Creio que a maioria por aqui tem capacidades intelectuais acima do dito normal, não pelo nível da escrita ou por sua posição quanto a religião, digo isto pelo nível da argumentação utilizada por alguns foristas. Sendo assim, algum de vocês já se sentiu afastado dos demais (pessoas), ou excluído por ser mais inteligente, por seus amigos não conseguirem seguir sua linha de pensamento, isto fora os rótulos comuns de NERD, "sabichão" e afins? Em discurssões, ao você perceber a idiotice tremenda que uma pessoa está falando, e em alguns casos fica especialmente triste, quando uma pessoa que você "admirava" por algumas determinadas qualidades fala a coisa mais non-sense ever.
Resumindo, ser inteligente às vezes é um fardo irritante que pode te afastar das pessoas, e "baixar o QI" e manter o nível das conversações é algo necessário para não entrar em atrito com os intelocutores... ou seja, para agradar as pessoas. Duas coisas que faço para evitar "brigas" é não contrariar os idiotas e JAMAIS transparecer aos que não compreendem que sou ateu.
Por isto, eu me pergunto, a minha vida e a de vocês não seria mais simples se todos estivessemos na caverna da ignorância?
Espero que todos tenham compreendido meus questionamentos, devido ao horário, estou com preguiça de organizar meu pensamento, revisar texto e afins. Boa Sorte na interpretação da verborragia recém saída de minhas sinapses até meus dedos.
Depois de meio século de vida, me arvoro a dar pitaco sobre esta questão.
O problema não é o que se sabe, ou pensa, imagina ou cria. É o que nosso manancial emocional faz com isto. Ou nos salva, ou nos mata.
Pessoalmente, me calar e fingir faz tão mal quanto falar. Mas o que mais corrói e assistir à exibição da ignorânica humana e nada poder fazer para mudar a natureza como ela é. Deprimente.
Por ter interesses diferentes dos demais, a vida nem sempre foi fácil junto dos colegas desde jovem.
Inclusive, enquanto crescia, tive todos os incentivos familiares para falhar. A curiosidade, o gosto por questionar e conhecer nunca me pareceu valorizado. Acabei por desistir.
Não é uma bênção ser ignorante. Facilita muito estarmos em fase com o nosso meio, se este meio tender para a ignorância, ficamos com esta impressão de ser mais fácil ser ignorante, quando tudo se resume a não destoar da maralha.
Disse acima ter desistido. Nunca recuperei de me ter traído e durante muito tempo, isto afetou negativamente todo o meu desempenho. Amadureci, deixei de procurar integrar-me em qualquer meio. Aproveito a experiência para continuar a caminhada no mundo. Tomando o exemplo da Apopo, aprendi a calar-me mais. Deste modo evitei a auto-destruição.
Eu me adapto ao meio em que estou. Não dá para tocar em certos assuntos com certas pessoas.
Lembro-me da surpresa agradável que foram os primeiros encontros de ateus dos quais participei. Muito diferentes dos encontros com colegas de escola ou de trabalho em barzinhos, onde eu quase não participava da conversa por não me interessar por nada do que se conversava (o que acabou me levando a não mais ir a encontros em barzinhos...).
Fernando_Silva disse: Eu me adapto ao meio em que estou. Não dá para tocar em certos assuntos com certas pessoas.
Lembro-me da surpresa agradável que foram os primeiros encontros de ateus dos quais participei. Muito diferentes dos encontros com colegas de escola ou de trabalho em barzinhos, onde eu quase não participava da conversa por não me interessar por nada do que se conversava (o que acabou me levando a não mais ir a encontros em barzinhos...).
Fernando,
Exatamente. Por isto, que eu acho interessante que este é um problema recorrente na humanidade, as ditas sociedades secretas que agora estão atormentando a vida do mainstream (que adora estar com medo de algo), surgiram dentre muito motivos o fato de que aquelas pessoas guardavam interesses em comum, os membros queiam estar entre seus pares.
Embora eu confesse me servir dela de vez em quando, eu tenho algumas reservas com relação a atitude “eu sou mais inteligente que os outros”.
Explico.
Eu não acho que essa atitude deva servir para justificar dificuldades que você venha a ter para se comunicar. Isso é apenas uma desculpa esfarrapada que você se acostumou a dar por perceber que não tem a presença carismática e influente que você gostaria.
Durante uma boa parte da minha infância e adolescência eu achava que as pessoas não me davam suficiente reconhecimento. Eu não chegava a ser um nerd anti-social, até por ser um atleta, mas eu sempre fui extremamente arrogante e individualista, ao ponto de deixar outras pessoas desconfortáveis.
Na minha cabeça, eu estava constantemente acusando meu círculo familiar e de amigos de estar muito abaixo do meu nível de consciência, uma visão que às vezes eu materializava em comentários rudes.
Esse mindset era nocivo para o meu carisma, mas de alguma forma alimentava minha auto-estima, de maneira que eu consegui ter um desempenho relativamente alto em atividades que dependiam apenas de mim ou daqueles que por alguma razão toleravam minha atitude ou que pensavam da mesma forma.
Eu me ainda me sirvo dessa atitude para me motivar a aprender algo que outra pessoa saiba fazer e que me interessa. Eu não sei se é a melhor “self-talk” do mundo, talvez algo mais centrado em si mesmo e não nos outros fosse mais adequado, mas volta e meia eu me pego pensando “se aquele imbecil conseguiu, é óbvio que eu vou conseguir também”. Ou seja, eu sou um pouco elitista.
Mas eu venho tentando substituir essa mentalidade por algo mais realista.
Hoje eu percebo que boa parte daquilo que eu achava ser meu talento natural era na verdade habilidade desenvolvida e auto-confiança. E boa parte daquilo que eu achava ser o defeito de outras pessoas era na verdade minha insegurança e ignorância em me comunicar, seja me expressando, mas sobretudo ouvindo os outros.
Com relação a expressão, certas pessoas respondem melhor a certos canais de comunicação, e essa percepção exige certa sensibilidade que precisa ser desenvolvida.
Eu sempre procurei me comunicar mediante uma linguagem precisa e lógica, pois esse é o meu modo predominante de pensar. Mas algumas pessoas tem uma melhor resposta para emoções subcomunicadas do que para silogismos explícitos. As vezes uma mesma pessoa terá modos preferenciais diferentes de acordo com a situação na qual ela se encontra. Por exemplo, no trabalho ela responderá melhor a uma articulação lógica, num bar a uma interação mais emocional pode ser mais eficaz, mesmo quando a lógica as vezes parece ser contraditória. Isso porque num bar as pessoas não estão tentando comunicar idéias e instruções precisas, mas estão compartilhando emoções, e nesse contexto a coerência das idéias pode ser relativamente sacrificada. O contexto e o subtexto determinam muito mais o sentido das interações do que as proposições explícitas. Um "haahahah... eu odeio você!" tem um efeito completamente diferente do que a interpretação lógica (autista) da frase "eu odeio você" sugeriria. Embora eu já tivesse alguma uma percepção intuitiva desse fenômeno há um certo tempo, apenas recentemente que eu o vi articulado de maneira satisfatória para o meu cérebro lógico.
Eu também percebi que a maior parte das pessoas é mais confortável com exemplos concretos palpáveis do que com idéias e tratamentos abstratos. Agora eu tento inserir na minha comunicação mais exemplos e menos argumentos teóricos de maneira que as pessoas possam construir a partir de suas percepções as idéias que antes eu achava que deviam ser comunicadas diretamente.
O problema em comunicar suas abstrações é que elas estão carregadas das suas próprias idiossincrasias. A maneira como você representa conceitos na sua cabeça nem sempre é análoga a maneira que outras pessoas o fazem, sobretudo quando seus backgrounds acadêmicos e culturais são distintos. Ao exemplificar, chamando atenção para os aspectos importantes, você permite ao interlocutor de produzir a partir da experiência concreta com o exemplo sua própria abstração, o que muitas vezes é mais eficaz.
Fazendo atenção a esses pontos, hoje eu me considero muito mais competente ao exprimir minhas idéias.
Quanto a ouvir melhor, esse ainda é um desafio significativo para mim. Em muitas discussões eu me flagro dando mais atenção aos meus pensamentos sobre o que eu vou falar em seguida do que ao que o interlocutor está tentando dizer. Após detectar algumas palavras chaves para as quais eu tenho teorias pré-compiladas na cabeça eu tendo a ignorar o resto do conteúdo formulando minha resposta sensacional mas freqüentemente inadequada dentro do contexto daquilo que realmente foi dito.
Além de ser mais elegante, tentar escutar e compreender adequadamente o que os outros dizem é um excelente instrumento de influência, pois as pessoas passam a respeitar mais o que você diz quando elas sabem que você entendeu o que elas disseram. Peça para as pessoas reformularem suas idéias quando você discordar de algo, ou tente parafrasear a sua compreensão do que foi dito de maneira a certificar-se de que há de fato uma discordância, antes de partir para o ataque com contra-argumentos.
Isso é algo que eu percebi entre pessoas com maior status social. Elas estão constamente se certificando de que há compreensão mútua, sobretudo em interações de caráter objetivo e lógico. Elas não tem vergonha de perguntar algo que não entenderam. Pessoas de menor status estão sempre tentando inferir aquilo que não foi compreendido por medo de serem consideradas menos inteligentes.
E quando você for aprensentar algum contra-argumento, sobretudo quando você sentir que a outra pessoa pode se onfender ou tomar algo pessoalmente, faça uma referência artificial a uma terceira pessoa hipotética, ou diga que você ouviu alguém dizer algo a respeito, e aí apresente o argumento como se não fosse seu. Não cometa o erro de acusar falhas de raciocínio dos outros deixando a impressão de que você está tentando mostrar-se mais inteligente do que eles ao fazê-lo. Diga que você "pensava da mesma forma" até que alguém te disse algo que te fez pensar diferente. Essas construções, embora não introduzam nenhum conteúdo objetivo, fazem os interlocutores se relacionarem melhor com o que você terá a dizer do que sair interrompendo e acusando os outros de estarem errados por serem estúpidos e cretinos, algo que eu era bastante propenso a fazer.
Essas foram as principais falhas que eu notei na minha comunicação, e que eu tenho progredido em corrigir. Talvez você não incorra em algumas dessas, mas identifique outras a serem trabalhadas.
Embora um arsenal imponente de ofensas a inteligência alheia tenha sua utilidade eventual, seu respeito próprio não deve depender do emprego desse tipo de tática, mas sim da sua percepção de contribuição construtiva para a sua inteligência e para aquela ao seu redor.
É muito fácil acreditar-se alguém especial que tem o azar de viver em meio a uma comunidade de ineptos. É a síndrome da “flor nascida no lixão”. Isso é apenas uma auto-ilusão. Provavelmente as pessoas ao seu redor terão bastante a acrescentar se você começar a procurar ativamente melhorar sua habilidade de comunicação com elas, e parar de assumir que elas não tem valor nenhum para te oferecer.
ufka_Cabecao disse: Além de ser mais elegante, tentar escutar e compreender adequadamente o que os outros dizem é um excelente instrumento de influência, pois as pessoas passam a respeitar mais o que você diz quando elas sabem que você entendeu o que elas disseram. Peça para as pessoas reformularem suas idéias quando você discordar de algo, ou tente parafrasear a sua compreensão do que foi dito de maneira a certificar-se de que há de fato uma discordância, antes de partir para o ataque com contra-argumentos.
Eu estou tentando compartilhar algumas idéias que eu aprendi ao lidar com problemas similares aos que o insane boy reportou.
Ainda não refinei esses conceitos completamente, pois apenas recentemente eu passei a dar maior importância a minha comunicação pessoal. E até pouco tempo ela era muito ruim.
Algumas áreas ainda são bastante insatisfatórias, mas eu acho que o fato de estar consciente desses defeitos o torna mais robusto a eles e pode servir para previni-los.
A sua comunicação pessoal é um músculo que você trabalha constantemente. E começa com a forma como você se comunica consigo mesmo, com a linguagem que você escolhe e com as crenças que você tenta enraizar para compreender e lidar com o mundo.
E algumas das crenças e formas de linguagem que eu usava freqüentemente precisavam ser substituídas, pois elas eram extremamente limitantes.
O problema é que muita gente se acha titular das idéias que contaminam seu cérebro. Atribuem uma identidade pessoal a elas, chamam de sua "personalidade", e são extremamente resistentes a revisá-las.
Não lhes ocorre que 99% das outras pessoas tem exatamente as mesmas percepções e idéias que eles consideravam ser únicas. Basta dar uma verificada nas comunidades mais populares das redes sociais para perceber que aquilo que você achava ser a sua personalidade única é na verdade a manifestação local de uma programação social, mas que você pode reprogramar, se quiser resultados diferentes dos que os 99% das outras pessoas estão obtendo.
O que nos leva ao meu tema favorito: progressismo versus conservadorismo.
A maioria das pessoas está mais disposta a revisar uma instituição social consagrada do que as suas próprias idéias a cerca do que ela deve fazer com a sua própria vida. É mais fácil acusar a sociedade inteira (ou seja, "as outras pessoas") de estar errada e determinar que algo novo deve ser tentado coletivamente do que internalizar a responsabilidade pelos seus próprios resultados e modificar a sua própria atitude, assumindo assim os riscos envolvidos e deixando as instituições sociais evoluindo em paz.
Vou explicar: quando eu ia com a turma a barzinhos, os assuntos eram sempre carros, futebol e mulher.
Carros me interessam, mas não a ponto de ficar horas comparando detalhes e falando dos modelos que se pretende comprar e seus custos.
Futebol não me interessa. Acompanho superficialmente os resultados e não entendo essa gente que vê o jogo e depois fica até de madrugada assistindo a 'trocentas' mesas-redondas na TV. Não quero saber se o Fulano tem característica de zagueiro ou se Beltrano não tem visão de jogo.
E de mulher eu gosto muito, mas não de ouvir um bando de barbados dizer que comeu essa, que quer comer aquela ou que a menina da outra mesa tem cara de quem quer dar. E no fim voltam sozinhos para casa.
Eu sou meio nerd e meus assuntos não interessam a esse tipo de gente, portanto acabo desistindo de falar deles e passo a noite pensando nas coisas interessantes que poderia estar fazendo em casa.
Um colega meu disse que não fica em casa na sexta à noite de jeito nenhum, nem que tenha que ficar no bar da esquina conversando com bêbados desconhecidos. Pois eu prefiro ficar em casa a perder meu tempo com um programa desses.
Creio que os meus problemas são mais similares aos relatados pelo Fernando_Silva dos que aos seus, que estão mais relacionados a "semiótica", porém, determinados pontos especialmente quanto ao relacionado a como você se vê como indivíduo perante as outras pessoas, é para mim um traço de personalidade (como é para você) um traço de personalidade que creio que não abandonarei, porém, não deixo está ser externalizada, pelos mesmos motivos. A maior parte das suas conclusões, eu havia chegado a algum tempo, mas, teve muito a acrescentar, principalmente para reafirmar o óbvio, que não sou o único e jamais serei.
A matemática, especialmente o estudo da estatística, e meu cérebro racional aceitam o fato de não ser o único a ter essas particularidades, sobretudo, por não ser narcisista a tal ponto, porém, o que me realmente entristece é que ela reafirma a minha solidão intelectual que me faz passar pelos "perrengues" citados pelo Fernando_Silva.
Hoje, tenho a sensatez mental, de que apesar de "the others"(TM) não terem a mesma visão que a minha, não terem os mesmos interesses, e por terem pensamentos, vontades, desejos, metas que eu em minha infinita arrogância defino simplistas, apesar disto, hoje compreendo que a diversidade é natural e temos que aceitá-la, sobretudo, devido ao fato de eles detiverem algum tipo de conhecimento que pode não ser do meu interesse, mas, para outros isto pode ser relevante. Quem sou para me julgar mais especial que um ribeirinho, hábil na arte da pesca e conhecedor de vastas informações práticas, que jamais deterei, ele pode não saber resolver nem uma mera equação, mas, eu jamais conseguirei equiparar as habilidades que ele domina as minhas.
Insane_Boy disse: Quem sou para me julgar mais especial que um ribeirinho, hábil na arte da pesca e conhecedor de vastas informações práticas, que jamais deterei, ele pode não saber resolver nem uma mera equação, mas, eu jamais conseguirei equiparar as habilidades que ele domina as minhas.
Ao longo da minha vida, topei com dezenas de iletrados, detentores de uma sabedoria impar.
Aprendi e aprendo muito com eles.
A cátedra, não é a única detentora do saber, jamais foi.
A diferênça está, não no nível de conhecimento, mas sim nas especializações do conhecimento.
Posso saber muita coisa, mas não sei tudo, jamais saberei, e a cada dia, aprendo mais coisas.
E acreditem, muitas coisas aprendidas, me foram ensinadas por muitos que não tem diplomas.
Pessoas simples, possuidoras de uma sabedoria de dar inveja.
O mundo só será feliz no dia em que enforcarmos o último político com as tripas do último líder religioso e cremarmos seus corpos, usando como combustível, seus podres livros sagrados!
O Cabeção também faz apontamentos interessantes. Talvez fale mais disto num futuro próximo, se por aqui continuar.
Para descortinar um pouco. Toda a vida pensei de um modo tal que passei a pensar que isto me definia totalmente. Descobri então, a resistência à mudança, mesmo quando esta parece sensata. Esta resistência visa precisamente proteger uma reconfiguração da "personalidade".
ufka_Cabecao disse: Algumas áreas ainda são bastante insatisfatórias, mas eu acho que o fato de estar consciente desses defeitos o torna mais robusto a eles e pode servir para previni-los.
Eu sempre defendi essa idéia. Só podemos consertar o que está errado quando sabemos que está errado. Ignorar nossas próprias mazelas mostra-se muito eficiente para a construção de uma auto-imagem compatível com as necessidades do ego, o que não muda em nada o conteúdo que se esconde embaixo do tapete. Eu venho fazendo essa manutenção (corretiva e preventiva) há muito tempo, e ela parece não ter fim. Se eu fosse dar um testemunho pessoal, diria que é por demais gratificante olhar para si mesmo, descobrir que somos bem menos que aquela imagem bonita que cultivávamos, e ficar diante da oportunidade de verdadeiramente tornar-se melhor.
Você empregou a expressão mais correta possível, e que tem grande valor para mim: Estar consciente.
ufka_Cabecao disse: O problema é que muita gente se acha titular das idéias que contaminam seu cérebro. Atribuem uma identidade pessoal a elas, chamam de sua "personalidade", e são extremamente resistentes a revisá-las.
Interessante como a mente funciona, não? Os pensamentos que parecem garantir nossa liberdade e individualidade são exatamente os que nos escravizam. E a extrema resistência em revisá-los é um mal inerente ao ser humano. Não por outra razão eu rendo merecidas homenagens quando encontro alguém que consegue abrir esses cadeados.
ufka_Cabecao disse: A maioria das pessoas está mais disposta a revisar uma instituição social consagrada do que as suas próprias idéias a cerca do que ela deve fazer com a sua própria vida. É mais fácil acusar a sociedade inteira (ou seja, "as outras pessoas") de estar errada e determinar que algo novo deve ser tentado coletivamente do que internalizar a responsabilidade pelos seus próprios resultados e modificar a sua própria atitude, assumindo assim os riscos envolvidos e deixando as instituições sociais evoluindo em paz.
Nós fazemos isso no trânsito, no trabalho, na política, em casa, e não nos damos conta de que não existe uma sociedade separada do indivíduo. Nós somos essa sociedade, somos essa política, somos esse trânsito e pouco ou nada fazemos para mudar o que nos incomoda. Essa é a mudança mais difícil de todas, pois é a mudança do próprio indivíduo. Acusar o erro dos outros é tão fácil que qualquer tolo consegue fazer (e faz!). Acusar esses mesmos erros diante do espelho, é para poucos.
Ayyavazhi disse: Pretende nos deixar, Mig? Pense nos coeficientes. O fórum precisa de bons foristas para equilibrar a balança. Não abandone as trincheiras...
Mig29 disse: Inclusive, enquanto crescia, tive todos os incentivos familiares para falhar. A curiosidade, o gosto por questionar e conhecer nunca me pareceu valorizado. Acabei por desistir.
Mig29 disse: Disse acima ter desistido. Nunca recuperei de me ter traído e durante muito tempo, isto afetou negativamente todo o meu desempenho. Amadureci, deixei de procurar integrar-me em qualquer meio. Aproveito a experiência para continuar a caminhada no mundo. Tomando o exemplo da Apopo, aprendi a calar-me mais. Deste modo evitei a auto-destruição.
Não sei por quê, de ve ser a forma que fui criada, sempre tendo a me calar e me achar desajustada ao sistema, do que a char que o sistema está errado ( sistema = regras seguidas pela maioria das pessoas). Eu que estava errada sempre. Os outros me pareciam burros, mas senhores de si. A autoconfiança me parecia mais atraente do que uma inteligência acanhada.
E eu já fui adepto da mesma atitude que você descreve. Os gostos das outras pessoas sempre me pareceram mais vulgares ou grotescos, e a compreensão delas me parecia limitada. Isso servia ao meu mecanismo de validação, do qual eu extraía satisfação por me sentir superior ao resto dos outros, apenas porque eu tinha adquirido algum conhecimento técnico, artístico ou filosófico que eles não eram “capazes” de apreciar completamente.
De repente, isso começou a parecer cada vez mais uma masturbação mental e um raciocínio circular. A qualidade inerente dos meus gostos parecia cada vez mais estar associada ao fato de que poucas pessoas não compartilhavam deles. Ou seja, eu já partia do pressuposto de que a maioria das pessoas era idiota, e que eu era diferente.
O ponto é que isso não seria um problema se eu não agregasse valor algum a experiências sociais. Se de fato eu me sentisse mal na presença de outras pessoas, e me sentisse melhor estando isolado, não haveria problema, meu sistema de valores seria coerente. Mas o fato é que eu me sentia bem em contato com as pessoas. Eu apenas pensava que elas eram vulgares e estúpidas quando eventualmente eu não recebia o reconhecimento que eu gostaria. Nas ocasiões onde eu interagia com elas normalmente, eu não pensava assim delas, elas pareciam legais.
Ou seja, não passava de uma desculpa esfarrapada que eu dava para justificar o fato de que eu não era tão popular quanto eu gostaria. Uma espécie de desqualificação retroativa.
Eu também não quero dizer que todas as pessoas ou gostos são igualmente interessantes.
Dada a escolha entre dois grupos, muitas vezes faz sentido optar pelos que apresentam uma maior afinidade de interesses com você. Mas nem sempre isso é verdade. Se sua zona de conforto for muito restrita, talvez valha à pena se colocar em situações mais desafiadoras, e conhecer outras formas de pensar. Você não quer ir muito longe da sua zona de conforto e ficar completamente desnorteado tampouco, mas você pode expandi-la continuamente. Esse julgamento nem sempre é trivial.
O ponto é que gostos e conteúdos gerais muitas vezes são menos relevantes do que se costuma pensar. Com algum treino, é possível encontrar ângulos interessantes para abordar a maioria das situações.
Talvez você não tenha conhecimento ou interesse em futebol. Por exemplo, no meu caso, esse tópico é marginalmente interessante em si. Gosto de praticar mas não sou um craque, e acompanho as notícias dos resultados profissionais de forma bastante superficial. Não faço apostas e não sou fanático. Além disso eu moro no exterior, onde eu raramente encontro outros torcedores. Mas eu consigo participar decentemente dessas discussões mesmo assim, quando elas ocorrem.
Em geral eu sei que eu estou menos informado do que os outros, mas eu também sei que eu sou capaz de fingir conhecimento conseqüente e absorver informações que emergem e fazer as associações necessárias. Me diverte pensar o quanto eu posso simular.
Até porque o ponto dessas discussões costuma ser zoação, sacanagem e passagem do tempo para justificar a socialização em torno de uma garrafa de ceverja. Ninguém está com qualquer objetivo prático em mente ao trocar a minúcia de informações e análises complexas de casos.
Esse aspecto me interessa. E a maioria das pessoas tem uma compreensão intuitiva disso ao participar desses debates, embora poucos precisem articular dessa forma para compreender. Isso fica por minha conta, e meu hábito analítico de descrever as componentes de tudo.
Acho que o diferencial está em desenvolver um fascínio genuíno pelos comportamentos humanos e pelo fenômeno da civilização, um deslumbre que pode ser transportado para praticamente qualquer contexto cultural no qual você se encontre.
Isso é algo que eu não possuía bem desenvolvido. Ao viajar sozinho pelo mundo e me encontrar por diversas vezes em situações estranhas e imprevisíveis eu fiquei interessado pela capacidade humana de adaptação a complexidade.
Comunidades ateístas tendem a alimentar um certo desdém e repugnância pela nossa espécie e herança cultural. Freqüentemente vemos ataques velados a condição humana, menosprezando nossa diminuta dimensão física comparada ao resto do universo, ou relativizando e desprezando os significados incrustados na nossa cultura e história. Se há alguma beleza no cosmo ela deve residir fora dos assuntos humanos. Estranhamente essa atitude remete a algumas formas de teocentrismo e misticismos primitivos, mas não quero entrar nesse tópico agora.
Eu me alinho com o pensamento de que se há alguma beleza no cosmo ela existe justamente porque nós somos capazes de apreendê-la. Eu posiciono meu universo em torno de mim, e de um modo mais geral em torno da humanidade com a qual eu compartilho a minha experiência de realidade.
Chame de egocentrismo ou antropocentrismo. Isso são apenas termos carregados de julgamentos pré-estabelecidos. Do meu ponto de vista, egocentrismo e antropocentrismo são necessidades filosóficas praticamente inescapáveis, cuja única alternativa possível é o niilismo.
Esses últimos parágrafos talvez tenham ficado filosoficamente ambiciosos demais e tenham escapado do tópico. Meu ponto inicial era o de que uma atitude do tipo “como isso pode ser interessante/fascinante?” costuma ser mais coerente do que uma atitude “será que isso é interessante?”. A primeira consiste em tentar ajustar o seu ponto de vista de maneira a poder apreciar a realidade, a segunda procura acomodar a realidade a algum preconceito seu, em geral validando seus preconceitos e não os valores que a realidade pode te oferecer.
ufka_Cabecao disse: Ou seja, não passava de uma desculpa esfarrapada que eu dava para justificar o fato de que eu não era tão popular quanto eu gostaria. Uma espécie de desqualificação retroativa.
Popular talvez eu fosse, já que sempre me convidavam e reclamavam quando eu não ia, mas eu sempre fui meio anti-social e, depois de passar por uma fase em que eu achei que iria me divertir com essas coisas, voltei ao meu normal.
Atualmente, sou de opinião que a vida é muito curta para ser desperdiçada fazendo o que eu não gosto com gente desinteressante.
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Comentários
O problema não é o que se sabe, ou pensa, imagina ou cria. É o que nosso manancial emocional faz com isto. Ou nos salva, ou nos mata.
Inclusive, enquanto crescia, tive todos os incentivos familiares para falhar. A curiosidade, o gosto por questionar e conhecer nunca me pareceu valorizado. Acabei por desistir.
Não é uma bênção ser ignorante. Facilita muito estarmos em fase com o nosso meio, se este meio tender para a ignorância, ficamos com esta impressão de ser mais fácil ser ignorante, quando tudo se resume a não destoar da maralha.
Disse acima ter desistido. Nunca recuperei de me ter traído e durante muito tempo, isto afetou negativamente todo o meu desempenho. Amadureci, deixei de procurar integrar-me em qualquer meio. Aproveito a experiência para continuar a caminhada no mundo. Tomando o exemplo da Apopo, aprendi a calar-me mais. Deste modo evitei a auto-destruição.
Lembro-me da surpresa agradável que foram os primeiros encontros de ateus dos quais participei. Muito diferentes dos encontros com colegas de escola ou de trabalho em barzinhos, onde eu quase não participava da conversa por não me interessar por nada do que se conversava (o que acabou me levando a não mais ir a encontros em barzinhos...).
Fernando,
Exatamente. Por isto, que eu acho interessante que este é um problema recorrente na humanidade, as ditas sociedades secretas que agora estão atormentando a vida do mainstream (que adora estar com medo de algo), surgiram dentre muito motivos o fato de que aquelas pessoas guardavam interesses em comum, os membros queiam estar entre seus pares.
Embora eu confesse me servir dela de vez em quando, eu tenho algumas reservas com relação a atitude “eu sou mais inteligente que os outros”.
Explico.
Eu não acho que essa atitude deva servir para justificar dificuldades que você venha a ter para se comunicar. Isso é apenas uma desculpa esfarrapada que você se acostumou a dar por perceber que não tem a presença carismática e influente que você gostaria.
Durante uma boa parte da minha infância e adolescência eu achava que as pessoas não me davam suficiente reconhecimento. Eu não chegava a ser um nerd anti-social, até por ser um atleta, mas eu sempre fui extremamente arrogante e individualista, ao ponto de deixar outras pessoas desconfortáveis.
Na minha cabeça, eu estava constantemente acusando meu círculo familiar e de amigos de estar muito abaixo do meu nível de consciência, uma visão que às vezes eu materializava em comentários rudes.
Esse mindset era nocivo para o meu carisma, mas de alguma forma alimentava minha auto-estima, de maneira que eu consegui ter um desempenho relativamente alto em atividades que dependiam apenas de mim ou daqueles que por alguma razão toleravam minha atitude ou que pensavam da mesma forma.
Eu me ainda me sirvo dessa atitude para me motivar a aprender algo que outra pessoa saiba fazer e que me interessa. Eu não sei se é a melhor “self-talk” do mundo, talvez algo mais centrado em si mesmo e não nos outros fosse mais adequado, mas volta e meia eu me pego pensando “se aquele imbecil conseguiu, é óbvio que eu vou conseguir também”. Ou seja, eu sou um pouco elitista.
Mas eu venho tentando substituir essa mentalidade por algo mais realista.
Hoje eu percebo que boa parte daquilo que eu achava ser meu talento natural era na verdade habilidade desenvolvida e auto-confiança. E boa parte daquilo que eu achava ser o defeito de outras pessoas era na verdade minha insegurança e ignorância em me comunicar, seja me expressando, mas sobretudo ouvindo os outros.
Com relação a expressão, certas pessoas respondem melhor a certos canais de comunicação, e essa percepção exige certa sensibilidade que precisa ser desenvolvida.
Eu sempre procurei me comunicar mediante uma linguagem precisa e lógica, pois esse é o meu modo predominante de pensar. Mas algumas pessoas tem uma melhor resposta para emoções subcomunicadas do que para silogismos explícitos. As vezes uma mesma pessoa terá modos preferenciais diferentes de acordo com a situação na qual ela se encontra. Por exemplo, no trabalho ela responderá melhor a uma articulação lógica, num bar a uma interação mais emocional pode ser mais eficaz, mesmo quando a lógica as vezes parece ser contraditória. Isso porque num bar as pessoas não estão tentando comunicar idéias e instruções precisas, mas estão compartilhando emoções, e nesse contexto a coerência das idéias pode ser relativamente sacrificada. O contexto e o subtexto determinam muito mais o sentido das interações do que as proposições explícitas. Um "haahahah... eu odeio você!" tem um efeito completamente diferente do que a interpretação lógica (autista) da frase "eu odeio você" sugeriria. Embora eu já tivesse alguma uma percepção intuitiva desse fenômeno há um certo tempo, apenas recentemente que eu o vi articulado de maneira satisfatória para o meu cérebro lógico.
Eu também percebi que a maior parte das pessoas é mais confortável com exemplos concretos palpáveis do que com idéias e tratamentos abstratos. Agora eu tento inserir na minha comunicação mais exemplos e menos argumentos teóricos de maneira que as pessoas possam construir a partir de suas percepções as idéias que antes eu achava que deviam ser comunicadas diretamente.
O problema em comunicar suas abstrações é que elas estão carregadas das suas próprias idiossincrasias. A maneira como você representa conceitos na sua cabeça nem sempre é análoga a maneira que outras pessoas o fazem, sobretudo quando seus backgrounds acadêmicos e culturais são distintos. Ao exemplificar, chamando atenção para os aspectos importantes, você permite ao interlocutor de produzir a partir da experiência concreta com o exemplo sua própria abstração, o que muitas vezes é mais eficaz.
Fazendo atenção a esses pontos, hoje eu me considero muito mais competente ao exprimir minhas idéias.
Quanto a ouvir melhor, esse ainda é um desafio significativo para mim. Em muitas discussões eu me flagro dando mais atenção aos meus pensamentos sobre o que eu vou falar em seguida do que ao que o interlocutor está tentando dizer. Após detectar algumas palavras chaves para as quais eu tenho teorias pré-compiladas na cabeça eu tendo a ignorar o resto do conteúdo formulando minha resposta sensacional mas freqüentemente inadequada dentro do contexto daquilo que realmente foi dito.
Além de ser mais elegante, tentar escutar e compreender adequadamente o que os outros dizem é um excelente instrumento de influência, pois as pessoas passam a respeitar mais o que você diz quando elas sabem que você entendeu o que elas disseram. Peça para as pessoas reformularem suas idéias quando você discordar de algo, ou tente parafrasear a sua compreensão do que foi dito de maneira a certificar-se de que há de fato uma discordância, antes de partir para o ataque com contra-argumentos.
Isso é algo que eu percebi entre pessoas com maior status social. Elas estão constamente se certificando de que há compreensão mútua, sobretudo em interações de caráter objetivo e lógico. Elas não tem vergonha de perguntar algo que não entenderam. Pessoas de menor status estão sempre tentando inferir aquilo que não foi compreendido por medo de serem consideradas menos inteligentes.
E quando você for aprensentar algum contra-argumento, sobretudo quando você sentir que a outra pessoa pode se onfender ou tomar algo pessoalmente, faça uma referência artificial a uma terceira pessoa hipotética, ou diga que você ouviu alguém dizer algo a respeito, e aí apresente o argumento como se não fosse seu. Não cometa o erro de acusar falhas de raciocínio dos outros deixando a impressão de que você está tentando mostrar-se mais inteligente do que eles ao fazê-lo. Diga que você "pensava da mesma forma" até que alguém te disse algo que te fez pensar diferente. Essas construções, embora não introduzam nenhum conteúdo objetivo, fazem os interlocutores se relacionarem melhor com o que você terá a dizer do que sair interrompendo e acusando os outros de estarem errados por serem estúpidos e cretinos, algo que eu era bastante propenso a fazer.
Essas foram as principais falhas que eu notei na minha comunicação, e que eu tenho progredido em corrigir. Talvez você não incorra em algumas dessas, mas identifique outras a serem trabalhadas.
Embora um arsenal imponente de ofensas a inteligência alheia tenha sua utilidade eventual, seu respeito próprio não deve depender do emprego desse tipo de tática, mas sim da sua percepção de contribuição construtiva para a sua inteligência e para aquela ao seu redor.
É muito fácil acreditar-se alguém especial que tem o azar de viver em meio a uma comunidade de ineptos. É a síndrome da “flor nascida no lixão”. Isso é apenas uma auto-ilusão. Provavelmente as pessoas ao seu redor terão bastante a acrescentar se você começar a procurar ativamente melhorar sua habilidade de comunicação com elas, e parar de assumir que elas não tem valor nenhum para te oferecer.
Se mais pessoas tivessem a mesma lucidez...
Eu estou tentando compartilhar algumas idéias que eu aprendi ao lidar com problemas similares aos que o insane boy reportou.
Ainda não refinei esses conceitos completamente, pois apenas recentemente eu passei a dar maior importância a minha comunicação pessoal. E até pouco tempo ela era muito ruim.
Algumas áreas ainda são bastante insatisfatórias, mas eu acho que o fato de estar consciente desses defeitos o torna mais robusto a eles e pode servir para previni-los.
A sua comunicação pessoal é um músculo que você trabalha constantemente. E começa com a forma como você se comunica consigo mesmo, com a linguagem que você escolhe e com as crenças que você tenta enraizar para compreender e lidar com o mundo.
E algumas das crenças e formas de linguagem que eu usava freqüentemente precisavam ser substituídas, pois elas eram extremamente limitantes.
O problema é que muita gente se acha titular das idéias que contaminam seu cérebro. Atribuem uma identidade pessoal a elas, chamam de sua "personalidade", e são extremamente resistentes a revisá-las.
Não lhes ocorre que 99% das outras pessoas tem exatamente as mesmas percepções e idéias que eles consideravam ser únicas. Basta dar uma verificada nas comunidades mais populares das redes sociais para perceber que aquilo que você achava ser a sua personalidade única é na verdade a manifestação local de uma programação social, mas que você pode reprogramar, se quiser resultados diferentes dos que os 99% das outras pessoas estão obtendo.
O que nos leva ao meu tema favorito: progressismo versus conservadorismo.
A maioria das pessoas está mais disposta a revisar uma instituição social consagrada do que as suas próprias idéias a cerca do que ela deve fazer com a sua própria vida. É mais fácil acusar a sociedade inteira (ou seja, "as outras pessoas") de estar errada e determinar que algo novo deve ser tentado coletivamente do que internalizar a responsabilidade pelos seus próprios resultados e modificar a sua própria atitude, assumindo assim os riscos envolvidos e deixando as instituições sociais evoluindo em paz.
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:)
Carros me interessam, mas não a ponto de ficar horas comparando detalhes e falando dos modelos que se pretende comprar e seus custos.
Futebol não me interessa. Acompanho superficialmente os resultados e não entendo essa gente que vê o jogo e depois fica até de madrugada assistindo a 'trocentas' mesas-redondas na TV. Não quero saber se o Fulano tem característica de zagueiro ou se Beltrano não tem visão de jogo.
E de mulher eu gosto muito, mas não de ouvir um bando de barbados dizer que comeu essa, que quer comer aquela ou que a menina da outra mesa tem cara de quem quer dar. E no fim voltam sozinhos para casa.
Eu sou meio nerd e meus assuntos não interessam a esse tipo de gente, portanto acabo desistindo de falar deles e passo a noite pensando nas coisas interessantes que poderia estar fazendo em casa.
Um colega meu disse que não fica em casa na sexta à noite de jeito nenhum, nem que tenha que ficar no bar da esquina conversando com bêbados desconhecidos. Pois eu prefiro ficar em casa a perder meu tempo com um programa desses.
Creio que os meus problemas são mais similares aos relatados pelo Fernando_Silva dos que aos seus, que estão mais relacionados a "semiótica", porém, determinados pontos especialmente quanto ao relacionado a como você se vê como indivíduo perante as outras pessoas, é para mim um traço de personalidade (como é para você) um traço de personalidade que creio que não abandonarei, porém, não deixo está ser externalizada, pelos mesmos motivos. A maior parte das suas conclusões, eu havia chegado a algum tempo, mas, teve muito a acrescentar, principalmente para reafirmar o óbvio, que não sou o único e jamais serei.
A matemática, especialmente o estudo da estatística, e meu cérebro racional aceitam o fato de não ser o único a ter essas particularidades, sobretudo, por não ser narcisista a tal ponto, porém, o que me realmente entristece é que ela reafirma a minha solidão intelectual que me faz passar pelos "perrengues" citados pelo Fernando_Silva.
Hoje, tenho a sensatez mental, de que apesar de "the others"(TM) não terem a mesma visão que a minha, não terem os mesmos interesses, e por terem pensamentos, vontades, desejos, metas que eu em minha infinita arrogância defino simplistas, apesar disto, hoje compreendo que a diversidade é natural e temos que aceitá-la, sobretudo, devido ao fato de eles detiverem algum tipo de conhecimento que pode não ser do meu interesse, mas, para outros isto pode ser relevante. Quem sou para me julgar mais especial que um ribeirinho, hábil na arte da pesca e conhecedor de vastas informações práticas, que jamais deterei, ele pode não saber resolver nem uma mera equação, mas, eu jamais conseguirei equiparar as habilidades que ele domina as minhas.
Ao longo da minha vida, topei com dezenas de iletrados, detentores de uma sabedoria impar.
Aprendi e aprendo muito com eles.
A cátedra, não é a única detentora do saber, jamais foi.
A diferênça está, não no nível de conhecimento, mas sim nas especializações do conhecimento.
Posso saber muita coisa, mas não sei tudo, jamais saberei, e a cada dia, aprendo mais coisas.
E acreditem, muitas coisas aprendidas, me foram ensinadas por muitos que não tem diplomas.
Pessoas simples, possuidoras de uma sabedoria de dar inveja.
http://gilghamesh.blogspot.com/
Assino embaixo.
O Cabeção também faz apontamentos interessantes. Talvez fale mais disto num futuro próximo, se por aqui continuar.
Para descortinar um pouco. Toda a vida pensei de um modo tal que passei a pensar que isto me definia totalmente. Descobri então, a resistência à mudança, mesmo quando esta parece sensata. Esta resistência visa precisamente proteger uma reconfiguração da "personalidade".
Eu sempre defendi essa idéia. Só podemos consertar o que está errado quando sabemos que está errado. Ignorar nossas próprias mazelas mostra-se muito eficiente para a construção de uma auto-imagem compatível com as necessidades do ego, o que não muda em nada o conteúdo que se esconde embaixo do tapete. Eu venho fazendo essa manutenção (corretiva e preventiva) há muito tempo, e ela parece não ter fim. Se eu fosse dar um testemunho pessoal, diria que é por demais gratificante olhar para si mesmo, descobrir que somos bem menos que aquela imagem bonita que cultivávamos, e ficar diante da oportunidade de verdadeiramente tornar-se melhor.
Você empregou a expressão mais correta possível, e que tem grande valor para mim: Estar consciente.
Interessante como a mente funciona, não? Os pensamentos que parecem garantir nossa liberdade e individualidade são exatamente os que nos escravizam. E a extrema resistência em revisá-los é um mal inerente ao ser humano. Não por outra razão eu rendo merecidas homenagens quando encontro alguém que consegue abrir esses cadeados.
Nós fazemos isso no trânsito, no trabalho, na política, em casa, e não nos damos conta de que não existe uma sociedade separada do indivíduo. Nós somos essa sociedade, somos essa política, somos esse trânsito e pouco ou nada fazemos para mudar o que nos incomoda. Essa é a mudança mais difícil de todas, pois é a mudança do próprio indivíduo. Acusar o erro dos outros é tão fácil que qualquer tolo consegue fazer (e faz!). Acusar esses mesmos erros diante do espelho, é para poucos.
Pretende nos deixar, Mig? Pense nos coeficientes. O fórum precisa de bons foristas para equilibrar a balança. Não abandone as trincheiras...
Espero que não. Falei por falar.
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Igualzinho a mim.
Fernando,
Eu acredito que seja uma questão de atitude.
E eu já fui adepto da mesma atitude que você descreve. Os gostos das outras pessoas sempre me pareceram mais vulgares ou grotescos, e a compreensão delas me parecia limitada. Isso servia ao meu mecanismo de validação, do qual eu extraía satisfação por me sentir superior ao resto dos outros, apenas porque eu tinha adquirido algum conhecimento técnico, artístico ou filosófico que eles não eram “capazes” de apreciar completamente.
De repente, isso começou a parecer cada vez mais uma masturbação mental e um raciocínio circular. A qualidade inerente dos meus gostos parecia cada vez mais estar associada ao fato de que poucas pessoas não compartilhavam deles. Ou seja, eu já partia do pressuposto de que a maioria das pessoas era idiota, e que eu era diferente.
O ponto é que isso não seria um problema se eu não agregasse valor algum a experiências sociais. Se de fato eu me sentisse mal na presença de outras pessoas, e me sentisse melhor estando isolado, não haveria problema, meu sistema de valores seria coerente. Mas o fato é que eu me sentia bem em contato com as pessoas. Eu apenas pensava que elas eram vulgares e estúpidas quando eventualmente eu não recebia o reconhecimento que eu gostaria. Nas ocasiões onde eu interagia com elas normalmente, eu não pensava assim delas, elas pareciam legais.
Ou seja, não passava de uma desculpa esfarrapada que eu dava para justificar o fato de que eu não era tão popular quanto eu gostaria. Uma espécie de desqualificação retroativa.
Eu também não quero dizer que todas as pessoas ou gostos são igualmente interessantes.
Dada a escolha entre dois grupos, muitas vezes faz sentido optar pelos que apresentam uma maior afinidade de interesses com você. Mas nem sempre isso é verdade. Se sua zona de conforto for muito restrita, talvez valha à pena se colocar em situações mais desafiadoras, e conhecer outras formas de pensar. Você não quer ir muito longe da sua zona de conforto e ficar completamente desnorteado tampouco, mas você pode expandi-la continuamente. Esse julgamento nem sempre é trivial.
O ponto é que gostos e conteúdos gerais muitas vezes são menos relevantes do que se costuma pensar. Com algum treino, é possível encontrar ângulos interessantes para abordar a maioria das situações.
Talvez você não tenha conhecimento ou interesse em futebol. Por exemplo, no meu caso, esse tópico é marginalmente interessante em si. Gosto de praticar mas não sou um craque, e acompanho as notícias dos resultados profissionais de forma bastante superficial. Não faço apostas e não sou fanático. Além disso eu moro no exterior, onde eu raramente encontro outros torcedores. Mas eu consigo participar decentemente dessas discussões mesmo assim, quando elas ocorrem.
Em geral eu sei que eu estou menos informado do que os outros, mas eu também sei que eu sou capaz de fingir conhecimento conseqüente e absorver informações que emergem e fazer as associações necessárias. Me diverte pensar o quanto eu posso simular.
Até porque o ponto dessas discussões costuma ser zoação, sacanagem e passagem do tempo para justificar a socialização em torno de uma garrafa de ceverja. Ninguém está com qualquer objetivo prático em mente ao trocar a minúcia de informações e análises complexas de casos.
Esse aspecto me interessa. E a maioria das pessoas tem uma compreensão intuitiva disso ao participar desses debates, embora poucos precisem articular dessa forma para compreender. Isso fica por minha conta, e meu hábito analítico de descrever as componentes de tudo.
Acho que o diferencial está em desenvolver um fascínio genuíno pelos comportamentos humanos e pelo fenômeno da civilização, um deslumbre que pode ser transportado para praticamente qualquer contexto cultural no qual você se encontre.
Isso é algo que eu não possuía bem desenvolvido. Ao viajar sozinho pelo mundo e me encontrar por diversas vezes em situações estranhas e imprevisíveis eu fiquei interessado pela capacidade humana de adaptação a complexidade.
Comunidades ateístas tendem a alimentar um certo desdém e repugnância pela nossa espécie e herança cultural. Freqüentemente vemos ataques velados a condição humana, menosprezando nossa diminuta dimensão física comparada ao resto do universo, ou relativizando e desprezando os significados incrustados na nossa cultura e história. Se há alguma beleza no cosmo ela deve residir fora dos assuntos humanos. Estranhamente essa atitude remete a algumas formas de teocentrismo e misticismos primitivos, mas não quero entrar nesse tópico agora.
Eu me alinho com o pensamento de que se há alguma beleza no cosmo ela existe justamente porque nós somos capazes de apreendê-la. Eu posiciono meu universo em torno de mim, e de um modo mais geral em torno da humanidade com a qual eu compartilho a minha experiência de realidade.
Chame de egocentrismo ou antropocentrismo. Isso são apenas termos carregados de julgamentos pré-estabelecidos. Do meu ponto de vista, egocentrismo e antropocentrismo são necessidades filosóficas praticamente inescapáveis, cuja única alternativa possível é o niilismo.
Esses últimos parágrafos talvez tenham ficado filosoficamente ambiciosos demais e tenham escapado do tópico. Meu ponto inicial era o de que uma atitude do tipo “como isso pode ser interessante/fascinante?” costuma ser mais coerente do que uma atitude “será que isso é interessante?”. A primeira consiste em tentar ajustar o seu ponto de vista de maneira a poder apreciar a realidade, a segunda procura acomodar a realidade a algum preconceito seu, em geral validando seus preconceitos e não os valores que a realidade pode te oferecer.
Popular talvez eu fosse, já que sempre me convidavam e reclamavam quando eu não ia, mas eu sempre fui meio anti-social e, depois de passar por uma fase em que eu achei que iria me divertir com essas coisas, voltei ao meu normal.
Atualmente, sou de opinião que a vida é muito curta para ser desperdiçada fazendo o que eu não gosto com gente desinteressante.