Carolina Vicentin
Publicação: 15/07/2011 11:29
Atualização:
Pense rápido: qual é a
capital do Congo? Se você não souber a resposta, sabe onde procurá-la.
E, muito provavelmente, não fará isso em um atlas escondido na estante,
mas sim recorrendo à internet. É assim desde que a rede de computadores
se popularizou e virou um imenso banco de dados, em que os usuários
podem encontrar praticamente qualquer coisa. A busca on-line, contudo,
está provocando mudanças na forma como o cérebro trabalha. Pela primeira
vez, cientistas conseguiram comprovar os efeitos dessas transformações
por meio de experimentos com 168 voluntários. Os resultados, publicados
hoje na revista Science, mostram que a web está se tornando a primeira
fonte de memória transacional das pessoas. Com isso, muitas delas acabam
fazendo menos esforço para guardar informações.
A ideia de
memória transacional foi proposta na década de 1930 pelo psicólogo
norte-americano Dan Wegner. O especialista definiu o termo com base na
forma como os humanos usam seus semelhantes para o armazenamento de
memórias externas. “Assim, se há alguém no trabalho que sabe sobre
determinado assunto, nós não nos preocupamos em aprender. Ou se há um
amigo expert em esportes, recorremos a ele quando temos dúvidas sobre
esse tema”, exemplifica Betsy Sparrow, professora do Departamento de
Psicologia da Universidade de Columbia. Betsy é uma das três autoras da
pesquisa Os efeitos do Google na memória: consequências cognitivas de
ter a informação ao alcance dos dedos.
Para avaliar como o boom
da internet afetou a cabeça dos usuários, a pesquisadora e outras duas
colegas norte-americanas submeteram os voluntários a quatro
experimentos. No primeiro, 46 pessoas tiveram que enfrentar uma série de
perguntas com diferentes níveis de dificuldade. “Quando elas não sabiam
as respostas, automaticamente pensavam em seus computadores como o
lugar para encontrar a solução do problema”, conta Betsy. Na segunda
etapa, 60 participantes leram afirmações simples (como “O olho de um
avestruz é maior do que seu cérebro”). Segundo as cientistas, as pessoas
que acreditavam que as declarações estariam salvas no computador
lembraram-se menos do conteúdo aprendido do que os participantes
informados de que elas seriam apagadas.
Em outro teste parecido,
28 voluntários reconheceram mais facilmente informações que não haviam
sido salvas na busca geral do computador ou em pastas específicas. O
último experimento, com 34 participantes que guardaram as afirmações em
cinco pastas diferentes, mostrou que eles lembravam-se mais do local
onde o dado fora armazenado do que do conteúdo propriamente dito. “O
fato de as pessoas recordarem o local onde podem encontrar a informação é
muito interessante. Indica que isso pode ser fruto de uma adaptação (do
cérebro)”, afirma a pesquisadora Betsy Sparrow.
Os resultados do
estudo podem ser confirmados pelo hábito de qualquer pessoa. O designer
Reinaldo Dimon, 27 anos, mantém uma forte “parceria” com o Google.
“Normalmente, recorro à internet para conferir a tradução de uma palavra
para o inglês ou a grafia de uma expressão em português”, conta. Para
Dimon, a facilidade de acesso também deixou os usuários mais sossegados.
“Às vezes, a gente procura coisas bobas, a conversão de centímetros
para metros, por exemplo. Ficamos mais preguiçosos, deixamos os
dicionários de lado e desistimos de perguntar para os colegas.”
Transformações
Mas
será que esse costume pode estar, de alguma forma, prejudicando o
cérebro? Para o psicólogo Cristiano Nabuco, coordenador do Grupo
Dependência de Internet da Universidade de São Paulo, o problema é a
avalanche de informações a que os internautas estão expostos. “A
internet despeja em nós uma quantidade enorme de conteúdo, só que nossa
cabeça continua a mesma há milhares de anos”, diz o especialista. Prova
disso é que, no início do século passado, os pedagogos definiram que o
tempo máximo de concentração de um aluno seria de 50 minutos — a atual
duração das aulas nas escolas. Hoje, pesquisas recentes mostram que a
atenção se esvai em menos de 10 minutos. “Nossos sistemas mentais podem
estar se sobrecarregando”, sugere Nabuco.
A psicóloga Betsy
Sparrow, no entanto, não acredita nessa possibilidade. Segundo ela, o
homem vai manter memórias externas, não baseadas unicamente no
computador. O que pode diferir é o modelo de memorização conhecido até
agora. “Quanto mais nós nos afastarmos desse padrão, que é um aspecto
identificado na nossa pesquisa, mais vamos compreender o significado
desse experimento que realizamos”, aposta.
Múltiplos gravadores
Entender
o funcionamento da memória não é tarefa fácil, porque há diversos tipos
dela. Os cientistas classificam as memórias quanto à duração e ao
conteúdo, gerando uma série de subtipos. Além disso, o cérebro ainda faz
cópias de lembranças para garantir que a informação não se perca. A
ciência ainda não sabe quantas, mas, certamente, são mais de 100, que
aumentam conforme a importância do acontecimento.
Fonte
Comentários
Acho que essa informação é mais valida para o pessoal que tá chegando agora que não tem o habito da leitura, sei lá.
Total de Mensagens:
8609 + aquelas que tenho agora. ):-))
Equilibrio é a regra para tudo na vida e a net não é exceção.