Gian Danton
No dia 13 de março de 2014 o Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente aprovou, de forma unânime, a resolução nº 163 que considera abusiva toda e qualquer publicidade e comunicação mercadológica dirigidas às crianças.
A resolução é apoiada por muitos como uma forma de proteger as crianças contra os abusos, mas, se for colocada na prática, vai ter resultados muito mais amplos.
Legislações restritivas à publicidade infantil existem em outros países do mundo. Na Suécia, por exemplo, estão proibidos os comerciais na TV aberta. Países como Chile e Peru proíbem anúncios de determinados alimentos e bebidas. Na Grécia, anúncios de brinquedos só podem ser anunciados na TV aberta em horário adulto. No Irã, bonecos dos Simpsons e da Barbie não podem ser comercializados ou anunciados. Mas esse é o primeiro caso de proibição total e absoluta de qualquer tipo de comunicação comercial voltada ao público infantil.
A resolução considera abusiva "a prática do direcionamento de publicidade e comunicação mercadológica à criança com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço". Estão proibidos linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores; trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança; representação de criança; pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil; personagens ou apresentadores infantis; desenho animado ou de animação; bonecos ou similares; promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis ou com apelos ao público infantil; e promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.
A resolução define a 'comunicação mercadológica' como toda e qualquer atividade de comunicação comercial, inclusive publicidade, para a divulgação de produtos, serviços, marcas e empresas realizada, dentre outros meios e lugares, em eventos, espaços públicos, páginas de internet, canais televisivos, em qualquer horário, por meio de qualquer suporte ou mídia, no interior de creches e das instituições escolares da educação infantil e fundamental, inclusive em seus uniformes escolares ou materiais didáticos, seja de produtos ou serviços relacionados à infância ou relacionados ao público adolescente e adulto.
Ou seja: a legislação, na prática, proíbe qualquer comunicação voltada às crianças. O maior prejudicado com a norma é, claro, Maurício de Sousa. Muitos têm comemorado o fato de que ele não pode mais colocar seus personagens em produtos infantis, como pacotes de maçãs.
Mas a legislação é tão ampla que afeta quase toda a produção nacional destinada às crianças. As revistas em quadrinhos infantis, por exemplo, dificilmente se sustentam sem publicidade. Produzir um gibi infantil é um processo caro que quase nunca se paga apenas com as vendas de revistas (até porque essas vendas se reduzem a cada ano). Da mesma forma, os desenhos animados só são exibidos por causa da publicidade. Não por acaso, as TVs abertas estão tirando desenhos animados de sua programação. Há de se perguntar como ficarão os canais infantis da TV por assinatura, até porque eles não poderão mais ser anunciados e também não poderão mais exibir publicidade.
Na prática, a resolução joga uma pá de cal no mercado de desenhos animados infantis, que vinha apresentando um crescimento invejável, com personagens como Peixonauta e Turma da Mônica, e coloca em situação difícil as revistas infantis nacionais, já que não é permitida nem mesmo a publicidade das próprias publicações. Ou seja: a revista do Cebolinha não pode mais anunciar o conteúdo da revista do Cascão. Pior ainda para autores que queiram lançar gibis com personagens novos, que não poderão ser divulgados. Nem mesmo a distribuição de brindes para as crianças são mais permitidos. Na prática, Maurício de Sousa ainda está em uma situação melhor do que outros quadrinistas que queiram lançar outras publicações infantis. Nunca mais veremos o lançamento de outros gibis.
Mas essa é uma visão otimista. A legislação é tão ampla que, na prática, pode proibir até mesmo as capas dos gibis infantis. Veja-se: a legislação considera "'comunicação mercadológica' como toda e qualquer atividade de comunicação comercial, inclusive publicidade, para a divulgação de produtos, serviços, marcas e empresas realizada, dentre outros meios e lugares, em eventos, espaços públicos, páginas de internet, canais televisivos".
Todo manual de marketing explica que um dos elementos essenciais da comunicação mercadológica é o merchandising, ou apelo no ponto de venda. No caso das bancas de revista, o apelo comercial é feito através das capas das revistas. Ou seja, sob qualquer aspecto, a capa de um gibi é uma comunicação mercadológica. Se a norma realmente for seguida, os editores de revistas infantis terão que se adaptar, uma vez que não poderão mais exibir personagens nas capas de suas revistas. Uma solução talvez seja vender as revistas lacradas, com tarjas escondendo os personagens da mesma forma como hoje se faz com as revistas pornográficas. Num mercado em que gibis vendem cada vez menos, a resolução pode ser a pá de cal no mercado de quadrinhos nacionais.
Lendo a legislação lembrei do amigo desenhista Antonio Eder, que, mesmo depois de adulto, ainda tinha o álbum de figurinhas do Palhaço Zequinha, lançado pelo governo do Paraná no final dos anos 1970. O álbum era gratuito e as figurinhas eram trocadas por notas fiscais. Um incentivo para que a população exigisse notas fiscais que fez a alegria de muitas crianças curitibanas. Pela nova legislação, a iniciativa seria ilegal, uma vez que a norma proíbe a "promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis".
Engana-se quem acha que o problema se restringe apenas aos quadrinhos infantis. Como maioria das pessoas acha que todo gibi é para crianças, toda a produção nacional pode ser afetada. Um exemplo: quando lancei o meu livro "Grafipar, a editora que saiu do eixo", perguntei porque o livro era vendido lacrado e com uma tarja avisando que se tratava de um livro para adultos. No meu entender, o livro era obviamente para adultos, até pela referência no subtítulo à produção erótica. "Tente explicar isso a um juiz", respondeu um editor. "Se tem desenho na capa e é quadrinhos, um pai pode achar que é para criança e nos processar. Já aconteceu com outros livros semelhantes". Ou seja: provavelmente para os "especialistas" do conselho, todo quadrinho é para criança e se encaixa na norma, até porque uma das definições para isso é o uso de cores chamativas.
No pior dos cenários, até mesmo as coleções de miniaturas de personagens de quadrinhos (como os da Marvel e DC, que temos visto nas bancas) ficam comprometidas. Explica-se: a legislação atual já proíbe vender em banca de revista algo que não seja revista. Assim, quando se pretende lançar algo do gênero, coloca-se uma revista junto, e diz-se que o boneco é brinde para quem comprou a revista. Como agora brindes são proibidos e como a maioria das pessoas vê quadrinhos como coisa exclusivamente de crianças...
Uma legislação que coíba abusos na publicidade infantil seria bem vinda. Mas a proibição total, com uma lei tão ampla que pode afetar até as capas dos gibis nacionais interessaria a quem? Em tempo, as citações entre aspas foram retiradas diretamente do site do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente.
Fonte:
http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=4026&titulo=Uma_norma_para_acabar_com_os_quadrinhos_nacionais
Comentários
Eu vivi nos anos 80 onde o que mais tinha eram propagandas e desenhos que embutidos em seu contexto vendiam produtos, mas só ganhava o que os MEUS PAIS podiam comprar e o que eu merecia.
E grande parte da receita de qualquer programa televisivo vem dos anúncios ao público que se destina. Anúncios além de vender a ideia de um produto, também servem para divulgar o mesmo. Como vou querer que as pessoas saibam do que eu vendo pro meu público? Sinais de fumaça?
Neguinho põe filho no mundo e não quer educar, escuto isso até de colegas professores.
― Winston Churchill
2x
É mais fácil culpar as propagandas do que ensinar aos filhos o momento certo para comprar ou não um brinquedo. Conhecimento que será usado na fase adulta para comprar ou não um produto.
Quando é que vamos copiar coisas realmente relevantes ao DESENVOLVIMENTO do país?
"No Irã, bonecos dos Simpsons e da Barbie não podem ser comercializados ou anunciados. Mas esse é o primeiro caso de proibição total e absoluta de qualquer tipo de comunicação comercial voltada ao público infantil."
Irã... taí um modelo de país que merece ser copiado pelo politicamente correto. : )
A última vez que usei a expressão "neguinho" no mesmo sentido que você usou, eu quase fui expulso da casa de um amigo branquelo. : )
― Winston Churchill
― Winston Churchill
'' O homem sábio molda a sí mesmo, os tolos só vivem para morrer.'' (O Messias de Duna - F.Herbert)
― Winston Churchill
― Winston Churchill
O Maurício tem mais é que chamar o Cebolinha e mandar que ele diga: Lei é o malido da lainha.
- Conheço um cara que foi demitido...
Abraços,
O MAUrício estava apoiando o governo, olha agora o que ele acha:
― Winston Churchill
Como funcionário público federal, nos tempos de FHC eu dizia: Fernando Henrique é meu pastor e por isso estou pastando. Realmente havia um claro horizonte de que FHC pretendia sucatear as universidades públicas, para depois privatizá-las, mas Serra perdeu a eleição...
Votei no Mulla mais de raiva do FHC do que por convicção política, é óbvio. Além do mais, com a base política que armou na base do lulinha paz e amor, tudo parecia que estava dominado pela turma do que havia de pior na direita deste país.
E era isso mesmo, mas os petistas radicais nunca esqueceram o seu projeto de poder e suas ideologias de domínio total do cidadão. Se o Maurício nunca foi incomodado antes, não havia motivo para deixar de se fotografar junto do Mulla. Só que hoje...
Recursos didáticos na educação...
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0CBwQFjAA&url=http://www.agb.org.br/evento/download.php?idTrabalho=1664&ei=R7XaU-i9J6vNsQS-zIDYDw&usg=AFQjCNE9F8cnXYjeT4sbffT1YlYK5fZjwQ&bvm=bv.72185853,d.cWc
http://pt.wikipedia.org/wiki/Histórias_em_quadrinhos_e_a_educação_no_Brasil
http://www.planetaignis.com/images-blogspot/pinky-cerebro.jpg
Sim, parece que a infância está sendo remodelada nas suas bases. ;(
abraços a todos
Silvana
É que MAUrício de souza sempre foi tipo um putinho do governo, até agora que lhe ameaça a jeba Petista.
Ele sabe que os produtos garantem boa parte do faturamento, seus quadrinhos estão em baixa faz tempo. O que sustenta a popularidade de seus personagens são os produtos que eles há séculos tem, bem como a tal lei de incentivo que diz que todo canal a cabo deve ter uma produção nacional (aí ele consegue emplacar alguma coisa, mais por lei que por mérito).
Tentou emular o mangá com ação de desespero: claro que teve que pedir ajuda a Cassaro e cia (que fizeram uma HQ chamada Holy Avenger que fez sucesso, mas seus criadores não souberam aproveitar e se reinventar).
Lembro até desse texto na época: http://forum.outerspace.terra.com.br/index.php?threads/maurício-de-souza-tem-fome.50067/
Tem um camarada que diz que suas publicações não vendem bem há mais de 15 anos (isso em 2008).
Os tempos são outros, o Souza partindo pra outros nichos (como Graphic Novels feitas por outros artistas coisas pra Nicho). Se a coisa não é fácil pra quem tem anos de mercado como ele, imagina pra quem está batalhando pra ter seu trabalho divulgado?
― Winston Churchill
― Winston Churchill
1) essas queixas são velhas (2008) e não sei se o que dizem é pertinente para os dias atuais ou ao longo destes últimos 6 anos.
2) há de se manter um mínimo de coerência entre as histórias antigas e as modernas, pois senão não se conservarão nem os leitores antigos, nem se ganharão novos.
Não importa que crianças de hoje acessem pornografia de todo tipo no seu celular: numa publicação impressa para as crianças e jovens menores de idade, não dá pra entrar nada de sexo explícito, nem quebra pau com sangue pra todo lado, nem linguagem chula. Acho que os críticos não sacaram isso ou se fizeram de bobos à toa.
A Turma da Mônica Jovem é ESTILO mangá, mas não é um mangá tradicional do tipo que se vê no Japão. E pessoalmente não estou achando que seja ruim e até pretendo discutir com uma psicóloga alguns dos aspectos de personagens que observei.
Mas aí que está: ele foi obrigado a diversificar sua indústria de quadrinhos: até porque o Maurício de Souza criador nem existe mais e sim o empresário. A equipe que desenvolve as histórias é que cuida desse trabalho, claro que tem que passar pela aprovação do homem.
Claro, porque grande parte dos compradores são leitoras antigos então tem que ter os elementos tracionais. E são esses que repassam pros novos. Mas dá pra unir modernidade com o clássico, mas pra isso precisa de bons roteiristas.
Modernidade não é apelação. Modernidade é uma nova maneira de se contar uma história. Ou mesmo buscar novos públicos como as Graphic Novels fazem e estão a fazer:
O Souza tem tentando reinventar desde então, as Graphic Novels são elogiadas. Acho que a chave é essa: é pegar um personagem dar pra um terceiro fazer a versão dele, mesmo que tenha que passar por aprovação dele isso renova o personagem.
Turma da Mônica Jovem tem a equipe de Holy Avenger uma HQ nacional desenvolvida por caras que faziam revista de RPG: eles sabem lidar com esse público (até porque Marcelo Cássaro já tinha trabalhado com o Maurício no longa Princesa e o Robô).
Agora engraçado, se o Maurício de Souza queria o público jovem por que não desenvolveu mais a personagem Tina que era justamente um personagem direcionado a esse público?
― Winston Churchill
São fáceis de se achar?
Até concordo, mas teria o Maurício perdido o bonde em algum lugar?
Talvez o preço do pioneirismo... A Tina tem o mesmo apelo que toda a galera da Turma da Mônica tornada jovem?
A questão nem é essa. O cara ficou numa zona de conforto com seu produto. Até o dia que a crise bateu-lhe a porta, aí ele teve que se mexer. Talvez essa perda de público com o passar dos anos lhe preocupa. Sem contar que há uma diferença entre o Maurício de Souza criador para o Maurício de Souza patrão, inclusive por consideração de pessoas que ajudaram e trabalharam com ele.
Em livrarias você acha, devido a ser voltado a um público diferenciado.
Não acha estranho um cara como ele depois de tanto tempo com publicações fixas sem nenhuma mudança, resolver tentar outras coisas?
Olha que interessante:
http://quadrinhosofia.com.br/?p=12
O IVC só conta quadrinhos da Turma da Mônica e Disney. Sendo que a segunda vende bem menos que a primeira. É meio estranho que se escondam mangás e principalmente quadrinhos Marvel e DC.
Outras publicações que eram publicadas pela Ediouro: Riquinho, Gasparzinho e Brasinha mal chegavam aos 5 mil. Então não compensa lançar tanto em bancas, porque eles não conseguem obter sua meta de venda ficam nos 5 mil exemplares muitas vezes. Uma coisa que nas Livrarias é considerado boa venda. Até por isso autores miram mais nas livrarias que bancas. Por isso que é raro alguma produção nacional nova pra qualquer público nas Bancas em geral.
A Tina inicialmente eram histórias dentro dos Gibis da Mônica e cia. Depois ganhou publicação própria. Digamos que ele poderia fazer aventuras da Tina com essa pegada de aventura ao invés da Mônica. Aliás ela até tinha:
― Winston Churchill
Não, na época não tinha PC. Parece que vai ser relançado e vou ver se consigo jogar.
― Winston Churchill
Quem é bom numa coisa, não necessariamente é bom em outra. O general George Patton Jr era ótimo para comandar tanques, mas se saía mal quando o combate exigia ação de infantaria.
Em livrarias? Pensava que nelas só havia balconistas... Não é em editoras que você está pensando?
Vendo alguns gibis da Mônica novos, parece voltou à última forma, pois a Tina ainda está no meio dos gibis da Mônica. Parece que a forma escolhida do gibi próprio não funcionou. Sacomé... o cara não pode se dar ao luxo de enterrar dinheiro onde não se vende o produto...
Quando se fala de quadrinhos o problema é que o material impresso perdeu pro material digital e outras mídias. Maurício de Souza ficou parando enquanto a revolução acontecia e pagou por não fazer nada.
Só que Maurício de Souza nunca deu crédito a essas pessoas que por trás dos bastidores mantiveram (e mantém) a fama dele. Pode ser que tenha mudado, mas nas publicações antigas nem naquelas letrinhas miúdas davam informações de quem roteirizou e ilustrou as histórias.
Editoras trabalham com os dois público, porém as vendagens mínimas são diferentes é público diferenciado. Livrarias hoje em dia evoluíram muito. Temos grandes redes como Cultura e Saraiva.
O que não deixa de ser uma parcela de culpa do Maurício. Se ele expandisse o universo da personagem e evoluísse afim de falar com os jovens, acho que teria tanto efeito quanto o Mônica Jovem. Que é uma coisa que soa a princípio comercial.
― Winston Churchill
Conheço os personagens e muito sobre ele pelas revistas dos anos 90.
― Winston Churchill