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PT e PMDB enterram comissão para que “CPI do Ca-cho-ei-ra” não vire a “CPI do Ca-ven-dish”

HuxleyHuxley Membro
15/06/2012
às 6:55

PT e PMDB enterram comissão para que “CPI do Ca-cho-ei-ra” não vire a “CPI do Ca-ven-dish”. Ou: A farsa estava escrita na estrela

Podem anotar aí e denunciar nas redes sociais: PT e PMDB deram fim ontem à CPI ao se negar a convocar Fernando Cavendish, o dono da Delta. Agem assim porque estão com medo. Ele já havia mandado recado: se tentarem mandá-lo para a cadeia, conta tudo! E aí muitos milhões de toneladas de concreto e armação desabam na cabeça dos “éticos”.

*

Vocês sabem que este blog não se surpreendeu com a patuscada de ontem protagonizada por petistas e peemedebistas na dita CPI do Cachoeira. Quase todos os objetivos iniciais de Lula e sua turma se frustraram — há ainda a chance de inviabilizar uma nova candidatura de Marconi Perillo (PSDB) em Goiás. Já é alguma coisa. A devastação que Lula prometia na oposição, na imprensa, no Supremo e na Procuradoria-Geral da República não aconteceu. Na comissão, Agnelo Queiroz se safa. Sem nenhum constrangimento, os petistas e o próprio governador do Distrito Federal dizem que a sua mansão está fora do alcance das investigações da CPI. Se Perillo se enrosca ao explicar como vendeu a sua casa, Agnelo não consegue explicar como comprou a sua. Também ele terá dificuldades imensas em 2014. Pesquisas indicam que até os esquartejados José Roberto Arruda e Joaquim Roriz venceriam um hipotético segundo turno contra ele se as eleições fossem hoje. A autonomia política foi a pior coisa que aconteceu na história do Distrito Federal!

A CPI acabou! Aos parlamentares de propósitos honestos que lá estão só resta denunciar a farsa a que PT e PMDB estão conduzindo a comissão — que já havia começado por maus propósitos, é bom deixar claro. A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) propôs, e vocês sabem que essa é também uma tese deste blog, que se crie uma subcomissão para apurar exclusivamente os crimes da Delta. Misturar a rede de tramoias da construtora com as firulas da contravenção de Cachoeira corresponde a produzir embromação. Uma pergunta com resposta óbvia: o que o bicheiro tem a ver, por exemplo, com as atividades da empresa no Rio ou com a maioria dos contratos com o governo federal? Resposta: NADA! Está mais do que claro que ele era apenas o agente da empresa no Centro-Oeste, sem prejuízo de levar adiante o seu outro negócio: o jogo.

Os petistas que apostaram na CPI, liderados por Lula e Dirceu, não tinham os detalhes da parceria, no Centro-Oeste, entre Fernando Cavendish e Carlinhos Cachoeira. Maus conselheiros lhes sopraram aos ouvidos que a CPI tinha tudo para esmagar “os inimigos” e pronto! Quando a instalação da comissão já era irreversível, começou a ficar claro que aquele fio desencapado poderia produzir um curto-circuito. Descoberto o valor da incógnita Delta, algumas vistosas carreiras políticas podem ser liquidadas. O primeiro cliente da empresa é o governo federal; o segundo é o governo do Rio; o terceiro, o de Pernambuco. E agora? Agora é fazer aquela cara inesquecível do relator Odair Cunha (PT-MG). Ele tentando explicar por que Cavendish e Luiz Antonio Pagot não foram convocados é das cenas mais constrangedoras da política em muitos anos. Concorreu com Cândido Vaccarezza (PT-SP), que escandiu sílabas — como se a escansão, por si, fosse argumento: “Esta é a CPI do Ca-cho-ei-ra!!!”. Sem dúvida! Ocorre que a “CPI do Ca-cho-ei-ra” trouxe à luz um tsunami: “Ca-ven-dish”.

E não custa lembrar: Cavendish já mandou recados aos montes por intermédio dos seus prepostos. Até aceita perder a empresa, mas cadeia não! Se acontecer, aí bota a boca no trombone. E milhões de toneladas de concreto e armação desabarão sobre a cabeça de alguns graúdos da ética. Se Demóstenes Torres é hoje visto país afora, e por motivos mais do que justificáveis, como o falso moralista, como a “Carminha da política”, o risco de que a Avenida Brasil seja pequena para contar os corpos de eloquentes reputações é gigantesco.

Atenção, caros! O maior escândalo da história republicana é o mensalão. Em volume de dinheiro, é modesto perto do que o mundo Delta pode revelar. Agora, meus caros, virou questão de sobrevivência. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) repetiu ontem algo que eu já havia escrito neste blog: como pode o Parlamento brasileiro se negar a investigar uma empresa que o próprio governo federal considera inidônea, sendo ele, governo, o seu principal cliente e sendo essa empresa a que mais recursos recebeu do PAC?

Isso, por si, já é um escândalo! Em vez de Cavendish, convocaram Andressa, a mulher de Cachoeira? Pra quê? Para transformar a CPI num circo, no qual os brasileiros fazem o papel de palhaços?

A verdade nua e crua hoje é a seguinte: boa parte dos membros da CPI torce para que o STJ considere ilegais as escutas telefônicas da Operação Monte Carlo. Se acontecer, por óbvio, a CPI não mais poderá fazer uso de algo que a própria Justiça considera ilegal. As informações derivadas daquela escutas não poderão nem mesmo constar do relatório do deputado Odair Cunha. Seria um bom pretexto para todo mundo mudar de assunto.

A gente não consegue saber se o PT é mais PT quando tenta investigar alguém ou quando tenta impedir que alguém seja investigado!

Por Reinaldo Azevedo

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/pt-e-pmdb-enterram-comissao-para-que-“cpi-do-ca-cho-ei-ra”-nao-vire-a-“cpi-do-ca-ven-dish”-ou-a-farsa-estava-escrito-na-estrela/



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Comentários

  • 6 Comentários sorted by Votes Date Added
  • É gozado (se é que esse termo é cabível) o purismo da nossa justiça. Em defesa da privacidade e dos direitos individuais, escutas telefônicas que algum desembargador achou ilegais não podem ser aceitas como provas, mesmo que provem todos os crimes que o escutado cometeu...

    Seria o caso de se punir ou advertir o juiz que autorizou as ditas escutas por falta de justificativa razoável, mas não de se invalidar as escutas, pois elas foram feitas com autorização judicial. Desse jeito então não se investiga mais nada...
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Botanico disse: É gozado (se é que esse termo é cabível) o purismo da nossa justiça. Em defesa da privacidade e dos direitos individuais, escutas telefônicas que algum desembargador achou ilegais não podem ser aceitas como provas, mesmo que provem todos os crimes que o escutado cometeu...

    http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/06/trf-1-mantem-validade-das-escutas-da-pf-em-processo-contra-cachoeira.html
    Tribunal julga legais grampos da PF em processo de Cachoeira

    Dois dos três magistrados da 3ª turma do TRF-1 rejeitaram anular escutas.
    Voto vencido, relator julgou provas ilícitas e sugeriu retirar áudios da ação.


    A terceira turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) considerou legais as escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal (PF) relacionadas ao processo que acusa o bicheiro Carlinhos Cachoeira de comandar uma quadrilha que explorava o jogo ilegal com ajuda de policiais, políticos e empresários. Dois dos três magistrados da terceira turma avaliaram que são válidos os áudios, obtidos com autorização da Justiça Federal de Goiás.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    O agente federal que investigava os suspeitos da Operação Monte Carlo foi assassinado com dois tiros na cabeça. O ministro diz que não há relação com os investigados.

    José Dirceu, os mensaleiros, Cachoeira e o resto da gangue já começaram a ser absolvidos e ainda vão sair desta santificados.

    http://avaranda.blogspot.com.br/2012/07/um-tiro-na-nuca-da-nacao-guilherme-fiuza.html
    Um tiro na nuca da nação

    GUILHERME FIUZA
    O GLOBO - 21/07

    Carlinhos Cachoeira disse que vai à CPI quando quiser, porque a CPI é dele. Quase simultaneamente, um dos agentes federais que o investigaram é executado num cemitério, enquanto visitava o túmulo dos pais. Al Pacino e Marlon Brando não precisam entrar em cena para o país entender que há uma gangue atentando contra o Estado brasileiro. Em qualquer lugar supostamente civilizado, os dois tiros profissionais na nuca e na têmpora do policial Wilton Tapajós poriam sob suspeita, imediatamente, os investigados pela Operação Monte Carlo - alvos do agente assassinado. Mas no Brasil progressista é diferente.

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se pronunciou sobre o crime. Declarou que "é leviano" fazer qualquer ligação entre a execução do policial federal e a operação da qual ele fazia parte. E mais não disse. Tapajós foi enterrado no lugar onde foi morto. Se fosse filme de máfia, iam dizer que esses roteiristas exageram. No enterro, alguém de bom-senso poderia ter soprado ao ouvido do ministro: dizer que é leviano suspeitar dos investigados pela vítima, excelência, é uma leviandade.

    Mas ninguém fez isso, e nem poderia. O ministro da Justiça não foi ao enterro. Wilton Tapajós era subordinado ao seu ministério, atuava na principal investigação da Polícia Federal e foi executado em plena capital da República, mas José Eduardo Cardozo devia estar com a agenda cheia. (Talvez seja mais fácil desvendar o crime do que a agenda do ministro.) Por outro lado, o advogado de Cachoeira, investigado pelo agente assassinado, é antecessor de Cardozo no cargo de xerife do governo popular. Seria leviano contrariar o companheiro Thomaz Bastos.

    Assim como o consultor Fernando Pimentel (ministro vegetativo do Desenvolvimento) e Fernando Haddad (o príncipe do Enem), Cardozo é militante político de Dilma Rousseff e ministro nas horas vagas. O projeto de permanência petista no poder é a prioridade de todos eles, daí os resultados nulos de suas pastas. Cardozo anunciara que ia se aposentar da política, e em seguida virou ministro. Lançou então seu ambicioso plano de espalhar UPPs pelo país e se aposentou (da função de cumpri-lo). Deixou de lado o abacaxi do plano nacional de segurança, que não dá voto a ninguém, e foi fazer política, que ninguém é de ferro. Para bater boca com a oposição e acusá-la de politizar a operação da PF, por exemplo, o ministro não se sente leviano.

    Carlinhos Cachoeira era comparsa da Delta, a construtora queridinha do PAC. O bicheiro mandava e desmandava no Dnit, órgão que, além de acobertar as jogadas da Delta, intermediava doações para campanhas políticas, segundo seu ex-diretor Luiz Antonio Pagot. Entre essas campanhas estava a de Dilma Rousseff, da qual Cardozo fazia parte.

    O policial federal assassinado estava entre os homens que começaram a desmontar o esquema Cachoeira-Delta, e seus tentáculos palacianos. O mínimo que qualquer autoridade responsável deveria dizer é que um caçador da máfia foi eliminado de forma mafiosa. Mas o falante ministro da Justiça preferiu ficar neutro, como se a vítima fosse o sorveteiro da esquina. Haja neutralidade.

    Montar golpes contra o Estado brasileiro é, cada vez mais, um crime que compensa. Especialmente se o golpe é montado dentro do próprio Estado, com os padrinhos certos. Exemplo: às vésperas do julgamento do mensalão, um conhecido agente do valerioduto acaba de ser inocentado, candidamente, à luz do dia.

    Graças a uma providencial decisão do Tribunal de Contas da União - contrariando parecer técnico anterior do próprio TCU -, Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil que permitiu repasses milionários à agência de Marcos Valério, não deve mais nada a ninguém.

    Os famosos contratos fantasmas de publicidade, que permitiram o escoamento sistemático de dinheiro público para o caixa do PT, acabam de ser, por assim dizer, legalizados. Nesse ritmo, o Brasil ainda descobrirá que Lula tinha razão: o mensalão não existiu (e Marcos Valério se sacrificou por este país).

    O melhor de tudo é que uma lavagem de reputação como essa acontece tranquilamente, sem nem uma vaia da arquibancada. No mesmo embalo ético, Delúbio Soares já mandou seu advogado gritar que ele é inocente e jamais subornou ninguém. O máximo que fez foi operar um pouquinho no caixa dois, o que, como já declarou o próprio Lula, todo mundo faz.

    Nesse clima geral de compreensão e tolerância, o ministro do Supremo Tribunal Federal que passou a vida advogando para o PT já dá sinais de que não vai se declarar impedido de julgar o mensalão. O Brasil progressista há de confiar no seu voto.

    Esses ventos indulgentes naturalmente batem na cela de Cachoeira, que se enche de otimismo e fala grosso com a CPI. Se o esquema de Marcos Valério está repleto de inocentes, seria leviano deixar o bicheiro de fora dessa festa.
  • Um lance estranho nessa história é o cara ter ido ao cemitério em pleno horário de trabalho. Por que ele fez isso? Tem algo aí que não se encaixa.
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