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Memórias de um prisioneiro dos campos de concentração da Coreia do Norte

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador

A completa desumanização das pessoas, que denunciam a própria mãe em troca de comida, numa ditadura onde os 'crimes' têm que ser pagos ao longo de 3 gerações.

http://cronai.wordpress.com/2012/05/24/a-banalidade-do-mal/
A banalidade do mal

A primeira lembrança de Shin In Geun é uma execução. Ele tinha quatro anos e, como os demais prisioneiros do Campo 14, um campo para prisioneiros políticos na Coréia do Norte, era obrigado a assistir aos exemplos que os guardas providenciavam. Sua lembrança mais marcante, porém, acontece dez anos depois. É outra execução. Dessa vez, as vítimas são sua mãe e seu irmão, e ambos morrem porque ele mesmo delatou os seus planos de fuga.

Esses dois episódios, descritos sucintamente em três páginas, abrem os trabalhos de “Fuga do campo 14”, de Blaine Harden (Intrínseca, tradução de Maria Luiza Borges). Daí até o final, 220 páginas depois, o livro se lê de um fôlego, como se fosse um romance absurdamente perverso. O que arrepia os cabelos, no entanto, é que não há nada de fictício nessa história, que recorre às memórias de Shin In Geun para contar a vida dos prisioneiros norte-coreanos.

Ele está singularmente qualificado para falar sobre isso. Nasceu no campo, filho de dois prisioneiros a quem os guardas permitiram uma espécie de casamento fugaz, e lá cresceu como inimigo do estado. Para Kim Il-Sung, o Grande Líder, e Kim Jong-Il depois dele, as famílias dos prisioneiros devem expiar as suas culpas durante tres gerações. Pelos relatos de dissidentes e fotos de satélite, calcula-se que cerca de 200 mil coreanos do Norte vivam em campos de concentração.

As condições de vida são tenebrosas. Higiene é palavra desconhecida. Também não há remédios. Sobram piolhos e toda a sorte de parasitas asquerosos, e as doenças mais triviais levam à morte. A fome é constante. Os prisioneiros recebem minguadas porções de fubá diárias, e seu principal pensamento é onde e como conseguir mais comida. Vale tudo, de cascas de árvores a grãos não digeridos encontrados no esterco. Ratos, cobras e insetos são a única fonte de proteínas. Quando Shin In Geun decide fugir, não é com liberdade que sonha, mas com os pratos que lhe descreve um prisioneiro muito viajado.

Como já se pressente no prefácio – aquelas três páginas de choque – Shin In Geun não é uma figura simpática. Blaine Harden, repórter do programa Frontline e colaborador da The Economist, trata seu herói com cautela. Ele sabe que está diante de um ser humano defeituoso: até os 23 anos, quando fugiu do campo, Shin In Geun não teve uma única relação afetiva. Considerava a mãe apenas uma concorrente na obtenção de comida, e mal via o irmão ou o pai.

Cresceu num ambiente de indizível brutalidade, em que os seres humanos estavam reduzidos aos seus instintos de sobrevivência básicos, e em que a delação era moeda de troca para a alimentação. Viu colegas serem mortos no que passava por escola no campo por simples caprichos dos professores, e foi brutalmente torturado. Quando deixou uma máquina de costura cair no chão, teve uma falange do dedo médio da mão direita decepada como castigo.

Shin In Geun seria um superhomem se, crescendo nessas circunstâncias, se tornasse uma boa pessoa ou, pelo menos, uma pessoa equilibrada. Quando chega à Coréia do Sul, depois de passar pela China, não consegue se adaptar. Viaja para os Estados Unidos, recebe ajuda de grupos de apoio a refugiados políticos, mas não encontra um caminho. Ponto para Blaine Harden, que não doura a pílula e descreve, ainda que com reticências, as suas tentativas frustradas de integração.

“Fuga do campo 14” é um livro terrível, mas fascinante. Devia ser leitura obrigatória para quem ainda vê estados totalitários com bons olhos.

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“Fuga do campo 14” foi a primeira janela que encontrei aberta para a Coréia do Norte. Logo fui em busca de outras. Blaine Harden faz referências a “Nothing to envy” (Nada a invejar), de Barbara Demick, que baixei da Amazon, e recomendo calorosamente a quem lê inglês. Baseado em entrevistas com dissidentes, ele mostra que, no país, a vida de prisioneiros e não-prisioneiros tem mais semelhanças do que diferenças. Como na China de Mao ou na União Soviética de Stalin, todos são perpetuamente vigiados por vizinhos e parentes; o comentário mais inocente sobre o regime pode levar uma família inteira ao campo de trabalhos forçados.

A fome é referência universal: calcula-se que entre dois e três milhões de pessoas morreram de fome na Coréia do Norte nos anos 90. Os relatos de “Nothing to envy” e de “Fuga do campo 14” são muito parecidos quando descrevem a busca desesperada por comida, e fazem com que a gente passe a olhar com renovado respeito o nosso bifinho com feijão e arroz. Outro ponto comum entre os livros é a descrição da corrupção avassaladora, base da vida cotidiana. Do funcionário mais humilde aos mais altos escalões, nada se resolve sem gorjetas, subornos, negociatas.

Um terceiro livro é “The aquariums of Pyongyang” (Os aquários de Pyongyang), de Kang Chol-Hwan . Aqui há lembranças de uma infância de relativa prosperidade e mais memórias de prisão: o autor foi deportado aos nove anos e viveu até os 18 no campo. Seu livro tem um elemento adicional de tragédia, porque a família, que vivia cercada de luxo em Kyoto, decide voltar para a Coréia do Norte de livre e espontânea vontade, acreditando na propaganda do governo. Como os outros dois, este também é uma ótima leitura.

Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa filosofia, e vale buscar conhece-las, nem que seja para ter uma idéia do país que o famigerado Carlinhos Cachoeira escolheu para enrolar o fisco.
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Comentários

  • 26 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Exatamente por causa desse tipo de coisa que acredito que partidos extremistas e totálitários tanto de esquerda como de direita devem ser eliminados.

    No Brasil como mal temos direita, acredito que os nossos partidos extremistas totalitários de esquerda, como o PT, PCdoB e PCO, devam ser eliminados ou extremamente enfraquecidos, para que não seja possível jamais chegarem se quer perto disso, como gostariam seu gado cego e burro militante.

    O povo precisa sim ser instruido sobre quem são essas pessoas na Coreia do Norte o que pregam, como chegaram e se mantem lá e quem são os nossos equivalentes aqui no Brasil e como tentam chegar também.

    Todos os paises que tentaram o comunismo tiveram destinos muito parecidos, não é nem história passada, está ai presente, diante de nossos olhos, e mesmo assim proliferam como um cancer os idiotas úteis tolos e lixos humanos sem escrupulos que ainda acreditam nessa ideologia falida, tanto a querem com a divulgam e tentam impo-la a nós pela força.

    Mas aposto com para o (não)querosaber e Carlo, isso é só mentira do PIG.

    É impossível elucidar pessoas que são burras por escolha.
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    O PC do B afirmou recentemente, quando morreu o ditador:

    “O camarada Kim Jong Il manteve bem altas as bandeiras da independência da República Popular Democrática da Coréia, da luta anti-imperialista, da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.”
  • Fernando_Silva disse: da construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas, e baseados nos interesses e necessidades das massas populares.”
    Dá vontade de vomitar...

    "O comunismo é a filosofia do fracasso, o credo da ignorância e o evangelho da inveja. Sua virtude inerente é a distribuição equitativa da miséria".
    Winston Churchill
  • Li o livro inteiro este fim de semana.
    Uma palavra para descrever aquele pais: DOENTIO.
    A Coreia do Norte é básicamente um estado mendigo, sobrevive de esmola dos outros paises e ainda assim seu povo passa fome.

    Por que odiamos o facismo, odiamos o nazismo, mas ainda toleramos o comunismo, se esse por fim matou e continua a matar e torturar muito mais pessoas que os dois anteriores?

    Este é o paraiso do Campo 14 onde Shin do livro nasceu e viveu até sua fuga:http://freekorea.us/camps/14-18/

    Todos deveriam ler esse livro.

    Mas o melhor de tudo, o que causa desespero ao governo da Coreia do Norte, é que mesmo com toda a repressão lá, o capitalismo surgiu, na forma de mercados privados, que evitaram a morte por inanição de milhares norte coreanos quando o sistema centralizado de distribuição de comida entrou em colapso nos anos 90, hoje os mercadores privados são até meio que autorizados, já que o governo incapaz, não tem como impedir milhares de mortes do seu povo sem eles.

    Vem aqui comentar querosaber, vem aqui falar o como é lindo o comunismo, lê o livro, vê se larga de ser burro, capacho humano comunista.
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    E olhe que eles nem chegaram perto da "pureza do socialismo" praticada pelo Khmer Vermelho no Camboja.
  • Mig29Mig29 Membro
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    NightWalker disse: Exatamente por causa desse tipo de coisa que acredito que partidos extremistas e totálitários tanto de esquerda como de direita devem ser eliminados.

    Desconfio deste tipo de mensagem. Reconheço a pertinência da mesma, mas é preciso não acabar cometendo atrocidades em nome da "moderação".

    Post edited by Mig29 on
  • Mig29 disse: Desconfio deste tipo de mensagem. Reconheço a pertinência da mesma, mas é preciso não acabar cometendo atrocidades em nome da "moderação".
    O "eliminados", não foi no sentido de mortos, ou qualquer outro tipo de agressão física, foi eliminados do cenário politico, do poder. Concordo que me expressei mal na frase e somente por ela não dá pra perceber o intento mesmo.

    Não sou santo, acredito que violência física é necessária, mas somente se justifica em defesa, ou seja resposta a uma outra violência física sofrida previamente.
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • Tem pessoas que precisam ver para crer, outras são mais crédulas.
    Os comunistas são incrédulos quando é dito que os camaradas são genocidas. Precisam ver, quem sabe, nem assim é suficiente.
    Gostaria de os levar uma temporada para um desses campos, onde poderão viver o paraíso C(censurado*).




    *Escrevi censurado, porque apesar de não comunista, custa ir contra uma ideia romântica de um paraíso humano. Assim, sabem na perfeição o que penso.
    Não sou comunista, e o meu tipo de coletivismo é diferente. No meu coletivo existem indivíduos livres.


  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Mig29 disse: Os comunistas são incrédulos quando é dito que os camaradas são genocidas. Precisam ver, quem sabe, nem assim é suficiente.

    Na verdade os comunistas são cínicos com relação aos crimes cometidos pelo regime que defendem.
    Quando interpelados respondem com um discurso ensaiado que cita exemplos de todo tipo de males que afligiram a humanidade antes de 1917, jogam estes males todos na conta do capitalismo e assim acham que se isentam de cumplicidade ao defender ideologias indefensáveis.
    É como se nazistas dissessem que Hitler não foi tão ruim porque antes dele Gengis Khan ou Átila fizeram isto ou aquilo.

    O que os comunistas não têm vergonha na cara para admitir é que se a opressão não foi inventada por Lênin e seus seguidores, é inegável que a pretensão deles de criar um novo Homem a partir de uma Nova Sociedade criou motivação inédita para matar gente aos milhões (sem que os comunistas renunciassem às antigas motivações), uma vez que aqueles indivíduos exterminados eram apenas frações do coletivo social, peças substituíveis na dinâmica dos experimentos que construíriam o Paraíso Socialista em algum futuro indeterminado.

    Deu no que deu.


    Post edited by Acauan on
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse: Não sou comunista, e o meu tipo de coletivismo é diferente. No meu coletivo existem indivíduos livres.

    No coletivo comunista não há indivíduos, há apenas células indiferenciadas, que podem ser sacrificadas em nome do coletivo.
  • Fernando_Silva disse: No coletivo comunista não há indivíduos, há apenas células indiferenciadas, que podem ser sacrificadas em nome do coletivo.

    Vero. Tal coisa causa-me náusea.

    Considero muito difícil mudar a estrutura no modo de pensar. Por isto insisto na utilização de determinados termos.
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    Fernando_Silva disse: No coletivo comunista não há indivíduos, há apenas células indiferenciadas, que podem ser sacrificadas em nome do coletivo.

    Uma máxima recorrente entre Marxistas é "O Indivíduo é uma ilusão".

    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Para o comunismo o indivíduo é descartavel, mera peça de tabuleiro a ser sacrificada se necessário para se atingir um bem maior, é claro que os que sacrificam, nunca imaginam se sacrificarem, são muito importantes para guiar a revolução, para perecerem como os outros peões a parcela que pagará o preço.

    Comunismo quer um mundo sem classes? Tá bom, me engana que eu gosto, o comunismo é a ideologia mais segregadora e criadora de classes que já existiu, o povo da Coreia do Norte, onde o nascimento determina tudo que o diga.

    Aproveito para compartilhar um texto.
    O que é pior: nazismo ou comunismo?

    É possível que o século XX tenha sido o mais sofrido e desgraçado da história da humanidade. A despeito dos extraordinários progressos em diversos campos da ciência e do bem-estar, foi no "longo século vinte" que ocorreram as guerras mais arrasadoras da história, em termos de destruição e número de vítimas.

    Mas guerras sempre existiram em todas as épocas. O século XX, contudo, reservou uma singularidade sinistra - foi nele que surgiram as duas ideologias mais sanguinárias da história, o nazismo e o comunismo. Ambos mataram milhões de pessoas. Qual delas foi a pior? Nesse início de século XXI, quando o nazismo está extinto, e o comunismo acuado, parece uma questão meramente retórica, boa para uma discussão informal. Convém lembrar, contudo, que estas ideologias ainda estão vivas na cabeça de muito gente, de modo que não se pode descartar a hipótese de que um dia ainda vamos ter este dilema pela frente.

    Um homem, no passado, efetivamente passou um dia por este dilema, e da boa solução do mesmo dependia a sorte de seu povo, e por tabela, de toda a humanidade. Este homem era Winston Churchill, e a época era 1941. Comandando a heróica resistência do povo inglês, ele ouviu a proposta de uma paz em separado e aliança para um ataque conjunto da Alemanha e da Inglaterra contra a URSS. Embora visceralmente anti-comunista, Churchill recusou de pronto. Foi nessa época que surgiu aquela sua frase famosa: "Se Hitler invadir o inferno, eu me aliarei ao demônio!". Da acertada decisão que o grande estadista britânico tomou, devemos o fato de estarmos aqui agora. Churchill já havia percebido que os nazistas, então no auge do poderio, não tencionavam destruir somente a URSS, mas também o ocidente. A URSS, por outro lado, dilacerada pelos expurgos de Stalin, não representava senão uma ameaça de longo prazo.

    Mas excluídas as circunstâncias do momento, qual regime é, intrinsecamente, pior? O nazista ou o comunista?

    Se o parâmetro for o número de vítimas, o comunismo é pior. Os nazistas exterminaram seis milhões de judeus, enquanto que as vítimas dos expurgos e das grandes fomes na URSS e na China chegam a dezenas de milhões - setenta, oitenta, cem, nem quero saber, pois é sinistramente frívolo especular sobre dezenas de milhões de vidas humanas. Mas há uma diferença fundamental. As seis milhões de vítimas do nazismo foram mortas de forma deliberada, premeditada e planejada com esmero. Excluindo-se os dissidentes que foram executados, a grande maioria das vítimas do comunismo não foi morta deliberadamente, mas foi deixada morrer. Pela fome, pelo frio, pela exaustão, pela falta de medicamentos. Se, do ponto de vista de quem foi massacrado, saber se houve ou não intenção de matar é uma questão inteiramente irrelevante, não o é do ponto de vista de quem analisa a história e tem a perspectiva de uma dia defrontar-se com um regime deste tipo. Assim, chacinar de forma fria e industrial é efetivamente pior do que deixar que pessoas morram como moscas. E ainda, de forma subjetiva, pode-se responsabilizar os nazistas por todas as mortes da segunda guerra mundial, já que foram eles que começaram a guerra. E de forma ainda mais subjetiva, alguém já responsabilizou o "capitalismo" por todas as mortes da primeira guerra mundial, já que esta guerra se originou das rivalidades das potências imperialistas...

    É difícil, portanto, comparar a malignidade do regime nazista com a malignidade do regime comunista, pois ambos foram malignos de forma peculiar. Só as diferenças são incontestes. O nazismo, se tratou com inaudita crueldade a seus inimigos - tanto aqueles que se declararam inimigos quanto aqueles a quem o nazismo declarou como inimigos, como os judeus - por outro lado foi muito benevolente com seus cidadãos. É um dado embaraçoso para as gerações atuais da Alemanha, mas o caso é que o nazismo proporcionou uma espetacular recuperação econômica da Alemanha depauperada (e sem auxílio americano), deu pleno emprego aos trabalhadores, saúde e otimismo para todos. Reside nisso a resposta à pergunta tantas vezes formulada, sobre como e por que os alemães permitiram tão dócilmente que o nazismo se instalasse. Todos na verdade estavam tão satisfeitos que preferiam fechar os olhos aos desmandos de Hitler, e havia verdadeiro pavor quanto à possibilidade de retorno ao caos inflacionário da república de Weimar.

    Já o comunismo, em termos de atrocidades cometidas contra opositores - prisões, censura, torturas, fuzilamentos - não chega a ser extraordinário. É uma ditadura entre tantas. Mas tem uma característica verdadeiramente única entre todos os regimes políticos que já surgiram um dia neste planeta: matou em maior quantidade a cidadãos apolíticos do que a ativistas políticos adversários. A esmagadora maioria das pessoas que pereceram sob um regime comunista não tinha a menor intenção de empunhar uma arma, ou mesmo de fazer um discurso contra o ditador - eram meros trabalhadores, camponeses, famílias inteiras que morreram à míngua em um país onde a coletivização forçada causara a paralização da produção agrícola, milhões de inocentes deslocados à força para regiões estéreis, e nas cidades outros tantos morriam porque a paralização do comércio não permitia chegar a suas mãos diversos ítens de primeira necessidade. Não foram vítimas de fuzilamentos, mas da incúria administrativa. Nenhum regime produziu mais repulsa no cidadão comum do que o comunista. Como se sabe, Cuba produziu mais exilados do que Chile, Argentina e Brasil juntos, sendo que os exilados do cone sul eram ativistas políticos perseguidos pela ditadura, e os exilados de Cuba eram profissionais que, em sua maioria, nunca se interessaram por política, apenas queriam viver em um país onde pudessem ser donos de alguma coisa mais que a roupa do corpo.

    E no entanto, muitos por aqui ainda sonham com o comunismo regenerador que um dia irá redistribuir nossas riquezas e proporcionar a todos uma vida digna. São gente que não tem a menor idéia de como é realmente viver em um país comunista, mas isso também não é desculpa, já que a finalidade do raciocínio é inferir, mediante deduções, aquilo que não está ao alcance dos olhos. Quem não enxerga o óbvio, ou não sabe raciocinar, ou age de má fé. Muitos alemães orientais fugiram para a Alemanha Ocidental. Alguém já viu um alemão ocidental fugir para o lado oriental? Muitos chineses fugiram para Hong Kong. Alguém já viu algum cidadão de Hong Kong buscar na China refúgio contra a opressão colonial britânica? Muitos cubanos fugiram para os Estados Unidos. Até aí não é novidade, pois cruzar a fronteira e ir trabalhar no norte é objetivo de mexicanos, porto-riquenhos, dominicanos e inclusive brasileiros. Mas se estas pessoas são pobres e buscam uma vida melhor, por que não emigram para Cuba, onde não há desemprego, a saúde e a educação são gratuitas? Ao invés de ficar especulando sobre Cuba, minha geração bem poderia ter tomado uma medida mais simples: perguntar a um cubano o que ele acha de Fidel. Mas ora, povo cubano, quem são esses caras? Cuba não era deles, Cuba era nossa. Ela era o nosso orgulho, a nossa revanche contra o imperialismo americano, a nossa esperança contra a ditadura. Ela tinha que ser do jeito que imaginávamos. Alguns ainda estão imaginando. As ilusões generosas só vão embora com muita relutância. Aqueles que ainda tem um lampejo de raciocínio recusam-se a ficar apenas repetindo palavras-de-ordem, e vem com "fatos": Cuba tem 100% de alfabetização, a saúde é gratuita, boa parte da população tem curso superior, há mais médicos por habitante do que em qualquer lugar nas Américas.

    Mas os bem informados hão de saber que a Cuba pré-Fidel era um país acima da média sul-americana, próximo do padrão da Argentina. A Cuba de 1958 tinha já 80% de alfabetização. Examinando de perto os benefícios da Ilha de Fidel, o que se verifica é que tudo não passa de um engodo, um jogo de soma-zero onde o que se ganha de um lado se perde do outro. Vejamos:

    - Aqui o trabalhador passa necessidade porque não tem dinheiro para comprar o que precisa, em Cuba o trabalhador passa necessidade porque não tem o que comprar com o seu dinheiro;

    - Aqui faltam médicos nos ambulatórios, em Cuba há médicos para todos, mas os remédios que eles receitam nunca são encontrados;

    - Aqui poucos chegam ao ensino universitário, em Cuba a universidade está franqueada a todos, mas ninguém melhora de vida depois de formado. O salário de um engenheiro é de 30 dólares por mês, e ele em geral sobrevive como mecânico de automóveis.

    O fato é que o trabalhador cubano nunca viveu melhor que o trabalhador do resto da América do Sul. As agruras são as mesmas, apenas camufladas sob a forma de racionamento, necessidade de haver vagas para todos, etc. A única diferença indiscutível entre o primeiro e o segundo é que o segundo tem a seu dispor muito mais opções de entretenimento. Tal como o alemão que vivia sob Hitler.

    Mas chega a ser perda de tempo discutir o comunismo em Cuba, pela simples razão de que Cuba não é mais comunista strictu sensu - afinal, que comunismo é esse onde o dólar circula? Que moral há para enaltecer os valores do trabalho em um lugar onde a ocupação mais rendosa é a de garçon que recebe gorjeta em dólares? Se o igualitarismo deve ser mantido, então se deveria confiscar os dólares daqueles que tem família em Miami, e distribui-los para todo o povo. Isto não será feito por razões óbvias - aqueles que remetem os dólares deixariam de fazê-lo, e Cuba sobrevive dessas esmolas. O regime comunista cubano foi reduzido a uma caricatura, assim como o chinês, que tornou-se um regime híbrido que alguns batizaram de "capitalismo autoritário". A prioridade dos dirigentes cubanos e chineses é se manter no poder. Se necessário vai-se o comunismo, mas fica a ditadura. O único regime comunista genuíno que ainda existe no planeta é o norte-coreano. Por enquanto.

    http://www.pedromundim.net/NaziouComuni.htm
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • O comunismo terão ganhado legitimidade por fazerem parte dos vencedores da guerra mundial. Junto com os aliados julgaram os criminosos de guerra nazis.
  • Isso também é citado no livro.

    CANIBALISMO NA COREIA DO NORTE (Paraiso comunista te convida para o jantar).
    O comunismo levando ao canibalismo.

    Um relatório do Sul-coreano, apoiado em provas específicas, relataram execuções para o consumo de carne humana.
    Este é um mistério e a mais macabra das tragédias da Coréia do Norte. Novos testemunhos inéditos relacionam a existência de vários e recentes atos de canibalismo na Coréia do Norte, confirmando a fragilidade da situação alimentar no reino do ermitão.Nos últimos anos, as autoridades executaram pelo menos três pessoas para o canibalismo, diz um novo relatório publicado quarta-feira em Seul por um centro de pesquisa na Coreia do Sul.
    Em dezembro de 2009, um homem foi executado em praça pública na cidade de Hyesan, na província de Ryanggang, ao longo da fronteira com a China, por matar e depois comer uma menina de 10 anos, informou o Instituto Coreano para a Nacional Unificação (Kinu). Esta é a primeira vez evidência de actos de canibalismo são documentados como precisão e publicada em um relatório oficial.Esse ato de canibalismo é a conseqüência da grave crise alimentar na província desencadeada pela reforma monetária que levou anos pelas autoridades, o que resultou em um aumento acentuado nos preços. "Uma enorme inflação, de repente, explodiu preços das commodities, o que levou algumas pessoas a morte", disse Han Dong-ho, um dos autores do relatório.Em 2006, a cidade de Doksong, um homem e seu filho também foram executados por fuzilamento por ter comido carne humana, relata um dos desertores chegou na Coréia do Sul e entrevistado por Kinu. Esta mulher está entre os 230 recém-chegados refugiados da Coréia do Norte, que serviu como fonte para os especialistas deste instituto público, financiado pelo governo sul-coreano. Em 2011, outro ato de canibalismo teria ocorrido na cidade de Musan, relatou outro desertor.A desnutrição agudaKinu relativiza a magnitude do fenômeno, observando que estes são casos isolados, relatados por apenas uma dúzia dos desertores 230 entrevistados. "Não devemos superestimar a importância de canibalismo na Coréia do Norte", disse Han. "É um assunto tabu, mas eu não acredito em uma maneira prática em larga escala e organizada", disse Daniel Pinkston, especialista do International Crisis Group.Estes testemunhos confirmam as relatadas por ONGs como Cidadãos Aliança para os Direitos Humanos da Coréia do Norte (NKHR), mostrando que apesar de uma relativa melhoria dos canais de distribuição, desde o fim da grande fome da década de 1990, várias províncias ainda sofrem desnutrição aguda. "A fome me fez louco, eu tinha ouvido falar que a carne humana era melhor do que o porco e eu pensei que todos iam morrer de qualquer jeito", foi justificado no final de 2007 por uma mãe oficiais acusados Planeje ter devorado sua filha de 9 anos.Este testemunho é assustador NKHR relatado por Kim Hye Sook, chegou em Seul, em 2009, depois de ter escapado do Norte. Ele lembra as histórias da época da grande fome, que teria feito mais de 1 milhão de vítimas, de acordo com algumas ONG. Em 1997, Kim Eun-sol, então uma criança, lembra-se do homem condenado por ter assassinado e comido sua filha, a quem ele havia enterrado os restos mortais em sua aldeia de Eundeok, no extremo nordeste. "As pessoas sentiam pena dele, na verdade, porque a fome louca, ela transforma-lo em um animal", disse Kim, agora um estudante em Seul e cujo pai foi levado pela fome.
    *Fonte original: Le Figaro.fr - Tradução Mario J T Fortes.
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    E o povo ainda é levado a acreditar que a (pouca) comida que recebe, doada pelo Ocidente, é presente do seu "Querido Líder".
  • Mig29Mig29 Membro
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Fernando_Silva disse: E o povo ainda é levado a acreditar que a (pouca) comida que recebe, doada pelo Ocidente, é presente do seu "Querido Líder".

    Precisamente. Imagino que muitos norte-coreanos nem tenham consciência do quão mal vivem. Neste cenário fica fácil o "Querido Líder" tornar-se o herói salvador.
    No entanto, consta que os norte-coreanos não estão completamente cegos a respeito da realidade, isto é ainda mais atroz à imaginação.

    Considero fazer muita falta uma ONU com poder de intervenção acima dos interesses de uns poucos (EUA, França, Reino Unido, Russia e China).
    Post edited by Mig29 on
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Mig29 disse: Precisamente. Imagino que muitos norte-coreanos nem tenham consciência do quão mal vivem. Neste cenário fica fácil o "Querido Líder" tornar-se o herói salvador. No entanto, consta que os norte-coreanos não estão completamente cegos a respeito da realidade, isto é ainda mais atroz à imaginação.

    Ocorria a mesma coisa na Rússia de Stalin.
    O culto à personalidade do líder construiu cenas surreais, como prisioneiros do Gulag que eram adoradores incondicionais do Guia Genial dos Povos e acreditavam piamente que estavam naquela condição porque Stalin não sabia das malvadezas perpetradas pelos burocratas do Partido. Alguns ansiavam por encontrar um meio de informar Stalin sobre os massacres e deportações em massa que foram expressamente ordenadas pelo próprio.
    O ponto fraco do sistema era que mesmo estes iludidos acreditavam que seu líder era bom, mas o regime era ruim, uma vez que a fome é mais convincente que discursos.

    Mig29 disse: Considero fazer muita falta uma ONU com poder de intervenção acima dos interesses de uns poucos (EUA, França, Reino Unido, Russia e China).

    Bem ou mal, este conflito de interesses é a única coisa que garante que quando a ONU chega a um consenso sobre intervir militarmente em algum lugar é porque a coisa lá tá feia mesmo.
    Um órgão burocrático e ideológico como a ONU com poder acima das soberanias nacionais seria mais perigoso do que foi a União Soviética.

    Post edited by Acauan on
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Fernando_Silva disse: E o povo ainda é levado a acreditar que a (pouca) comida que recebe, doada pelo Ocidente, é presente do seu "Querido Líder".
    Se você está puto com isso, fique sabendo que o livro cita outro detalhe, que não acho nem um pouco difícil de ser verdade (na verdade vejo 97% pra mais de chance de ser verdade), sobre as doações que a Coreia do Norte recebe.

    Não só o "Amado Lider" toma os créditos pelas doações, como existem indícios que elas não chegam em sua totalidade ao povo, em torno de 30% é desviado pelo partido para fins destinado por eles, incluindo a venda das doações ao povo.

    Estados Unidos e outros supostos defensores dos direitos humanos, invadem o Iraque, onde nunca existiu metade das monstruosidades da CdN, claro lá tem petróleo para bancar o custo da guerra, na CdN não tem nada que interesse a ninguém, então que se dane o sofrimento do povo. Não sou anti-americano, mas é durou ouvir o discursinho de vazio de defensores da liberdade, enquanto muitas merdas no mundo se desenrolam debaixo do nosso nariz.

    Diga-se de passagem, a Coreia do Sul, também não está muito preocupada com a do Norte, e não querem a reunificação, óbvio, pois seriam eles quem teriam que sustentar aquele pais miserável por decadas até que haja uma recuperação, o que iria, é claro, ferrar a economia forte deles.
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    NightWalker disse:
    Diga-se de passagem, a Coreia do Sul, também não está muito preocupada com a do Norte, e não querem a reunificação, óbvio, pois seriam eles quem teriam que sustentar aquele pais miserável por decadas até que haja uma recuperação, o que iria, é claro, ferrar a economia forte deles.

    O interessante é que o norte era industrializado e rico e o sul só tinha agricultura e pecuária.
  • NightWalker disse: Diga-se de passagem, a Coreia do Sul, também não está muito preocupada com a do Norte, e não querem a reunificação, óbvio, pois seriam eles quem teriam que sustentar aquele pais miserável por decadas até que haja uma recuperação, o que iria, é claro, ferrar a economia forte deles.

    A reunificação ficaria cara, mas também constituiria uma oportunidade expansionista para o sul. Querer a reunificação até quererão, mas não existe a condição necessária para a efetivar.

  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    O cinema na Coreia do Norte só serve como arma de propaganda da ditadura e os filmes reescrevem a história conforme a versão que lhes convém.

    http://oglobo.globo.com/mundo/na-coreia-do-norte-filmes-recriam-fatos-historicos-6827433
    Na Coreia do Norte, filmes recriam fatos históricos
    No regime mais fechado do mundo, cinema investe em superproduções com ares de propaganda

    2012112538911.jpg

    O ‘Titanic’ norte-coreano

    No filme “Para sempre em nossa memória”, a fome que matou milhares na Coreia do Norte nos anos 90 não foi consequência da incompetência da ditadura. A única culpada foi a natureza. Ameaçada por um tufão, uma cidade luta para proteger as plantações. Quem salva a lavoura? Os militares. Como? Formando uma corrente humana que bloqueia a fúria do mar, claro. A cena é digna de gargalhadas, mas na Coreia do Norte não é uma comédia. Assim é o cinema norte-coreano. Uma indústria poderosa que se transformou num dos mais indispensáveis instrumentos de propaganda do governo mais isolado do mundo.

    Pouco estudado pelos analistas do regime, o cinema norte-coreano ajuda a contar a história política e cultural do país, governado há três gerações pela mesma família. O escritor e crítico alemão Johannes Schonherr teve acesso a longas raramente exibidos fora das fronteiras comunistas e descobriu um investimento muito maior do que imagina o Ocidente. A Hollywood norte-coreana cria de filmes de guerra a comédias românticas — principal forma de entretenimento para boa parte da população. O roteiro é sempre o mesmo: despejar sobre a plateia a ideologia do Estado.

    — Agora, DVDs estrangeiros já entram no país através da fronteira com a China e são vendidos no mercado negro. Pela primeira vez o cinema nacional está enfrentando algum tipo de concorrência — diz Schonherr, autor do recém-lançado livro “A história do cinema norte-coreano”.

    O escritor trabalhava no Festival de Berlim na década de 90 quando conheceu diplomatas norte-coreanos que buscavam filmes para o acervo do então líder Kim Jong-Il, um cinéfilo com pretensões artísticas. Convidado duas vezes a visitar os estúdios de Pyongyang, Schonherr afirma que uma das ambições de Jong-Il, falecido em 2011, era obter reconhecimento internacional para o cinema norte-coreano.

    — Há sempre cenas de multidões. É muito fácil para o regime recrutar milhares de figurantes entre operários ou camponeses sem pagar. Nas comunidades rurais são promovidas sessões obrigatórias em fábricas ou na sede do Partido dos Trabalhadores — conta Schonherr, que vive em Tóquio.

    O escritor assistiu a dezenas de títulos, desde o primeiro lançamento, em 1949, sob a mão de ferro Kim Il-Sung, primeiro presidente do país, a produções do ano passado. O auge foi nos anos 80, quando Jong-Il contratou um diretor sul-coreano, Shin Sang-Ok. Anos depois, ele escapou e revelou ter sido sequestrado.

    A indústria ajuda a reescrever a História. Nos filmes, não foi a derrota para os EUA na Segunda Guerra que encerrou a ocupação japonesa da Coreia. Foi a guerrilha comunista quem expulsou as tropas do imperador. A versão de “Titanic” reconta a tragédia do Ukishima Maru, navio japonês que levava coreanos para casa em 1945. A embarcação afundou, segundo o Japão, após atingir uma mina deixada pelos americanos, matando 550 pessoas. No filme, os japoneses provocam o naufrágio para impedir que os coreanos relatem crimes de guerra.

    O atual líder, o jovem Kim Jong-Un, é menos interessado no assunto.

    — Acredito que o governo tentará promover coproduções internacionais, mas é difícil convencer alguém a participar — afirma Schonherr.

    Em setembro, o Festival de Toronto exibiu um raro longa norte-coreano com a colaboração ocidental de um produtor belga e um roteirista britânico. A crítica achou um lixo.
  • Fernando_Silva disse: No filme “Para sempre em nossa memória”, a fome que matou milhares na Coreia do Norte nos anos 90 não foi consequência da incompetência da ditadura. A única culpada foi a natureza. Ameaçada por um tufão, uma cidade luta para proteger as plantações. Quem salva a lavoura? Os militares. Como? Formando uma corrente humana que bloqueia a fúria do mar, claro. A cena é digna de gargalhadas, mas na Coreia do Norte não é uma comédia. Assim é o cinema norte-coreano. Uma indústria poderosa que se transformou num dos mais indispensáveis instrumentos de propaganda do governo mais isolado do mundo.

    Seria trágico se não fosse cômico.
    “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor.”
    ― Winston Churchill

  • Fernando_Silva disse: Quem salva a lavoura? Os militares. Como? Formando uma corrente humana que bloqueia a fúria do mar
    Pelo contrário não acho difícil acreditar nessa cena na Coreia do Norte, só que na realidade ela seria um pouco diferente!

    Militares fuzilam milhares de camponeses e empinham seus corpos como/ou-junto-com sacos de areia para proteger a plantação.

    Simples, não?
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
  • NightWalkerNightWalker Membro
    edited dezembro 2012 Vote Up0Vote Down
    NightWalker disse: Por que odiamos o facismo, odiamos o nazismo, mas ainda toleramos o comunismo, se esse por fim matou e continua a matar e torturar muito mais pessoas que os dois anteriores?

    Encontrei sem querer algumas respostas para essa pergunta, compartilho:
    Memória não retém atrocidades do comunismo
    Escrito por ALAIN BESANÇON
    Domingo, 09 de Maio de 2010 00:00

    ALAIN BESANÇON (autor do livro “A infelicidade do século – sobre o comunismo, o nazismo e a unicidade da shoah”)
    Especial


    Existe um acordo bastante geral entre os historiadores sobre o grau de conaturalidade entre o comunismo do tipo bolchevique e o nacional-socialismo. Acho feliz a expressão de Pierre Chaunu: gêmeos heterozigotos. Essas duas ideologias assumiram o poder no século 20 (1).

    Elas têm por objetivo chegar a uma sociedade perfeita, extirpando o princípio mau que se opõe a isso. Em um caso o princípio maligno é a propriedade e, conseqüentemente, os proprietários, e depois, como o mal subsiste após a "liquidação enquanto classe" destes, a totalidade dos homens, corrompidos pelo espírito do "capitalismo", que acaba de se insinuar dentro do próprio partido comunista. No outro caso, o princípio maligno está localizado nas raças ditas inferiores, em primeiro lugar os judeus, e depois, uma vez que o mal continua a subsistir após seu extermínio, é preciso persegui-lo em outras raças, incluindo a própria "raça ariana", cuja "pureza" está poluída. Comunismo e nazismo invocam para sua legitimidade a autoridade da ciência. Propõem-se a reeducar a humanidade e criar um homem novo.

    Essas duas ideologias dizem-se filantrópicas. O nacional-socialismo quer o bem do povo alemão e declara prestar serviço à humanidade, exterminando os judeus. O comunismo leninista quer diretamente o bem da humanidade inteira.

    É o universalismo do comunismo que lhe confere uma vantagem imensa sobre o nazismo, cujo programa não é exportável. As duas doutrinas propõem ideais elevados, próprios para suscitar devoção entusiasta e atos heróicos. Elas ditam, entretanto, também o direito e o dever de matar. Para citar Chateaubriand e suas palavras aqui proféticas: "No fundo desses diversos sistemas repousa um remédio heróico confesso ou subentendido: este remédio é matar (2)." E Victor Hugo: "Você pode matar este homem com tranqüilidade."

    Ou categorias inteiras de homens. Foi o que essas doutrinas fizeram quando acederam ao poder, a uma velocidade desconhecida na história. É por isso que, aos olhos daqueles que são estranhos ao sistema, nazismo e comunismo são criminosos. Igualmente criminosos? Por ter estudado a ambos e conhecendo os recordes de intensidade no crime do nazismo (a câmara de gás) e em extensão do comunismo (mais de 70 milhões de mortes), o gênero de perversão das almas e dos espíritos operada pelos dois, creio que não devemos entrar nessa discussão perigosa. E que é preciso responder simplesmente e com firmeza: sim, igualmente criminosos.


    UMA PERGUNTA


    O que indagamos é o seguinte: como é possível nos dias de hoje que a memória histórica os trate com desigualdade e a ponto de parecer esquecer o comunismo? A respeito desta desigualdade não precisamos nos estender. Desde 1989, a oposição polonesa, liderada pelo primaz da Igreja Católica, recomendava o esquecimento e o perdão.

    Na maioria dos países que saíram do comunismo nunca se falou em castigar os responsáveis que haviam matado, privado da liberdade, arruinado, embrutecido seus súditos durante duas ou três gerações. Salvo na Alemanha Oriental e na República Checa, os comunistas foram autorizados a continuar seu jogo político, o que lhes permitiu retomar o poder aqui e ali. Na Rússia e em outras repúblicas, os membros do corpo diplomático e da polícia foram mantidos. No Ocidente, essa anistia de fato foi julgada favoravelmente.

    Comparou-se a confirmação da nomenklatura à evolução dos antigos jacobinos.

    Há algum tempo, a mídia voltou a falar naturalmente da "epopéia do comunismo" (3). O passado kominterniano do Partido Comunista, devidamente exposto e documentado, não o impede de ser aceito pela democracia francesa.

    Em comparação, a damnatio memoriae (supressão da memória do condenado à morte por crime infamante) do nazismo, longe de conhecer a menor prescrição, parece agravar-se todos os dias. A vasta biblioteca aumenta a cada ano.

    Museus, exposições alimentam - e com razão - o horror do crime (4).

    Consultemos, na Minitel, o serviço de documentação de um grande vespertino (5). Selecionemos a partir de palavras-chave os "assuntos", que foram processados de 1990 a 14 de junho de 1997, dia de minha consulta. Para "nazismo", havia 480 ocorrências. Para "stalinismo", 7. Para "Auschwitz", 105. Para "Kolyma", 2, para "Magadan", 1, para "Koroupaty", 0. Para "fome na Ucrânia" (5 a 6 milhões de mortos, em 1933), 0. Essa pesquisa só tem um valor indicativo.

    Alfred Grosser, a respeito de seu livro La Mémoire et L'Oubli (A Memória e o Esquecimento), declarava em 1989: "O que peço é que quando pesamos a responsabilidade dos crimes passados, apliquemos os mesmos critérios a todos." (6) É verdade, mas é muito difícil e é como simples historiador e não como juiz que eu queria hoje apenas sine ira ac studio (sem ira nem parcialidade), tentar interpretar os fatos. Não posso sonhar em esgotar o assunto. Mas posso pelo menos enumerar uma lista não limitativa de fatores.


    SETE EXPLICAÇÕES


    1 - O nazismo é mais bem conhecido que o comunismo porque o armário de cadáveres foi aberto pelas tropas aliadas e porque vários povos europeus ocidentais tiveram com ele uma experiência direta. Perguntei com freqüência a platéias de estudantes se tinham tomado conhecimento da fome artificial organizada na Ucrânia em 1933. Eles nunca haviam ouvido falar nisso. O crime nazista foi principalmente físico. Não contaminou moralmente suas vítimas e suas testemunhas, das quais não se exigia uma adesão ao nazismo. Ele é portanto demarcável, flagrante. A câmara de gás concebida para exterminar artificialmente uma porção delimitada da humanidade é um fato único. O Gulag, o Laogai continuam envoltos em mistério e permanecem como objeto distante, indiretamente conhecido. Uma exceção: o Camboja, cujas pilhas de mortos descobrimos na atualidade (7).

    2 - O povo judeu assumiu a memória da Shoah. É para ele uma obrigação moral que se inscrevia na longa memória de perseguições: uma obrigação religiosa ligada ao louvor ou à interrogação apaixonada, à maneira de Jó, do Senhor que prometeu proteger seu povo e pune a injustiça e o crime. A humanidade inteira deve, portanto, agradecer à memória judia por ter conservado piedosamente os arquivos da Shoah (8). O enigma existe para os povos que esqueceram - e falarei disso no momento certo. Acrescentemos o fato de que o mundo cristão procede desde esse acontecimento a um exame de consciência e sente-se intimamente atingido por uma ferida indelével (9).

    3 - A inclusão do nazismo e do comunismo no campo magnético polarizado pelas noções de direita e de esquerda. O fenômeno é complexo. De um lado, a idéia de esquerda acompanha a entrada sucessiva das classes sociais no jogo político democrático. Mas é preciso observar que a promoção da classe operária americana excluiu a idéia socialista, e a classe operária inglesa, alemã, escandinava, espanhola, ao mesmo tempo que aumentava seu poder, opôs uma recusa majoritária à idéia comunista. Foi apenas na França e na Checoslováquia, imediatamente antes da guerra, e mais tarde na Itália, que o comunismo pode pretender se identificar com o movimento operário e tornar-se, assim, um dos membros de direito da esquerda. Acrescentemos que na França, como lembrou François Furet, historiadores como Mathiez, admiradores da Grande Revolução, fizeram imediatamente um paralelo entre Outubro de 1917 e 1792, comparando o terror bolchevique com o terror jacobino.

    Por outro lado, muitos historiadores de antes da guerra tinham uma consciência viva das raízes socialistas ou proletárias do fascismo italiano e do nazismo alemão. Invoco o testemunho de Elie Halévy em seu livro clássico, História do Socialismo Europeu, publicado em 1937. O capítulo III da quinta parte é dedicado ao socialismo na Itália fascista. O capítulo IV, ao nacional-socialismo. Este último regime, ao dizer-se anticapitalista, despojando ou eliminando as antigas elites; ao conferir a si próprio uma forma revolucionária, tinha algum motivo para constar em uma história do socialismo, o que hoje seria inconcebível.

    4 - A guerra, ao amarrar uma aliança militar entre as democracias e a União Soviética, enfraqueceu as defesas imunológicas ocidentais contra a idéia de comunismo, apesar de serem muito fortes no momento do pacto Hitler-Stalin, e provocou uma espécie de bloqueio intelectual. Para empreender uma guerra com o coração, uma democracia precisa que seu aliado tenha um certo grau de respeitabilidade; se necessário, ela lhe empresta. O heroísmo militar soviético assumia, encorajado por Stalin, uma forma puramente patriótica e a ideologia comunista, mantida na reserva, ficava escondida. Ao contrário da Europa Oriental, a Europa Ocidental não havia tido a experiência direta da chegada do Exército Vermelho. Esta foi, portanto, vista como libertadora, da mesma forma que os outros exércitos aliados, o que não correspondia à visão dos bálticos, nem dos poloneses. Os soviéticos foram juízes em Nuremberg (10). As democracias concordaram com sacrifícios muito pesados para abater o regime nazista. Só aceitaram depois sacrifícios mais leves para conter o regime soviético e, por fim, para ajudá-lo a manter-se, movidas pelo afã da estabilidade. O nazismo desabou por si mesmo, e sobre seu próprio vazio, sem que as democracias tivessem muito a ver com isso. Sua atitude não podia ser a mesma, nem seu julgamento igual nem sua memória imparcial.

    5 - Um dos grandes sucessos do regime soviético é ter difundido e imposto pouco a pouco sua própria classificação ideológica dos regimes políticos modernos. Lenin os reduzia à oposição entre socialismo e o capitalismo. Até os anos 30, Stalin conservou essa dicotomia. O capitalismo, também chamado de imperialismo, englobava os regimes liberais, os regimes social-democratas, os regimes fascistas e, finalmente, o nacional-socialismo. Isso permitia aos comunistas alemães equilibrar a balança entre os "social-fascistas" e os nazistas. Mas, ao decidir a política dita das frentes populares, a classificação passou a ser a seguinte: o socialismo (ou seja, o regime soviético), as democracias burguesas (liberais e social-democratas) e finalmente o fascismo. Sob o nome de fascismo estavam agrupados o nazismo, o fascismo de Mussolini, os diversos regimes autoritários que dominavam na Espanha, em Portugal, na Áustria, na Hungria, na Polônia, etc. e, finalmente, as extremas direitas dos regimes liberais. Uma cadeia contínua ligava, por exemplo, Chiappe a Hitler, passando por Franco, Mussolini, etc. A especificidade do regime nazista foi apagada. Além disso, ele estava fixado à direita, sobre a qual projetava sua luz negra. Tornou-se a direita absoluta, enquanto o sovietismo era a esquerda absoluta.

    O fato espantoso é que, num país como a França, essa classificação tenha se incrustado na consciência histórica. Consideremos os manuais franceses de história, destinados ao ensino secundário e superior. A classificação é geralmente a seguinte: o regime soviético; as democracias liberais, com sua esquerda e sua direita; os fascismos, ou seja o nazismo, o fascismo italiano, o franquismo espanhol, etc.

    É uma versão atenuada da vulgata soviética. Em compensação, não encontramos com freqüência nesses manuais a classificação correta, sobre a qual os historiadores atuais estão de acordo, mas que havia sido proposta desde 1951 por Hannah Arendt, ou seja: o conjunto dos dois únicos regimes totalitários, comunismo e nazismo, os regimes liberais, os regimes autoritários (Itália, Espanha, Hungria, América Latina) que dizem respeito às categorias clássicas da ditadura e da tirania descritas desde Aristóteles (11).

    O mal sempre esteve centrado nos nazistas

    A memória do comunismo permanece confusa, mas a das atrocidades na Alemanha é recorrente


    6- A fraqueza dos grupos capazes de conservar a memória do comunismo.

    O nazismo durou 12 anos. O comunismo europeu, dependendo dos países, entre 50 e 70 anos. A duração tem um efeito auto-anistiante. Durante esse tempo imenso, a sociedade civil foi atomizada, as elites foram sucessivamente destruídas, substituídas, reeducadas. Todo mundo, ou quase, de cima para baixo, adulterou, traiu, degradou-se moralmente.

    E, mais grave ainda, a maior parte daqueles que teriam condições de pensar foi impedida de conhecer sua história e perdeu a capacidade de análise. Ao ler a literatura russa de oposição, que é a única literatura verdadeira do país, ouvimos uma queixa pungente, a expressão comovente de um desespero infinito, mas quase nunca encontramos uma análise racional (12). A consciência do comunismo é dolorosa, mas permanece confusa.

    Hoje, os jovens historiadores russos interessam-se pouco por esse período condenado ao esquecimento e ao repúdio. O Estado, aliás, esconde os arquivos. O único setor que poderia ter conservado a memória lúcida do comunismo é o da dissidência, nascida por volta de 1970. Mas ela se decompôs rapidamente em 1991 e não foi capaz de participar do novo poder. Foi por essa razão que sua tentativa de criar um memorial não deitou raízes nem pôde desenvolver-se.

    É de fato necessário que o órgão que tem por função conservar a memória atinja uma certa massa crítica, pelo número, o poder, a influência. Os armênios não atingiram de forma alguma uma certa massa crítica (13). E menos ainda os ucranianos, os casaques, os chechenos, os tibetanos, sem falar de tantos outros.


    CONSCIÊNCIA MORAL


    Nada é tão problemático, após a dissolução de um regime totalitário, quanto a reconstituição da consciência moral e da capacidade intelectual normais de um povo. A esse respeito a Alemanha pós-nazista encontrava-se em melhor posição que a Rússia pós-soviética. A sociedade civil não teve tempo de ser destruída em profundidade. Julgada, punida, desnazificada pelos Exércitos ocidentais, ela foi capaz de acompanhar esse movimento de purificação, julgar-se a si mesma, lembrar-se e arrepender-se.

    Não foi assim na Europa Oriental, e o Ocidente tem sua parte de responsabilidade nisso. Quando os comunistas russos transformaram sua posse geral dos bens em propriedade legítima, quando legitimaram seu poder de fato pelo sufrágio universal, quando substituíram o leninismo pelo nacionalismo mais chauvinista, o Ocidente julgou inoportuno pedir-lhes explicações. Foi o pior que poderiam ter feito pela Rússia. A ubiqüidade das estátuas de Lenin nas praças públicas da Rússia é apenas o sinal visível de um envenenamento das almas cuja cura levará anos.


    ACIDENTE METEOROLÓGICO


    Do lado ocidental, a vulgata histórica deixada pelo Komintern das frentes populares está longe de ser apagada. O fato de a idéia leninista ter sido envolvida pela idéia de esquerda, que teria todavia horrorizado Kautski, Bernstein, Léon Blum, Bertrand Russell e mesmo Rosa Luxemburgo, faz com que hoje essa idéia seja equiparada a um avatar infeliz, ou a uma espécie de acidente meteorológico dessa mesma esquerda, e agora que ela desapareceu, permanece como um projeto respeitável que não deu certo.

    7 - A amnésia do comunismo leva à hipermnésia do nazismo e, reciprocamente, quando a memória simples e justa basta para condenar um e outro. É um traço da má consciência ocidental, há séculos, que o centro do mal absoluto deve encontrar-se em seu seio. A opinião mudou sobre essa localização. O mal se localizou umas vezes na África do Sul do apartheid, na América da Guerra do Vietnã. Mas sempre esteve centralizado na Alemanha nazista (14).

    A Rússia, a Coréia, a China e Cuba eram sentidas como externas, ou empurradas para fora na medida em que se preferia desviar os olhos. O vago remorso que acompanhava esse abandono era compensado por uma vigilância, uma concentração ferrenha da atenção sobre tudo que tinha entrado em contato com o nazismo, sobre Vichy em primeiro lugar ou sobre essas idéias perversas que supuram em alguns núcleos das extremas direitas européias.


    O PERIGO DAS FALSIFICAÇÕES

    Um dos traços do século 20 é não apenas - além de sua história ter sido horrível, no que diz respeito ao massacre do homem pelo homem - que a consciência histórica, o segundo explica o primeiro, teve uma dificuldade particular em orientar-se corretamente.

    George Orwell observou que muitos se haviam tornado nazistas por um horror motivado do bolchevismo, e comunistas por um horror motivado do nazismo.

    Isto mostra o perigo das falsificações históricas. Presenciamos uma que se está formando e seria pena se legássemos ao próximo século uma história deturpada.

    O inverossímil, o impensável - Para concluir, uma esperança. Foram necessários anos para se tomar uma consciência completa do nazismo porque ele superava tudo o que acreditávamos ser possível e a imaginação humana foi impotente para compreendê-lo. Isso poderia também acontecer com o comunismo, cujas obras abriram um abismo igualmente profundo, e foram protegidas, como Auschwitz o foi até o ano de 1945, pelo inverossímil, pelo incrível, pelo impensável. O tempo, cuja função é desvendar a verdade, desempenhará talvez, mais uma vez, seu papel. (A.B.)

    http://www.endireitar.org/site/artigos/socialismo-comunismo/456-memoria-nao-retem-atrocidades-do-comunismo
    Post edited by NightWalker on
    - Quem deseja me desarmar são os que querem me fazer mal e tem medo que eu possa me defender.

    - “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
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