O FMI chegou a Europa.
A fórmula que o FMI propõe, hoje, aos europeus - de austeridade fiscal e privatizações - já foi adotada em diversos países da América Latina nos anos 1990. Os países europeus que vão se curvar ao FMI e que desejam conhecer o seu futuro não precisam de “bola de cristal”; basta conhecer a história econômica desastrosa da América Latina dos anos 1990.
João Sicsu
Em 2011, a crise explodiu na Europa. A dívida dos países europeus já havia aumentado em 2009 porque o setor público teve que “estatizar” a dívida privada do seu sistema financeiro: bancos europeus emprestaram aos bancos americanos e não viram o seu dinheiro de volta. Ao mesmo tempo, na Europa, famílias vinham se endividando para alcançar um modelo de consumo assemelhado ao “American way of life”(o modo de vida americano pré-crise, onde felicidade era sinônimo de consumo de bens de última geração).
Então, os bancos europeus passaram a financiar casas de luxo e automóveis de tecnologia sofisticada. A Europa se transformou em Eurolândia, onde “comprar e ter” passaram a ser mais importantes do que “viver e não ter vergonha de ser feliz”. Portugueses pobres e negros passaram a valorizar e a usar Nike. Carros Porsche, Audi, Mercedes, BMW e Volvo de alto luxo se tornaram comuns nas ruas da Europa. Ademais, governos da periferia européia importaram produtos bélicos sofisticados.
Para financiar o gasto da periferia, bancos se endividavam junto a outros bancos. E muitos governos europeus fizeram dívidas dentro da própria Europa para tentar pagar suas contas comerciais com o exterior, devido à elevada importação que suas economias faziam. A Alemanha incentivou esse processo onde bancos assumiam uma postura arriscada e pessoas e governos se endividavam. Lógico: 2/3 das suas exportações vão para a região da União Européia.
Logo que a União Européia deu seus primeiros passos, a Alemanha iniciou a implementação de uma estratégia econômica de dominação da Europa. A Alemanha fez um pacto interno, de cunho político e econômico, entre o governo, banqueiros, trabalhadores e empresários. Ofereceram aos trabalhadores estabilidade no emprego em troca de arrocho salarial. Com custos menores, devido aos salários comprimidos, os produtos alemães passaram a penetrar com facilidade nos mercados de toda a Europa.
Para complementar a estratégia, a Alemanha passou a emprestar dinheiro aos países que comprassem os seus produtos. Assim, euros, na forma de lucro e juros, eram transferidos da periferia para o centro da Europa. O enfraquecimento econômico da periferia representou também o seu enfraquecimento político: foi aberto o caminho para a substituição de governantes e para a rejeição de consultas populares.
As dívidas dos governos europeus da periferia explodiram. Afinal, tiveram que socorrer bancos e tomar emprestado euros para garantir o equilíbrio das suas contas externas. Enquanto a Alemanha exportava e fazia superávit comercial; outros importavam e tomavam empréstimos, a Grécia, por exemplo. A Grécia está gravemente endividada.
Tudo começou na periferia; mas, hoje, o mundo já reconhece que a contaminação é geral: Irlanda, Portugal, Espanha, Itália, França... De julho de 2008 a dezembro de 2009, a relação dívida/PIB da zona do euro saltou de 70 para 80%. Este foi um período de recessão na Europa e de queda na receita pública. Em 2010, a razão dívida/PIB alcançou 85%.
A situação de países como a Grécia é conhecida na história econômica mundial: um país com elevada dívida pública e déficit comercial com o exterior. Para esses casos, o FMI - desde o início das suas atividades, já com postura conservadora – impunha uma fórmula bastante peculiar. Um país deficitário na sua balança comercial e endividado, para receber os empréstimos de socorro do Fundo deveria cortar gastos públicos de forma drástica, o que resolveria os dois problemas econômicos.
O corte de gastos reduziria os déficits das contas do governo e, em consequencia, contribuiria para a estabilização da dívida pública. Além disso, o corte de gastos públicos reduziria a capacidade de compra da população e, portanto, reduziria também a demanda por produtos importados contribuindo para o equilíbrio comercial com o exterior.
Durante décadas, o FMI somente impôs políticas econômicas; basicamente, obrigava países em dificuldade a cortar gastos governamentais e a conter o crédito para o consumo. A partir dos anos 1990, o FMI passou a propagandear e impor reformas estruturais. Para o FMI, o receituário de políticas econômicas não era suficiente.
O FMI foi a principal organização de defesa e implementação das reformas estruturais propostas pelo Consenso de Washington (de 1989). A fórmula que o FMI propõe, hoje, aos países europeus - de austeridade fiscal e privatizações - já foi adotada em diversos países da América Latina nos anos 1990, por exemplo, Equador, México, Argentina e, parcialmente, no Brasil.
Os países europeus que vão se curvar ao FMI e que desejam conhecer o seu futuro não precisam de “bola de cristal”; basta conhecer a história econômica desastrosa da América Latina dos anos 1990.
(*) Professor-Doutor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro[/b]
Comentários
É o mínimo do básico do trivial que se pode esperar de um pais em crise.
Como a esquerda é burra, né?
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Que medo. O cara ainda é Dr...
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Como a esquerda é burra, né?
A BURRICE, PASSAMOS PRAS OROPA. DEIXAMOS O FMI COMO "ENCONSTO" NELES.
Foi por causa do FMI ou apesar dele?
Por que "predador" ?
Johnny, o FMI empresta dinheiro e quer garantias de que o terá de volta.
Os paises não são obrigados a recorrer a ele assim como você não é obrigado a pegar emprestimo bancario.
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Isso vai um pouco além.
O FMI tem interesse que os países em crise saiam do buraco. Pois se tivermos crises generalizadas todos irão perder a longo prazo.
Não estamos falando de pessoas, que se não pagarem, sempre terão outras para pegarem empréstimos como se nada acontecesse. Falamos de nações que se forem para o buraco levarão muitas outras junto. Tome nosso caso, muitos de nossos produtos são consumidos por europeus, se eles não puderem mais comprar de alguém, advinhe quem deixará de vender. Vai ter gente dizendo que poderemos vender para outros, o que é verdade, mas aí impera a lei da oferta e procura e certamente teremos percas.
O grande temor que o EUA desse o calote é justamente este, afundar e levar o resto do mundo junto. Ou você acha que havia pessoas realmente preocupadas com o que acontecia com os americanos, mais da metade do mundo quer que eles se lasquem mas sem ter que se lascar junto.
Como é que o Brasil ficou livre do FMI?
Nenhum país fica livre do FMI, esta é outra daquelas daquelas arengas que a esquerda inventou e repetiu tanto que acaba fazendo parecer verdade.
O que houve no Brasil, na América Latina e onde houvesse países falidos é que tais PEDIAM SOCORRO AO FMI.
Note, o FMI não entrava armado na sala de nenhum presidente de alguma república ao sul do Equador e os obrigava pelos mais perversos motivos a seguir sua cartilha que recomendava (veja bem, recomendava) que estes governos não gastassem mais do que arrecadavam. Eram os presidentes destas, digamos, repúblicas, que buscavam o Fundo de pires na mão.
E por que?
Porque os juros cobrados pelo FMI eram muito, mas muito inferiores aos cobrados no mercado financeiro internacional, além dos prazos a perder de vista.
Por que então o "Fora FMI!!!"?
É uma daquelas palavras de ordem como "Ianques go home" ou, no Brasil, "Você aí parado, você é explorado" e coisas tais cuja inteligência contida deve ser perscrutável por algum dos maravilhosos recursos tecnológicos modernos.
Por que alguém pagaria antecipadamente empréstimos a juros inferiores aos de mercado cujos prazos são loooooongoooooooooosssssssss, havendo prioridades muito mais urgentes pedindo recursos?
Pergunta prá militância que fez festa com isto.
Seus membros também devem ter inteligência perscrutável, embora as tentativas realizadas até hoje tenham sido intrutíferas.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
Me pergunto se devemos pagar empréstimos que foram tomados na ditadura.
Quando empossamos representantes assumimos os seus atos. Mas, e em casos de ditaduras? É ético assumir atos de governantes que não nos representavam? Devemos fazer isso?
Os empréstimos foram tomados pelo Estado brasileiro, independente de questões políticas internas que dizem respeito ao devedor e não ao credor.
Se cada país que contrair empréstimos puder alegar ilegitimidade do anterior para se safar das dívidas, estará aberta a porta para o enriquecimento gratuíto.
Nós, Indios.
Lutar com Bravura, morrer com Honra!
O cara consegue ser incoerente até entre os seus iguais.
Nem é ético pagar dividas dos empossados, sem os chamar primeiro à responsabilidade. Prisão para todos eles é pouco, invés, a maioria acaba por assumir cargos nos governos de "salvação" nacional ou retiram-se com uma pensão milionária.
Os gregos, os italianos, os espanhois estão adorando o FMI, assim como a américa latina na década de 80 a década perdida. Tem gente que não consegue ver a desgraça que é o FMI, nem vendo na televisão a miséria que ficam os países que seguem seu receituário. fazer o quê? A Argentina em 2001, não aceitou porra nehuma do FMI, deu o calote e o resto você sabe não? Ou precisa desenhar para você. Este negócio de que nenhum país fica livre do FMI é papo prá boi dormir. Pergunta aos Kirhners e aos argentinos que não aceitaram nada do Fome Miséria Internacional.
Imagine o seguinte:
Um cara armado entra na sua casa, toma todos como reféns e diz que ali em diante ele manda.
O sujeito assume todo o controle na casa, decide tudo o que entra e sai, tudo que é comprado e vendido. Vai no comércio e em nome dos reféns contrai dívidas, isto com o conhecimento dos comerciantes, que sabem de tudo o que acontece na casa.
Um dia, ele é deposto, as coisas voltam ao normal. Aí você descobre que possui uma dívida que foi feita em seu nome. Pergunta: É realmente sua dívida? Ainda que tenha se favorecido pelos itens que o seu raptor comprou (afinal você comeu e bebeu do que ele trouxe) é correto assumir a dívida? Os comerciantes não deveriam ter se negado a participar pois sabiam do que acontecia?
Foram sacanas o FMI e os generais. Esses fizeram obras bem questionáveis, tanto pela utilidade, quanto pela lisura em aplicar os recursos obtidos.
Quando a ditadura acabou, ficamos com a dívida.
Tomar um país na força, instalar a ditadura e pegar empréstimos em nome da nação, podendo gastar da forma como convier ao ditador, também é uma forma de abrir as portas do enriquecimento gratuito.
Sim, pagou depois tudo certinho, porque estava se afundando mais ainda, para depois pedir novamente a ajuda do FMI.
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Com um módico descontinho, que foi devidamente ocultado de tí, "grande informado" da mídia gorda, de 90, per cente, certinho deste jeito até eu pago. Bocó.
Precisaram fazer isso para que o capital externo voltasse a investir na argentina, coisa que nao estava mais ocorrendo e ate hoje nao se regularizou.
oq salva hoje a economia argentina sao os altos precos dos produtos agricolas no mercado externo, coisa ciclica que podera terminar a qualquer momento.
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Onde houver fé, levarei a dúvida!
Não dá para comparar com um ladrão que rouba seu cartão de crédito e sai gastando, mesmo porque os gastos foram em benefício do Brasil, como Itaipu, ainda que se possa questionar a sabedoria de alguns.