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Três Caixas d'Água

AcauanAcauan Administrador, Moderador
Três Caixas d'Água
De "Os Diários de um Índio Viajante II"

Por Acauan


1. Dizem que todo lugar tem seu cheiro característico, perceptível pelo visitante, mas não pelos nativos. O primeiro cheiro que sinto ao desembarcar de madrugada no aeroporto de Porto Velho, capital de Rondônia, é o cheiro de fumaça. Não sei se Rondônia abriga uma suinocultura expressiva. Se abrigar, deve ser o único lugar do mundo em que o porco inteiro tem gosto de bacon.

2. Naquela manhã sigo para meu destino. O sol nascente, a floresta tropical e o rio amazônico disputam a supremacia em um cenário poderoso e deslumbrante. Mas quem domina a paisagem é uma obra feita pelo Homem.

3. No fim do dia tenho uma visão em escala de como seria um inverno nuclear. A fumaça que me deu boas vindas agora encobre o Sol, antecipa o poente e joga uma cortina cinzenta sobre o horizonte que no amanhecer emoldurava uma visão épica. A Obra do Homem tem seus matizes.

4. Estou hospedado bem perto do centro da cidade. O que não quer dizer nada, pois o entorno digamos, espartano, sugere que o restaurante mais próximo fica em São Paulo. Pergunto aos nativos sobre um lugar para comer. Me indicam uma lanchonete a alguns quarteirões. Vou lá. As impressões combinadas do estabelecimento e local me sugerem a possibilidade de Wyatt Earp ter feito um lanchinho ali antes de seguir para Ok Corral. O paradoxo espaço-temporal me intriga e resolvo experimentar.

5. Me arrependo.

6. A tal lanchonete fica em uma esquina. Inicio meu ritual contemplativo de observar o comportamento humano enquanto tomo cerveja. Esquinas sempre contam algo sobre a personalidade de um lugar. Menos esta, que deve ser a esquina mais chata do mundo.

7. Sei lá porque os habitantes desta cidade de clima tropical superúmido parecem adorar sopa quente. Em qualquer lugar que sirva comida abundam as terrinas cheias sendo esvaziadas. Uma das sopas mais populares recebe o sugestivo nome de Caldo de Pinto. Deve ser algum tipo de canja, mas não me senti motivado a perguntar.

8. Açaí, xarope de guaraná, castanha de caju, leite, ovo de codorna, amendoim, guaraná em pó, miratã, catuaba, mel e limão. Bata tudo isto junto no liquidificador e terá um Ricardão, nome da receita de açaí mais pedida em uma casa especializada na cidade. Não acredito que alguém possa comer algo que leva ovo de codorna liquefeito e confirmo com a atendente a popularidade da fórmula. Segundo ela, os clientes garantem que o efeito dura três dias, ao fim dos quais retornam para nova dose. Desnecessário explicitar qual o efeito pretendido de um troço que além dos ovinhos leva amendoim, guaraná e catuaba. Não sei o que é o tal miratã, mas se é ingrediente do Ricardão, opto pela ignorância.

9. Não identifico um sotaque característico nos nativos.

10. No final de semana devo visitar as Três Caixas d'Água, o principal ponto turístico de Porto Velho. Inspirador.







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Comentários

  • 8 Comentários sorted by Votes Date Added
  • O Google Map chega aí?
    Come with me if you wanna live.
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    Cameron disse: O Google Map chega aí?

    Só os mapas e vistas aéreas. Não tem vista da rua.

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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited agosto 2012 Vote Up0Vote Down
    Acauan disse: 6. A tal lanchonete fica em uma esquina. Inicio meu ritual contemplativo de observar o comportamento humano enquanto tomo cerveja. Esquinas sempre contam algo sobre a personalidade de um lugar. Menos esta, que deve ser a esquina mais chata do mundo.

    De Minaçu, no norte de Goiás, lembro do único templo da IURD que já vi que era aberto, ou seja, faltando uma das paredes. Havia uns gatos pingados lá dentro cantando alguma coisa tão triste e desanimada que fiquei com pena: "Deus não falhaaa, Deus não falha nuncaaaaaaa". Parecia um velório. Parecia aquele culto na igreja destruída no filme "The day after".

    De uma viagem de ônibus pelo interior do Pará (também percorrendo vastas áreas desmatadas e desérticas), lembro das paradas em vilarejos miseráveis onde sempre subiam cegos e aleijados para pedir esmolas. Ou pessoas pedindo dinheiro para inteirar a passagem. Ou enormes famílias carregando malas velhas e cuias com comida, amarradas com barbante. Foi aí que entendi a expressão "de mala e cuia".

    Do interior de Alagoas, lembro do ônibus passando por ruas tão estreitas que daria para esticar o braço e levar alguma coisa de dentro das casas.

    Do interior de S.Catarina, lembro das favelas de beira de estrada com crianças lourinhas de olhos azuis brincando esfarrapadas entre os barracos.

    Post edited by Fernando_Silva on
  • Já estive em Rondônia, muitos anos atrás. Mas praticamente passei pela Capital, indo direto para o interior. Lembro-me até hoje das belezas daquele Estado. Paisagens deslumbrantes, saídas de um cartão postal. Mas não sei nada sobre as Três Caixas d’Água.

    Muito bom, Acauan. Seus textos, repito, deveriam virar um livro. Leitura enriquecedora e divertida. Mas que diabos são as Três Caixas d’Água?

  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    edited setembro 2012 Vote Up0Vote Down
    Ayyavazhi disse: Mas que diabos são as Três Caixas d’Água?

    São apenas isto. Três grandes caixas d'água metálicas, mas parece que a população local as têm como monumento histórico e símbolo da cidade, tanto que estão na bandeira do município.

    800px-Flag_porto_velho.svg.png


    Post edited by Acauan on
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  • Se fosse uma cidade do sertão nordestino, eu entenderia o valor das 3 caixas d'água.
    O ENCOSTO
    Onde houver fé, levarei a dúvida!
  • sybok disse: A primeira foi erguida em 1910 e as outras duas em 1912. Foram projetadas e construídas pela Chicago Bridge & Iron Works, de Chicago conforme informações contidas em placa de ferro fundido, cravadas nas pilastras de cada uma delas.

    Com um histórico desses, eu até entendo porque são consideradas ponto turístico, mas daí a figurar na bandeira do Estado, já é um pouco exagerado. Curiosidades deste nosso Brasil. Pena que eu não as vi, quando estive em Rondônia. Quem sabe uma próxima visita...

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