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A Ética Espírita - Parte I

AcauanAcauan Administrador, Moderador
A Ética Espírita – Parte 1
Publicado originalmente em 7 de março de 2008

Por Acauan

A ética espírita é uma hipotética dinâmica cósmica na qual a providência divina, o livre arbítrio espiritual e o tempo interagem na cadeia de eventos da existência de modo a garantir que todos os espíritos criados igualmente simples e ignorantes evoluam até se tornar, todos, espíritos igualmente puros e perfeitos, quando desfrutarão de uma felicidade suprema e eterna.

Nesta dinâmica cósmica, a providência divina estabelece e sustenta a ordem metafísica, as regras do jogo, como a lei do karma — que determina que os espíritos devam passar por várias encarnações para expiar antigos erros e aprender — e a lei do progresso, segundo a qual os espíritos podem evoluir ou estacionar moralmente, mas nunca regredir.

Seguindo seu livre arbítrio, cada espírito submete-se ou não a esta ordem metafísica, às regras do jogo. Os que se submetem progridem mais rápido que os que não e alcançam em menor tempo a felicidade da perfeição.

O propósito final da dinâmica cósmica é dar à existência um sentido de justiça universal, erigida da igualdade e do mérito, conforme todos os espíritos devam se submeter à mesma ordem metafísica para progredir e alcançar a felicidade da perfeição.

Esta justiça universal resolveria questões em aberto de outras filosofias e teologias morais:

O problema do Mal — por que um Deus bom permite o mal;
A conciliação entre soberania divina e livre arbítrio humano;
As injustiças da vida — por que algumas pessoas nascem condenadas a uma vida de miséria, doença e sofrimento, enquanto outras levam uma existência tranqüila e prazerosa, por que coisas ruins acontecem a pessoas boas, por que pessoas ruins se dão bem no final etc.

Segundo o espiritismo:

Deus permite o mal como decorrência da ignorância primitiva na qual os espíritos foram criados, como pré-requisito para o exercício do livre arbítrio e para estabelecer os méritos individuais dos espíritos que, de livre arbítrio, optam pelo bem.

A soberania divina e o livre arbítrio humano se conciliariam pela vigência da dinâmica cósmica que faz com que o resultado final das decisões individuais tomadas de livre arbítrio seja o encaminhamento de todos os espíritos para a perfeição e felicidade, no tempo justo a cada um.

As injustiças da vida seriam provações necessárias ao aprendizado e evolução do espírito e expiação de faltas passadas. Dentro da dinâmica cósmica as tais deixariam de ser injustas, pois a seqüência de reencarnações tanto pode estabelecer uma igualdade geral entre as existências individuais — quem foi pobre, doente ou sofredor em uma vida pode ser rico, saudável e afortunado em outra e vice-versa, quanto os que porventura passam por mais experiências ruins do que boas poderiam aprender e evoluir mais rápido espiritualmente, reduzindo o tempo requerido para alcançar a felicidade da perfeição.

Muitos adeptos do espiritismo o são por tomar como satisfatórias as proposições acima, vendo nelas explicações melhores para estas questões do que as dadas por outras filosofias ou teologias morais.

Nem sempre esta adesão e satisfação passam pelo crivo de uma análise mais metódica da coerência intrínseca e extrínseca das proposições. No mais das vezes pesa mais o alívio emocional do acreditar ter encontrado as respostas pelas quais se ansiava, do que a certeza racional de tê-las provadas verdadeiras.

Uma análise inicial da dinâmica cósmica que fundamenta a ética espírita demonstra contradições e lacunas, no mínimo tantas e tão sérias quanto às das outras filosofias e teologias morais no que se refere às questões propostas do problema do mal, livre arbítrio e injustiças da vida.

Um primeiro problema é quando o espiritismo associa o mal à ignorância. Admitida esta associação direta e exclusiva, o espírito ao longo do tempo se afastaria do mal na medida em que aprende e avança na dinâmica cósmica, até livrar-se dele por completo, por conta de ter aprendido o suficiente para tal.

Ora, a ignorância por si só não é boa ou má. É moralmente neutra. Escolhas morais só se definem quando há consciência delas.

Nas teologias judaica e cristã esta consciência moral é simbolizada pelo fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, antes da tomada do qual o pecado não poderia existir.

O Livro dos Espíritos diz que os espíritos foram criados com igual aptidão, tanto para o bem, quanto para o mal e que os maus o são por vontade própria.

Ocorre que se os espíritos recém criados são plenamente ignorantes das questões morais e dotados de igual aptidão para o bem ou para o mal, diante de uma decisão moral se encontrariam inevitavelmente em um impasse imobilizador.

Não poderiam julgar questões morais a partir do seu próprio conhecimento, limitados que seriam pela tábula rasa de si próprios, e não poderiam reagir intuitiva ou instintivamente, dada a equivalência de aptidões para o bem ou para o mal.

Um espírito com estas características, totalmente ignorante e moralmente neutro seria incapaz de tomar decisões morais.

O Livro dos Espíritos diz que outros espíritos ignorantes são capazes de influenciar os de seu nível ou abaixo para o mal.

Além do já exposto que ignorância não é sinônimo de maldade, fica a questão de quem influenciaria estes espíritos ignorantes que influenciariam os outros. Não há como resolver o problema sem uma regressão infinita, incompatível com a dinâmica cósmica que parte do princípio que os espíritos são criados.

Outra contradição pode ser identificada no conceito de hierarquia moral que os espíritos estabeleceriam entre si conforme progridem na dinâmica cósmica.

O Livro dos Espíritos descreve esta hierarquia em três ordens e dez classes, com ressalvas quanto a esta divisão não ser absoluta.
Na base estariam os espíritos impuros da décima classe, com o status moral análogo ao dos demônios, e no topo os espíritos puros e perfeitos de primeira ordem e primeira classe.

A contradição está em que se a lei do progresso impede os espíritos de regredir, temos que nenhum espírito poderia apresentar um status moral inferior àquele em que foi criado — simples, ignorante e igualmente apto ao bem ou ao mal.

Porém a descrição feita dos espíritos de décima ordem fala de seres inclinados ao mal, aos vícios, às paixões degradantes, que fazem o mal por prazer e ódio ao bem.

É claro que tais seres estão moralmente muito abaixo do que se poderia chamar de espíritos simples e ignorantes, igualmente aptos para o bem ou para o mal.

Assim, ou alguns espíritos recém criados que deveriam ser moralmente neutros em sua ignorância primitiva degeneram para uma condição moral análoga à demoníaca, violando a lei do progresso, ou os espíritos humanos são criados na condição moral análoga à demoníaca, violando o princípio de ser na origem simples e ignorantes.

Além disto, se todos os espíritos são criados iguais e se os de décima ordem são inclinados ao mal, de onde vem esta inclinação? Não se pode dizer que do livre arbítrio, pois se todos os espíritos são criados igualmente ignorantes e com iguais aptidões morais seria de se esperar que seu uso do livre arbítrio apresentasse as mesmas inclinações. A explicação da influência de outros espíritos inferiores também pode ser descartada como exposto acima, dado requerer uma regressão infinita para se sustentar.

Qual seria então o fator diferenciador que levaria alguns espíritos originalmente ignorantes e aptos tanto para o bem quanto para o mal a inclinar seu livre arbítrio para o mal, com a intensidade perversa relatada na descrição dos espíritos de décima classe, enquanto outros criados na mesma condição não o fazem?

Uma explicação possível seria que estes espíritos possuíssem vocação inata para o mal, teriam sido criados com ela, o que contraria o princípio da igualdade original na criação e derruba um dos pilares da justiça universal da dinâmica cósmica espírita que é justamente a igualdade geral das existências individuais, uma vez que alguns espíritos já seriam na origem melhores do que outros.

Outra é que esta queda para o mal é feita de modo completamente aleatório, com o espírito optando por este caminho a partir de decisões tomadas na cegueira de sua ignorância moral primitiva, o que implicaria que o acaso interfere na evolução dos espíritos, o que também contraria a dinâmica cósmica, como definida.
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Acauan dos Tupis
Nós, Indios.
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«13

Comentários

  • 70 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Acauan,

    Embora esse texto passe a ser de domínio público no exato momento em que é publicado, mesmo assim quero pedir sua permissão para divulgá-lo entre alguns amigos espíritas, pois gostaria de ouvir o que têm a dizer a respeito.

  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    Ayyavazhi disse: Acauan,

    Embora esse texto passe a ser de domínio público no exato momento em que é publicado, mesmo assim quero pedir sua permissão para divulgá-lo entre alguns amigos espíritas, pois gostaria de ouvir o que têm a dizer a respeito.

    Além de divulgar, convide-os para debatê-lo aqui, se quiserem.

    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Como se diria na "Escolinha do Professor Raimundo", existem divergências.... ou eram incoerências?
    Concordo com a tese filosófica sobre espíritos serem criados "com ignorância primitiva" e não poderem regredir...
    Podem regredir sim, muito, principalmente com o suicídio...
    O erro está em querer interpretar textos escritos como a Bíblia ou Livro dos Espíritos que devem evoluir e se aprimorar conforme a evolução humana...
    O espírita está sempre aberto a discussões e considera estas o melhor meio para o aperfeiçoamento...
    Como o proponente do assunto gostaria de classificar os espíritos ou acharia melhor a colocação de evolução tipo pedra - árvore - vegetal - animal - ser pensante - alma evoluida?
    Desculpe pela curiosidade: O nome indígena Acauan é real? Como um nativo sul-americano encara os fatos espirituais?
    Abraço
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    PROTEUS disse: Desculpe pela curiosidade: O nome indígena Acauan é real?

    É real, não é civil.
    PROTEUS disse: Como um nativo sul-americano encara os fatos espirituais?

    Vide Os Espíritos da Mata.

    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
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  • Li e gostei... muito.
    Parabéns...
    Sou da terra de Anhangá...
    No meu caso, "Anhanguera" ou "Diabo Velho" que foi o nome dado a Bartolomeu Bueno pelos índios da minha terra, quando colocou fogo em álcool ( ou cachaça, não sei) e ameaçou queimar os lagos e rios se os índios não mostrassem onde estavam as lavras de ouro...
    Glorioso Estado do índio Goyá...
    Abração.

    Mas que "Os Espíritos da Mata" tem inspiração espiritual, tem...

    Não é necessário crer em um ser divino e perfeito para ser espírita... Nem seguir livros e doutrinas!

    Onde está seu coração, está seu tesouro...Siga seu coração (e a razão também),
    e naturalmente se tornará espírita, mesmo sem acreditar em nada.


  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    PROTEUS disse: ...mesmo sem acreditar em nada.

    Acreditar em nada é um contra-senso.
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
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  • E com o "sem" antes ficou pior ainda... às vezes o teclado escorrega... ou eu...
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    edited agosto 2011 Vote Up0Vote Down
    PROTEUS disse: E com o "sem" antes ficou pior ainda... às vezes o teclado escorrega... ou eu...

    Na verdade está bem compreensível.
    Ao contrário do Inglês, o Português coloquial aceita que duas negativas formem outra negativa, como dizer "não veio ninguém" significando o mesmo que "ninguém veio".


    Post edited by Acauan on
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!

  • Olá, Proteus. Bem-vindo ao Religião é Veneno. Gostaria de lhe fazer alguns questionamentos, pois este é um assunto que muito me interessa. Vou começar pela idéia abaixo.

    PROTEUS disse: O erro está em querer interpretar textos escritos como a Bíblia ou Livro dos Espíritos que devem evoluir e se aprimorar conforme a evolução humana...

    Eu entendo que a Verdade é imutável. A Verdade não deixa de ser o que é sob nenhuma hipótese, ou nunca foi verdadeira. É assim que eu a vejo e, até o momento, nada me fez mudar essa visão. Quando você diz que textos da Bíblia ou do Livro dos Espíritos devem evoluir e se aprimorar conforme a evolução humana, o que isso significa, exatamente? Esses livros não contém verdades absolutas, ou, a verdade está sujeita à perspectiva humana?

    Espero que possamos conversar muito sobre isso...


    PROTEUS disse: O espírita está sempre aberto a discussões e considera estas o melhor meio para o aperfeiçoamento...

    Ficaria feliz se assim fosse. Espíritas, os há flamenguistas e vascaínos. Assim como todo o resto da humanidade. O mesmo vale para a pequena (graças a Deus) parcela de ateus que se julgam receptáculos da razão. Ninguém é acrescido de tais atributos simplesmente por fazer parte de uma comunidade, grupo, religião, movimento, etc. Existem espíritas tão arrogantes que tomam qualquer questionamento como uma ofensa pessoal. O grau de ilusão dessas pessoas é facilmente aferido na exata proporção em que se mostram incapazes de duvidar de suas convicções. E são essas mesmas que, ironicamente, defendem o aprimoramento humano.

    Pelo pouco que vi, você não é um desses, o que é bastante promissor.

  • mitratonmitraton Membro
    edited agosto 2011 Vote Up0Vote Down
    Olá Acauan, sou espírita e o Ayyavazhi me convidou para o Fórum já algum tempo, mas ainda não tinha tido tempo de ler ou publicar nada. Gostaria debater o recente texto publicado.
    Acauan disse: Muitos adeptos do espiritismo o são por tomar como satisfatórias as proposições acima, vendo nelas explicações melhores para estas questões do que as dadas por outras filosofias ou teologias morais.

    Sim, mas também porque o espiritismo possui explicações para certos acontecimentos mediúnicos, que outras tratam como obras do mal ou acontecimentos fantásticos, mesmo que estas tenham um objetivo ou consequências positivas. O fato é que variam muito os motivos porque cada pessoa tem no espiritismo a solução mais adequada ao seu pensamento com relação a Deus e a vida.
    Acauan disse: Nem sempre esta adesão e satisfação passam pelo crivo de uma análise mais metódica da coerência intrínseca e extrínseca das proposições. No mais das vezes pesa mais o alívio emocional do acreditar ter encontrado as respostas pelas quais se ansiava, do que a certeza racional de tê-las provadas verdadeiras.

    Com certeza, e isto acontece constantemente. Não é raro vermos pessoas que deixam o espiritismo e adotam outras religiões, e passam a rechaçar o espiritismo e acusá-lo de fraude. Tais ex-espiritas, são pessoas que não tiveram tempo para aprofundar-se bastante o bastante no assunto, e não conseguiram as provas que queriam, ou não aceitaram as que foram apresentadas. Algumas pessoas não conseguem absorver muito bem que sua condição social e moral são resultados de suas escolhas e atitudes nesta e em outras vidas passadas, sendo mais fácil crer que tais problemas são obras de um demônio, que lhes prejudica pelo simples prazer de fazer o mal.
    Acauan disse: Uma análise inicial da dinâmica cósmica que fundamenta a ética espírita demonstra contradições e lacunas, no mínimo tantas e tão sérias quanto às das outras filosofias e teologias morais no que se refere às questões propostas do problema do mal, livre arbítrio e injustiças da vida.

    Um primeiro problema é quando o espiritismo associa o mal à ignorância. Admitida esta associação direta e exclusiva, o espírito ao longo do tempo se afastaria do mal na medida em que aprende e avança na dinâmica cósmica, até livrar-se dele por completo, por conta de ter aprendido o suficiente para tal.

    Ora, a ignorância por si só não é boa ou má. É moralmente neutra. Escolhas morais só se definem quando há consciência delas.

    O nascimento de um espírito simples e ignorante, até onde se sabe, é o princípio de todo ser. Desde a mais básica até a mais avançada forma de vida, que no caso de nosso planeta é o ser humano. Até que tal princípio de vida consiga chegar ao nível de poder encarnar como um ser humano, passam-se bilhões de anos de evolução.

    Constantemente diz-se que a distância evolutiva entre o espírito de um cachorro e um ser humano, é comparável a distância evolutiva do ser humano para Deus. Ou seja, leva-se muito tempo até que um ser nascido em completa simplicidade e ignorância consiga ter a capacidade de tomar decisões, raciocinar.

    O próprio ser humano passou por estágios muito superiores a de um espírito primário (simples e ignorante), quando passou pelos estágios iniciais da evolução, onde não tinha nenhuma noção de certo ou errado, bem ou mal, não possuindo nem mesmo a vontade do instinto.

    Com o passar da evolução, estes espíritos foram adquirindo a capacidade de compreender o bem e o mal, mesmo que em estágios ainda primitivos, e junto também veio a noção de um Ser criador de tudo. Esta noção, ou também sentimento, de que exista algo maior, está incutida em cada ser vivente que começa a raciocinar. Porque sem raciocínio há apenas instinto, não é mesmo?

    Então, mesmo o ser humano mais maléfico que há na face da terra, é mais evoluído que o Homo erectus em intelecto e mesmo moralmente, mas ainda não conseguiu assimilar as boas qualidades de um ser de bem.

    Então, não podemos entender a ignorância de um ser primário como a falta de conhecimento de bem ou mal, mas sim a falta de conhecimento de tudo, sendo uma página em branco que começará a ser escrita. Infelizmente nenhum ser se desenvolve igual a outro (o que seria muito chato, vamos concordar).

    O espiritismo, ou qualquer outra religião, ainda não tem uma resposta definitiva sobre o que é Deus, apenas que é o princípio de tudo. Mas com o passar do tempo e a evolução da ciência, conseguimos entender um pouquinho melhor o que é a vida. Se o ser humano ainda não conseguiu responder questões mais pontais desta dimensão, como é que queremos ter a pretensão de compreender as razões de um Ser/força/energia criadora de tudo?

    As teologias judaica e cristã nasceram do subconsciente humano da existência de Deus, e também pela experiência de médiuns com espíritos bons e maus, e das explicações dadas por um ser muito mais evoluído que teve de tentar explicar algo como física quântica a crianças do maternal. Enquanto que o espiritismo já veio em uma época em que se conhecia a eletricidade, a gravidade, portanto, em uma época em que o intelecto humano já estava mais preparado para compreender melhor conceitos mais avançados sobre a sua existência e sobre Deus.
    Acauan disse: Ocorre que se os espíritos recém criados são plenamente ignorantes das questões morais e dotados de igual aptidão para o bem ou para o mal, diante de uma decisão moral se encontrariam inevitavelmente em um impasse imobilizador.

    Não poderiam julgar questões morais a partir do seu próprio conhecimento, limitados que seriam pela tábula rasa de si próprios, e não poderiam reagir intuitiva ou instintivamente, dada a equivalência de aptidões para o bem ou para o mal.

    Um espírito com estas características, totalmente ignorante e moralmente neutro seria incapaz de tomar decisões morais.

    Sim e não. Pois um espírito ao nível do ser humano aprende na vida errante muito mais do que aprende na vida de encarnado, devido ao processo de esquecimento, tem de aprender quase tudo sobre ciência, religião e moral, restando apenas as impressões de seu subconsciente. A encarnação é mais uma prova, um teste, uma missão. Na vida errante, o espírito tem suas capacidades ampliadas, mais acesso ao avanço do conhecimento, pois tem acesso as bases desse conhecimento, que foi adquirido com o passar dos anos. No caso do ser humano, o conhecimento do certo ou errado está em seu subconsciente, é aquele sentimento de que se você fizer algo, vai dar merda.

    Entenda que um espírito, quando chega ao nível de encarnar como um ser humano, já é capaz de pensar, tomar decisões complexas, não sendo um espírito simples e ignorante. Mesmo quando no início da encarnação, no estágio infantil do ser humano, quando tem sua memória bloqueada, cada criança responde de forma diferente às situações da vida, e tem capacidades diferentes das outras. Algumas crianças já tem a noção de que fazer mal a um animal por pura diversão e não para sobreviver é errado, enquanto outras ainda não compreendem isso.
    Acauan disse:
    O Livro dos Espíritos diz que outros espíritos ignorantes são capazes de influenciar os de seu nível ou abaixo para o mal.

    Correto mais uma vez, porque tudo é energia, e todos estamos susceptíveis a interferências energéticas boas e ruins. Algumas pessoas já conseguiram descobrir como bloquear ou amenizar a interferência que sofrem de tais energias, como quando construímos uma barreira de chumbo para impedir a passagem do raio X, enquanto algumas ainda ficam exposta a todo tipo de interferência, como um rádio que recebe sinais AM e FM ao mesmo tempo, e tem dificuldade de sintonizar em uma frequência específica, captando muito ruído.
    Acauan disse:
    Além do já exposto que ignorância não é sinônimo de maldade, fica a questão de quem influenciaria estes espíritos ignorantes que influenciariam os outros. Não há como resolver o problema sem uma regressão infinita, incompatível com a dinâmica cósmica que parte do princípio que os espíritos são criados.

    Não é que a ignorância seja um sinônimo de maldade, mas que ela leva o ser a fazer coisas tidas como más. A influência que você cita, está no fato de que influenciamos tudo e todos. É como quando entramos em um ambiente e de alguma forma que não conseguimos explicar, percebemos que há algo no ar.

    Infelizmente ainda não conseguimos entender como este processo acontece, apenas que ele existe. Então a influência é energética, e tal influência não se dá apenas de pessoa para pessoa, mas de pessoa para comunidade, que influencia uma cidade, que influencia uma região, que influencia um país, que influencia um planeta, que influencia o sistema solar, que influencia a galáxia... e assim por diante. Onde vai parar? Ainda não temos a resposta.
    Acauan disse:
    Outra contradição pode ser identificada no conceito de hierarquia moral que os espíritos estabeleceriam entre si conforme progridem na dinâmica cósmica.

    O Livro dos Espíritos descreve esta hierarquia em três ordens e dez classes, com ressalvas quanto a esta divisão não ser absoluta.

    Na base estariam os espíritos impuros da décima classe, com o status moral análogo ao dos demônios, e no topo os espíritos puros e perfeitos de primeira ordem e primeira classe.

    A contradição está em que se a lei do progresso impede os espíritos de regredir, temos que nenhum espírito poderia apresentar um status moral inferior àquele em que foi criado — simples, ignorante e igualmente apto ao bem ou ao mal.

    A hierarquia definida no livro dos espíritos foi para fazer-nos entender que há, sim, hierarquia, mas que ela é bem mais complexa do que podemos compreender no momento. O espírito que deu a explicação, entendeu que tal ideia de hierarquia era o mais adequado para fazer-nos entender o conceito. Pense como uma pirâmide invertida, onde na pontinha da base está o espírito simples e ignorante, lá pelo meio, estamos nós. A largura da pirâmide é o nosso conhecimento, e sua altura é o tempo. Mais uma vez, não sabemos qual é a altura e largura finais da pirâmide, se é que tem fim.
    Acauan disse:
    Porém a descrição feita dos espíritos de décima ordem fala de seres inclinados ao mal, aos vícios, às paixões degradantes, que fazem o mal por prazer e ódio ao bem.

    É claro que tais seres estão moralmente muito abaixo do que se poderia chamar de espíritos simples e ignorantes, igualmente aptos para o bem ou para o mal.

    Assim, ou alguns espíritos recém criados que deveriam ser moralmente neutros em sua ignorância primitiva degeneram para uma condição moral análoga à demoníaca, violando a lei do progresso, ou os espíritos humanos são criados na condição moral análoga à demoníaca, violando o princípio de ser na origem simples e ignorantes.

    O problema no entendimento nos conceitos, é que foi associado o espírito recém-criado, como um ser neutro, como no meio de uma reta, onde para a direita é o positivo e para a esquerda é o negativo. O mais sensato é ver o espírito recém-criado como o ponto zero de uma linha que possui início, e ele é apenas instinto (vou tratar este espírito recém-criado já como um ser animalizado), ligado apenas à matéria, que vai aos poucos se depurando e tornando-se mais etéreo, mais leve, mais evoluído, conforme desloca-se na reta, que simboliza o tempo.

    Vícios e paixões degradantes, podem ser entendidos como os maus e velhos pecados capitais. E quanto mais materiais os seres, mais baixa sua vibração energética, mais carnais suas paixões. O fato de fazerem o mal, é apenas uma forma de garantir que seus vícios e paixões sejam sempre saciados.
    Acauan disse:
    Além disto, se todos os espíritos são criados iguais e se os de décima ordem são inclinados ao mal, de onde vem esta inclinação? Não se pode dizer que do livre arbítrio, pois se todos os espíritos são criados igualmente ignorantes e com iguais aptidões morais seria de se esperar que seu uso do livre arbítrio apresentasse as mesmas inclinações. A explicação da influência de outros espíritos inferiores também pode ser descartada como exposto acima, dado requerer uma regressão infinita para se sustentar.

    A inclinação vem de seus vícios e paixões. E como tem o livre arbítrio de escolher continuar ou superar, pode fazer o que bem entender, mas toda ação tem uma reação. Em uma analogia grosseira, é como se fosse um dos primeiros viciados em drogas que não sabia que as drogas faziam mal ao corpo. Com o tempo, ele vai vendo que o uso daquilo, dá prazer ao corpo, mas depois de um tempo, ele começa a compreender que aquilo faz realmente mal e, ou consegue sair sozinho, ou pede ajuda. Mas este é um exemplo grosseiro, não consegui pensar em nada melhor no momento.
    Acauan disse:
    Qual seria então o fator diferenciador que levaria alguns espíritos originalmente ignorantes e aptos tanto para o bem quanto para o mal a inclinar seu livre arbítrio para o mal, com a intensidade perversa relatada na descrição dos espíritos de décima classe, enquanto outros criados na mesma condição não o fazem?

    Uma explicação possível seria que estes espíritos possuíssem vocação inata para o mal, teriam sido criados com ela, o que contraria o princípio da igualdade original na criação e derruba um dos pilares da justiça universal da dinâmica cósmica espírita que é justamente a igualdade geral das existências individuais, uma vez que alguns espíritos já seriam na origem melhores do que outros.

    Outra é que esta queda para o mal é feita de modo completamente aleatório, com o espírito optando por este caminho a partir de decisões tomadas na cegueira de sua ignorância moral primitiva, o que implicaria que o acaso interfere na evolução dos espíritos, o que também contraria a dinâmica cósmica, como definida.

    O fato é que nenhum espírito se desenvolve em tempo e forma igual a outro. Pegue um punhado de bolinhas de gude e jogue em uma superfície perfeitamente lisa, mas que teve aplicada um punhado de finos grãos de areia invisível. Entenda as bolinhas como espíritos em desenvolvimento, a superfície é o tempo, e os grãos de areia são as capacidades que um espírito precisa evoluir. Quando passar por um grão, a bolinha irá alterar seu curso, podendo influenciar outras bolinhas, que também terão seu curso alterado por um grão de areia, ocasionando um grande efeito em cadeia e imprevisível, pois os grãos, estão lá, mas não podem ser visualizados, e as bolinhas podem decidir se vão para a direita ou para a esquerda.

    Infelizmente, ainda não temos as respostas para todas as perguntas, apenas entendemos parte do problema, que trouxe parte das respostas, que gerou novas perguntas, que estão trazendo novas respostas.

    O fato é que temos de continuar buscando as repostas às nossas perguntas e aprendendo o que é bom, e o que é ruim, e interiorizar esse conhecimento, transformando-o em ações. Já sabemos que a ira é um sentimento muito ruim, que provoca até doenças do coração... mas conseguimos não sentir ira? Ainda não.

    E já sabemos que ser honestos e não pegar o que não é nosso é bom. Pois quando somos honestos, deixamos de prejudicar os outros. Quem dera os nossos políticos, servidores públicos e empresários corruptos compreendessem isso. Teríamos recursos para a saúde, educação, cultura, etc. E nenhum cidadão do mundo passaria necessidade.

    Mas a vida é um processo evolutivo. Há 2 mil anos a coisa era bem pior. O ser humano vivia muito menos e em condições mais precárias. Hoje vive-se mais e melhor do que há 2 mil anos, infelizmente não em todas as partes do globo. E daqui a 2 mil anos a coisa será ainda melhor.

    Independente da religião que cada um tenha, o sentimento de egoismo é o mesmo. Raríssimos são aqueles que não mais tem egoísmo, e eu AINDA não sou um deles. O egoísmo é a fonte de todos os males, é o motivo de todo ser querer ter seus vícios e paixões satisfeitos, independentemente se vai ou não prejudicar o outro.
    Post edited by mitraton on
    -=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
    "Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes" - William Shakespeare
    P.S.: O conhecimento não garante sabedoria.
  • "Esses livros não contém verdades absolutas, ou, a verdade está sujeita à
    perspectiva humana?"

    Nenhum livro contem verdade absoluta, como nossa mente também não...

    A verdade é absoluta, pela própria definição e lógica da asserção...

    O nosso nível de conhecimento e de raciocínio lógico é que não nos permite vislumbrar a VERDADE...

    Pense no homem numa planície... Calcule o que ele pode vislumbrar da VERDADE...

    Quanto menor é seu "campo visual" maior é sua segurança de que é dono da VERDADE.

    Quem consegue vislumbrar um pouco mais, vê a penumbra que nos impede de chegar à Verdade Absoluta.

    Abraço e obrigado pelas boas vindas...
  • PROTEUS disse: Nenhum livro contem verdade absoluta, como nossa mente também não...

    Concordo totalmente. Minha pergunta, na realidade, tinha apenas a intenção de conhecer o seu posicionamento em relação ao assunto. Religiosos costumam conferir às escrituras sagradas um grau de confiabilidade e infalibilidade que só poderemos entender através de uma compreensão maior, a do funcionamento da fé.

    PROTEUS disse:A verdade é absoluta, pela própria definição e lógica da asserção...

    Sim. Essa era a lógica que eu pretendia alcançar. A Verdade é absoluta.

    PROTEUS disse:O nosso nível de conhecimento e de raciocínio lógico é que não nos permite vislumbrar a VERDADE...

    Pense no homem numa planície... Calcule o que ele pode vislumbrar da VERDADE...

    Quanto menor é seu "campo visual" maior é sua segurança de que é dono da VERDADE.

    Quem consegue vislumbrar um pouco mais, vê a penumbra que nos impede de chegar à Verdade Absoluta.

    Um mestre (infelizmente, não lembro qual) respondeu ao seu discípulo: “Aquele que faz uma pergunta, tem a pretensão de achar que vai entender a resposta”.

    O ponto onde a sua analogia e a minha se encontram é: Não estamos prontos para a Verdade!

    Como você disse, somente os que possuem um “campo visual” muito restrito se ufanam de ter encontrado a verdade. Podemos, sim, ver a planície à nossa frente, e caminhar por ela na medida em que cada passo descortina um pouco mais o horizonte, mas nada que possa ser comparado à realidade ainda por conhecer. Eu aceito, Proteus, a veracidade das comunicações entre nós e os espíritos, e aceito, também, que muitas informações importantes são transmitidas, muitas vezes nos orientando sobre onde e como caminhar, outras vezes simplesmente explicando um funcionamento. Eu apenas entendo que esse funcionamento ainda não é “A Verdade”. A complexidade da evolução humana e os porquês da existência não estão acessíveis ao nosso intelecto, mesmo considerando que nos encontramos em graus diferentes de “evolução” (as aspas têm um motivo para estar aí. Um dia, dependendo do rumo dessa conversa, eu explicarei).

    Não existe diferença substancial entre o mundo visível e o invisível e grande armadilha para quem está buscando respostas é acreditar que já as encontrou.


  • Ayyavazhi disse: Religiosos costumam conferir às escrituras sagradas um grau de confiabilidade e infalibilidade que só poderemos entender através de uma compreensão maior, a do funcionamento da fé.

    Concordo com você neste ponto. É absurdo o fato de certos religiosos tratarem um livro como algo pronto e acabado, que não pode ser criticado ou modificado.

    Como não conhecemos ainda a verdade absoluta, não podemos nos prender a dogmas, temos de trabalhar o que já temos e evoluir para um conhecimento ainda mais elaborado, mais próximo ao que seria a verdade.
    Ayyavazhi disse: Um mestre (infelizmente, não lembro qual) respondeu ao seu discípulo: “Aquele que faz uma pergunta, tem a pretensão de achar que vai entender a resposta”.

    Isso acontecia constantemente com Jesus. Ele tentava explicar as coisas, mas seus próprios discípulos não entendiam e deturbavam o conhecimento para que se encaixassem em seus dogmas.

    Nada mais interessante do que a resposta: - "Você ter de nascer denovo para entrar no meu reino". Uma resposta tão direta, e eles não entenderam.

    Ayyavazhi disse: A complexidade da evolução humana e os porquês da existência não estão acessíveis ao nosso intelecto

    Concordo plenamente.
    -=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
    "Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes" - William Shakespeare
    P.S.: O conhecimento não garante sabedoria.
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Ayyavazhi disse: Um mestre (infelizmente, não lembro qual) respondeu ao seu discípulo: “Aquele que faz uma pergunta, tem a pretensão de achar que vai entender a resposta”.

    Prefiro esta: "Não há perguntas idiotas e alguém só se torna um idiota quando para de fazer perguntas".
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    mitraton disse: É absurdo o fato de certos religiosos tratarem um livro como algo pronto e acabado, que não pode ser criticado ou modificado.

    Depende. Se eles consideram que o livro foi ditado por Deus, não há o que criticar ou modificar. É preciso aceitar, mesmo sem entender.
  • ReidReid Membro
    edited agosto 2011 Vote Up0Vote Down
    Fernando_Silva disse: Prefiro esta: "Não há perguntas idiotas e alguém só se torna um idiota quando para de fazer perguntas".

    Uma de confucio (acho q eh autoria dele) diz assim "Quem fizeres uma pergunta é um idiota por cinco minutos, mas se não a fizeres permaneceras como um idiota para sempre."
    Post edited by Reid on
  • mitraton disse: Concordo plenamente.

    Ei, pessoal, não pensem que o Mitraton está concordando comigo só porque é meu amigo. O hobby preferido dele é discordar de mim, quando estamos conversando. Mas é gente boa...

  • Fernando_Silva disse: Prefiro esta: "Não há perguntas idiotas e alguém só se torna um idiota quando para de fazer perguntas".

    Sempre gosto de refletir sobre idéias que parecem ter algo a oferecer. Essa é uma delas. Enquanto ainda não fiz essa reflexão, continuo a pensar que existem, sim, perguntas idiotas. Porém...

    Não foi essa a intenção do mestre. E nem a minha! Pelo contrário, perguntas idiotas são facilmente respondidas ou compreendidas. A pergunta inteligente – aquela que chamamos de “difícil” – é que traz implícita a expectativa de que a resposta será compreendida por quem a formulou. E isso nem sempre é verdade.

    E, não!, você nunca será um idiota por fazer tais perguntas. Voltando agora à analogia da planície, não importa a sua extensão, não importa que seja infinita, eu vou continuar andando.

  • Fernando_Silva disse: Depende. Se eles consideram que o livro foi ditado por Deus, não há o que criticar ou modificar. É preciso aceitar, mesmo sem entender.

    E como espírita, é neste ponto onde muitos médiuns erraram, ao não conseguirem diferenciar o joio do trigo.
    -=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
    "Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes" - William Shakespeare
    P.S.: O conhecimento não garante sabedoria.
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    mitraton disse: Olá Acauan, sou espírita e o Ayyavazhi me convidou para o Fórum já algum tempo, mas ainda não tinha tido tempo de ler ou publicar nada. Gostaria debater o recente texto publicado.

    Olá mitraton, seja bem vindo ao Religião é Veneno.
    mitraton disse: Então, mesmo o ser humano mais maléfico que há na face da terra, é mais evoluído que o Homo erectus em intelecto e mesmo moralmente, mas ainda não conseguiu assimilar as boas qualidades de um ser de bem.

    Esta é uma afirmação de alto risco.
    Só se pode falar em evolução moral de seres morais. Seres morais são aqueles capazes de fazer escolhas morais conscientemente.
    Dizer que o ser humano mais maléfico de hoje é moralmente mais evoluído que nossos antepassados primitivos remete à definição de evolução moral como aumento da consciência sobre decisões morais, só que isto contraria frontalmente a definição do Livro dos Espíritos que conceitua evolução moral como aumento da aptidão voluntária pelas melhores escolhas morais, ou simplificando, a opção pelo BEM.

    mitraton disse:
    Acauan disse: Ocorre que se os espíritos recém criados são plenamente ignorantes das questões morais e dotados de igual aptidão para o bem ou para o mal, diante de uma decisão moral se encontrariam inevitavelmente em um impasse imobilizador. Não poderiam julgar questões morais a partir do seu próprio conhecimento, limitados que seriam pela tábula rasa de si próprios, e não poderiam reagir intuitiva ou instintivamente, dada a equivalência de aptidões para o bem ou para o mal. Um espírito com estas características, totalmente ignorante e moralmente neutro seria incapaz de tomar decisões morais.

    Sim e não. Pois um espírito ao nível do ser humano aprende na vida errante muito mais do que aprende na vida de encarnado, devido ao processo de esquecimento, tem de aprender quase tudo sobre ciência, religião e moral, restando apenas as impressões de seu subconsciente. A encarnação é mais uma prova, um teste, uma missão. Na vida errante, o espírito tem suas capacidades ampliadas, mais acesso ao avanço do conhecimento, pois tem acesso as bases desse conhecimento, que foi adquirido com o passar dos anos. No caso do ser humano, o conhecimento do certo ou errado está em seu subconsciente, é aquele sentimento de que se você fizer algo, vai dar merda. Entenda que um espírito, quando chega ao nível de encarnar como um ser humano, já é capaz de pensar, tomar decisões complexas, não sendo um espírito simples e ignorante. Mesmo quando no início da encarnação, no estágio infantil do ser humano, quando tem sua memória bloqueada, cada criança responde de forma diferente às situações da vida, e tem capacidades diferentes das outras. Algumas crianças já tem a noção de que fazer mal a um animal por pura diversão e não para sobreviver é errado, enquanto outras ainda não compreendem isso.

    Meu ponto é exatamente este.
    Se crianças e, análoga e hipoteticamente, espíritos primitivos evidenciam comportamentos morais diferentes, o que motiva tal diferença?
    Pode-se falar em tendências inatas ou reação diferente a estímulos exteriores diferentes ou outras combinações de fatores, mas estas alternativas desqualificam a proposta de O Livro dos Espíritos de que a evolução moral é basicamente acúmulo de aprendizado.

    mitraton disse:
    Acauan disse: Porém a descrição feita dos espíritos de décima ordem fala de seres inclinados ao mal, aos vícios, às paixões degradantes, que fazem o mal por prazer e ódio ao bem. É claro que tais seres estão moralmente muito abaixo do que se poderia chamar de espíritos simples e ignorantes, igualmente aptos para o bem ou para o mal. Assim, ou alguns espíritos recém criados que deveriam ser moralmente neutros em sua ignorância primitiva degeneram para uma condição moral análoga à demoníaca, violando a lei do progresso, ou os espíritos humanos são criados na condição moral análoga à demoníaca, violando o princípio de ser na origem simples e ignorantes.

    O problema no entendimento nos conceitos, é que foi associado o espírito recém-criado, como um ser neutro, como no meio de uma reta, onde para a direita é o positivo e para a esquerda é o negativo. O mais sensato é ver o espírito recém-criado como o ponto zero de uma linha que possui início, e ele é apenas instinto (vou tratar este espírito recém-criado já como um ser animalizado), ligado apenas à matéria, que vai aos poucos se depurando e tornando-se mais etéreo, mais leve, mais evoluído, conforme desloca-se na reta, que simboliza o tempo.

    Vícios e paixões degradantes, podem ser entendidos como os maus e velhos pecados capitais. E quanto mais materiais os seres, mais baixa sua vibração energética, mais carnais suas paixões. O fato de fazerem o mal, é apenas uma forma de garantir que seus vícios e paixões sejam sempre saciados.

    De qualquer modo temos a negação da Lei do Progresso.
    Se o ponto zero é o meio da escala, então podemos entender que os espíritos podem voluntariamente pender para as cotações negativas, ou seja, podem regredir na escala moral.

    mitraton disse: A inclinação vem de seus vícios e paixões.

    É um raciocínio circular. A inclinação vem de seus vícios e paixões e seus vícios e paixões vem das inclinações.
    mitraton disse:
    Acauan disse: Qual seria então o fator diferenciador que levaria alguns espíritos originalmente ignorantes e aptos tanto para o bem quanto para o mal a inclinar seu livre arbítrio para o mal, com a intensidade perversa relatada na descrição dos espíritos de décima classe, enquanto outros criados na mesma condição não o fazem? Uma explicação possível seria que estes espíritos possuíssem vocação inata para o mal, teriam sido criados com ela, o que contraria o princípio da igualdade original na criação e derruba um dos pilares da justiça universal da dinâmica cósmica espírita que é justamente a igualdade geral das existências individuais, uma vez que alguns espíritos já seriam na origem melhores do que outros. Outra é que esta queda para o mal é feita de modo completamente aleatório, com o espírito optando por este caminho a partir de decisões tomadas na cegueira de sua ignorância moral primitiva, o que implicaria que o acaso interfere na evolução dos espíritos, o que também contraria a dinâmica cósmica, como definida.

    O fato é que nenhum espírito se desenvolve em tempo e forma igual a outro. Pegue um punhado de bolinhas de gude e jogue em uma superfície perfeitamente lisa, mas que teve aplicada um punhado de finos grãos de areia invisível. Entenda as bolinhas como espíritos em desenvolvimento, a superfície é o tempo, e os grãos de areia são as capacidades que um espírito precisa evoluir. Quando passar por um grão, a bolinha irá alterar seu curso, podendo influenciar outras bolinhas, que também terão seu curso alterado por um grão de areia, ocasionando um grande efeito em cadeia e imprevisível, pois os grãos, estão lá, mas não podem ser visualizados, e as bolinhas podem decidir se vão para a direita ou para a esquerda.

    Ou seja, permanece a questão.
    Ou os espíritos seriam criados com aptidões morais diferentes, ou seja, não seriam originalmente iguais na ignorância ou fatores externos às suas escolhas influíriam na sua evolução moral, o que fere o princípio do livre arbítrio como protagonista desta evolução.


    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • mitratonmitraton Membro
    edited setembro 2011 Vote Up0Vote Down
    Acauan disse:

    Dizer que o ser humano mais maléfico de hoje é moralmente mais evoluído que nossos antepassados primitivos remete à definição de evolução moral como aumento da consciência sobre decisões morais, só que isto contraria frontalmente a definição do Livro dos Espíritos que conceitua evolução moral como aumento da aptidão voluntária pelas melhores escolhas morais, ou simplificando, a opção pelo BEM.

    Uai! Contraria porque? Vai me dizer que o homem das cavernas tinha a exata noção que matar um semelhante por nada era errado? Um homícida atualmente SABE que matar é errado, mas ele decide matar assim mesmo, porque de alguma forma isto lhe dá algum tipo de prazer, ou ter algum motivo maluco na sua mente desequilibrada. Este tipo de atitude o mantém em uma determinada faixa de vibração energética (que é isso que define os níveis de evolução), mantendo-o em mundo inferiores, como o nosso, que permitem que seres dessa faixa de vibração possam reencarnar.
    Acauan disse:

    Pode-se falar em tendências inatas ou reação diferente a estímulos exteriores diferentes ou outras combinações de fatores, mas estas alternativas desqualificam a proposta de O Livro dos Espíritos de que a evolução moral é basicamente acúmulo de aprendizado.

    Não vejo porque desqualificaria. Você desde criança não vem acumulando aprendizado e hoje consegue fazer escolhas melhores do que há vinte anos. Este aprendizado é resultante de uma combinação de fatores e decisões tomadas por você e seus ascendentes. As decisões de nossos pais influenciam muito nossas decisões, nossa moral, de tal forma, que ao vermos um erro cometido por eles, procuramos não os repetir. E o ambiente também influencia neste aprendizado, haja visto que no nosso próprio planeta há uma muitas culturas com valores morais bem diferentes umas das outras, que são resultados de suas experiências ao longo dos séculos.

    Acauan disse:

    De qualquer modo temos a negação da Lei do Progresso.

    Se o ponto zero é o meio da escala, então podemos entender que os espíritos podem voluntariamente pender para as cotações negativas, ou seja, podem regredir na escala moral.

    Eu não neguei a lei do progresso. Eu não disse que o ponto zero está no meio da escala, mas no início, é o princípio. Um espírito não regride, ele estanca no seu processo evolutivo na medida que não escolhe vencer suas tendências materiais.

    Acauan disse: É um raciocínio circular. A inclinação vem de seus vícios e paixões e seus vícios e paixões vem das inclinações.

    Sim, pode ser circula neste ponto, pois ambos se alimentam. A partir de um momento que um dos fatores se modifica, por consequência o outro também será força a modificar-se.

    Acauan disse: Ou os espíritos seriam criados com aptidões morais diferentes, ou seja, não seriam originalmente iguais na ignorância ou fatores externos às suas escolhas influíriam na sua evolução moral, o que fere o princípio do livre arbítrio como protagonista desta evolução.

    Eles são criados iguais, sem aptidão alguma, é apenas uma centelha de vida, o princípio da vida. Na computação, existe o valor nulo (null) é o vazio, nada existe de informação, nem positiva, nem negativa, nem mesmo o zero. Como os serem não se desenvolvem em um único planeta, mas sim em vários, passam todos por experiências diferentes, em tempos diferentes, etc. No princípio de um espírito, ele não tem nem vontade, como vai ter livre arbítrio?

    O livre arbítrio é a capacidade de todo ser que possui raciocínio de escolher por si mesmo, sendo a capacidade que você tem de pensar, decidir e escolher.


    Post edited by mitraton on
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Postado por Acauan em 16/09/2005
    DOUTRINAS X PRINCÍPIOS

    Muitos religiosos gostam de repetir que ateus não acreditam em nada ou que acreditam em qualquer coisa (neste caso citando G.K. Chesterton, sabendo ou não disto).

    É um pensamento simplista, para não dizer idiota. Tarde demais, já disse.

    Ateus se definem pelo que não acreditam, logo pressupor no que acreditam é perda de tempo ou encheção de saco.

    Uma abordagem mais produtiva desta questão seria colocar a dualidade em outros termos:

    Religiosos acreditam em doutrinas e céticos acreditam em princípios.

    As grandes religiões monoteístas possuem doutrinas às quais o fiel se obriga a acreditar e seguir na íntegra, sem direito a selecionar os extratos com os quais concorda e rejeitar o que não lhe apetece na regra posta. O pacote é oferecido fechado, é pegar ou largar.

    Como estas religiões proclamam que suas doutrinas foram ditadas pessoalmente por Deus, questionar um til que fosse seria sacrilégio, logo se lá estão escritas coisas que o fiel sempre achou absurdas, as únicas opções que lhe restam são refazer sua definição de coerência ou deixar de ser fiel.

    Céticos não acreditam em doutrinas.
    Céticos acreditam em princípios.

    Isto implica que quebrarão qualquer doutrina em suas idéias fundamentais, que serão analisadas, aceitas ou rejeitadas cada idéia individualmente.
    Mesmo que o conjunto das idéias pareça, no geral, correta, o beneplácito ao conjunto não se estende obrigatória ou necessariamente aos seus componentes e vice-versa.

    Ou seja, não aceitam o pacote fechado.

    - E você acha que pode criticar uma doutrina ditada por Deus? Talvez me perguntasse alguém.

    Modéstia a parte, sim.
    Se qualquer ponto de uma doutrina viola meus princípios, a doutrina que se dane.

    Um exemplo.

    A Bíblia em I Samuel 15 diz que Deus deu ordem expressa e direta para que os soldados de Israel perpetrassem um massacre do qual crianças de peito não deveriam ser poupadas.

    As doutrinas fundamentalistas pregam que se Deus ditou a Bíblia então, naquelas circunstâncias (seja lá o que queiram dizer com isto) matar os bebês era a coisa mais certa a ser feita.

    Para quem acredita em certos princípios, se a Bíblia diz que Deus mandou matar bebês, ou a Bíblia está errada ou Deus é um canalha.

    Reduzida a princípios, a questão é simples: matar bebês é ruim.

    Quem crê em doutrinas diz que matar bebês pode ser ruim ou bom, dependendo da leitura doutrinária da questão – o que costumam chamar de contexto.

    Tem quem diga que é necessária a inspiração divina para a plena compreensão e interpretação das doutrinas religiosas. Quem acredita nisto que faça bom proveito.
    Qualquer inspiração que diga que assassinato de bebês é bom, para mim é coisa do capeta.

    _________________
    Acauan Guajajara
    ACAUAN DOS TUPIS, o gavião que caminha
    Lutar com bravura, morrer com honra.
  • Não conhecia o texto. Muito bom. Aos poucos vou lendo que já foi postado no blog.
    -=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-
    "Choramos ao nascer porque chegamos a este imenso cenário de dementes" - William Shakespeare
    P.S.: O conhecimento não garante sabedoria.
  • Dando as boas vindas ao Proteus e ao mitraton e esperando meu netbook voltar de viagem porque esse tablet nao fala a minha lingua.
    "Um homem é rico na proporção do número de coisas de que ele é capaz de abrir mão." Thoreau
  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    salgueiro disse: Dando as boas vindas ao Proteus e ao mitraton e esperando meu netbook voltar de viagem porque esse tablet nao fala a minha lingua.

    Oi Sal, sentimos sua falta.

    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
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