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O passado condena
Helena Celestino
Se a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos fosse como o desfile das escolas de samba na Sapucaí, o momento de acender a tocha seria tão importante quanto a demonstração de criatividade da comissão de frente ou o encantamento proporcionado pela exibição de mestre sala e porta bandeira. A partir da Olimpíada de 1936, em Berlim, os idealizadores da festa de abertura dos Jogos sempre tentam imaginar algo mais e mais espetacular. Mas o que o fogo da tocha não ilumina é seu passado: ela foi uma criação dos nazistas para os Jogos de Berlim visando a homenagear Adolf Hitler, glorificar a superioridade ariana e sacralizar o Reich germânico.
A dois dias do início dos Jogos, a tocha faz sua evolução final pelas ruas de Londres, beneficiada por uma amnésia coletiva sobre o seu sórdido passado. O embaraço dos ingleses no momento é muito mais diplomático do que esportivo: como se livrar, sem ferir suscetibilidades, de alguns convidados incômodos e nada bem-vindos. Segundo o Ministério das Relações Exteriores britânico, aproximadamente 130 chefes de Estado e governo têm a intenção de assistir à cerimônia de abertura. Intenção não é certeza de presença, mas a promessa é de Londres ter a maior movimentação de autoridades de alto nível da História — Pequim (2008) reuniu 87 líderes mundiais. A relação oficial não foi divulgada, mas o governo britânico enviou discretamente “desconvites” para ditadores de países que não respeitam os direitos humanos.
Entre os “desconvidados” certamente esteve o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele confessou que gostaria de torcer ao vivo pelos atletas iranianos, mas os ingleses alegam ter um “problema” com ele — Ahmadinejad, candidamente, disse não saber por quê. Entre os barrados também estão os presidentes da Síria, Bashar al-Assad — mais preocupado em salvar a própria pele e sem tempo para o social — do Zimbábue, Robert Mugabe, e da Bielorrússia, Alexander Lukashenko. Organizações que defendem os direitos humanos manifestaram desconforto com a possível presença de Vladimir Putin, presidente russo, que ainda não confirmou se fará a viagem.
Mas tão ou mais comprometedores, na verdade, são os maus antecedentes da tocha olímpica. A inspiração para a criação do símbolo surgiu numa conversa entre dois alemães: Theodor Lewald, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 1936, e Carl Diem, secretário-geral do comitê. Eles estavam num trem a caminho de uma reunião do Comitê Olímpico Internacional em Atenas. Lewald e Diem estavam fortemente empenhados em transformar a Olimpíada de Berlim no maior acontecimento esportivo que o mundo já havia visto. Diem foi quem teve a ideia e perguntou a seu colega por que não organizar um revezamento mobilizando milhares de pessoas que levariam uma tocha de Atenas até Berlim, onde seria recebida com todas as homenagens.
Carl Diem argumentou que a tocha seria o instrumento ideal para fazer a ligação entre a capital do novo Reich germânico e a Atenas clássica cuja cultura Hitler tanto admirava. A proposta de Diem foi aprovada com entusiasmo pelo Comitê Olímpico Internacional e pelo influente barão Pierre de Coubertin. Assim, pela primeira vez se estabelecia, graças aos nazistas, um vínculo entre política e esporte. Foram eles que primeiro entenderam todo o potencial de propaganda envolvido numa Olimpíada.
A ideia de Diem se transformou num grande sucesso. A tocha percorreu os 3.187 quilômetros que separam Atenas de Berlim carregada por 3.331 atletas. Por onde passou, incendiou os adeptos dos nazistas. Em Viena, milhares de simpatizantes se reuniram para ver a tocha e aproveitaram a oportunidade para agredir os judeus que integravam o Comitê Olímpico da Áustria. A violência tomou conta do centro de Viena e , ao final do o tumulto, contabilizavam-se mais de 500 prisões e dezenas de feridos.
Feita com o mesmo aço que a Krupp Steel usava para construir os tanques da máquina de guerra de Hitler, a tocha entrou triunfalmente no estádio olímpico de Berlim em uma solenidade minuciosamente coreografada. Nas muitas voltas que a História dá, em março de 1945, com Berlim praticamente destruída pela guerra, Carl Diem esteve no que restava do estádio exortando jovens adolescentes alemães a mostrarem “espírito olímpico”, a resistir e a não se render aos exércitos russos que estavam prontos a tomar a orgulhosa capital do Reich. Desses meninos soldados, dois mil foram mortos antes do fim da guerra. Em 1968, Carl Diem foi homenageado pelo governo alemão. Seu rosto foi colocado em um selo postal.
A história da tocha olímpica se apagou ao longo do tempo, mas o símbolo tornou-se para sempre instrumento de poder político e/ou comercial. Como aconteceu em Pequim, onde os chineses gastaram mais de 20 bilhões de libras para sinalizar que estavam abertos aos negócios como um sócio maior no cenário internacional.
A tocha inglesa também não custou barato, mas quem sonhava em ganhar muito dinheiro com ela se deu mal. Todos os oito mil portadores da tocha ao longo dos sete mil quilômetros tiveram a opção de comprar o archote pagando 199 libras. Quase todos compraram, e imediatamente começaram a aparecer ofertas de venda no eBay — para tristeza do Comitê Olímpico Internacional — por até 155 mil libras. Muitas empresas compraram para agradar seus clientes, mas os preços desabaram e, nesta semana em que começam os jogos, estão por uma pechincha: em torno de três mil libras.
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Comentários
Esta mulher é uma idiota.
O fato de determinada coisa ter sido iniciada ou idealizada na Alemanha Nazista, por si só não diz nada contra a atividade em si.
Não fosse assim, todos os países deveriam proibir programas esportivos ao ar livre associados aos currículos escolares porque esta foi uma das primeiras intervenções dos nazistas no sistema de ensino alemão.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Os tabagistas assumidos devem pensar assim.
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Pra dizer a verdade, são sim. :-\
O meu temor é que nas Olimpíadas do Rio, a cerimônia de abertura dos Jogos seja como um desfile das escolas de samba na Sapucaí.
Qualquer comitiva representando o Brasil lá fora ou qualquer recepção a autoridade estrangeira aqui no Brasil tem mulata pelada rebolando.
Aliás, mudando de assunto, li neste sábado um artigo em que o autor conta como descobriu que, na Europa, o Brasil não é considerado um país ocidental.
E é considerado que tipo de pais?? Da oceania?? (é uma pergunta séria).
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http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/de-ny-a-brasilia-o-ocidente-nao-considera-o-brasil-ocidental/
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Não há pachorra para tanto mimi.