aberta, mas sua cabecinha é totalmente fechada e impermeável à verdade!"

Eu, que tentei sinceramente ser carinhoso e respeitoso, fico sem saber o que aconteceu.

Na verdade, todo esse longo artigo é somente para fazer uma pergunta que eu sempre quis fazer sobre as pessoas-que-acreditam-em-coisas, mas tem que ficar pro final.

Auto-Definição de um Liberal Libertário Libertino

Como esse texto pode gerar respostas irritadas, acho melhor começar pelo consagrado hábito de definir as palavras. Primeiro, eu mesmo.

Sou um cético libertário e me acho de mente aberta, sim senhor. Tenho certeza de que o universo, a natureza, o corpo humano, a asa de um besouro, tudo, enfim, são muito mais complexos do que podem imaginar nossas vãs ciências. Imagino que muitos dos fenômenos hoje incompreensíveis, inexplicáveis e sobrenaturais são regidos por leis tão naturais, explicáveis e compreensíveis como a lei da gravidade.

Por isso, e por ser inatamente curioso, eu me deixo aberto a tudo. Visito as igrejas de quem me convida. Escuto as teorias de quem quiser contá-las. Leio sobre astrologia, catolicismo, medicina holística.

Cresci em casa de espíritas e umbandistas e já vi e ouvi coisas que a vã ciência realmente não explica. Muito dessa minha experiência está descrita no conto A Falta que nos Fazem os Figos, um dos meus melhores trabalhos, em meu livro Onde Perdemos Tudo, à venda por módicos dez reais, em formato ebook.

Por outro lado, um amigo meu chamado Guilherme me ensinou uma lição que nunca esqueci: a explicação mais simples em geral é a verdadeira.

Então, diante de uma pessoa que recebe um preto véio, qual é a explicação mais simples e mais provável?
a) que existe um outro mundo invisível, povoado por bilhões de espíritos desencarnados, que eles entram em contato com o nosso mundo, andam entre nós sem ser vistos exceto por alguns poucos, etc etc etc

b) esquizofrenia

Definição de Pessoas-Que-Acreditam-em-Coisas

Será que eu preciso mesmo explicar o que são pessoas-que-acreditam-em-coisas?

Grande parte dos fãs desse artigo são praticantes de religiões estabelecidas que acham que estou falando de místicos e ocultistas. Já soube até de um pastor evangélico que usou o texto para atacar espíritas e umbandistas. Alteridade zero, não entenderam que o artigo é sobre eles também.

Do ponto de vista externo, não há diferença alguma entre alguém que acredita em um negrinho de uma perna só que mora no redemoinho, em um biscoito de farinha que vira o corpo de alguém que morreu há dois mil anos, ou que a posição do planeta Netuno influencia nossas vidas. Um judeu ortodoxo não poderia se imaginar mais diferente do que um matuto que acredita no curupira mas católicos e wiccans, holísticos e macumbeiros, astrólogos e cientólogos, são todos igualmente pessoas-que-acreditam-em-coisas.

Alguém que só bebe cerveja não poderia ser mais diferente do que alguém que só bebe absinto, mas, do ponto de vista de um abstêmio, sinceramente, é tudo a mesma coisa.

Na prática, aliás, a diferença entre uma pessoa-que-acredita-em-coisas e um ateu é mínima: a pessoa-que-acredita-em-coisas acha que todas as crenças estão erradas, menos uma, e o ateu acha que essa também.

Se Você Diz, Eu Acredito

Vamos então ao diálogo. O diálogo abaixo já se repetiu dezenas de vezes na minha vida, com pequenas variações.

A pessoa-que-acredita-em-coisas me chama pra conversar. Sabe que sou uma mente aberta e libertária, blá blá, e quer me expor suas crenças. E eu, tolinho, aceito. A curiosidade sempre vence a experiência. Se não fosse isso, ninguém casava pela segunda vez.

Primeiro, ela me conta qual sua verdade. Essa é a parte fácil.

"Alex", ela diz, pegando em minha mão, muito séria, "existem elefantes roxos que flutuam."

Eu não duvido nem desduvido. Emito um grunhido descompromissado e peço pra pessoa-que-acredita-em-coisas continuar.

Nessa hora, a pessoa-que-acredita-em-coisas pega de novo em minha mão, me olha fundo nos olhos e praticamente implora: "Você acredita em mim, Alex?"

Eu digo que não acredito nem desacredito, mas que acredito que ela acredita e quer o meu bem, então, por mim já está mais que bom.

Algumas pessoas-que-acreditam-em-coisas nunca viram o seu elefante roxo flutuante. Outras afirmam conhecimento pessoal e direto:

"Eu vi. Eu conheço os elefantes. Já flutuei com eles. Agora, você acredita em mim?"

Respondo, pra não condenar prematuramente a conversa, que sim. Afinal, por muito menos testemunho que isso, os americanos proclamaram os irmãos Wright os pais da aviação:

"Se você diz que existem elefantes roxos que flutuam e que você viu, eu acredito."

Se fosse só assim, seria ótimo. Mas nunca é assim.

Mas Como É Que Funciona?

Quase sempre, eu estrago tudo fazendo uma pergunta. Nunca é uma pergunta-desafio. Não nessa etapa. É uma pergunta-curiosidade mesmo. Se eu estou sentado com uma pessoa-que-acredita-em-coisas, é porque quero entender sua visão de mundo.

Então, eu pergunto:

"Mas como o elefante flutua? Quer dizer, se você dissesse que ele voa, eu iria presumir que ele fica batendo suas asinhas freneticamente no ar como um beija-flor. Mas se ele flutua, como ele flutua? Será alguma coisa relacionada aos campos magnéticos?"

Aí começam os gritos:

"Eu sabia! Você se diz mente aberta mas não tem fé nos elefantes roxos que flutuam, fica aí questionando tudo com sua mente tacanha infectada por essa pseudo-ciência que nos enfiam goela abaixo na escola. Onde estava esse seu espírito crítico todo quando lhe ensinaram que as doenças são causadas por micróbios que ninguém vê?"

"Não tenho nenhum amor pela ciência tacanha que nos enfiaram goela abaixo na escola. E não estou duvidando da existência dos elefantes roxos que flutuam. Se você me diz que viu, eu acredito. Mas só estava curioso pra saber o mecanismo através do qual eles flutuam."

"Herege! Infiel! Descrente!"

Eu não me conformo:

"Mas você não teve nem um pouco de curiosidade? Você viu o elefante roxo flutuando e não parou pra se perguntar nem por um segundo como ele faz pra flutuar?"

"Claro que não. Eu não sou um espírito pequeno como você, amarrado a essa pseudociência dos homens. O elefante roxo que flutua é sagrado. Ele só pode ser visto por pessoas que estão em sintonia com as forças elementais do universo. Ele flutua porque não saberia não-flutuar. Na verdade, não é ele que flutua, é o chão que não-flutua aos seus pés."

Esse primeiro atrito ainda dá pra superar. Eu paro de fazer perguntas que a pessoa-que-acredita-em-coisas não sabe mesmo responder e ela se acalma.

A próxima fase é que apresenta o conflito insuperável.

Preciso Que Prometa Mudar sua Vida

Finalmente, eu consigo convencer a pessoa-que-acredita-em-coisas de que sua palavra é suficiente para mim. Se ela diz que existem elefantes roxos que flutuam, então existem elefantes roxos que flutuam. Mas e daí?

Pois é no "e daí" que a coisa se complica. Os elefantes roxos que flutuam não se limitam a existir. Eles sempre querem alguma coisa de nós.

(Eu, por exemplo, bem acho que deus pode existir. Não vejo irracionalidade ou improbabilidade alguma em o big bang ter sido acionado por uma mão divina ou que uma mão divina tenha criado as espécies animais e os planetas, etc. A grande questão é outra: por que deveria eu viver de forma diferente só porque o universo foi criado por um ser divino e não por forças cósmicas aleatórias?)

Então, meu interlocutor coloca de novo a mão sobre a minha (pessoas-que-acreditam-em-coisas também acreditam firmemente em contato físico) e diz:

"Pois bem, Alex, já que você é uma mente cheia de luz que aceita a verdade cósmica dos elefantes roxos que flutuam, eu preciso te dizer que os elefantes roxos que flutuam revelaram para nós, os espíritos iluminados capazes de ver os elefantes roxos que flutuam, que a fonte de todo o mal na humanidade é usar camisetas brancas, aquelas básicas, de malha."

"Hã, tipo Hering?"

"Nem fale esse nome que você atrai más vibrações. Essa empresa é a maior incentivadora do mal no mundo."

(Por algum motivo que me escapa, as pessoas-que-acreditam-em-coisas geralmente implicam com as palavras, dando a elas um poder que não têm. Como nos livros de Harry Potter, onde ninguém, a não ser o Harry, tem coragem de pronunciar o nome do vilão Voldemort. Naturalmente, essa cegueira só faz facilitar o renascimento do feiticeiro. Mais naturalmente ainda, os livros de Harry Potter são quase que unanimemente considerados pelas pessoas-que-acreditam-em-coisas como fortes incentivadores das forças diabólicas blá blá)

Estamos chegando na parte complicada. A pessoa-que-acredita-em-coisas coloca a mão em cima da minha e diz:

"Você acredita em mim?"

"Sim", eu digo, como o rapaz bonzinho que sou.

"Você acredita que eu só quero o seu bem, que só estou aqui com você (isto é, perdendo meu tempo falando com um descrente) porque acredito que você vale a pena, que você não veio a esse mundo por acaso, que você está pronto para receber a verdade que eles não querem que você saiba?"

"Sim", eu respondo.

(Quase sempre, é verdade. Eu tenho um canto especial no meu coração para as pessoas que acreditam sinceramente que eu vou pro inferno por toda a eternidade e fazem tudo o que podem pra evitar essa tragédia.)

"Então, prometa que nunca mais irá usar camisetas brancas. Jamais. Para o seu próprio bem. Para o bem da sua alma."

Pronto. Não há conversa com pessoa-que-acredita-em-coisas que não chegue inevitavelmente nessa fase.

As pessoas-que-acreditam-em-coisas não estão satisfeitas com o respeito que você tem pela crença delas. As pessoas-que-acreditam-em-coisas não estão satisfeitas de você garantir que confia em suas palavras e que, bem, se dizem que viram elefantes roxos flutuantes, então é porque existem mesmo.

Não, meus amigos. As pessoas-que-acreditam-em-coisas querem mudar a sua vida. E não se satisfazem com menos.

E a MINHA vida seria muito mais simples se eu fosse capaz de colocar minha mão em cima da mão deles que está em cima da minha outra mão e dizer:

"Sim!, claro!, claro que sim! Claro que vou mudar um hábito de toda uma vida só por causa de uma afirmação completamente não-fundamentada feita por um quase completo desconhecido. Como não?"

Mas, raios, eu não consigo.

Então, suavemente, respeitosamente, tomando o máximo de cuidado para enfatizar minha tolerância, eu digo:

"Olha, eu não posso prometer isso, não."

O pior é a surpresa sincera de sua indignação:

"Mas como não? Você não ouviu tudo o que acabei de falar?!"

"Ouvi, claro, mas-"

"E, mesmo depois de ouvir tudo isso, como pode ainda assim dizer que continuará usando essas camisetas brancas de malha?"

Sei que estou em território minado e que todas essas palavras serão jogadas na minha cara com ódio de qualquer jeito mas, para satisfazer minha consciência, tomo todo cuidado possível para ser extra-delicado e respeitoso:

"Bem, acredito em você quando diz que viu os elefantes roxos flutuando, mas isso não significa que estou disposto a mudar minha vida por causa desse fato."

E, com mais cuidado, eu acrescento:

"Além disso, você não me deu nenhum motivo concreto para parar de usar camisetas brancas."

(Reparem que eu não disse "motivo lógico". Para as pessoas-que-acreditam-em-coisas, a palavra "lógica" tem o mesmo efeito do que alho para vampiros. Confesso que também não gosto muito de lógica. As pessoas que invocam muito a lógica em geral estão querendo te engrupir. Hoje em dia, a lógica é muito mais usada para enganar e confundir do que para explicar, mas pelo menos não tenho medo da palavra.)

E continuo:

"Você nem mesmo me explicou a relação entre os elefantes roxos que flutuam e as camisetas brancas. De que modo as camisetas brancas nos afetam negativamente? O que exatamente elas fazem? Afetam nossas vibrações? Roubam nossa energia? Atraem maus espíritos?"

(Espero que a essa altura do campeonato vocês já tenham percebido que nada desse artigo é ficção. Todas as frases que estão aqui eu já ouvi trocentas vezes, de tudo quanto é pessoa-que-acredita-em-coisas, de evangélicos a wiccans. Essa próxima então é a minha preferida.)

"Alex", diz o outro, com ar superior, "eu realmente não me rebaixaria a explicar, pra um homem da sua inteligência e da sua capacidade, o enorme poder nocivo das camisetas brancas."

Eu coço a cabeça:

"Recusa?"

"Claro que recuso. É óbvio. Patentemente óbvio. Você só não vê porque não quer. Porque está com o coração endurecido. Porque, ao contrário do que pensa em sua imensa vaidade, sua mente está fechada a tudo que não se conforme à sua visão estreita de mundo. Porque está comprometido com a verdade DELES."

É nesse ponto que fica patente a total inutilidade de conversar com pessoas-que-acreditam-em-coisas. Elas não querem que você escute suas crenças, ou que as respeite, ou mesmo que as aceite. Elas querem, sinceramente, a sua alma, e não se contentam com nada menos do que isso.

Na verdade, como nunca passei desse estágio, nem sei se é apenas isso que querem. Pode ser que quando você lhes hipoteque sua alma, eles queiram ainda mais. Pode ser que quando você diga "sim, claro, nunca mais usarei camisetas brancas", eles já tenham outro pedido ainda mais despropositado pra fazer. Jamais saberei.

Finalmente, abandono um pouco a diplomacia e tolerância que mantive até ali e tento esclarecer:

"Desculpa, deixa eu ver se eu entendi direito. Você me vem com uma crença totalmente insensata de elefantes roxos que flutuam e espera que eu acredite nisso baseado somente na sua palavra. Ou seja, eu tenho que pesar, de um lado, toda a minha experiência de vida, tudo o que eu já observei e estudei e, do outro, somente você. Mesmo assim, contra qualquer lógica, eu escolho a sua palavra, apesar de você nunca se dar ao trabalho de nem mesmo tentar explicar como os elefantes ficaram roxos ou como flutuam.

Então, você afirma que a existência de elefantes roxos flutuantes significa que camisetas brancas são malignas, mas em momento algum você nem tenta clarificar qual é a conexão lógica entre esses dois fatos aparentemente desconexos. Também não explica de que modo ou porque as camisetas brancas são malignas, por isso ser tão patentemente óbvio para qualquer ser pensante. Por fim, com base nessa cadeia de afirmações mais frágil do que um prédio do Sergio Naya, você pretende que eu abandone um hábito de uma vida inteira. É isso?"

"Sim. Exatamente. Então, você promete?"

Você Precisa Sentir Que Estou Falando a Verdade

Estamos chegando finalmente à minha grande dúvida sobre as pessoas-que-acreditam-em-coisas, a dúvida que motivou todo esse artigo.

Quando digo que não vou mudar meus hábitos em função de suas crenças, as pessoas-que-acreditam-em-coisas ficam tão surpresas e indignadas que eu me pergunto: como reagem normalmente seus outros interlocutores? Será que sou o único que se recusa?

A maioria das pessoas-que-acreditam-em-coisas (exceto as que estão em maioria, como cristãos no ocidente, etc) vive em um mundo repleto de pessoas-que-não-acreditam-nas-coisas-em-que-acreditam. E suponho que devem rotineiramente expor suas crenças para os descrentes, especialmente para os descrentes que amam, para aqueles que querem sinceramente salvar dos efeitos malignos das camisetas brancas e afins.

E volto à dúvida: como é então que funciona isso? Será que sou o único que se recusa a mudar de hábitos?

E as pessoas-que-acreditam-em-coisas respondem, tentando fazer eu me sentir culpado:

"Você não entende, não é, Alex? Acha mesmo que eu me dou a tanto trabalho, que perco tanto tempo, com qualquer um? Estou aqui transmitindo essas verdades vitais pra você porque acho que você vale a pena, porque sei que você é um ser especial que foi colocado nesse planeta para cumprir uma missão única. Porque acreditei que entenderia." (Quase dá pra ouvir seu coração lentamente se despedaçando.)

"Realmente não entendo." Eu respondo: "Você esperava sinceramente que eu largasse hábitos de toda uma vida... só porque você disse pra eu fazer isso? Baseado em quê? Você nem ao menos me deu qualquer tipo de razão."

E a pessoa-que-acredita-em-coisas mais uma vez coloca sua mão sobre minha mão e afirma:

"Baseado na sua intuição, na sua fé. Você tem que *sentir*, no seu âmago, que eu estou falando a verdade."

"Pôxa", eu respondo, "a única coisa que estou sentindo é vontade de ir embora."

Nunca li Dawkins, que sempre me pareceu um ateu militante, algo que desprezo um pouco, mas Freud em O Futuro de uma Ilusão já falou tudo o que eu sempre quis dizer sobre religião.

Você Não Pode Estar Sinceramente nos Comparando a Eles!

Estamos chegando no fim da conversa.

A pessoa-que-acredita-em-coisas finalmente percebe que não vai conseguir mudar toda minha filosofia de vida ao longo de um único almoço. Então, fica puta, defensiva, ofendida.

"Você é o pior tipo de cético, Alex. Você é o cínico que vaidosamente se considera cabeça aberta. Mas você nunca deu uma chance à verdade que tentei lhe transmitir. Já chegou com ouvidos moucos e coração endurecido."

"Não é verdade. Eu te ouvi com o mesmo respeito e atenção que ouço as pessoas que acreditam em rinocerontes verdes subterrâneos ou trutas vermelhas intergalácticas. Sei que são pessoas que acreditam sinceramente em suas crenças e que sinceramente querem o meu bem, então escuto com respeito.

Pronto. É exatamente nesse momento que eu alieno, irremediavel e inapelavelmente, todas as pessoas-que-acreditam-em-coisas:

"Peraí, Alex, agora você está me agredindo. Você não pode sinceramente querer comparar a minha fé com a dessas pessoas que acreditam em rinocerontes verdes subterrâneos. Só fanáticos idiotas de uma seita xexelenta poderiam acreditam em uma superstição medieval sem nenhum embasamento como essa! Sobre os elefantes roxos flutuantes, por outro lado, já existe toda uma sabedoria acumulada, um cânone consagrado, milênios de estudos, um corpus de compêndios sapienciais, grandes exegetas e estudiosos, uma disciplina rigorosa de corpo e mente!"

Eu suspiro:

"O pessoal dos rinocerontes verdes subterrâneos fala a mesma coisa."

"Sim, mas porque são uns fanáticos intolerantes que só enxergam sua própria superstição. Eu vou ficar ofendido se você der a entender, mais uma vez, que nós temos algo a ver com esses hereges dos rinocerontes verdes subterrâneos."

"Bem, o pessoal dos rinocerontes verdes subterrâneos também chegou pra mim com a melhor das boas intenções, também me juraram que existem rinocerontes verdes subterrâneos, mas não explicaram como eles fazem pra viver debaixo do solo, e me alertaram para não usar camisas pólo azuis, mas não me explicaram nem porque elas fazem mal nem qual a relação delas com os rinocerontes verdes subterrâneos. Então, o que eu faço? Quem está com a razão?"

"Olha só, Alex, se não vai falar sério, não dá pra conversar. Eu perdi uma tarde inteira pra te ajudar e você me vem com deboche. Você não pode estar sinceramente considerando que esses caras são sérios. Eles acreditam em rinocerontes verdes subterrâneos, pelo amor de deus. Uma coisa que não faz o menor sentido. Totalmente ridícula!"

E ainda riem:

"Onde já se viu!
Rinocerontes verdes subterrâneos!"
Post edited by Fernando_Silva on
«1

Comentários

  • 28 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Esse texto é fantástico.
  • SilvanaSilvana Membro
    edited março 2012 Vote Up0Vote Down
    Saudações Fernando_silva
    Saudações a todos.
    Fernando_silva disse:Tenho certeza de que o universo, a natureza, o corpo humano, a asa de um besouro, tudo, enfim, são muito mais complexos do que podem imaginar nossas vãs ciências. Imagino que muitos dos fenômenos hoje incompreensíveis, inexplicáveis e sobrenaturais são regidos por leis tão naturais, explicáveis e compreensíveis como a lei da gravidade.

    Puxa, achei uma das compreensivas faces de Fernando_silva...
    Por favor, não me entenda mal...
    Porém, fiquei surpresa...
    Legal!!!
    Fernando_silva disse: Cresci em casa de espíritas e umbandistas e já vi e ouvi coisas que a vã ciência realmente não explica. Muito dessa minha experiência está descrita no conto A Falta que nos Fazem os Figos, um dos meus melhores trabalhos, em meu livro Onde Perdemos Tudo, à venda por módicos dez reais, em formato ebook.

    Vou comprar...
    Segue a máxima, não se avalia o livro pela capa, podemos descobrir coisas mais profundas....
    Como faço para adquirir seu livro?
    Fernando_silva disse: A pessoa-que-acredita-em-coisas me chama pra conversar. Sabe que sou uma mente aberta e libertária, blá blá, e quer me expor suas crenças. E eu, tolinho, aceito. A curiosidade sempre vence a experiência. Se não fosse isso, ninguém casava pela segunda vez.

    Mente aberta e libertária... hummm quero ler mais... porém, gostei da parte do bla bla bla....
    Eu sempre faço isso com minhas falas também. É divertido... brincar com os monólogos da gente...

    Quem abduziu Fernando_silva???
    Ele está outro...

    Fernando_silva disse: "Alex", ela diz, pegando em minha mão, muito séria, "existem elefantes roxos que flutuam."

    Puxa, vida... hahaha.
    Fernando_silva disse: Nessa hora, a pessoa-que-acredita-em-coisas pega de novo em minha mão, me olha fundo nos olhos e praticamente implora: "Você acredita em mim, Alex?"

    Não caia nessa, eles estão somente tentando te manipular.... O sim é sim, o não é não....
    Fernando_silva disse: Respondo, pra não condenar prematuramente a conversa, que sim. Afinal, por muito menos testemunho que isso, os americanos proclamaram os irmãos Wright os pais da aviação:

    Boa, muito boa essa.
    Fernando_silva disse: Quase sempre, eu estrago tudo fazendo uma pergunta. Nunca é uma pergunta-desafio. Não nessa etapa. É uma pergunta-curiosidade mesmo. Se eu estou sentado com uma pessoa-que-acredita-em-coisas, é porque quero entender sua visão de mundo.

    Vc não estraga nada, as perguntas fazem parte da interlocução natural em uma conversa, se não conseguem responder o que queria ouvir, ou o que acredita ser a verdade, isso faz parte...
    Porém, continuarei lendo este que me pareceu um texto bem esclarecedor...

    Fernando_silva disse: "Mas como o elefante flutua? Quer dizer, se você dissesse que ele voa, eu iria presumir que ele fica batendo suas asinhas freneticamente no ar como um beija-flor. Mas se ele flutua, como ele flutua? Será alguma coisa relacionada aos campos magnéticos?"

    Lembrei do Dumbo, isso é da sua época, de infância, vc lembra?
    Eu tinha um na minha cabeceira, porém, eu sabia que o Dumbo e uma analogia...
    Eu amo o Dumbo e sua representação.... O Dumbo, representa o diferente, o que voava onde outros não faziam, não iam, ele permitiu que os outros de sua espécie pudessem ver o quanto ele era lindo, e não era por voar... Era por ser especialmente generoso...

    Fernando_silva disse: (Eu, por exemplo, bem acho que deus pode existir. Não vejo irracionalidade ou improbabilidade alguma em o big bang ter sido acionado por uma mão divina ou que uma mão divina tenha criado as espécies animais e os planetas, etc. A grande questão é outra: por que deveria eu viver de forma diferente só porque o universo foi criado por um ser divino e não por forças cósmicas aleatórias?)

    Com certeza abduziram o Fernando_silva.... Brincadeira...
    Fernando, Sua vida não muda em nada, mais meu pensamento sobre vc sim... Não que isso mude sua vida... Nem a minha, porém, agora percebo que posso ter sido injusta com vc em outro post.

    Fernando_silva disse: "Sim!, claro!, claro que sim! Claro que vou mudar um hábito de toda uma vida só por causa de uma afirmação completamente não-fundamentada feita por um quase completo desconhecido. Como não?"

    Mas, raios, eu não consigo.


    sim, esse é vc, agora sim... enfim te achei...
    Fernando_silva disse: As pessoas que invocam muito a lógica em geral estão querendo te engrupir. Hoje em dia, a lógica é muito mais usada para enganar e confundir do que para explicar, mas pelo menos não tenho medo da palavra.)

    Isso faça isso, a palavra(lógica) não define o pensamento muito menos o caráter de ninguém...
    Fernando_silva disse: Nunca li Dawkins, que sempre me pareceu um ateu militante, algo que desprezo um pouco, mas Freud em O Futuro de uma Ilusão já falou tudo o que eu sempre quis dizer sobre religião.

    hum....

    Bom te conhecer melhor... Foi um prazer...


    Abraços fraterno.
    Post edited by Silvana on
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Silvana disse:
    Puxa, achei uma das compreensivas faces de Fernando_silva...
    Por favor, não me entenda mal...
    O texto não é meu, mas eu concordo com ele.
    Silvana disse: Como faço para adquirir seu livro?

    Não é meu, é do Alex Castro. Veja o link no início.

    Meu blog é este:
    http://fernandosilva.multiply.com/journal
  • Saudações Fernando
    saudações a todos
    Fernando_silva disse: O texto não é meu, mas eu concordo com ele.

    Sim, eu entendi errado. as vezes entro muito rapidamente... O que não desculpa meu engano. hahaha.

    Fernando, no fundo achei esse texto muito parecido com seu jeito de ser, pelo menos aqui no site, entende?


    abraços fraternos.
    abraços a todos.
  • ah, antes de ir...
    Quando abri o link de seu site, vi sua imagem de perfil... hahaha.
    Está na inquisição... Cheguei a ficar com pena de minha irmã na fogueira...

    Abraços Fernando
  • Muito bom o seu texto. Gostei das analogias que fez. Li "Deus um delírio" do Dawkins. Recomendo. O mundo precisa de mais pessoas inteligentes e esclarecidas como você. Parabéns!
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Capitu disse: Muito bom o seu texto. Gostei das analogias que fez. Li "Deus um delírio" do Dawkins. Recomendo. O mundo precisa de mais pessoas inteligentes e esclarecidas como você. Parabéns!

    Capitu,

    O texto é do Alex Castro. Meu blog é este:
    http://fernandosilva.multiply.com/journal
  • CRIATUROCRIATURO Membro
    edited abril 2012 Vote Up0Vote Down
    Fernando_Silva disse: a posição do planeta Netuno influencia nossas vidas.

    antigamente eu pensava que horóscopos era pura bobagem e continuo acreditando que é no sentido de prever o futuro, mas no quesito "personalidade" eu acho que tem muito haver.
    Não que posições astrais tenham poder para definir personalidades pois isso seria a consumação da falta de livre arbitrio caracterizando o " deus" do determinismo ateu.
    Mas acredito e não sei porque motivo espiritos possuidores de caracter de personalidades parecidas nascem quando tais planetas encontram naquela determinada posição.
    Fernando_Silva disse: Alguém que só bebe cerveja não poderia ser mais diferente do que alguém que só bebe absinto, mas, do ponto de vista de um abstêmio, sinceramente, é tudo a mesma coisa.

    Esse Alex é um tipo muito engraçado, porem um cético que faz uso dos tradicionais argumento ateus:
    comparação tosca: "crentes são bebados e ateus são sóbrios" ?
    Crente e ateus saõ parecidos , pois crente não acredita na religião dos outros e ateu não acredita em nenhuma.
    Crentes são bitolados pela fé, não questionam os fatos.
    mas uma coisa ele tem razão, o mal de todas as crenças inclusive atéia é o orgulho de acharem que estão mais certos do que os outros.
    Fernando_Silva disse: Nessa hora, a pessoa-que-acredita-em-coisas pega de novo em minha mão, me olha fundo nos olhos e praticamente implora: "Você acredita em mim, Alex?"

    Eu acho que esse cara andou sendo entrevistado pelo gordo (Jô
    Soares)...he..he..he...he
    Fernando_Silva disse: A grande questão é outra: por que deveria eu viver de forma diferente só porque o universo foi criado por um ser divino e não por forças cósmicas aleatórias?)

    Ninguem deveria viver de outra forma a não ser trabalhando para o Bem comum e universal.
    Post edited by CRIATURO on
    sinto logo existo!
    sem nenhuma consciência sem existências
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    CRIATURO disse: Não que posições astrais tenham poder para definir personalidades pois isso seria a consumação da falta de livre arbitrio caracterizando o " deus" do determinismo ateu.
    Explique essa história de 'determinismo ateu'.
    CRIATURO disse:
    antigamente eu pensava que horóscopos era pura bobagem e continuo acreditando que é no sentido de prever o futuro, mas no quesito "personalidade" eu acho que tem muito haver.

    É bobagem. Ponto final.
  • Fernando_Silva disse: Explique essa história de 'determinismo ateu'.

    PARA OS AGNÓSTICOS caso Deus exista ele é incompativel com o livre arbitrio, pois consideram que a onisciência determina o futuro.
    sinto logo existo!
    sem nenhuma consciência sem existências
  • não raramente vemos pessoas prevendo o futuro, querer ignorqar isso é desejar continuar sendo ateu.
    Se suas criaturas conseguem algumas vezes preverem o futuro,não podemos esperar menos que a onisciência do seu Criador.
    sinto logo existo!
    sem nenhuma consciência sem existências
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    CRIATURO disse:
    Fernando_Silva escreveu:
    Explique essa história de 'determinismo ateu'.

    PARA OS AGNÓSTICOS caso Deus exista ele é incompativel com o livre arbitrio, pois consideram que a onisciência determina o futuro.

    Se Deus existir e for onisciente, a conclusão lógica é que não há livre arbítrio.
    Acontece que quem afirma que Deus existe e é onisciente são os crentes e não os ateus, portanto não tem essa de 'determinismo ateu'. Os ateus estão apenas mostrando como os crentes são contraditórios.
  • Fernando_Silva disse: Se Deus existir e for onisciente, a conclusão lógica é que não há livre arbítrio.

    JUSTIFIQUE SUA LÓGICA.
    sinto logo existo!
    sem nenhuma consciência sem existências
  • The_DoctorThe_Doctor Membro
    edited abril 2012 Vote Up0Vote Down
    CRIATURO disse: Fernando_Silva disse: Se Deus existir e for onisciente, a conclusão lógica é que não há livre arbítrio.

    JUSTIFIQUE SUA LÓGICA.

    De novo?? Quantas vezes precisamos repetir a resposta a essa pergunta pra voce entender??
    Post edited by The_Doctor on
    Eu sou o Doutor. Venho do planeta Gallifrey da constelação de Kasterborous. Com a minha nave, a TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space (Tempo e Dimensões Relativas No Espaço) eu viajo por varios mundos e épocas combatendo as injustiças em minhas explorações. Eu o convido para me acompanhar em minhas aventuras, a maioria delas perigosas. Voce quer me acompanhar?

    Total de Mensagens:
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  • Lucifer disse: De novo?? Quantas vezes precisamos repetir a resposta a essa pergunta pra voce entender??

    Só se for do ponto de vista ateu.
    obs. não existem sardinhas chifrudas com barbas.
    sds
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  • CRIATURO disse: Mas acredito e não sei porque motivo espiritos possuidores de caracter de personalidades parecidas nascem quando tais planetas encontram naquela determinada posição.

    Os planetas nunca se aliam na mesma posição.

    A posição relativa do observador e a falta de instrumentos técnicos de medição podem levar a interpretações nesse sentido.
  • The_DoctorThe_Doctor Membro
    edited abril 2012 Vote Up0Vote Down
    CRIATURO disse: obs. não existem sardinhas chifrudas com barbas.

    KCT!! Não acredito!! O cara teve a coragem de entrar em meu reino só pra constatar isso?? Só espero que não tenha esquecido de pagar os pedagios e a autorização para pesca em meu reino, senão meus advogados vao cair matando (e aqui no inferno da cheio deles).

    Alias, gastar um post com o meu numero (666) com o Criaturo não era o que eu estava pensando.
    Post edited by The_Doctor on
    Eu sou o Doutor. Venho do planeta Gallifrey da constelação de Kasterborous. Com a minha nave, a TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space (Tempo e Dimensões Relativas No Espaço) eu viajo por varios mundos e épocas combatendo as injustiças em minhas explorações. Eu o convido para me acompanhar em minhas aventuras, a maioria delas perigosas. Voce quer me acompanhar?

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  • reino do faz de conta.
    sinto logo existo!
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    CRIATURO disse: reino do faz de conta.

    Olha quem fala...
  • CRIATURO disse: reino do faz de conta.

    Olha quem fala...2
    Eu sou o Doutor. Venho do planeta Gallifrey da constelação de Kasterborous. Com a minha nave, a TARDIS (Time And Relative Dimensions In Space (Tempo e Dimensões Relativas No Espaço) eu viajo por varios mundos e épocas combatendo as injustiças em minhas explorações. Eu o convido para me acompanhar em minhas aventuras, a maioria delas perigosas. Voce quer me acompanhar?

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  • Ótimo texto.
    Eu já ví fenômenos sobrenaturais nas minhas antigas andanças por casas espíritas e afins. Não aconteceu mágica, charlatanisse e etc nessas visitas onde presenciei tais fenômenos. Claro, já ví tambem situações onde a paranormalidade era forjada, coisas lamentáveis, mas o que ví e julgo verdadeiro, posso atestar como absoluta certeza a veracidade do fenômeno. Não acredito que sou tão louco e tão burro para me enganar com isso.
    Lendo o texto ví uma frase muito feliz do autor quando fala que se aconteceu o sobrenatural, deve haver uma explicação lógica e científica, porem ainda não temos meios de compreende-la.
  • JohnnyJohnny Membro
    edited abril 2012 Vote Up0Vote Down
    "se aconteceu o sobrenatural, deve haver uma explicação lógica e científica, porem ainda não temos meios de compreende-la"

    Elementar meu caro Watson. O problema é que na maioria das vezes, não há interesse em provar ou investigar tais fenômenos com seriedade, ficando apenas a vontade frenética de mascará-los com a tarja de charlatanisse ou "aconteceu apenas no âmbito da experiência pessoal..."
    Post edited by Johnny on
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    edited abril 2012 Vote Up0Vote Down
    Johnny disse: Elementar meu caro Watson. O problema é que na maioria das vezes, não há interesse em provar ou investigar tais fenômenos com seriedade, ficando apenas a vontade frenética de mascará-los com a tarja de charlatanisse ou "aconteceu apenas no âmbito da experiência pessoal..."

    Na verdade estes alegados fenômenos foram estudados durante anos, tendo se tornado uma moda no meio científico em certas épocas.
    Estes períodos de interesse em que eram publicados dezenas de estudos sobre alegados fenômenos paranormais eram sistematicamente seguidos de outro que criticava os métodos e conclusões destes estudos e no fim não se chegava a consenso algum. Se nas últimas décadas a parapsicologia saiu de moda e seus alegados fenômenos voltaram a ser considerados mágica de salão não é por preconceito da comunidade científica e sim por absoluta falta de novidades na área.

    Post edited by Acauan on
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador


    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/1074642-alfinetando-a-acupuntura.shtml

    Alfinetando a acupuntura

    Um dos temas recorrentes desta coluna, que mantenho há 13 anos, tem sido a distinção entre ciência e pseudociência. Já perdi as contas de quantas vezes falei mal de homeopatia, design inteligente, ufologia, psicanálise e outras formas de religião travestidas de tecidos sapientes.

    A acupuntura tinha até agora escapado a críticas, pela simples razão de que as evidências disponíveis na literatura sugeriam que ela funcionava melhor do que placebo. Isso, é claro, colocava uma dificuldade teórica. Pelo menos aqui no Ocidente racionalista, não se imaginava que os efeitos positivos da milenar arte chinesa se deviam ao fluxo do Ch´i, uma espécie de força vital, através dos meridianos corporais.

    Outros mecanismos biologicamente mais verossímeis, como a noção de que a dor é controlada por portais e a liberação de opióides endógenos, foram postulados. Nada, porém, ficou comprovado. A acupuntura parecia ser um daqueles casos de terapias efetivas à espera de uma explicação satisfatória.

    Não foi sem surpresa, portanto, que, ao pesquisar para escrever um texto para a edição impressa da Folha, descobri que o problema talvez não estivesse na ausência de uma boa teoria, mas sim na presença de dados pouco confiáveis.

    Os responsáveis por essa revelação são Simon Singh, um físico de partículas que se dedica à divulgação científica no Reino Unido, e Edzard Ernst, médico que estuda terapias complementares e acabou se tornando um crítico delas. E a obra em que apresentam seu caso é o instrutivo "Trick or Treatment", de 2008.
    Além de acupuntura, eles tratam em detalhe de homeopatia, quiropraxia e fitoterapia.

    Não são daqueles céticos absolutos que não acreditariam em elefantes trafegando na av. Paulista nem se fossem atropelados por um. Eles dizem, por exemplo, que a quiropraxia e a medicina herbal por vezes funcionam melhor do que placebo, ainda que tenhamos de ser cautelosos ao utilizá-las. Hoje, porém, vou me ater à acupuntura.

    Sua primeira aparição no Ocidente foi em fins do século 17, trazida por médicos viajantes como Wilhelm ten Rhyne e Engelbert Kämpfer. Um praticante entusiasmado foi Louis Berlioz, pai do célebre compositor. Eles não compravam a filosofia do Ch´i, preferindo atribuir seus efeitos a conceitos mais tangíveis como a então recente descoberta dos impulsos elétricos nos nervos.

    Era fácil animar-se com a acupuntura (e também a homeopatia) naquela época em que o que de melhor a medicina tinha a oferecer eram sangrias e remédios à base de metais pesados. A coisa caminhou mais ou menos bem até meados do século 19, quando vieram as guerras do ópio, cujo efeito colateral no Ocidente foi o desprezo por tudo o que vinha do Oriente.

    Na própria China a prática caiu em desuso, pois o imperador Daoguang a via como um empecilho ao progresso e mandou retirá-la do currículo do Instituto Médico Oriental.

    A acupuntura veio a ressurgir com força no país asiático após 1949, quando Mao decidiu promover toda a medicina tradicional chinesa. O dirigente não acreditava nem um pouco nessas práticas e só se tratava com métodos ocidentais. Recorrer a agulhas e chás foi uma decisão estratégica e ideológica. Era a única maneira de oferecer alguma coisa em termos de saúde na escala necessária e ainda ajudava a animar os brios nacionalistas e anti-imperialistas chineses.

    Já no Ocidente, a ressurgência veio nos anos 70, depois que Richard Nixon normalizou as relações com Pequim. Foi uma febre. Médicos dos EUA iam à China para estudar a técnica e voltavam impressionados com relatos de curas miraculosas e até mesmo de grandes cirurgias feitas sem anestesia, apenas com agulhas para bloquear a dor. Talvez um pouco ingenuamente, compraram essas histórias pelo valor de face (hoje há fortes indícios de que as operações sem anestesia eram uma fraude; imagens gravadas sugerem que os pacientes estavam sob doses maciças de drogas).

    O fato é que a acupuntura caiu no gosto do Ocidente e foi chancelada por importantes instituições médicas, sempre com base em trabalhos científicos. Numa revisão de 1979, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a prática era efetiva para mais de 20 doenças, incluindo sinusite, resfriado comum, bronquite, asma, disenteria, artrite.

    Em 2003, a organização voltou à carga e publicou outro trabalho no qual avaliou 293 estudos. Disse que os efeitos da acupuntura haviam sido comprovados para 28 doenças, de enjoos matinais a AVC. Mais ainda, ela parecia ser efetiva para mais 63 moléstias. A OMS recomendava ainda que se fizessem mais trabalhos com vistas a descobrir se funcionaria para daltonismo, surdez, convulsões e coma.

    O sucesso de público não foi menor. Na Europa, em 1990, havia 88 mil acupunturistas tratando mais de 20 milhões de pacientes.

    Bom demais para ser verdade, não é mesmo?

    Bem, ao que tudo indica, não é verdade.

    Profissionais mais céticos não se convenceram e insistiram em que a acupuntura deveria ser investigada com mais rigor. Começaram a produzir estudos de melhor qualidade, que não apresentavam resultados tão positivos. Esses trabalhos foram avaliados numa série de revisões patrocinadas pela reputada rede Cochrane (Cochrane Database of Systematic Reviews, 2006), e as notícias não foram muito boas para os acupunturistas.

    Para começar, os "papers" mostram que a prática não é efetiva para a maioria das moléstias para as quais a OMS a recomenda. De acordo com os trabalhos considerados bons pela rede Cochrane, a acupuntura não é melhor do que placebo para tratar a dependência de cigarros, de cocaína, asma, epilepsia, depressão, glaucoma, demência vascular.

    As metanálises, entretanto, indicaram que pode haver um efeito superior ao de placebos para dores nas costas e de cabeça e alguns tipos de náusea.

    A grande dificuldade para fazer bons trabalhos envolvendo a acupuntura está no grupo controle. Embora tendamos a menosprezar o efeito placebo imaginando que ele não passa de uma sugestão psicológica, é preciso deixar claro que, mesmo sendo uma ilusão, ele é poderoso e desencadeia efeitos fisiológicos reais.

    Assim, comparar um grupo que recebeu agulhadas com um grupo de controle que não foi submetido a nenhum tratamento (e era este o caso de boa parte dos trabalhos mais antigos), dá uma grande vantagem para a acupuntura, já que apenas os primeiros se beneficiam do efeito placebo.

    Uma das inovações que resultou na piora da avaliação da acupuntura nas revisões Cochrane foi a incorporação de controles mais adequados. Em vez de comparar doentes submetidos a acupuntura com pacientes sem tratamento, os novos trabalhos passaram a empregar a "falsa acupuntura", isto é aplicação de agulhadas em pontos "errados" ou sem a profundidade necessária, de modo que o efeito placebo estivesse presente nos dois grupos.

    Quando essa metodologia é utilizada, o que antes aparecia como benefício inequívoco dá lugar a trabalhos com conclusões pouco uniformes, alguns apontando a acupuntura como melhor do que placebo, outros não.

    Os golpes não param por aí. Ernst, um dos autores de "Trick or Treatment", desenvolveu uma agulha cenográfica (ela é telescópica e se retrai ao contato com a pele) que permite um controle ainda mais preciso. Ele só não é perfeito porque a pessoa que aplica as agulhadas sabe que elas não são reais, o que impede que esses estudos sejam duplo-cegos. Quando essas agulhas são utilizadas, não se destacam efeitos extra-placebo da acupuntura ("Acupuncture - A Critical Analysis", in Journal of Internal Medicine, 2006; 259:125-37).

    Singh e Ernst fazem um diagnóstico preciso quando afirmam que o efeito da acupuntura vai se reduzindo à medida que retiramos os vieses dos trabalhos mais antigos. Ao que tudo indica, eles poderão minguar ainda mais nos próximos anos.

    Se esse cenário se confirmar, o fato de a técnica ter recebido uma chancela do "establishment" médico e depois vê-la cassada diz bastante sobre as imperfeições de nossos métodos de avaliação. A situação não é pior porque o método científico tem mecanismo de autocorreção. Eles nem sempre funcionam, mas pelo menos existem, ao contrário do que ocorre em movimentos ideológicos e religiosos.

    Os acupunturistas, é claro, tentam salvar seu edifício, afirmando que a acupuntura falsa também é mais efetiva do que o placebo. Em termos estritamente lógicos, é possível, mas a experiência sugere que, quando um discurso supostamente científico é obrigado a rever todos os seus paradigmas, ele não era tão científico quanto fazia crer.

    Falta ainda uma questão importante para discutir. Muita gente argumenta que, já que o efeito placebo é real, deveríamos incorporá-lo definitivamente à prática médica. Uma mentirinha aqui ou acolá, pílulas de farinha e agulhadas mais ou menos inócuas raramente provocam reações adversas e são relativamente baratas.

    É uma posição utilitariamente respeitável, mas que comporta objeções éticas. A utilização deliberada de placebos em contextos que não os de pesquisa envolve necessariamente ludibriar o paciente. No longo prazo, erode-se a confiança nos profissionais e na própria medicina.

    Se terapeutas alternativos podem submeter pacientes a tratamentos não provados, por que médicos não poderiam fazer o mesmo? Se farmácias homeopáticas podem vender remédios sem princípio ativo, por que os grandes laboratórios não teriam o mesmo direito?

    A disseminação dos placebos talvez até tivesse alguns efeitos benéficos, mas o preço seria alto. Para utilizá-los livremente nós renunciaríamos à troca de franca e aberta de informações que caracteriza o método científico e da qual ele depende.

    Hélio Schwartsman é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na página 2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos. Na Folha.com, escreve às quintas-feiras.
  • Do ponto de vista de alguém que-vivencia-coisas, não dá para fingir que não vivenciou,rs.
    "Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir mão." Thoreau
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