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20 anos de Internet no Brasil

Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
Eu consegui uma conta no Alternex em julho de 1995. Mandei um pedido pelo correio, recebi um boleto para pagar pelo correio, mandei o recibo por fax e recebi o manual, com senha e login, pelo correio.

Depois tive que baixar o kit com os programas (discador, navegador, email, FTP, telnet, archie, newsgroups etc.) do BBS que eu frequentava (o site do Alternex era muito lento). Cabia tudo em 3 disquetes...


http://oglobo.globo.com/economia/a-internet-br-faz-20-anos-5315482
A internet BR faz 20 anos

Na semana seguinte à Rio 92, quando todos os chefes de Estado e especialistas e diplomatas já haviam deixado a cidade, ficou uma herança. Ganhamos de presente a internet. Antes da conferência, só era possível entrar na rede através de umas poucas universidades. O Laboratório Nacional de Computação Científica, próximo à UFRJ da Praia Vermelha, no Rio, Unicamp e USP, em São Paulo. Para ter conta, só sendo professor e aluno com autorização por escrito. Ou, uns parcos, que acessavam contas piratas nessas mesmas universidades (colunistas de jornal, dizem, eram uma praga). Aí veio a Rio 92, o Ibase, e tudo mudou.

A internet brasileira tem muitos pais, engenheiros que, desde 1986, lutaram dentro de suas instituições para ligar a academia à rede tão fundamental para a conversa científica. Mas foi um deles que trouxe a internet para fora dos campi: Carlos Afonso, o C. A.

C. A. fora companheiro de Herbert de Souza, o Betinho, no exílio. De volta ao Brasil, fundaram juntos, em 1981, o Ibase, uma ONG preocupada em democratizar acesso a informação. E, para ele, mesmo em princípios da década de 1980, informação e computador caminhavam juntos. Pode parecer evidente, hoje. Não era tão claro assim.

Se o Brasil parece burocrático hoje, houve o tempo em que tudo era muito pior. E conseguir permissão para se conectar (caro) à rede via Embratel exigia o impossível e mais um pouco. A conferência da ONU, porém, abriu espaço para mudanças. Estrangeiros no país precisavam de internet. E havia, no Ibase, uma pessoa que sabia montar essa infraestrutura. C. A. criou um provedor de acesso permanente. Quando a conferência terminou, o Ibase e seu Alternex permitiram que qualquer um, em troca de uma taxa mensal, tivesse sua conta naquela rede misteriosa. O e-mail da geração de pioneiros da internet pátria terminava em arroba ibase.apc.org.

Não era uma internet que o típico usuário de hoje reconheceria. Não havia web. Quer dizer, havia. Mas a web, que nasceu em 1989, era pequena, só rodava em texto, não tinha qualquer gráfico, quanto mais som. Os dois serviços mais populares na internet de antanho, implementados pelo Ibase, eram Gopher e Usenet. A Usenet era uma gigantesca base de fóruns de discussão, a avó do Facebook. De teatro shakespeariano a pornografia, passando por piadas e mecânica quântica, tudo tinha sua conferência na Usenet. E, exatamente como hoje, as conversas eram instigantes e emocionadas às vezes, surpreendentemente grosseiras noutras. Algumas coisas, na internet, não mudam.

Na ausência da web gráfica, Gopher era a maneira fácil de acessar a rede. Em vez de decorar comandos em texto no sistema Unix, tudo no Gopher se encontrava num menu hierárquico. Um diretório de livros on-line, por exemplo, poderia oferecer a lista dos tópicos. E, assim, via Gopher, seguia-se de diretório em diretório até encontrar o desejado. Naquele tempo sem Google, busca era algo que se fazia via Archie ou Veronica. Como era pequena a internet.

A história de como o Ibase do Betinho trouxe a internet para os brasileiros ainda tem de ser melhor contada. É uma história que envolve muito improviso tecnológico feito por gente extremamente capaz, muito drible nas restrições impostas por burocratas e, principalmente, visão.

Visão porque ninguém tinha como saber que a internet explodiria. Aquele período entre meados de 1992 e 1995 marcou um tempo em que a rede era quase um hobby para gente ligada em computador (já viciava). E, muito hábil, a turma do Ibase rapidamente implementou o acesso via SLIP e, depois, PPP, as misteriosas siglas que permitiriam a seus usuários navegar usando Mosaic. Popularizado a partir de finais de 94, foi o primeiro navegador gráfico, antes de Netscape, antes do IE. Uma web de páginas com fundo cinza, links azuis e roxos. Já tinha imagens e parecia coisa doutro mundo. O Gopher estava fadado à rápida extinção.

Quando percebeu que a internet ficaria grande muito rápido, a Embratel ainda tentou garantir seu monopólio do acesso. Não conseguiu. A privatização das telecomunicações também estava começando. A Rio+20 não deixou, nem teria como deixar, uma herança destas. Mas ela marca, também, os 20 anos da nossa internet.


Pedro Doria

Email para esta coluna: pedro.doria@oglobo.com.br siga a coluna: @pedrodoria

Comentários

  • 8 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Nos primórdios da Internet no Brasil eu não tinha dinheiro para comprar um computador e depois fui morar no interiorzão do Paraná, onde mal havia sinal de TV.

    Lembro que a primeira vez que acessei a rede de casa foi em Caxias do Sul, usando o provedor do Terra e linha discada. Levava uns 10 minutos para baixar uma música no Napster e eu deixava a página dos sites carregando e ia fazer um café.... E achava tudo aquilo incrível.
  • A Lenternet no Brasil, assim como qualquer outra coisa tecnológica, é para trouxa, caro e deixa a desejar. MEsmo na época da internet discada a 33kbps, já se tinham modems lá fora a mais de 120kbps. O povo brasileirinho é o mais burro, mais corrupto e mais submisso que existe na face da terra.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited junho 2012 Vote Up0Vote Down
    Som de modem 56kbps conectando.

    Na verdade, não era assim tão rápido. Tentava, tentava e caía.

    Post edited by Fernando_Silva on
  • sybok disse: Mandic

    eu me lembro :D
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    sybok disse: Alguém lembra da Mandic ou outra BBS?

    Não lembro do primeiro que usei, em 1994, mas era gratuito. Depois passei para o Centroin, que era pago. Também andei frequentando o da Microsoft para tirar dúvidas.

    O programa que eu usava para acessar era o BananaCom, em DOS, e eu abria os pacotes com o Uniqwk, de uma empresa do Rio.
  • Só o RV tem metade desses 20 anos.
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
  • Tex, Centroin, Biohardware e outros nanicos que só podia acessar a noite :)
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