Quando eu leio determinadas coisas no meu face, ou ouço em determinados centros espíritas, fico realmente incomodado. Aliás, até mudei para um centro mais "ortodoxo"....
A minha fé é inabalável com relação à doutrina e em relação à Deus (este último por consequência da primeira). Mas confesso que não entendo como alguns espíritas insistem em ficar amarrados na bagagem católica e pior, se tentamos uma abordagem mais lógica, apontam umas poucas referências que carecem de veracidade (como Memórias de um Suicida) ou com a célebre frase "não há mal nisso". Ontem alguns colegas postaram imagens, preces e outros dizeres sobre essa mulher e me fez até pensar e pesquisar mais sobre o assunto. E concluí que isso é mais comum do que eu imaginava. Em sites espiritas de estudo, nota-se claramente que há um medo mortal de se desvincular da imagem de Maria como mãe de "deus" ou de deixa-la quieta no seu canto. Realmente poucos se importam em conhecer à fundo a história das religiões e suas concepções, suas similaridades, diferenças e etc. Se apegam mais ao romantismo, à magia do que à verdade em si. Alguns se calam diante das evidencias (ou falta delas...), outros reagem como se a verdade (?) fosse um insulto ao mais alto grau da santidade.
Ontem foi um dia como outro qualquer, exceto pelo fato de termos mais devoção à uma mulher comum do que o realmente merecedor de toda uma história rica de acontecimentos que foi seu filho.
Quanto ao espiritismo em si, não sei que fim terá, se irá virar um catolicismo-reencarnacionista, ou se conseguirá com o tempo se livrar das amarras pagãs...
Abraços
Comentários
Kardec tentou criar um Catolicismo-Cientificista, baseado na ideia dele, datada e localizada, sobre o que seria Ciência.
Deu no que deu.
O Espiritismo é basicamente uma tentativa de resolver o Problema do Mal dentro de uma ótica cristã, coisa que até hoje só os Calvinistas fizeram com sua resposta brutal "se Deus quer que a maior parte da Humanidade sofra eternamente, então foda-se a maior parte da Humanidade".
Assim, os fundamentos do Espiritismo são a Panacéia do Livre Arbítrio, reinterpretada de modo que - no fim - todos terminem felizes e bem como Espíritos puros evoluídos.
Os erros lógicos da proposta são óbvios.
Basta perguntar se os tais Espíritos Puros Evoluídos terão livre-arbítrio.
Se a resposta for "SIM", então o livre arbítrio não é incompatível com a perfeição, podendo os espíritos ter sido criados perfeitos, sem necessidade da sucessão de dramas da reencarnação.
Se a resposta for "NÃO", o absurdo é mais óbvio ainda.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Saudações aos demais participantes
Segundo a lógica: Sim, todos têm livre arbítrio, a diferença é que nem tudo convêm. Então pela lógica do menor esforço, os espíritos procuram se adequar ao aprendizado. Mas para isso precisamos libertar-nos da ignorãncia, pois fomos criados para manifestação do livre arbítrio. e não para a ignorância da falsa perfeição do Paraíso.
Fernando_silva, concordo com vc que a imagem da mulher é forte em todas as religiões, seria como tentar apagar a imagem da mãe, todos os homens não precisam delas, nem nascer delas...
> Afinal , são só mulheres... rs
abraços fraternos a ti
abraços fraternos a todos.
Silvana
Olá, Silvana,
Há alguns pontos que não fecham na lógica da Doutrina Espírita.
Primeiro que a ignorância não é boa nem má. A ignorância é amoral ou moralmente neutra. Assim, se os Espíritos são criados como tábulas rasas morais, a partir do momento que exercem o livre arbítrio podem evoluir ou regredir moralmente.
Ocorre que a Doutrina Espírita diz que os Espíritos ignorantes são o mais baixo nível da evolução espiritual e que a partir daí só podem evoluir moralmente de modo positivo.
É nítida a permanência em Kardec do conceito Tomista de que o mal é a ausência do BEM, quando o mal é de fato o oposto do BEM.
Nós, Indios.
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1. Se ele estava em branco e agora deve, houve uma retrogradação, ele "evoluiu para trás", o que o espiritismo não aceita.
2. Um espírito que estava em branco, sem saber de nada, não pode ser condenado por ter cometido seu primeiro erro. Só se ele insistir no erro depois de perceber que errou.
― Winston Churchill
Percival, a principal diferença é que no Cristianismo (e no Islã) o espírito É o próprio indivíduo que sobrevive à morte de modo incorpóreo.
Já nas tradições orientais o Espírito não é individual, é uma essência. O que sobrevive não é a pessoa em si - pois a filosofia oriental não desenvolveu o conceito de individualidade - e sim o princípio vital da pessoa, que ao reencarnar-se torna-se outra.
Para nós isto não é diferente da morte, pois se nossa individualidade não sobrevive, então é o morreu, acabou e só.
Como isto seria inaceitável para os europeus, Kardec deu ao karma e à reencarnação oriental as características de preservação da individualidade do Espírito, típicas do cristianismo.
O problema com o Espiritismo reside em grande parte aí. É uma doutrina de conveniência, que cria uma visão da realidade a partir do que nós gostaríamos que a realidade fosse. Ao contrário das grandes tradições religiosas autênticas, que partem da herança mítica ancestral acumulada e ao longo dos tempos a expressam em forma de ritos e significados religiosos. Se os praticantes desta religião desenvolverem uma cultura sofisticada, os ritos e significados serão codificados na forma de doutrina e filosofia.
Kardec pulou todas estas etapas e foi direto prá doutrina. O Calcanhar de Aquiles intelectual do Espiritismo reside aí.
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― Winston Churchill
E falhou até nisto.
Kardec formatou o Espiritismo para a cultura europeia e na Europa esta religião é inexpressiva. Nos Estados Unidos, Espiritismo é jogo de salão, com seus tabuleiros Ouija.
O único lugar do mundo onde kardecismo é levado a sério é no Brasil.
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Sem contar que utilizam conceitos do Espiritismo na Unbanda. Tanto que na época quando eu dizia que era espírita logo associavam a macumba. Mais tarde fui descobrir o porquê lendo sobre Unbanda e seu criador Zélio de Moraes.
― Winston Churchill
Exato.
Ao contrário do que muita gente pensa, a Umbanda não é uma religião ancestral africana e sim uma religião de laboratório, uma versão nacionalista brasileira do Kardecismo.
Nós, Indios.
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Excelente argumentação.
E os lances de nomes de Santos na Umbanda serem comparados aos Santos Católicos? O chamado sincretismo religioso onde entra nessa salada toda?
― Winston Churchill
Saudações aos demais participantes
Sim. Concordo quando abordas a ignorância do ponto de vista “pragmático”(se me permites), pois para mim a mesma sempre será amoral...
E para tanto, não deveria ser usada para o princípio das penas...
Pois se somos “conscientes” de nossa ignorância, isso não deveria fazer o ser humano querer evoluir, pois se nada sabe(ou tudo desconhece) de que adiantaria saber qualquer coisa que fosse, seria para continuar alegando ignorância quando da falta de compreensão no erro de um ponto esclarecido no todo? (desculpas?!)
Então, fundamentar o princípio de uma concepção religiosa na ignorância humana é amoral...
Porém, creio que Rivail não fundamentou a doutrina espírita na ignorância humana, nem estabeleceu o livre-arbítrio como “pedra angular” ou como “escudo” para o bem e o mal. Mas para mudança de diretrizes...
Ele, Rivail, foi além das questões rasas que afligem enigmas cristãos...
Podem sim, seguindo o princípio dessa lógica.
Porém, já não seriam mais “tábulas rasas”, pois se viveram reencarnações e “guardam” o aprendizado de vidas vividas, pois é esse o princípio da “reencarnação evolutiva”.
O que farão após algumas vidas, irão sempre(eternamente) alegar ignorância para os erros e retornar para repassar a mesma matéria?
Não creio ser esse o princípio da lógica de Rivail...
Acauan, sei que ao abordar isto farei reforçar parte de sua afirmativa para o engano recorrente da doutrina que muitos afirmam.
Sim, o mal e o bem são opostos assim como a luz e a escuridão. Proponho então que pensemos se poderia existir uma luz difusa encoberta por algo formando uma penumbra nessa conjugação.
Então, existiria espaço para o meio termo, assim sendo, ambos não seriam nem opostos nem ausentes, pois para perceber o estado permanente dessa conjugação precisamos ser moralmente livres e assumir nossa liberdade...
é muito maior do que um simples dualismo...
Ambos(bem e mal) seriam(são) complementares e não forças opostas ou ausentes.
Podem ser entendidos quando necessário como uma necessidade, a diferença é que Rivail alertou dentro dos evangelhos sobre o que convém ao ser humano.
Esse ponto seria o princípio, o que queremos fazer, evoluir o regredir?
E o livre-arbítrio então, torna-se a capacidade do ser humano de discernir, liberto da ignorãncia do pecado imposto, que pode fazer escolhas, mas ainda assim a lei é simples, os resultados serão na proporção das escolhas feitas.
Abraços fraternos a ti Acauan.
Abraços fraternos a todos os demais participantes
Silvana
Que eu me lembre os escravos fizeram o sincretismo para poderem cultuar os seus deuses em paz, já que os donos das fazendas eram católicos e não queriam nenhum escravo cultuando demonios pagãos.
Total de Mensagens:
8609 + aquelas que tenho agora. ):-))
Sempre achei que fosse relacionado a alguma coisa assim.
A Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino também se diz Espírita, mas praticava os ritos da Umbanda.
Procure Zélio de Moraes na Wikipédia que você vai ver a salada que é isso. XD
― Winston Churchill
Na verdade parte dos negros africanos trazidos para o Brasil eram muçulmanos.
Os demais se misturavam em uma colcha de retalhos de cultos tribais, geralmente animistas. Tanto pela multiplicidade, quanto pela intervenção dos senhores de escravos que propositalmente misturavam africanos de diferentes tribos não houve o desenvolvimento de uma identidade cultural e religiosa comum entre os africanos. Fato relevante nisto foi a Revolta dos Malês, protagonizada pelos escravos muçulmanos.
O sincretismo entre os escravos surge tanto como uma fusão de ritos animistas tribais de diversas origens, quanto da absorção da estética Católica Romana. Os ritos sincréticos não recebiam a mesma repressão que os cultos originais porque não remetiam a uma identidade ancestral autêntica, que pudesse motivar rebeliões como a dos Malês.
A umbanda apenas absorveu a estética sincrética destes ritos porque eles são tipicamente brasileiros - e não africanos - e vinha ao encontro ao objetivo dos criadores da Umbanda de estabelecer um Espiritismo de fundamentos nacionalistas.
Nós, Indios.
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― Winston Churchill
O conteúdo Iorubá da Umbanda não é autêntico. O que a Umbanda chama de Orixás tem pouco a ver com a tradição africana original.
Nós, Indios.
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Saudações, Silvana.
Tire o livre-arbítrio do Espiritismo e a doutrina desaba. Logo, é uma pedra angular.
A Filosofia Cristã se fundamenta em uma longa tradição que passa pela Patrística, Escolástica e o Tomismo, seguindo toda Teologia disponível. Podemos não acreditar, concordar ou gostar, mas a cosmovisão cristã não é rasa.
O Livro dos Espíritos é explícito e repetitivo em declarar que não é possível a regressão moral dos Espíritos, que na pior das hipóteses podem permanecer estacionados em um determinado patamar de evolução espiritual, mas não retornar a patamares inferiores de antes.
Segundo a hierarquia espiritual Kardecista, os Espíritos seriam tábulas rasas na criação, precisando reencarnar para progredir moralmente. O erro está na associação que Kardec faz dos "Espíritos Ignorantes" como primitivos e bestiais, na estaca zero da evolução moral.
Como princípio de moralidade humana pode ser, mas Kardec sustenta uma moral absoluta sustentada pela perfeição divina, logo não se aplicam relativismos na interpretação da doutrina fundamentada neste conceito.
O que remete aos conceitos Yin-Yang como entendido pela ideologia New Wave.
Se assim fosse o Livre Arbítrio não se aplicaria aos Espíritos Ignorantes, que não tem como tomar decisões morais porque desconhecem seus fundamentos. O resultado é que o ciclo de reencarnações teria por fato gerador acidentes causados por tentativa e erro, não por discernimento.
Nós, Indios.
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Como voce mesmo descreveu em outra ocasiao, os filhos dos espiritas nao demonstram empolgacao pela doutrina ou a praticam de forma muito sincretica, o que ja difere do espiritismo frances.
Aproveitando: ja leu O Erro Espirita de Rene Guenon? Se sim, recomenda?
Nao sei porque, mas eu poderia apostar que tem alguma ligacao entre a criacao artificial da umbanda e o protestantismo...
Em 2007, citei e recomendei a obra ao Botanico em uma daquelas recorrentes discussões sobre Espiritismo, com direito a um link generoso, que não lembro se ele leu.
http://www.antigo.religiaoeveneno.com.br/viewtopic.php?f=1&t=14675&start=25
A lógica de Guénon é perfeita e muito do que tenho falado sobre kardecismo foi consolidado naquelas observações.
Só que o Guénon sempre escorrega também pros esoterismos esquisitos, aí é só prá quem é fã dele mesmo.
Nós, Indios.
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Exato. Algumas tribos adoradas por antropólogos brasileiros se formaram depois do contato com os portugueses, de restos fragmentados de diversas tribos que se uniram enquanto se retiravam para o interior, fugindo da ameaça de escravização. Obviamente, qualquer cultura decorrente deste tipo de formação é sincrética.
São iguais no sentido de serem religiões projetadas por uma pessoa específica, quase como um experimento social teórico que - sabe-se-lá como - caiu no gosto de alguns e acabou crescendo.
O Marxismo também segue este princípio.
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