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Comentários
Não é bem assim. Políticos roubam o que podem da população e profissionais liberais ganham bem melhor até do que nas cidades maiores. Mesmo que seus proventos incluam um porco, serviço de autônomos etc -e não dinheiro propriamente.
Concordo com você, estes devem ir para a rua. Punir o aluno por causa da sua desgraça financeira não é a saída para o problema.
"Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes" - William Shakespeare
P.S.: O conhecimento não garante sabedoria.
vinte horas. Quarenta horas vai pra 1.200, continuando os 120 de regência, sem material, computador, estrutura, nada, apenas um giz na mão e até 60 alunos em sala(isso sem contar quando tirávamos do próprio bolso pra tirar cópias de exercícios, é um negócio de anotar em cadernos e nunca pegarem em livros, os livros na biblioteca são escassos). Acrescente isso as teorias pedagógicas atuais e as exigências estarpafúdias vindas do alto comando da SEDUC pra tirar leite de pedra e cumprir suas "metas".
O pedreiro lá, sem curso superior, chega brincando nos 1.600 quando faz serviços em domicilio.
http://www.ocidentalismo.org/2011/03/magisterio-e-apostolado.html
Há que considerar que aos ganhos do pedreiro não são acrescentados encargos sociais como férias (que para professores, na prática, são três meses por ano), décimo terceiro salário, faltas abonadas por doença ou motivo justo, estabilidade no emprego e contagem para aposentadoria com salário integral além de o pedreiro arcar com custos maiores com previdência social e a incerteza quanto à renda futura.
Claro que os salários dos professores deveriam ser melhores que este citado, é certo que funcionários públicos que não fazem porra nenhuma ganham mais só por fazer parte de alguma curriola política, mas comparativos diretos entre ocupações tão distintas em geral dão uma idéia distorcida das coisas, principalmente por agregar o preconceito de que atividades manuais devem ser necessariamente pior remuneradas que profissões intelectuais.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Vocação é um conceito que não é levado a sério hoje - pelo menos não pela classe intelectual dominante dos meios de formação de opinião. Todo mundo pode tudo, todo mundo tem direito a tudo. Hoje está tudo democratizado, e as profissões todas proletarizadas.
O caso da educação serve como um bom exemplo. Os próprios professores não parecem ver sua atividade como algo mais que um serviço prestado. Eu sei que do ponto de vista estritamente econômico a educação pode sim ser vista como apenas um serviço. Mas não estamos falando de economia aqui. Não há amor pela atividade de transmitir conhecimento - vocação. Esta é na melhor das hipóteses um "plus" no currículo do professor. Há apenas uma rotina de atividades burocráticas rigidamente padronizadas a serem cumpridas em troca de um contracheque no fim do mês. Ensinar tornou-se um atividade como outra qualquer.
Em certos meios, falar que algum fator de natureza imaterial possa ser determinante do destino de uma pessoa é pedir para apanhar. No caso aqui, não se reconhece a possibilidade que uma pessoa simplesmente "não leve jeito" para ser professor. Se um professor não obtém bons resultados, a culpa é do "sistema", dos "salários" - então tratemos de mudar o sistema, aumentar os salários etc.
Aliás, não apenas ensinar, mas também estudar é visto como apenas uma questão de oportunidade e nunca como uma questão de vocação. Concordo que no que se refere à educação básica, fundamental mesmo, é uma questão de oportunidade. Mas à medida que se avança na escala de complexidade dos conhecimentos o estudo passa cada vez mais a ser uma questão de vocação do que de oportunidade. Os planejadores da nossa educação evidentemente não reconhecem isto quando procuram "democratizar o acesso à universidade". Universidade como um lugar apenas para os melhores? Isso é coisa de reaça, de burguês que quer manter seus privilégios. Universidade é "para todos". Todos tem o direito de ser elite. Se o aluno vai mal, novamente, nada tem a ver com isso de "vocação". Deve ter algo a ver com o sistema - tratemos então de afrouxar o currículo, aprovar automaticamente, abrir vagas a granel, etc.
Estão no fórum antigo que tornou-se insuportavelmente lento.
Vou republicá-las aqui, na ordem, reposicionando a parte 5 publicada anteriormente no final.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 18:58
Para se entender a decadência do ensino público no Brasil convém fazer uma retrospectiva do histórico desta decadência.
Até a década de 1960 o ensino público brasileiro era de qualidade, mas só era acessível aos que moravam nas cidades, enquanto a maioria da população vivia nas zonas rurais onde as escolas eram poucas, o acesso difícil tanto para professores quanto para alunos, o que resultava em altos índices de analfabetismo no campo.
Mesmo na cidade, a grande maioria dos alunos do então nível secundário pertencia às classes média e alta, uma vez que era regra que os pobres abandonassem os estudos após o curso primário ou ginasial, para começar a trabalhar.
O modelo escolar e pedagógico era fortemente inspirado na tradição das escolas católicas, com disciplina rígida e currículo dividido entre humanidades e ciências, sendo que a profissionalização especialista era papel da Universidade, inacessível aos pobres que só obtinham profissionalização no aprendizado prático de atividades técnicas.
Com a industrialização e urbanização acelerada que o país sofreu a partir desta época, ficou óbvio aos governantes que o analfabetismo seria um limitador do desenvolvimento econômico, uma vez que a Indústria requeria grandes quantidades de mão-de-obra e as massas analfabetas migrantes do campo não preenchiam os requisitos mínimos das funções operárias como ler instruções escritas, fazer registros simples ou operações matemáticas básicas, o que exigia a manutenção de uma dispendiosa burocracia industrial auxiliar, para compensar esta deficiência.
Isto veio de encontro aos planos ambiciosos dos militares que tomaram o poder em 1964 e que acreditavam em um projeto ambicioso de transformar o país em uma potência industrial ao longo de uma geração.
O objetivo urgente era universalizar a educação, erradicar o analfabetismo urbano e diminuir o rural e adequar os currículos escolares às necessidades da nascente civilização urbana industrial.
O resultado foi uma aliança insólita.
Enquanto o regime militar reprimia ferozmente as organizações de esquerda, culminando com o extermínio dos grupos guerrilheiros armados, o projeto de reforma do ensino foi construído sobre idéias e filosofias de pedagogos marxistas, que por um destes azares da vida convergiam com os objetivos dos militares.
Como os generais queriam um ensino de massa, que formasse rapidamente grandes populações cujas famílias não freqüentaram a escola, mas entendiam que nos novos tempos o estudo abria as portas de melhores empregos e possibilidade de ascensão social, encontraram um modelo pronto nas propostas educacionais marxistas, focadas em classes sociais, doutrinação de massas e pragmatismo, tudo que acreditavam precisar no momento.
A ironia está em que os mesmos militares que foram notoriamente eficazes em erradicar a influência comunista do aparato do Estado, sonhando a partir daí construir uma grande nação, trouxe esta mesma ameaça para dentro das salas de aula, iniciando o processo de destruição do ensino público brasileiro que quatro décadas depois se tornou o maior empecilho ao desenvolvimento nacional que tanto almejavam.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 20:10
Os ideólogos marxistas encarregados de reformar o ensino público brasileiro, sob a benção dos militares governantes, iniciaram uma estratégia de desmonte dos valores tradicionais herdados da educação católica:
- A função da escola é preservar e transmitir o saber humano acumulado;
- O saber promove a ascese espiritual do indivíduo;
- A educação conscientiza o homem de seus deveres e responsabilidades individuais.
O que tornava o modelo tradicional de educação vulnerável à crítica é que este não tinha pretensões de ser aplicável em massa, preferindo à qualidade à quantidade e admitindo uma hierarquia social que situava as pessoas cultas e educadas no topo.
Para os marxistas o modelo de ensino tradicional era elitista, socialmente discriminatório e orientado para a preservação do status quo.
Era claro para eles que não era um modelo a ser reformado, mas desmontado completamente e substituído por outro erigido sobre valores marxistas:
- A função da escola é conscientizar as massas;
- A escola deve promover a mudança social;
- A educação deve preparar as classes exploradas para seu papel histórico.
Parece estranho que os militares tenham aceito tal modelo, que além do esquerdismo óbvio ainda contrariava a educação tradicional clássica dada na Academia Militar das Agulhas Negras, Escola Naval e Academia da Força Aérea, centros de ensino de excelência nas quais todos os oficiais se formaram.
Houve que os ideólogos de esquerda acenaram com o que os generais mais queriam na época, que era transformar as escolas públicas em centros profissionalizantes de massa, capazes de alfabetizar e preparar toda uma geração para o exercício das profissões técnicas na indústria.
Os que atentaram para as diferenças entre os princípios da escola tradicional e os de seu substitutivo marxista notaram uma guinada de um foco no encontro entre o indivíduo e o conhecimento, visando formar um indivíduo melhor, para uma proposta de conscientizar as massas visando construir uma sociedade melhor.
Ou seja, a instalação de uma visão coletivista no ensino.
O grande mal do ensino de orientação marxista é que nele pouco importa se cada aluno individualmente aprendeu alguma coisa e cresceu como ser humano.
Neste modelo o sucesso é medido coletivamente, a partir de o quanto a sociedade, classes ou as massas se tornaram mais conscientes, uma abstração sem significado lógico, mas que é a base desta percepção ideológica da realidade.
Vem daí a origem dos efeitos hoje percebidos por todos, escolas que não reprovam os alunos inaptos e não se importam com o fato de eles chegarem ao ensino médio na condição de analfabetos funcionais.
Enquanto o ensino tradicional se importa em saber o quanto determinado aluno aprendeu, o quanto determinado indivíduo sabe, o modelo marxista se importa com o total de saber passado ao coletivo, à massa indefinida e abstrata que é o centro e objetivo do modelo e o quanto este saber os preparou para seu papel histórico, a construção da sociedade plenamente igualitária.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 07/07/2007 às 20:58
Definido o plano ideológico de desmonte do sistema tradicional de ensino e sua substituição por um modelo coletivista de inspiração marxista, sua colocação em prática dependia da capacidade de seus ideólogos em driblar a vigilância dos militares governantes, seduzidos pela promessa de instalação de um ensino de massas voltado para a formação técnica de mão-de-obra para a indústria, mas ainda muito pouco tolerantes com qualquer tipo de doutrinação política esquerdista explícita.
Além disto, as escolas ainda estavam cheias de professores e diretores formados na antiga tradição de saber individual como objetivo, disciplina e dedicação como meios, que resistiriam à nova filosofia oficial de ensino.
O desmonte começou pelos currículos escolares, a partir do de humanidades.
- Latim? Se é uma língua morta pra que ensinar?
- Filosofia? Coisa de quem não tem o que fazer.
- Literatura Portuguesa? O que Camões sabia sobre a realidade brasileira?
Seguido do ensino da matemática.
- Demonstrar teoremas? Pra que se já sabemos que estão certos?
- Conceitos fundamentais de geometria plana? Só interessam as equações.
- Polinômios? Vão usar isto onde?
E das ciências naturais:
- Experimentação? Laboratórios são caros...
Em compensação as ciências sociais ganhavam um novo destaque, com as aulas de História, Geografia e Educação Moral e Cívica sendo continuamente assumidas por professores marxistas, que expunham suas disciplinas segundo suas convicções ideológicas.
Detonados os currículos, seguiu-se a pulverização dos valores tradicionais da escola.
Excelência passava a ser considerada elitismo, os padrões de exigência deviam se adaptar aos menos capazes e não exigir deles que se esforçassem mais para apresentar melhor desempenho.
Disciplina passava a ser considerado repressão, o professor não devia se colocar acima do aluno como um ser superior e distante e sim tratá-lo como igual, os rituais de demonstração de respeito deviam se abolidos, punição devia ser substituída pelo diálogo.
Civismo passava a ser considerado propaganda da ditadura, o hasteamento da bandeira e o Hino Nacional deviam ser suprimidos.
Com o fim do regime militar o processo de desmonte do ensino tradicional se completou.
Não apenas desaparecia de cena a repressão ao esquerdismo, como se estabelecia sua dominância ideológica, já que tudo que podia ser associado à ditadura moribunda devia ser considerado mau e repudiado.
O tempo fizera seu papel conduzindo à aposentadoria os professores e diretores da velha guarda, apegados aos valores do ensino tradicional.
Os ideólogos de esquerda eram agora senhores absolutos das escolas públicas brasileiras.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 09/07/2007 às 22:23
O erro mais comum nas muitas análises sobre causas e soluções do problema do ensino público brasileiro é que a maioria se atém a elementos operacionais do sistema – volume de verbas, remuneração dos professores, métodos pedagógicos e pouco se fala do fundamental, as filosofias que orientam a formulação das diretrizes.
Estas filosofias estão em parte explícitas na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, um pastiche ideológico que oficializou com quarenta anos de atraso as propostas de Paulo Freire e outros ideólogos de esquerda da educação, mas sua identificação completa deve ser tirada da práxis da implantação do projeto marxista de educação ao longo deste tempo.
Relembrando dos comentários anteriores, a esquerda desviou o foco educacional da tradição católica do indivíduo que melhora a si mesmo e a partir de si pode melhorar a sociedade, para a ideologia coletivista da sociedade que progride historicamente e, no processo, melhora o indivíduo.
Assim, podemos encontrar nas diferenças entre estas diretrizes a origem da maioria dos problemas da educação pública brasileira.
Diretrizes tradicionais de inspiração católica:
- A função da escola é preservar e transmitir o saber humano acumulado;
- O saber promove a ascese espiritual do indivíduo;
- A educação conscientiza o homem de seus deveres e responsabilidades individuais.
Diretrizes coletivistas de inspiração marxista:
- A função da escola é conscientizar as massas;
- A escola deve promover a mudança social;
- A educação deve preparar as classes exploradas para seu papel histórico.
As primeiras coisas que os brasileiros devem se perguntar quando analisam o fracasso do sistema público de ensino são porque não mudam o sistema?
Por que os teóricos que o desenharam não são repudiados e suas propostas abandonadas e substituídas por alguns dos muitos outros modelos internacionais bem sucedidos, inclusive em países pobres?
Por que vemos estes mesmos teóricos preservando altos cargos na hierarquia burocrática estatal do ensino, dando entrevistas defendendo seus modelos, ao mesmo tempo que apontam soluções para os problemas da educação como se eles próprios não tivessem nada a ver com eles?
A resposta é que para os teóricos de esquerda o modelo é um sucesso, dado que seu objetivo não é ensinar alunos, trazê-los da ignorância e pô-los em contato com o legado do gênio humano a partir de onde poderão encontrar modelos em que se inspirar para realizar seu pleno potencial como seres humanos.
Estes são valores da educação tradicional, que os pais desejam para seus filhos, mas não que os ideólogos desejam para a "massa estudantil" que para eles é massa de manobra para a "mudança social", o verdadeiro e único objetivo de seu modelo, que pouco se importa se o filho da D. Maria sabe ou não sabe interpretar textos simples quando chega ao nível médio.
Quando expulsaram da escola pública a excelência, disciplina e civismo, rechaçados como elitismo, repressão e ditatorialismo prepararam o terreno passo a passo para a ignorância generalizada, a falta de respeito dos alunos para com professores e a instituição escolar e o desprezo pela própria Pátria, a qual não encontrava mais nas salas de aula quem a enaltecesse ou defendesse.
Na origem de todo o mal está o abandono da tradição de que o homem educado tem mais deveres e responsabilidades do que o homem ignorante.
Em outros tempos, um homem instruído que apresentasse comportamentos socialmente reprováveis era repreendido com a frase "você estudou e se comporta como um ignorante?".
Estudar significava assumir MAIS deveres sociais.
Nos ideário esquerdista, estudar significa ser conscientizado dos direitos sociais que deve reivindicar e apenas dos direitos.
Deve ser óbvio a todos qual das duas diretrizes produz uma sociedade melhor.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 12/07/2007 às 17:44
No olho do furacão da catástrofe que se abateu sobre o sistema público de ensino brasileiro nas últimas décadas está o professor, tanto como indivíduo e profissional quanto como instituição.
O significado tradicional da instituição do professor pode ser ilustrado no seguinte relato da experiência de um casal de dekasseguis brasileiros, formados em curso superior no Brasil, que foram para o Japão trabalhar naqueles serviços operários básicos pelos quais os japoneses natos não se interessam mais.
Contam que os japoneses não expressavam nenhuma reação quando ele informava que era engenheiro, mas que todos se mostravam muito impressionados quando ela dizia que era professora, a partir do que passavam a tratá-la com distinção especial.
Esta distinção especial é antiga, natural e esperada na imagem do professor.
Exceto no Brasil de hoje.
De hoje, pois em outras épocas a profissão recebia neste país a mesma reverência prestada pelos nipônicos, apenas menos cerimonial do que é típico no oriente.
Como e porque nossos professores perderam a aura de respeitabilidade que lhes era inerente é uma repetição em nível pessoal e profissional do mesmo processo de perda de valor sofrido pela educação brasileira.
Isto se constata pela freqüência alarmante com que se repete a absurda frase "quem faz a escola é o aluno". Ora, se quem faz a escola é o aluno, o professor então não serve para nada, quando muito é um coadjuvante menor no teatro da aprendizagem.
Naqueles tempos no Brasil, a imagem do professor era a do intelectual, não que todos cumprissem rigorosamente os requisitos da definição, mas por ser este o modelo que melhor retratava o ideal da profissão.
Se a imagem de intelectual dava forma ao educador, seu conteúdo era de estofo ainda mais respeitável, portador que era de uma autoridade moral e social tacitamente delegada como extensão da autoridade paterna.
A escola era uma continuidade simbólica da instituição familiar, que promovia de modo gradual e assistido a transição da criança do seio protegido da família para o mundo, complementando a educação recebida em casa, treinando-a no convívio social e reforçando-a com os conhecimentos sitos além da experiência doméstica.
Isto só era possível pela existência de uma sintonia fina entre os valores familiares tradicionais e os valores institucionais da educação, que se congregavam na pessoa do professor.
Este cenário vigorava em um Brasil pré-industrial e pré-urbano, no qual uma educação pública artesanal praticamente se restringia à minoritária população das cidades.
Para os ideólogos de esquerda, o professor tradicional representava o extremo oposto do que vislumbravam a frente das salas de aula.
O educador comprometido com o aprendizado individual de seus alunos, com a preservação e transmissão do saber e com os valores familiares e cívicos passava a ser visto como um elemento obsoleto e reacionário a serviço dos interesses da classe dominante, que alienava o proletariado, intoxicando-o de cultura burguesa.
Este modelo de professor deveria ser substituído por elementos politicamente engajados ou, no mínimo, conscientes, dentro do significado político-ideológico dado a estes termos, que assumiriam a missão de transformar as escolas e, a partir delas, transformar a sociedade.
A formação deste novo professor não seria problema, uma vez que a maioria das escolas de filosofia, letras e ciências sociais das universidades, que ditava o perfil do professorado, era alinhada com a ideologia esquerdista.
Assim, o desmonte ideológico do sistema de ensino foi acompanhado em paralelo da desconstrução (para usar uma palavrinha da moda) da instituição do professor.
Para esta desconstrução contribuíram principalmente dois grupos de fatores, um externo e outro interno àquela categoria profissional.
O externo proveio dos militares governantes, que consideravam que o professorado tradicionalista seria incapaz de apresentar a produtividade requerida pelos planos desenvolvimentistas que exigiam instrução básica em massa.
O interno, mais danoso, gerado no próprio seio do professorado, um núcleo militante encarregado de minar o orgulho, auto-estima e senso de missão dos educadores, fazendo com que se vissem apenas como trabalhadores explorados e mal pagos, em nada diferentes das massas operárias que ensinavam e com as quais deviam se alinhar na luta comum contra a classe dominante opressora.
Atacada de fora por uma política desenvolvimentista que estupidamente priorizava a quantidade em detrimento da qualidade e de dentro pela militância infiltrada, a imagem pública do professor decaiu do receptáculo de saber, respeitabilidade e valores para a de categoria reivindicante, apenas mais um coletivo de trabalhadores sem diferencial distintivo de qualquer outro.
A esta perda das distinções seguiu-se o esvaziamento das vocações, com as vagas de professores preenchidas em grande parte não mais por idealistas que sempre almejaram tal oficio, mas por pessoas de formação diversa que tinham o magistério como segunda ou terceira opção profissional, ao qual recorriam na falta de alternativa melhor.
Esta decadência atingiu o fundo do poço quando se tornou recorrente entre os próprios professores culpar os baixos salários por todos os problemas do ensino, como se esta deficiência, por si só, explicasse a ignorância generalizada, o desinteresse visível e os resultados desastrosos que a cada ano pioravam dentro da educação pública.
Invertendo a tradição de que sobre o homem educado recaem mais deveres e responsabilidades, os professores, os homens que educavam, apelavam a subterfúgios jamais usados pelos mais simples artesãos. Neste país os pedreiros em geral nunca receberam altos salários por seus serviços, mas não dá nem para imaginar por causa disto pedreiros construindo sistematicamente prédios que desabam e pondo a culpa na baixa remuneração.
O professor ideologicamente descontruído perdeu esta lógica simples.
A esperança de futuro reside nos resistentes, aqueles que contra toda a oposição preservaram o antigo compromisso com o saber, o estudante e os valores cívicos.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Não existe mais pedreiro besta: eles compensam os repasses a previdência como trab. autônomos ou aderem alguma prev. privada complementar.
Eita Indio Velho, ultimamente cê anda inspirado! Vou ler com mais calma essas postagens depois.
USP deveria morrer de vergonha
Mais uma vez me sinto aqui obrigado a dizer que a USP deveria morrer de vergonha. É simplesmente inexplicável a posição de sua escola pública, gerida pela Faculdade de Educação, no Enem.
Não é apenas que ela fica abaixo de muitas escolas técnicas. Neste ano, ficou abaixo de uma escola de Parelheiros (Carlos Cattoni), que não é técnica, onde nem sequer tem água encanada. É uma das regiões mais pobres da cidade, onde falta tudo e sobra violência. Não há nada ali, rigorosamente nada, que lembre as riquezas culturais do campus da USP, que está na lista das melhores universidades do mundo.
A rigor, a escola de aplicação da USP deveria estar entre as primeiras do Brasil se soubesse aproveitar as infindáveis possibilidades de seu campus e experimentando métodos inovadores. De resto, sua clientela nem de longe se assemelha com a de Parelheiros.
É por fatos desse tipo que, entre educadores, cresce a visão de que as faculdades de educação estão longe da realidade e não sabem preparar professores para resolver os desafios de sala de aula, perdendo-se em teorias pedagógicas.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/973786-usp-deveria-morrer-de-vergonha.shtml