Idade Média: Luz em meio de trevas
Atualizado em 24/05/2013 às 18:21.
Imagem: Vitrais da Abadia de St-Dennis e o efeito da luz sobre eles. Os vitrais das catedrais medievais representavam a Teologia da Luz e simbolizavam a Criação, com suas múltiplas formas e cores.
A longa noite dos mil anos. Assim muitos haviam pintado com pesadas tintas o período que se estende da queda do Império Romano do Ocidente nas mãos dos bárbaros hérulos em 476 à queda do Império Romano do Oriente com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453. Outros marcos divisórios foram propostos, é verdade, mas fundamentalmente a Idade Média é considerada o período contido entre os séculos V e XV da era cristã.
O termo nasceu de forma pejorativa. Esses mil anos seriam uma época mediana, separada por duas gloriosas épocas de esplendor cultural, a Antiguidade Clássica e os tempos da Renascença. O Iluminismo aumentou a carga pejorativa com seu característico anticlericalismo, criando a imagem de uma era estagnada, onde o dogmatismo clerical tudo dominava e impedia a liberdade e o progresso do conhecimento humano. Nem é necessário deter-se longamente na igualmente conhecida simplificação anacrônica feita pelo marxismo, no qual a Idade Média seria uma época de senhores feudais exploradores e de servos explorados, conformados pelo “ópio” que lhes era fornecido através do discurso religioso da Igreja. Por outro lado, o romantismo fantasiou essa época com cavaleiros e damas quase imaculados e castelos e armaduras engenhosamente desprovidos de qualquer praticidade.
A verdade é que geralmente vemos uma dessas duas imagens de Idade Média. O pessimismo de uma época imobilista sem liberdade e progresso ou o fantasioso cotidiano de cavaleiros sempre heróicos com uma longa rotina de salvar donzelas, rodeados por criaturas fantásticas.
Permitam-me dizer-lhes que a Idade Média é uma construção artificial, uma forma de classificar o tempo conforme determinados critérios, que os homens usam para diferenciar um determinado tempo de outro. Seja como for, o nome “Idade Média” se consolidou, tendo sido adotado por historiadores e homens de toda sorte, sejam eles anacrônicos, idealistas ou devotados a entender a época que estudam dentro de seu próprio contexto. Como História diz respeito não somente ao tempo, mas também ao espaço, é preciso recordar que a catalogação do período medieval refere-se com maior propriedade ao ambiente da Europa Ocidental e parte do Mediterrâneo.
Contudo, mil anos são muita coisa. Para melhor estudar a Idade Média, os estudiosos a subdividiram. Baseando no sistema socioeconômico do feudalismo (atualmente os historiadores já distinguem entre feudalismo e senhorio, abandonando o critério marxista), dividiram o período medieval entre Alta Idade Média (desenvolvimento e apogeu do feudalismo) e Baixa Idade Média (crise e desestruturação do feudalismo), no qual o século XI apareceria como um marco divisório.
Posteriormente, os historiadores adotaram uma nova divisão, levando em conta aspectos mais complexos: Antiguidade Tardia (do século V ao VII, ou mesmo iniciando-se nos séculos II-III, no qual se observam a desestruturação do Império Romano do Ocidente e a formação dos reinos romano-bárbaros), Alta Idade Média (séculos VIII-X, característicos pelo ressurgimento da idéia de Império na Cristandade ocidental com as dinastias carolíngia e otônida, surgimento e formação do senhorio e do feudalismo), Idade Média Plena ou Central (séculos XI-XIII, marcados pelo surgimento e auge da Cavalaria, pelo ápice do poder temporal pontifício, surgimento das universidades, crescimento da vida urbana e comercial, Cruzadas, etc.) e Baixa Idade Média (séculos XIV-XV, onde se destacariam a crise e desestruturação do feudalismo, uma maior centralização do poder nos reinos, o declínio do poder temporal do Papado e novas formas de pensamento que conduziriam à chamada Renascença ou Renascimento. Também poderíamos notar nesse período a expansão ultramarina européia e a queda do Império Romano do Oriente).
As luzes de que não falam
Tendo explicado brevemente em que consiste a Idade Média, gostaria agora de apontar quatro características dessa longa época que não se coadunam com a imagem de uma Idade das Trevas.
Interesse pelo saber: No ano de 1277 morria um homem em um acidente causado pelo desabamento de um balcão para estudos e observações científicas que havia feito em sua residência: essa residência era o palácio papal de Viterbo e esse homem era Pedro Hispano, João XXI, o único papa português da História. O conhecimento era valorizado por grande parte dos homens da Idade Média, especialmente pelos clérigos, que julgavam a instrução dos demais como uma de suas funções. Desde a Antiguidade Tardia os mosteiros foram centros de preservação do conhecimento antigo dos gregos e romanos. Mas esses mosteiros não somente preservavam e copiavam as obras antigas, como também refletiam sobre elas e teciam comentários sobre as mesmas. Já entre os séculos VI e VII, o Livro das Etimologias fora escrito pelo bispo Isidoro de Sevilha, buscando compilar todo o conhecimento de seu tempo. No século XII, o cônego Hugo da Abadia de São Víctor, na França, escrevia em uma de suas obras exortando seus alunos a buscarem o estudo, sem desprezar nenhuma forma de conhecimento. Com o surgimento das universidades, a troca de informações e escritos e o debate de idéias, frequentemente acalorado, se intensificou. Esse interesse pelo saber traduziu-se também no âmbito prático: os estudos jurídicos em Direito Romano e Canônico produziram códigos de leis e o século XIV, famoso pela tenebrosa Peste Negra, nos legou dois artefatos de atual utilidade: o relógio mecânico e os óculos.
Imagem: Catedral de Chartres, em Paris (França), construída em 1145
Amor à Beleza: A Idade Média teve vários estilos artísticos e amou a beleza como reflexo da ordem e da bondade divinas. Lembravam-se os homens do medievo de Santo Agostinho ao dizer que Deus tudo havia feito com número, peso e medida. A Criação era vista como uma construção ordenada, fruto da inteligência divina. A Criação também era vista como uma bela polifonia, onde todas as criaturas cantavam, em suas distintas vozes, a Glória de Deus. Um dos homens mais austeros da Igreja, o monge Bernardo de Claraval, escreveu em um sermão o mais encantador elogio da beleza do corpo humano. A beleza das igrejas românicas e góticas ainda hoje nos impressiona pela monumentalidade e doce harmonia da unidade de suas formas. Mesmo em suas épocas de maior dificuldade, o período medieval produziu obras artísticas de incrível sensibilidade e beleza.
Dinamismo: Dinamismo é uma palavra que, a meu ver, define a essência da Idade Média. A começar pelas cortes itinerantes de seus monarcas que tardaram a se fixar em capitais. Na política, nas artes, no meio erudito predominam as transformações. Quando no século XII o abade Suger decide fazer uma reforma para ampliar sua abadia de St-Dennis, na França, gera uma arquitetura completamente nova, visando expressar em suas linhas e em sua obsessão pela entrada de luz no edifício a Teologia da Luz, fruto da redescoberta dos tratados de influência neoplatônica do Pseudo-Dionísio Areopagita. Pela mesma época, a sobreposição de vozes em cima da tradicional melodia do cantochão gregoriano abria o caminho para a polifonia na música. Se pensarmos em ambientes bastante heterogêneos como os reinos da Península Ibérica ou as cidades italianas, esse dinamismo torna-se ainda mais notável. Entretanto, o dinamismo mais característico foi o das universidades: o homem de saber medieval era um cidadão da Cristandade, deslocando-se frequentemente em busca do conhecimento e dos mestres famosos.
Incorfomismo: Em muitos livros didáticos vemos aquela visão herdada pelo marxismo de que o homem medieval era conformado com os males e injustiças que sofreria por resignar-se à vontade da Providência Divina. Não é apenas uma notação estulta de Providência e aceitação da vontade divina, como também um desconhecimento de alguns fatos e elementos da Idade Média. Os tão propagados abusos do clero recebiam na época críticas de homens da Igreja mais ácidas do que de muitos reformadores protestantes, como as críticas escritas no século XI pelo cardeal e monge beneditino Pedro Damião. A jovem Catarina de Siena criticava os vícios da Cúria Pontifícia e a relutância de Gregório XI em retornar à Roma na frente do próprio papa e seu Colégio Cardinalício. A consciência de que a moral e a ética deveriam ser também vividas no âmbito da política era algo bastante conhecido dos homens de saber medievais. Uma farta literatura de Espelhos de Príncipes, tratados moralizantes destinados aos monarcas, floresceu ao longo de toda a Idade Média. Os vícios dos homens, especialmente os de poder, eram apontados por eclesiásticos e explorados como argumento pelos movimentos heréticos. As danças da morte, a qual o povo igualmente tinha acesso, escarnecia dos pecados dos homens de todas as condições que esqueciam-se frequentemente de que a morte um dia lhes pediria contas.
A “Idade da Luz”?
A medievalista Régine Pernoud, desejosa de desmistificar a Idade Média enquanto um período tenebroso, chamou-a de “Idade da Luz”. Naturalmente, a historiadora não era ingênua para achar que o medievo fora perfeito e nem mesmo o papa Leão XIII nutria tal suposição quando indiretamente referiu-se ao período medieval como “um tempo em que a filosofia do Evangelho governava as nações”.
É importante que, ao refutarmos o mito da Idade das Trevas, não cultivemos uma mentalidade arqueologista e romântica como a dos criadores da arte neogótica, que viam na Idade Média a perfeição cristã, tratando tudo o que a antecedera como mera preparação e tudo o que a sucedera, lamentável decadência. A Idade Média foi um período com qualidades e defeitos como os demais. O que a diferencia de outros tempos é uma maior influência que os valores cristãos exerceram sobre o âmbito social e institucional, tendo isso contribuído para muitas melhorias, embora não fosse possível, naturalmente, erradicar todos os males nesse campo onde joio e trigo se misturam até que chegue a colheita.
É bom sempre termos diante de nossas consciências que a melhor época que há é aquela na qual estamos inseridos, pois foi aquela na qual Deus nos colocou e aquela na qual temos a capacidade de trabalhar por mudanças e melhorias. Essas melhorias não nascem de grandes ações, mas sim de nossa conduta diária, que pode fazer a diferença.
Texto de Rafael de Mesquita Diehl, professor e historiador formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestrando pela mesma universidade.
FONTE: http://revistavilanova.com/idade-media-luz-em-meio-de-trevas/
RevistaVilaNova
"In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
Comentários
Muitas coisas do Império Romano impressionam por serem tão avançadas, tipo a medicina romana e certos instrumentos cirúrgicos que a arqueologia achou. Quem conhece a medicina praticada na idade médica, com esterco sendo passado em feridas, mulheres que praticavam medicina sendo taxadas de bruxas e outras bizarrices (e até hoje a influência da religião prejudica a medicina).
Quem vê essas coisas tem a nítida impressão de que o mundo regrediu e que a Igreja impôs dogmas que impediam a busca pelo conhecimento. É só lembrar de Giordano Bruno, Galileu Galilei...
Por isso a alcunha de Idade das Trevas, e acho que é bem merecida. Quem duvidar que veja como a igreja pos empecilhos para qualquer ciência que fosse contra as escrituras.
É verdade ou mentira que a igreja enviou crianças para a batalha por causa da ingênua (para dizer o mínimo) crença de que Deus sempre protege inocentes?
É verdade ou é mentira que o cristianismo destruiu por intolerância e zelo templos, esculturas e inestimáveis documentos e livros de outras culturas?
É verdade ou é mentira que um papa começou uma guerra religiosa com, se não me falha a memória, um príncipe por discordarem sobre a forma correta de preparo das hóstias?
A escravidão, a maior mancha moral da história humana, teve sua decadência ou seu apogeu na Idade Média? Só na modernidade, que você taxa de verdadeira era das trevas, é que essa abominação foi culturalmente vencida sendo relegada a criminalidade e a informalidade.
O tema é extenso...
Giordano Bruno e Galileu Galilei não são exemplos da Idade Média. O primeiro foi condenado por feitiçaria, que era crime na época, nem sei se ele chegou a estudar ciência moderna. O segundo foi um playboyzinho afilhado do Papa que teve a maior vida mansa do mundo.
É um daqueles muitos casos nos quais a verdade está no centro.
É verdade que boa parte do sustentáculo da Cultura Ocidental de hoje se deve aos monges que nos mosteiros copiavam a mão livros greco-romanos para preservar a Cultura Clássica para as gerações futuras, a mesma Cultura Clássica que a Igreja Romana é acusada de destruir: SIM!
É verdade que com todas as alegações de mentalidade progressista da Igreja durante a Idade Média, foram absolutamente incapazes de orientar as massas para manter condições sanitárias mínimas, o que teria evitado a Peste Negra? SIM!
Como quase sempre, nem branco, nem preto. Tons de cinza.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Não vou me preocupar a responder nada disso, já que o próprio texto afirma categoricamente que a Idade Média não foi perfeita, o que é óbvio, uma vez que a imperfeição humana a impede de construir civilização perfeita. Também critica a visão romântica dos românticos. Só repare que você só citou alguns exemplos de cacas ocorridas durante a Idade Média, nenhuma delas comparáveis às grandes cacas da antigüidade, modernidade ou pós-modernidade.
Era melhor ser um servo na idade média do que um escravo na antigüidade.
Engano. A Idade Moderna foi justamente o apogeu da escravidão, com o mercantilismo e colonialismo, um retrocesso em relação à Idade da Luz. A escravidão acabou na Idade Contemporânea, em parte por apelo do moralismo cristão, descendente direto da Idade da Luz, em parte por conta da não adaptação do escravo diante da nova realidade do trabalho industrial. Ainda assim, nas nações comunistas, onde o cristianismo foi abolido, houve casos de escravidão urbana.
http://religiaoeveneno.com.br/discussion/comment/17577#Comment_17577
E extremamente curto pra se analisar um período de 1000 anos. Leia-o. Ele só desmitifica algumas coisas.
Ao contrário do que diz o movimento gay, as civilizações antigas eram guerreiras, patriarcais e machistas, sendo que todo tipo afeminado era tratado como um dalit na Índia, travestis provavelmente nem existiam, Platão sugeriu que a cópula homossexual fosse proibida e se fosse seria uma medida que agradaria o povo e em Atenas qualquer um que fosse descoberto dando a bunda perdia seus direitos políticos.
Já imaginou se alguém sugerisse que Jean Wyllys perdesse o mandato por ser gay? Ou que gays não pudessem nem votar? Já imaginou se alguém sugerisse a proibição do sexo homossexual? Já imaginou se alguém sugerir que tipos afeminados ou transgêneros devem ser hostilizados publicamente?
É, esta é a sua linda civilização antiga!
Calígula se travestia ocasionalmente e tinha outro imperador romano que parece que tinha até marido e preferia ser chamado de imperatriz.
Mas duvido que o movimento Gay queira adotar o Calígula como herói da causa e o imperador bichaça era unanimamente reconhecido como símbolo da decadência romana.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Calígula e Nero, os dois maiores degenerados da antigüidade. Nero transava com a própria mãe.
Provavelmente isso só era permitido justamente porque Calígula era imperador.
Também pode citar o caso de Hatchepsut, rainha do Egito bem antes de Cleópatra, mas esse caso confirma o que eu disse. Ela se travestia justamente porque o Egito era um verdadeiro clube do bolinha e não tinha a menor chance de uma mulher governar.
Na Idade Média, contam o caso de uma papisa travestida...
Seria melhor usar Ernst Röhm do que Calígula como propaganda.
Calígula é um estereótipo real de degeneração, hedonismo, promiscuidade e indecência. E o desastre inevitável que essas coisas acabam tendo.
Ok, falha irrelevante, o ponto é que, ao contrário do que diz o professor de história do ensino médio, houve uma humanização do servo durante a Idade da Luz. Na antigüidade, escravos não eram sequer humanos, eram reles mercadorias.
O Acauan chegou a abordar o tema: http://www.antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?f=1&t=1679
http://acauandostupis.blogspot.com.br/2009/08/roma-religiao-da-republica-sagrada.html
Acho que este texto chegou a ser republicado aqui, mas não encontrei.
Minha intenção não é vender a idéia que a Idade Média foi um período onde cavaleiros honrados passavam seus dias salvando donzelas. Esta versão só é apresentada na ficção, e ninguém a leva a sério.
Minha intenção é desmitificar a história de Idade das Trevas, e separar o que era regra do que era abuso. O abuso, por definição, foge da regra. Posso citar por exemplo o caso recente no Brasil onde alguns inocentes foram espancados pela polícia para confessar um crime de estupro. Não estou acompanhando o caso, mas parto do pressuposto que tenha mesmo acontecido o abuso por parte dos policiais, podemos estender isso à realidade geral no Brasil ou seria pura picaretagem fazê-lo? Já o caso da perseguição aos judeus na Alemanha nazista, não foi pode ser considerado um abuso dentro do regime nazista, esta era a regra.
A condenação de Santa Joana D'arc foi um abuso, isso ninguém nega. Mas todo mundo se esquece que ela foi absolvida séculos depois por um Papa e chegou a ser canonizada pela igreja. Sabe dizer um só mártir cristão que foi assassinado pelos romanos ou pelos comunistas que depois foi transformado em santo? Ou um judeu pelos nazistas? O expediente comum é dizer que a vítima nem era humano, ou que foi necessário para a concretização de um futuro paradisíaco ou negação cara-de-pau do ocorrido.
Provavelmente esse é o tipo de cara que acha que contato com a natureza é ir ao zoológico ver um animal selvagem enjaulado. Se ficasse perdido na selva sem nenhum instrumento da nossa civilização (isqueiro, faca, armas, vara e rede de pesca, roupas, sapatos, barracas, lanternas, combustível, repelente e obviamente sem comida) em menos de 72h já estaria chorando pelo colo da mãe.
Livrar-se da civilização moderna, se você quer o paleolítico, é muito fácil. Escolha qualquer bioma brasileiro, cerrado, caatinga, mata atlântica, pantanal, mata das araucárias, amazônia e se mude.
Se ele tivesse apenas criticado que a vida moderna é anti-natural, que nós não fomos programados para viver em cidades de concreto com milhões de pessoas e que isso está ligado à disseminação de doenças psiquiátricas, eu concordaria 100%. A epidemia de obesidade, por exemplo, surge porque nosso cérebro não está acostumado a lidar com a fartura de alimento que até os pobres têm acesso hoje em dia (em países em desenvolvimento e desenvolvidos obesidade atinge mais as classes mais pobres), mas a fome como regra geral, sempre tentando estocar energia pros tempos de seca. Já tentar vender o paleolítico como um tempo calmo e amistoso é insanidade.
hahaha, é rir para não chorar. Quando digo que insanidade é contagiosa o povo não acredita.
Ha, vai nessa...
E o império romano não foi tão depravado quanto diziam os historiadores romanos. Os 4 imperadores descritos por Suetônio só foram relatados daquele jeito pois na época precisavam de uma espécie de propaganda relatando a crueldade dos imperadores pra resgatar a "moralidade anterior" a esses imperadores(e isso foi há quase 2 mil anos e esse discurso de resgate da moralidade ainda existe).
Giordano Bruno estudou a cosmologia. E o fato de Galileu Galilei poder publicar aquele livro mostra que ele tinha amigos influentes mas e quem não tinha poderia questionar a Bíblia e sair vivo?
E na Inquisição e Cruzada isso não aconteceu não é? Eu queria saber onde estava a piedade cristã na primeira cruzada (existe relatos terríveis)...
A Idade Média foi um grande retrocesso se olhar o que os romanos possuíam e que somente no século XVII e XVIII foi retomado. É como se hoje toda a civilização ruísse e depois de 100 anos as pessoas voltassem a morar no campo sem água encanada, não tendo conhecimento de medicina e medidas sanitárias, sem eletricidade, sem livros, sem hospitais, sem água encanada, sem nada...
É essa impressão que fica quando a gente vê como os romanos eram avançados pra um povo que viveu há 2 mil anos.
Machos dominantes tendo acesso a várias fêmeas é quadro comum desde o paleolítico, comum a todas as sociedades, de todas as épocas. Aliás, isso já acontecia antes do primeiro ser humano pisar sobre a terra. Prostituição dizem que é a profissão mais antiga de todas.
Já bacanais, bestialismo, incesto, rainha se gabando de ter transado com centenas de gladiadores num dia, imperador fodendo a irmã ou a mãe é na sua querida antigüidade.
Deu alguma contribuição revelante?
O que prova que Galileu nunca sofreu perseguição nenhuma na vida e ninguém deveria usá-lo como demonstração de mártir ciência vs religião opressora.
A ciência de Galileu não resistiu a São Belarmino.
A Inquisição é cria do final da Idade da Luz, e seu período de maior atividade foi durante a Idade Moderna. Deve ser colocada na sua conta, não na minha.
Mas vamos lá...
Em 400 anos de Inquisição Espanhola, de longe a mais cruel de todas, foram mortos 20 mil pessoas, o que dá em média 50 por ano. Em um mês de Revolução Francesa, inspirada do início ao fim pelos seus caros ideais iluministas, mandaram pra guilhotina 40 mil pessoas.
Num mês seus iluministas mataram o dobro do que os inquisidores mataram em 400 anos. E aí, como faz?
Qualquer conflito posterior matou muito mais do que todas as cruzadas e todas as guerras medievais somadas.
Só de civis franceses, nas guerras napoleônicas, morreram 600 mil.
A guerra civil americana não matou menos de 700 mil homens.
Primeira Guerra Mundial = 15 milhões de mortos
Segundo Guerra Mundial = 50 milhões de mortos
E aí, Voltaire, onde está seu Deus agora?
No início da Idade da Luz, a maior parte da população era vista como objeto e não como ser humano e todo mundo era analfabeto. Entre os bárbaros que invadiram Roma, até os reis eram analfabetos.
No final da Idade da Luz, a Europa tinha Universidades, que gozavam de completa autonomia. O Papado só foi interferir nelas na Renascença.
Aliás, a centralização do poder no Papa, o absolutismo, a eleveção dos reis ao status de semideus só foi ocorrer depois da Renascença ou antes da Idade da Luz.
Conversa fiada.
Qualquer abuso, mesmo que completamente atípico, cometido durante a Idade da Luz deve ser elevado a mil. Vários abusos que nunca existiram devem ser inventados.
Qualquer atrocidade que tenha acontecido durante a antigüidade, idade moderna ou idade contemporânea deve ser diluída ao máximo ou fingir que nunca aconteceu.
Com a cara-de-pau do dois pesos, duas medidas, é muito fácil chamar qualquer era de Idade das Trevas. É como alguém no paraíso pisar num espinho e de repente começarem a chamar o paraíso de inferno.
Os cruzados e as guerras religiosas não dispunham de mecanismos de guerra avançados e nem estavam inseridos em sociedades tão populosas como alguns dos itens citados, isso explica a diferença de mortos, em termos morais não faz a menor diferença um número menor de mortes se tal diferença for resultado da falta de oportunidade e menos pessoas para matar.
Mesmo assim, após o advento do Estado nacional, as guerras se tornaram muito mais comuns e o número mortes nelas, principalmente de civis, aumentou grotescamente.
Durante a revolução francesa, por exemplo, não houve nenhuma inovação técnica na matança, já que a guilhotina é um engenhoca nada moderna, foi pura sede de sangue dos malditos iluministas mesmo.
O crescimento da população só foi possível graças a estabilidade e a inovação das técnicas de agricultura durante a Idade da Luz.
"Caliga" = sandália.
"Calígula" = sandalhinha.
Algum tempo depois, o imperador da parte oriental enviou um representante seu (um bárbaro educado por romanos) como substituto. Quando ele morreu, recomeçou a velha luta pelo poder até que, uns 50 anos após a queda do último imperador, os lombardos tomaram o norte da Itália e, só então, o império do Ocidente realmente acabou.
Primeiro, boa parte destes relatos foram exagerados pelos dois lados, cristãos e muçulmanos, hora para meter medo no inimigo, hora para mostrar o inimigo como bárbaros desalmados. Note, por exemplo, que não é possível - como em vários relatos - matar uma cidade inteira com um exército cuja maioria está a pé, carregado com seu equipamento. Bastaria às pessoas saírem correndo e a grande maioria iria se salvar.
Mas independente disto, note que respostas insensíveis a atos brutais ocorrem até hoje.
Não é este o ponto.
O ponto é que um romano não tinha pelo que se sensibilizar por deixar uma criança escrava presa ao lado do cadáver da mãe porque nada na cultura romana lhe indicava que algo errado estava acontecendo.
Na Cultura Medieval Cristã TODO homem era possuidor de alma imortal criada por e destinada a Deus, o que estabelecia uma igualdade essencial - acima das diferenças sociais - entre todos os homens.
Tal referência não existia na Antiguidade, que sequer reconhecia a existência do indivíduo em si. O indivíduo era apenas uma fração da sociedade e valia pelo significado desta fração dentro do todo.
É preciso entender as implicações deste retrocesso.
Roma fez maravilhas única e exclusivamente porque era uma sociedade guerreira escravagista. Dos aquedutos ao Coliseu, tudo que admiramos na grandeza do Império foi construído sobre o sofrimento e morte de populações inteiras escravizadas.
Um dos motivos do retrocesso medieval é que sem o poder militar romano a sociedade escravagista naqueles moldes não era mais possível e sem escravos, sem aquedutos, por exemplo.
Não é que a sociedade medieval tivesse menos cérebro que a Romana, ela tinha menos braços. Os disponíveis se concentravam na produção de comida dentro das unidades agrícolas dos feudos.
Apesar disto, muito das bases do Ocidente moderno foram lançadas na Idade Média, sendo a primeira e mais óbvia a Universidade.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!