Acauan, lembra uma vez, muitos anos atrás, quando você me perguntou: "mas que porra é essa afinal?" referindo-se a psico-história?
Encontrei um texto do Isaac, onde ele define o termo:
Editorial – Psico-história
Autor - Isaac Asimov
"Psico-história" é uma das três palavras inventadas por mim que aparecem no The Oxford English Dictionary.
. As outras duas são "positrônico" e "robótica". Isto não deve ser considerado como um fato incomum.
Todo escritor de ficção científica inventa novas palavras e uma vez ou outra um desses termos se toma de uso corrente (ajudado pelo fatode o inglês ser notoriamente hospitaleiro a neologismos, o que, emminha opinião, constitui uma das virtudes da língua).Quanto mais simples e inevitável é uma palavra, maior a probabilidade de que seja adotada; não sou uma pessoa dada a criar termos imaginosos e pitorescos. Assim, depois que o pósitron foi descoberto e batizado em 1935, e depois que a palavra "robô" passou a designar um autômato de forma humana, na década de 1920, o aparecimento das palavras "positrônico" e "robótica" na linguagem escrita era apenas uma questão de tempo. O fato de ter sido eu oprimeiro a utilizá-las pode ser considerado como um simples acidente. Na verdade, quando usei pela primeira vez a palavra "positrônico" (no conto "Reason" [Razão], publicado no número deabril de 1941 da revista Astounding Science Fiction), em uma analogia natural com o termo "eletrônico", pensei que a palavra já existisse. O mesmo aconteceu quando usei a palavra "robótica" no conto "Runaround" (Brincadeira de Pegar), que apareceu no númerode março de 1942 de Astounding Science Fiction.
.No caso de "psico-história", porém, desconfio que a palavra talvez não viesse a ser conhecida se não fosse por minha causa. Usei-a pela primeira vez no conto "Foundation" (Fundação), que apareceu no número de maio de 1942 de
Astounding Science Fiction.
A palavra surgiu quando eu e John Campbell estávamos discutindo o rumo que eu daria à série Fundação, depois que o procurei com uma idéia geral a respeito do assunto. Confessei-lhe com muita franqueza que pretendia usar o livro
Ascensão e Queda doImpério Romano, de Edward Gibbon, como modelo da série, mas precisava de algum elemento novo para transformá-la em uma história de ficção científica. Não podia simplesmente criar um Império Galáctico e depois tratá-lo como um Império Romano hipertrofiado. Assim, sugeri que acrescentássemos o fato de que existiria um tratamento matemático capaz de tornar o futuro previsível do pontode vista estatístico.
Foi esse tratamento matemático que batizei como nome de "psico-história". Na verdade, foi uma palavra mal escolhida, que não representava o que eu realmente queria dizer. Seria melhor que tivesse usado o termo "psicossociologia" (uma palavra que, de acordo com The Oxford English Dictionary, foi usada pela primeira vez em 1928). Entretanto, estava tão preocupado com ahistória, graças a Gibbon, que não consegui pensar em mais nada a não ser psico-história.
Acontece que Campbell gostou da idéia e decidimos ir em frente.O modelo para o meu conceito de psico-história foi a teoria cinética dos gases, que havia estudado exaustivamente na universidade. As moléculas de que um gás é feito se movem de forma totalmente aleatória, com velocidades as mais variadas. Mesmo assim, podemos descrever de forma bastante satisfatória como vão ser esses movimentos em média e, a partir deles, deduzir leis que permitem prever o comportamento dos gases com uma precisão admirável. Em outras palavras, embora seja impossível prever o comportamento de uma molécula isolada, é perfeitamente possível prever o comportamento coletivo de trilhões e trilhões de moléculas. Procurei aplicar a mesma idéia aos seres humanos.
Um ser humano, considerado isoladamente, pode ter "livre arbítrio", mas uma multidão deve se comportar de forma até certo ponto previsível; a análise do "comportamento de multidões" constitui o que chamei de psico-história.
Para que meu modelo funcionasse, tive que impor duas condições, que não foram escolhidas gratuitamente; ambas eram necessárias para que a psico-história se parecesse com a teoriacinética. Em primeiro lugar, da mesma forma que a teoria cinética dos gases lidava com um grande número de moléculas, eu teria que lidar com um grande número de pessoas.
Foi por isso que o meu Império Galáctico era constituído por vinte e cinco milhões de planetas, cada um com uma população média de quatro bilhões de habitantes, ou seja, a população total do Império era da ordem de cem quatrilhões de pessoas. (Para ser franco, sempre considerei esse número insuficiente, mas não queria forçar demais a imaginação dos meus leitores.) Em segundo lugar, o comportamento das "partículas" tinha que ser o mais aleatório possível.
Não podia esperar que seres humanosse portassem de forma tão randômica quanto as moléculas de um gás, mas talvez se aproximassem desse ideal se não tivessem idéia do que se esperava deles. Era necessário supor que os seres humanos em geral não conhecessem as previsões da psico-história,para que esse conhecimento não afetasse suas atividades.
Muito mais tarde, cheguei a uma terceira condição que não havia me ocorrido antes simplesmente porque parecia óbvia. A teoria cinética dos gases supõe que os gases são feitos apenas de moléculas; a psico-história só pode funcionar se os seres inteligentes do universo forem exclusivamente os seres humanos. Em outras palavras, a presença de alienígenas inteligentes poderia muito bem pôr por terra todas as previsões da nova disciplina.
Esta situação pode muito bem vir a se concretizar em livros futuros da série Fundação, mas até o momento tenho evitado introduzir inteligências alienígenas no meu Império Galáctico (em parte porque Campbell e eu tínhamos opiniões radicalmente opostas quanto ao papel que essas inteligências poderiam desempenhar, caso existissem, e nenhum de nós estava disposto a ceder...).
Houve uma época em que cheguei a temer que a minha psico-história caísse em desuso e a palavra passasse a ser adotada pelos psiquiatras para designar o estudo da psicologia de indivíduos (como Shakespeare, Sigmund Freud ou Adolf Hitler) que tiveram uma grande influência na história da humanidade.
Naturalmente, como eu me considerava o inventor do termo psico-história, não gostaria de ver a palavra sendo usada com outro significado. Com o passar do tempo, tornei-me mais tolerante. Afinal de contas, talvez não houvesse nenhuma analogia possível entre moléculas e seres humanos, nenhuma forma de prever o comportamento humano.
Quando os matemáticos começaram a se aprofundar nos mistérios do que hoje chamamos de "caos", ocorreu-me que talvez um dia ficasse provado que a história humana era essencialmente "caótica", caso em que uma disciplina como a psico-história seria impossível.
Na verdade, a questão da viabilidade da ciência de psico-história é o assunto central de um livro que escrevi recentemente, Prelúdio da Fundação, no qual Hari Seldon (o fundador da psico-história) é retratado como um jovem que se encontra no processo de criar a nova ciência.
Imagine, portanto, a satisfação que senti ao saber que os cientistas estão cada vez mais interessados na minha psico-história,embora talvez não façam idéia de que esse é o nome da disciplinaque estão estudando.
Pode ser que também não tenham lido nenhum dos meus romances a respeito da Fundação, caso em que desconhecerão totalmente minha contribuição. (Quem se importa? A idéia é mais importante que o seu modesto autor.)
Há alguns meses atrás, um leitor, Tom Wilsdon, de Arden,Carolina do Norte, enviou-me um recorte do número de 23 de abril de1987 da revista Machine Design
. O texto era o seguinte:"Um programa de computador usado originariamente para simular o fenômeno da turbulência em líquidos está agora sendo empregado como um modelo para o comportamento de grupos. Os pesquisadores do Laboratório Nacional de Los Alamos descobriram que existe uma semelhança entre o comportamento de grupos ecertos fenômenos físicos. Para fazer a análise, atribuíram características humanas, como o grau de interesse, de medo etc.
Aos parâmetros do modelo. A interação do grupo foi representada adequadamente pelas equações de um fluxo turbulento.
De acordo com os mesmos cientistas, embora a análise não possa prever com exatidão o que um grupo irá fazer, permite calcular as conseqüências mais prováveis de um dado evento."
Post edited by Gilghamesh on
O mundo só será feliz no dia em que enforcarmos o último político com as tripas do último líder religioso e cremarmos seus corpos, usando como combustível, seus podres livros sagrados!
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Comentários
Bem lembrado Gilga.
Já tinha lido a trilogia Fundação na época, mas devo ter esquecido ou não associado o termo.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!