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Picaretagem quântica

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
(Nota: links removidos; ver texto original no link abaixo)

http://ccientifica.blogspot.com.br/2008/04/picaretagem-quntica.html

Publicado em 26/04/2008
Picaretagem quântica


Amit Goswami vem ao Brasil em junho próximo junto com a psiquiatra Uma Krishnamurthy. Eles oferecerão um workshop de um dia inteiro sobre "Criatividade Quântica, Transformação Pessoal e Psicologia do Yoga" pela módica inscrição de R$ 675 (pode fazer em 3 vezes no cartão. Inclui um almoço vegetariano). Para os menos abonados ocorrerão palestras com 3 horas de duração sobre "A Física da Alma", "Economia Espiritual", "O Médico Quântico" e "Psicologia do Yoga e Transformação de Emoções" que custarão entre R$ 297 e 360 (pode fazer em 3 vezes no cartão. Nesses valores não dá para incluir o almoço vegetariano).

Amit Goswami é professor emérito do Institute of Theoretical Science da University of Oregon, nos Estados Unidos. Professor emérito é provavelmente a maior distinção que um professor universitário pode obter, reservada para aqueles que se distinguiram em suas carreiras a ponto de sua instituição não desejar que eles dela se afastem no momento de sua aposentadoria. Certamente o professor Goswami foi um professor exemplar. Infelizmente nos últimos anos vem se dedicando somente a difundir conceitos pseudo-científicos envolvendo mecânica quântica e consciência. Goswami é uma das estrelas do controverso filme "Quem somos nós?", que fez algum sucesso há alguns anos ao misturar misticismo com mecânica quântica.

Goswami é autor dos livros A Física da Alma, O Universo Autoconsciente, O Médico Quântico, A Janela Visionária e Criatividade Quântica. Haja quantização! No entanto, uma busca no ISI Web of Knowledge (acesso apenas para assinantes), um dos maiores bancos de dados de publicações científicas do mundo revela que há mais de 20 anos o prof. Goswami não publica nada em revistas científicas sérias usando o endereço da Universidade de Oregon.

Goswami foi o entrevistado do programa Roda Viva da TV Cultura em 2001. Há uma transcrição aqui. É longo mas divertidíssimo. Ele cita como verdadeiros estudos claramente fraudados, faz referência a uma fauna que mistura cientistas sérios com notórios pseudo-cientistas. Diz pérolas como "Na Física Quântica, o tempo é não-linear", o que não significa absolutamente nada. Goswami voltou ao Roda Viva em 2008. Não me dei o trabalho de ver. Alguém na TV Cultura deve gostar de uma programação quântica.

Parece que o Prof. Goswami tem uma interpretação muito particular da mecânica quântica. Incrivelmente muita gente está disposta a ouví-lo. No filme citado ele diz que "O mundo material que nos cerca não é nada mais que movimentos possíveis da consciência. Eu escolho minha experiência a cada momento. Heisenberg disse que os átomos não são coisas, apenas tendências". Heisenberg nunca disse isso. Os átomos estão aí, independentemente de pensarmos neles ou o que pensemos deles.

Mecânica quântica é a teoria que usamos para descrever as estruturas muito pequenas (da ordem do nanômetro ou menores) do universo. Nessa escala a física clássica do nosso dia-a-dia apresenta resultados incompatíveis com as observações. As leis de Newton não podem ser aplicadas. Não podemos tratar a aceleração de um elétron sob uma força com a equação F=ma. Efeitos devidos ao princípio da incerteza de Heisenberg se tornam importantes. Portanto só podemos descrever um átomo usando a mecânica quântica.

Na mecânica quântica é impossível prever a priori qual será o resultado de uma medida, mas podemos computar a probabilidade de a medida dar cada um dos muitos resultados possíveis. No instante da medida o objeto assume um dos seus possíveis estados (dizemos que a função de onda que descreve o objeto colapsa). A medida é algo sutil e pode ser entendida como uma interação do objeto com o resto do universo. Complicado, não? Místicos como o prof. Goswami costumam achar que essa medida precisa necessariamente ser feita por algum ser consciente. É como se o universo só pudesse existir na presença de uma consciência cósmica ou divina. Nada mais absurdo, como exaustivamente demonstrado por John Bell, um dos maiores especialistas contemporâneos em interpretação da mecânica quântica.


A comunidade científica reiteradamente rejeita como falsas as idéias do prof. Goswami. Já o grande público... Dada a limitada cultura científica reinante, Goswami adora o Brasil, país que visita anualmente desde 1996 a convite da Universidade da Paz (sem comentários). Pior, é venerado como um cientista que trabalha com a fronteira do conhecimento. Goswami foi um dia um cientista. Há muito não o é. As fronteiras da ciência passam longe de mistificações. Juntar misticismo com mecânica quântica é uma obsessão entre os profetas da nova era, os holísticos, os naturebólogos (ver postagem anteiror) entre outros. Alguns dispostos a pagar o que pedirem para celebrar suas crenças. E eu que tinha achado o show do Bob Dylan caro...
Post edited by Fernando_Silva on

Comentários

  • 2 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Não sei como ainda não inventaram uma Igreja do Senhor Jesus Quântico.
    O ateísmo é uma consequência em mim, não uma militância sistemática.
    '' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Um livro detonando o misticismo "quântico". Claro que um dos comentários ao artigo é um sujeito insinuando que o livro foi financiado pela indústria farmacêutica...

    http://www2.unesp.br/revista/?p=6699
    Contra o blablablá quântico

    O mundo subatômico não se importa com seus desejos e suas aflições. Um físico e um jornalista escreveram um manual para protegê-lo dos picaretas que insistem no contrário

    Entrevista a Luciana Christante; leia abaixo o texto na íntegra ou confira em pdf.

    http://www.unesp.br/aci_ses/revista_unespciencia/acervo/44/livros

    BLOG_livro.jpg

    COMBINANDO ALTAS DOSES DE MISTICISMO com uma das teorias mais belas e complexas que a ciência já produziu – a mecânica quântica –, muita gente vem vendendo ilusões na forma de cura quântica, consciência quântica, e por aí vai, desde os anos 1970. A essência da papagaiada quântica é levar as pessoas a pensar que o mundo – inclusive o mundo subatômico – poderia ser controlado pela força dos pensamentos. Em Pura picaretagem (Leya Brasil), o físico Daniel Bezerra e o jornalista Carlos Orsi procuram mostrar as razões pelas quais a espiritualidade quântica não passa de pseudociência. Para isso, fazem um bom apanhado do desenvolvimento da teoria que mudou para sempre os rumos da física e envolveu gênios da ciência, como Max Planck, Niels Bohr, Einstein, entre outros. Por e-mail, Carlos Orsi deu a seguinte entrevista:

    UC O que a mecânica quântica tem de especial para cair nas graças de gurus espiritualistas?
    Orsi Ainda na década de 1920, já havia físicos que alertavam para a provável apropriação futura da mecânica quântica pelo misticismo. Há três fatores que fazem do mundo quântico uma presa atraente nesse sentido. O primeiro é o princípio da incerteza, que diz que algumas propriedades das partículas não podem ser medidas com precisão absoluta. Não é difícil apresentar essa constatação como um sinal de que a ciência “não pode explicar tudo”, criando uma lacuna para alternativas espirituais.

    Outro ponto é o chamado “problema da medição”, o fato de que certas propriedades das partículas subatômicas só parecem assumir um valor definido quando são medidas. Se você supuser que a medição precisa ser feita por um agente consciente, isso abre todo o campo da chamada “consciência quântica”, a ideia de que o mundo é controlado pelos pensamentos das pessoas, ou dos anjos, ou de Deus. Na verdade, a “medição”, pode ser qualquer interação com outro corpo ou partícula: dois elétrons que se repelem estão “medindo” um ao outro, por exemplo.

    O terceiro ponto é o emaranhamento quântico, que diz que duas partículas podem continuar a interagir mesmo se separadas por distâncias enormes, o que dá margem à ideia de que “tudo está interligado”. O fato, no entanto, é que o emaranhamento é um estado extremamente delicado, que pode ser destruído pela menor perturbação. Ao contrário do que alguns astrólogos, por exemplo, gostariam de acreditar, não há a menor chance de o cérebro de um capricorniano estar “quanticamente emaranhado” com o planeta Saturno.

    UC Quais são os principais sinais da picaretagem quântica?
    Orsi O primeiro e maior sinal de alerta é o uso descontextualizado de termos que têm um significado técnico muito preciso, como “frequência” ou “energia”, e a mistura desse jargão científico com um discurso subjetivo. Por exemplo, um tempo atrás ouvi uma pessoa no rádio dizendo que o corpo humano sente a diferença de “energia vibracional” entre uma cenoura comum e uma cenoura orgânica, “rejeita” a primeira, e por isso não adoece. O que dá para dizer, do ponto de vista quântico, é que cada cenoura tem uma onda associada, e essas ondas são diferentes. O que a pessoa parecia querer dizer é que a onda associada à cenoura orgânica é “do bem”, e a outra é “do mal”, mas isso não faz sentido: partículas subatômicas não têm inclinação moral.

    O quantum não é sensível às intenções humanas. Isso fica claro em experimentos. Se é verdade que algumas propriedades das partículas parecem só surgir quando são medidas, também é verdade que é impossível escolher o resultado da medição: se a equação diz que a partícula tem 60% de chance de apresentar um certo estado e 40% de chance de apresentar outro, o resultado da medição é ditado por essas probabilidades, não pela minha vontade. A descontextualização, por sua vez, leva ao segundo principal sinal, que é a ideia de que as intenções humanas têm controle sobre o mundo. Isso é verdade em vários contextos, como o social ou o político, mas não no físico. Mentalização não mata bactérias. Para isso você precisa de antibióticos.

    Blog_imagem.jpg

    UC Além de ilusões, a picaretagem quântica pode trazer também riscos?
    Orsi Há o risco de perda material, com as pessoas gastando dinheiro em produtos, como pulseirinhas “quânticas”, que não servem para nada. E há um risco ainda maior para a saúde. Pessoas abandonam tratamentos comprovados para se submeterem a terapias fajutas com magnetos, luzes coloridas, aromas, todas mascaradas por um jargão “quântico”. Isso custa vidas. Há várias aplicações da mecânica quântica na medicina – a radioterapia e a tomografia são exemplos –, mas essas aplicações não têm nada a ver com a ideia de que as intenções humanas controlam o universo. O câncer não desaparece quando você harmoniza seus pensamentos com o fluxo cósmico, seja lá o que isso for. Essa também é uma doutrina que estimula, no fim, um sentimento forte de culpa: se o câncer me derrota, a culpa é minha, porque não consegui manter minhas “energias” focadas. É justo fazer pessoas que já estão sofrendo acreditarem em algo assim?

    UC Que tipo de leitor você tinha em mente quando decidiram escrever o livro?
    Orsi A pessoa curiosa que ouviu o “galo quântico” cantar mas não sabe bem onde. No fundo, meu leitor ideal sou eu mesmo, com 16 anos de idade, época em que o misticismo quântico começava a ganhar adeptos no Brasil: por algum tempo acreditei que, se me concentrasse bastante, conseguiria passar através das árvores na calçada! Porque, pelo princípio da incerteza, as partículas que formam a árvore não estão exatamente ali, e a maior parte dos átomos é feita de espaço vazio… Pura picaretagem teria sido um bálsamo para mim naquela época. Ou um balde de água fria – muito necessário, aliás.

    UC Você não acha que este livro pode ser apenas “pregação para convertidos”, como se costuma dizer do livro Deus, um delírio, de Richard Dawkins?
    Orsi É um risco, mas espero que não. Mantendo o paralelo com Dawkins, ele costuma dizer que recebe muitos depoimentos de gente que sentia que havia algo errado com a religião, com a ideia de Deus, mas que não conseguia pôr o dedo no ponto crítico – e que seu livro permitiu isso, pôr o problema em foco, materializá-lo. Gostaria que Pura picaretagem pudesse fazer isso por alguém, ajudar uma pessoa que está imersa em misticismo quântico, mas sente que há algo errado, a dar um rumo a sua intuição. Para além disso, no entanto, o livro também tem uma função preventiva: espero que quem vier a lê-lo fique vacinado contra os apelos quânticos fajutos que, certamente, surgirão em sua vida. ♦

    Pura picaretagem – Como livros de esoterismo e autoajuda distorcem a Ciência para te enganar. Saiba como não cair em armadilhas!
    Daniel Bezerra e Carlos Orsi; Leya Brasil; 176 págs. | R$ 29,90

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