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A mãe de todas as bananas
Genoma da fruta selvagem, que deu origem às variedades atuais, ajuda a combater pragas
UMA BANANA NANICA ao lado da variedade selvagem da fruta: menos semente, mais sabor e quase nenhuma resistência Angélique D'Hont / Agência O Globo
A banana é a fruta mais consumida no mundo, à frente mesmo de laranjas e maçãs. De um fina delicatessen em Paris até um feira livre em Kampala, passando por uma loja de sucos e vitaminas em Copacabana, a banana está em toda parte. Mas a fruta sofre ameaças de diferentes pragas e doenças e pode, até mesmo, desaparecer, como já apontaram estudos científicos recentes, devido a sua baixa resistência a doenças.
Numa tentativa de salvá-la de fim tão trágico, cientistas franceses sequenciaram, pela primeira vez, o genoma da Musa acuminata (uma das duas variedades selvagens que deram origem às frutas consumidas hoje), localizando os genes que conferem à planta defesas naturais contra seus maiores inimigos. Para especialistas, trata-se do maior avanço já alcançado para a preservação da banana.
Tem vitamina e faz crescer
Preferida mesmo por aqueles que não comem fruta alguma, a banana é rica em carboidratos, sais minerais e aminoácidos. Em muitos países, sobretudo nos mais pobres da América do Sul, África e Ásia, ela é responsável por boa parte do consumo diário de calorias. No Brasil, é a segunda fruta mais consumida — perde para a laranja —, e o país reveza com o Equador o título de segundo maior produtor mundial. O primeiro é a Índia.
— Em vários países da América do Sul, como Colômbia e Equador; da África e da Índia, ela é a base da alimentação, consumida nas refeições e também como mingau e até bebida — explica o pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Leandro Diniz, especialista em biologia molecular. — No Brasil, a fruta ainda é considerada sobremesa. Uma das razões para isso é o fato de termos nossa alimentação historicamente baseada no feijão e no arroz. Ainda assim, o consumo de banana é muito alto.
Ela é especialmente importante para países tropicais e subtropicais, seus maiores produtores e exportadores. Muitos dos quais têm a base de sua economia calcada nessa produção, ressalta a geneticista francesa Angelique D’Hont, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica, em Montpellier, na França, responsável pelo sequenciamento genético publicado na “Nature”. Segundo a cientista, como o futuro da banana está ameaçado, o genoma ajudará a produzir espécies mais resistentes, que dispensem o uso de pesticidas.
— A partir do momento em que se consegue conhecer os genes de uma determinada planta, é muito mais rápido identificar aqueles que oferecem resistência para cada uma das doenças ou pragas — afirma Diniz. — A partir daí, por meio de uma tecnologia chamada sisgenia, é possível transferir genes de uma variedade para outra da mesma planta.
O sequenciamento genético revelou que as bananas foram cultivadas pelo homem pela primeira vez há cerca de 7 mil anos, no Sudeste da Ásia. Com as migrações para outras partes do globo e os cruzamentos com outras espécies, as bananas se tornaram cada vez mais saborosas. No processo, acabaram perdendo — sem que essa fosse a intenção, claro — muitas de suas defesas naturais. Para complicar ainda mais, ficaram praticamente sem sementes e estéreis.
Isso significa que, em vez de se propagar por reprodução sexual — na qual há mistura genética nas sementes —, as bananas são cultivadas por mudas. As mudas nada mais são que cópias genéticas umas das outras, pedaços de uma planta replantados. Com isso, não só há pouca diversidade entre as variedades, como é improvável que elas criem novas defesas. E, embora haja algumas diferenças genéticas entre os diversos tipos de banana consumidos (prata, nanica, ouro, maçã), elas são similares na falta de defesas contra doenças.
— Quase nenhuma possui o gene de resistência à sigatoka negra — diz Diniz, referindo-se ao fungo que representa hoje a maior ameaça às plantações.
Embora seja a fruta mais consumida no mundo — inclusive nos Estados Unidos e na Europa —, a banana, curiosamente, conta apenas com cinco grandes grupos de cientistas em todo o mundo estudando formas de melhoramento genético. É o estigma da “república das bananas”, na análise do pesquisador da Embrapa.
— Banana, querendo ou não, é cultura de país pobre — resume Diniz. — Seus maiores produtores são pobres.
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