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Sinais de retrocesso
RODRIGO CONSTANTINO - O Globo - 29/05/12
Voltamos aos tempos de pacotes econômicos semanais. Precisamos ficar atentos diariamente ao "Jornal Nacional", pois pode surgir nova medida estatal que muda as regras do jogo, cedendo privilégios a uns e punindo outros. O governo parece mais perdido que cego em tiroteio.
Para quem tem apenas um martelo, tudo parece prego. Este governo só sabe estimular consumo e crédito, nada mais. Não podemos menosprezar o fator ideológico da equipe econômica. São nacional-desenvolvimentistas, com orgulho. Acreditam no governo como locomotiva do progresso nacional, e costumam desprezar os riscos inflacionários.
Quando os dados da economia apontam arrefecimento, lá vem o governo com a solução: nova rodada de estímulos para expandir o consumo via crédito. Ocorre que o modelo não é sustentável e apresenta claros sinais de esgotamento. As famílias já estão muito endividadas, consumindo quase um quarto da renda com o serviço da dívida. Há evidentes limites para mais alavancagem.
Os investidores ficam receosos para aumentar investimentos. A insegurança cresce quando o governo adota postura errática, partindo para medidas arbitrárias. Além disso, faz mais sentido "investir" no lobby em Brasília, quando a canetada do governo decide os rumos do setor e escolhe os campeões nacionais na marra.
Por que investir em eficiência quando o BNDES empresta dinheiro com juros abaixo da inflação? Muito melhor conquistar os políticos e cair nas graças do banco estatal, que já recebeu cerca de R$ 300 bilhões do Tesouro para tal finalidade.
Aprovar reformas estruturais e cortar seriamente os gastos públicos, para aumentar a poupança doméstica e permitir um crescimento sustentável, dá muito trabalho. É mais fácil reduzir as taxas de juros no grito, torcendo para a inflação não sair do controle. O próprio Banco Central conta com a "ajuda" externa, uma vez que a crise europeia e a desaceleração chinesa pressionam os preços das commodities para baixo, aliviando em parte a inflação.
Só que o Brasil continua em pleno emprego, com massa salarial em alta, e inflação de serviços rodando em patamares preocupantes. Ninguém no mercado financeiro acredita que há autonomia no BC, que se mostra cada vez mais politizado. Como resultado, as estimativas de inflação seguem desancoradas, mesmo com o "pibinho" crescendo abaixo de 3% ao ano.
Entre medidas desesperadas, o governo reforça o protecionismo comercial, intervém no câmbio nas duas direções (é preciso agradar à Fiesp, mas sem destruir a "Bolsa Miami" da classe média), reduz o IPI de setores específicos e força os bancos a conceder mais crédito, mesmo com a inadimplência em alta. Agora a presidente Dilma quer mexer até no lucro das montadoras. Não tem como dar certo.
O índice de ações das empresas brasileiras, medido pelo Ibovespa, acusa o golpe e acumula queda de quase 15% em 12 meses. Ele está no mesmo patamar de meados de 2007, sendo que a inflação no período passa de 30%. Os estrangeiros parecem cansados do modelo brasileiro também, e sacam seus recursos do país. O dólar passou de R$ 2 e o BC precisou intervir.
O fato é que esta equipe econômica nunca foi realmente testada em ambiente adverso. Na crise de 2008 isso quase aconteceu, mas, à época, ainda havia espaço para simplesmente inundar os mercados com estímulo ao consumo, único instrumento que este governo conhece. Assim foi feito, e a inflação bateu no topo da elevada meta.
Isso não é mais viável agora. Se o governo seguir nesta trajetória, ele vai fomentar uma bolha de crédito que inevitavelmente irá estourar, produzindo efeitos nefastos na economia. Sem maiores investimentos privados e liberdade econômica, o Brasil corre o risco de cair em uma armadilha de crescimento pífio com inflação elevada. É o que os economistas chamam de estagflação.
Resta saber se, no pânico, o governo vai apelar ainda mais para marretadas artificiais, como fez a vizinha Argentina, que até mexeu no cálculo oficial da inflação para tentar enganar o mercado.
A alternativa correta seria soltar as amarras criadas pelo governo, cortar os gastos públicos e deixar o mercado funcionar. Mas como esperar isso deste governo, com forte viés ideológico?
O PT, na oposição, foi contra todas as principais reformas que modernizaram o país, tais como o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, as privatizações e as metas de superávit primário e de inflação, com autonomia do BC.
A dúvida é se agora, no poder, o partido vai destruir estas conquistas. Espera-se que não. Mas os sinais de retrocesso saltam aos olhos de todos.
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Comentários
às 5:51
Ritmo de expansão do Brasil perde até para nações em crise
Por Ronaldo D’Ercole, no Globo:
Quando se toma o ritmo de expansão das economias no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o Brasil figura apenas na 22ª posição entre os 33 países que já divulgaram os seus dados. E se distancia de seus pares do Brics (grupo das cinco maiores economias emergentes, Rússia, Índia, China e África do Sul), aproximando-se das economias mais afetadas pela turbulência europeia, como os Estados Unidos (2,1%) e Alemanha (1,7%). A China, que cresceu 8,1% de janeiro a março, aparece no topo do ranking, com a Índia em quarto (5,3%) e a Rússia em quinto (4,9%). Com expansão de 2,1%, a África do Sul é a 14 no ranking, oito postos à frente do Brasil.
No fim da lista, que tem a Grécia como lanterna (em 33 lugar, com retração de 6,2% no PIB trimestral), estão ainda Portugal (32 colocação e queda de 2,2%), a Itália (31 lugar e PIB negativo de 1,3%) e a Holanda (30 colocação, cujo PIB encolheu 1,1%).”O Brasil é um país com características semelhantes às dos grandes emergentes mas que cresce no ritmo dos europeus”, compara Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que compilou os dados para o ranking dos PIBs do primeiro trimestre. “Isso é reflexo dos problemas estruturais (Previdência, estrutura tributária, inexistência de planejamento de longo prazo) que persistem no país, cuja solução é adiada governo após governo”.
Mesmo com a economia quase estagnada no primeiro trimestre, o Brasil conseguiu se manter à frente do Reino Unido como a sexta maior economia do mundo. Mas a diferença conseguida no fim do ano passado, quando deslocou os britânicos para a sexta posição, agora é bem pequena: enquanto o PIB brasileiro acumulado nos quatro trimestres encerrados em março somava US$ 2,483 trilhões, o do Reino Unido era de US$ 2,417 trilhões. O cálculo é do banco WestLb e leva em conta o dólar médio do primeiro trimestre. Com a alta da moeda americana ante o real nos últimos dois meses, ressalva o banco, o país muito provavelmente voltaria para a sétima posição. “Não houve alteração no ranking comparando-se com o resultado fechado de 2011, apesar da diferença em relação ao Reino Unido ter diminuído. Mas o efeito do câmbio depreciado deve ser maior neste segundo trimestre”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLb.
Estados Unidos se mantêm como maior economia
No agregado dos quatro trimestres até março, os Estados Unidos se mantêm com folga no posto de maior economia do mundo, com PIB de US$ 15,4 trilhões, seguidos da China (US$ 7,56 trilhões), e do Japão (US$ 5,95 trilhões). Apesar do agravamento da crise na Europa, a Alemanha se mantém como a quarta economia, com geração de riquezas de US$ 3,5 trilhões. O PIB de US$ 2,76 trilhões garante a permanência da França em quinto.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Eu continuava a ver as favelas aumentando, o crime crescendo, a corrupção chegando a níveis jamais sonhados, a educação e a saúde cada vez mais em baixa, as estradas esburacadas, e a Justiça levando décadas para julgar.
Mas o pessoal vestindo camisetas com uma estrela vermelha afirmava que "nunca na história desse país" estivemos tão bem....
Grandes projetos atrasam ou são cancelados por falta de mão de obra especializada - e isto porque a educação é uma bosta.
O resultado é que muitos esforços fracassam ou não dão os resultados que poderiam. Um enorme desperdício.
Claro, nem estou falando da corrupção e da gastança estatal sangrando a economia ou da burocracia medieval emperrando tudo (ou desencorajando tanta gente a sequer começar).
Visão de curto prazo
Ênfase no papel do governo
Garantia de direitos
Foco na melhoria das aposentadorias
Prioridade aos idosos
"Dar o peixe": assistencialismo
Distributivismo
Olhar sobre o passado
Gasto corrente
Crescimento acelerado:
Visão de longo prazo
Ênfase no setor privado/empreendedorismo
Obsessões: produtividade, inovação, competição
Prioridade aos jovens
Ensinar a pescar: investimento na educação
Criação de riqueza
Preparação para o futuro
Investimento
Um gráfico que retrata bem a nossa situação:
Fonte: http://maovisivel.blogspot.com.br/2012/04/outro-milhao-de-palavras.html
Foram-se os tempos em que o Pib per Capita da Coréia e do Brasil eram comparáveis. Os coreanos agora mordem os calcanhares dos japoneses, prontos para se tornar mais ricos que seus vizinhos e rivais históricos.
Onde erramos desde o tempo em que ninguém associava a Coréia à fabricação de automóveis, enquanto as montadoras de São Bernardo bombavam?
O mesmo erro de hoje, só que hoje há um vasto Império da Propaganda dizendo que vivemos no melhor dos mundos e nunca o Brasil esteve tão bem.
Ou seja, necas de pitibiribas de esperar mudanças de curso, o que significa que em breve os chineses vão arrasar com o que sobrou de nossa indústria, a menos que nos refugiemos no tipo de protecionismo que durante décadas garantiu a sobrevivência de empresas gordas, obsoletas e ineptas para a competição.
Escolha do Cão...
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Os países que adotaram o assistencialismo na última década são justamente os que estão em pior situação na Europa.
Não tem politica de imigração?
Na Europa tem tanto desemprego, deviam abrir aqui um centro de recrutamento. Nem ficaria muito dispendioso, bastaria usar a embaixada do Brasil.
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
Não é (totalmente) verdade. Os problemas são mais complexos do que aparentam.
Os mais protegidos são os de elevada proteção social.
Os estados falidos europeus eram até recentemente milagres. O tigre celta, exemplo de liberalismo bem sucedido - diziam.
Espanha, de excedente orçamental ao colapso eminente.
Grécia, nem sei.
Itália também não sei.
Portugal, corrupção endêmica e "chico-espertismo". Conheço bem a Europa ocidental e Portugal nunca foi um país de assistencialismo tipico (o problema é depender do estado).
O peso de medidas do estilo bolsa família têm um peso muito reduzido nas contas do Estado. E, aqui, tudo é pago duplamente (antes e depois da crise, só mudou a tarifa).
Numa Alemanha da vida, paga-se impostos e recebe-se serviços. Em Portugal, paga-se impostos e depois paga-se o serviço :)
Subsidia-se falsos projetos, falsa produção, falsa formação, etc.
O todo coroado com contratos Estado-privados entre governantes que depois vão ocupar cargos nessas empresas privadas beneficiadas pelo Estado (coincidência dizem).
Minha atenção centra-se agora na França, minha terra de adopção, talvez, o próximo gigante em dificuldade.
O vida de novo rico não é boa para ninguém, normalmente, gasta-se tudo e segue-se a ressaca.
Concordo. Dentre os PIIGS, Islândia e Irlanda eram os de menor carga fiscal da Europa Ocidental e vinham sendo elogiados até por Rodrigo Constantino (pouco antes da crise do subprime):
http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2007/12/virada-da-irlanda.html
http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2006/03/as-reformas-da-islndia.html
Dentro do grupo dos países europeus menos afetados pela crise, Alemanha e Rússia têm (ou tinham) carga tributária maior do que os dois países europeus já citados (pelo menos segundo as estatísticas antes da crise).
Dentre os países europeus com problema crônico de baixo crescimento do PIB, a Alemanha saiu mais rápido da crise porque teve superávits nas transações correntes devido a superioridade da competitividade da sua indústria. Quando há superávits estruturais desse tipo, o limite da expansão fiscal anticíclica (viável) é maior para o mesmo nível de endividamento público. Os demais países com indústria menos competitiva do que a alemã precisariam de uma depreciação cambial individualizada para acelerar a saída da crise, mas a restrição do Euro complica tudo.
Já perdeu. Quase todo ano é a mesma coisa. Aumento de carga tributária, aumento de protecionismo (setorial ou comercial), resistência em fazer privatizações (sobretudo na infra-estrutura) e avanço educacional em ritmo de lesma. Como a taxa de desemprego média se mantém abaixo do que era na época em que a oposição era governo e, agora, há menos crises, então o resultado foi este: o brasileiro já se conformou com o fato de seu salário aumentar pouco todo ano. A menos que haja uma reviravolta política atípica (uma coisa que acredito que não acontecerá), nossa sina é continuar no terceiro mundo por várias décadas.
Menos mau que os recursos brasileiros são tão abundantes que compensam, em grande parte, a vocação ancestral de suas lideranças políticas para a incompetência.
Por sorte, e só isto, este é um dos poucos países do mundo em que mesmo se fazendo tudo errado, ainda muita coisa dá certo.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!