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"Querida Juliet,
Agora que você fez dez anos, quero lhe escrever sobre algo que é muito importante para mim. Você já se perguntou sobre como sabemos as coisas que sabemos? Como sabemos, por exemplo, que as estrelas, que parecem pequenos pontos no céu, são na verdade grandes bolas de fogo como o Sol e ficam muito longe? E como sabemos que a Terra é uma bola menor, girando ao redor de uma dessas estrelas, o Sol?
A resposta para essas perguntas é “evidências”. Às vezes “evidência” significa realmente ver (ou ouvir, ou sentir, cheirar...) que algo é verdade. Astronautas viajaram longe o suficiente da Terra para ver com seus próprios olhos que ela é redonda. Às vezes nossos olhos precisam de ajuda. A “estrela-d’alva” parece uma sutil cintilação no céu, mas com um telescópio você pode ver que ela é uma linda bola — o planeta que chamamos de Vênus. Uma coisa que você aprende diretamente vendo (ou ouvindo, ou cheirando...)é chamada de observação.
Frequentemente, a evidência não é só uma observação por si só, mas há sempre observações em sua base. Se aconteceu um assassinato, é comum ninguém (menos o assassino e a pessoa morta!) ter visto o que aconteceu. Mas os detetives juntam diversas observações que podem apontar na direção de um suspeito. Se as impressões digitais de uma pessoa coincidirem com as encontradas num punhal, isso é uma evidência de que ela tocou nele. Isso não prova que ela cometeu o assassinato, mas pode ser uma informação útil, junto com outras evidências. Às vezes, um detetive analisa várias observações e então de repente percebe que todas se encaixam e fazem sentido se Fulano de Tal cometeu o crime.
Os cientistas — os especialistas em descobrir o que é verdade sobre o mundo e o universo — frequentemente trabalham como detetives. Eles dão um palpite (chamado de hipótese) sobre o que talvez seja verdade. Depois dizem para si mesmos: “Se isso realmente for verdade, devemos observar tal coisa”. Isso é chamado de previsão. Por exemplo, se o mundo realmente for redondo, podemos prever que um viajante que caminhar continuamente numa mesma direção acabará no ponto de onde partiu.
Quando um médico diz que você está com sarampo, ele não olhou para você e viu sarampo. A sua primeira observação lhe fornece a hipótese de que você talvez tenha sarampo. Então ele diz para si mesmo: se ela realmente está com sarampo, devo encontrar... E ele então consulta sua lista de previsões e testa-as usando seus olhos (você está com pintas?), mãos (sua testa está quente?) e ouvidos (seu peito está com um chiado?). Só então ele toma a decisão e diz: “Meu diagnóstico é que essa criança está com sarampo”. Às vezes, os médicos precisam fazer outros testes, como exames de sangue ou raios-X, que ajudam seus olhos, mãos e ouvidos a fazer observações.
O modo como os cientistas usam evidências para aprender sobre o mundo é muito mais engenhoso e complicado do que consigo dizer numa breve carta. Mas agora quero deixar de lado as evidências, que são uma boa razão para crer em algo, e alertá-la sobre três más razões para acreditar em algo. Elas se chamam “tradição”, “autoridade” e “revelação”.
Primeiro, a tradição. Alguns meses atrás, fui à televisão para ter uma conversa com cerca de cinquenta crianças. Essas crianças foram convidadas por terem sido criadas segundo diferentes religiões: algumas como cristãs, outras judias, mulçumanas, hindus ou sikhs. Um homem com um microfone ia de criança em criança, perguntando no que acreditavam. O que elas responderam mostra exatamente o que quero dizer com “tradição”. Suas crenças não tinham nenhuma relação com evidências. Elas simplesmente papagaiavam as crenças de seus pais e avós que, por sua vez, também não eram baseadas em provas. Elas diziam coisas como: “Nós, hindus, acreditamos em tal e tal”; “Nós, muçulmanos, acreditamos nisso e naquilo”; “Nós, cristãos, acreditamos numa outra coisa”.
Como todas acreditavam em coisas diferentes, nem todas poderiam estar certas. O homem com o microfone parecia achar que isso não era um problema, e nem tentou fazê-las discutir suas diferenças entre si. Mas não é isso que quero enfatizar no momento. Eu simplesmente quero analisar de onde vieram as crenças. Vieram da tradição. Tradição significa crenças passadas do avô para o pai, deste para o filho, e assim por diante. Ou por meio de livros passados através das gerações ao longo dos séculos. Crenças populares frequentemente começam de quase nada; talvez alguém simplesmente as invente, como as histórias sobre Thor e Zeus. Mas depois de terem sido transmitidas por alguns séculos, o simples fato de serem tão antigas as faz parecer especiais. As pessoas acreditam em coisas simplesmente porque outras pessoas acreditaram nessas mesmas coisas ao longo dos séculos. Isso é tradição.
O problema com a tradição é que, independentemente de há quanto tempo a história tenha sido inventada, ela continua exatamente tão verdadeira ou falsa quanto a história original. Se você inventar uma história que não seja verdadeira, transmiti-la através de vários séculos não vai torná-la verdadeira!
A maioria das pessoas na Inglaterra foi batizada pela Igreja anglicana, mas esse é apenas um entre muitos ramos da religião cristã. Há outras divisões, como a ortodoxa russa, a católica romana e as metodistas. Todas acreditam em coisas diferentes. A religião judaica e a mulçumana são um pouco diferentes; e há ainda diferentes tipos de judeus e mulçumanos. Pessoas que acreditam em coisas um pouco diferentes umas das outras vão à guerra por causa de discordâncias. Então você talvez imagine que eles têm boas razões — provas — para acreditar naquilo em que acreditam. Mas, na realidade, suas diferentes crenças são inteiramente decorrentes de tradições.
Vamos falar sobre uma tradição em particular. Católicos romanos acreditam que Maria, a mãe de Jesus, era tão especial que ela não morreu, mas ascendeu ao Céu. Outras tradições cristãs discordam, e dizem que Maria morreu como qualquer pessoa. Outras religiões não falam muito nela e, de modo diferente dos católicos romanos, não a chamam de “Rainha do Céu”. A tradição segundo a qual o corpo de Maria foi levado ao Céu não é muito antiga. A Bíblia não diz nada sobre como ou quando ela nasceu; aliás, a pobre mulher mal é mencionada na Bíblia. A crença de que seu corpo foi levado ao Céu não foi inventada até cerca de seis séculos após a época de Jesus. No início, só foi inventada, da mesma forma que qualquer história, como “Branca de Neve”. Mas, no transcorrer dos séculos, ela se tornou uma tradição e as pessoas começaram a levá-la a sério simplesmente porque a história havia sido transmitida ao longo de tantas gerações. Quanto mais velha a tradição se tornava, mais as pessoas a levavam a sério. Ela foi por fim escrita como uma crença católica romana oficial muito recentemente, em 1950, quando eu tinha a idade que você tem hoje. Mas a história não era mais verdadeira em 1950 do que quando foi inventada, seiscentos anos após a morte de Maria.
Vou voltar à tradição no fim de minha carta, e olhá-la de outro modo. Mas antes preciso tratar das outras duas más razões para crer em alguma coisa: autoridade e revelação.
Autoridade enquanto razão para crer em algo significa acreditar porque alguém importante ordenou que você acreditasse. Na Igreja católica romana, o papa é a pessoa mais importante, e as pessoas acreditam que ele deve estar certo só porque ele é o papa. Num dos ramos da religião muçulmana, as pessoas importantes são velhos barbados chamados de aiatolás. Muitos muçulmanos se dispõem a cometer assassinatos simplesmente porque aiatolás de um país distante deram essa ordem.
Quando digo que só em 1950 os católicos romanos foram finalmente informados de que tinham que acreditar em que o corpo de Maria havia subido para o Céu, quero dizer que em 1950 o papa disse que isso era verdade, e então tinha que ser verdade! É claro que algumas coisas que o papa disse ao longo de sua vida devem ser verdade e outras não. Não há nenhuma boa razão para você acreditar em tudo que ele diz mais do que você haveria de acreditar nas coisas que muitas outras pessoas dizem só porque ele é o papa. O papa atual ordenou às pessoas que não controlasse o número de filhos que vão ter. Se sua autoridade for seguida com a obediência que ele deseja, os resultados poderão ser uma terrível escassez de alimentos, doenças e guerras, causadas por superpopulação.
É claro que, mesmo na ciência, às vezes nós mesmos não vemos as evidências e temos de acreditar no que foi dito por outra pessoa. Eu não vi, com os meus próprios olhos, que a luz viaja à velocidade de 300 mil quilômetros por segundo. Mas acredito em livros que me dizem qual é a velocidade da luz. Isso parece “autoridade”. Mas na realidade é muito melhor que autoridade, porque as pessoas que escreveram o livro viram as evidências e qualquer um de nós pode examinar as evidências com atenção no momento que quiser. Isso é muito confortante. Mas nem mesmo os padres afirmam que há evidências para a história de que o corpo de Maria subiu para o Céu.
A terceira má razão para se acreditar em algo é “revelação”. Se você tivesse perguntado ao papa, em 1950, como ele sabia que o corpo de Maria tinha subido ao Céu, ele provavelmente teria dito que isso lhe fora revelado. Ele se fechou num quarto e rezou, pedindo orientação. Sozinho, ele pensou e pensou, e na sua intimidade teve mais e mais certeza de suas ideias. Quando pessoas religiosas têm uma simples sensação de que algo deve ser verdade, mesmo que não haja evidências de que o seja, eles chamam sua sensação de “revelação”. Não só os papas afirmam ter revelações. Isso também acontece com muitas pessoas religiosas. É uma de suas principais razões para acreditar naquilo que acreditam. Mas isso é bom ou ruim?
Suponha que eu lhe dissesse que seu cachorro está morto. Você provavelmente ficaria muito triste, e talvez dissesse: “Você tem certeza? Como você sabe? Como aconteceu?”. Suponha então que eu respondesse: “Na verdade, eu não sei se Pepe está morto. Eu não tenho evidências. Só tenho uma sensação esquisita, bem dentro de mim, de que ele está morto”. Você ficaria muito zangada comigo por tê-la assustado, porque você sabe que uma “sensação” por si só não é uma boa razão para acreditar que um cachorro está morto. Você precisa de evidências. Todos temos sensações e pressentimentos de tempos em tempos, e descobrimos que às vezes estavam certos, às vezes não. De qualquer forma, pessoas diferentes podem ter sensações opostas, então como decidir quem teve a intuição correta? O único jeito de ter certeza de que um cachorro está morto é vê-lo morto, ou ouvir que seu coração parou de bater, ou obter essa informação de uma pessoa que viu ou ouviu alguma prova de que ele está morto.
As pessoas às vezes dizem que devemos acreditar em sensações íntimas, senão você nunca teria certeza de coisas como “Minha esposa me ama”. Mas esse é um argumento ruim. Pode haver muitas provas de que alguém ama você. Durante todo o tempo em que você está com alguém que a ama, você vê e ouve pequenas evidências, e elas se somam. Não é somente uma sensação interior, como a sensação que os padres chamam de revelação. Há outras coisas para apoiar a intuição: olhares, um tom carinhoso de voz, pequenos favores e gentilezas; tudo isso serve de evidência.
Certas pessoas têm forte sensação de que alguém as ama sem que isso esteja baseado em evidências, e então é provável que estejam completamente enganadas. Há pessoas com uma forte intuição de que um astro do cinema está apaixonado por elas, mas na realidade o astro de cinema nem sequer as conhece. Pessoas assim são doentes da cabeça. Sensações íntimas ou intuições precisam ser apoiadas por evidências, senão você simplesmente não pode confiar nelas.
As intuições são valiosas na ciência também, mas só para lhe dar ideias que você então testa, procurando evidências. Um cientista pode ter um “pressentimento” sobre uma ideia que ele “sente” estar correta. Por si só, isso não é uma boa razão para acreditar nela. Mas pode ser uma razão para passar algum tempo fazendo experimentos, ou à busca de evidências. Cientistas usam a intuição o tempo todo para ter ideias. Mas elas não valem nada até que sejam apoiadas por evidências.
Eu prometi que voltaria à tradição, para examiná-la de outro modo. Quero explicar por que a tradição é tão importante para nós. Todos os animais são construídos (pelo processo chamado de evolução) para sobreviver no local em que seus semelhantes vivem. Leões são construídos para sobreviver nas planícies da África. O lagostim é construído para sobreviver na água doce, enquanto as lagostas são adaptadas para a vida na água salgada. As pessoas também são animais, e somos construídos para viver bem no mundo cheio de outras pessoas. A maioria de nós não caça para obter comida, como as lagostas ou os leões; nós a compramos de pessoas que, por sua vez, a compram de outras pessoas. Nós “nadamos” num “mar de pessoas”. Assim como um peixe precisa das brânquias para sobreviver na água, as pessoas precisam do cérebro que as torna capazes de se relacionarem umas com as outras. Assim como o mar está cheio de água salgada, o mar de pessoas está cheio de coisas difíceis de aprender. Como a linguagem.
Você fala inglês, mas sua amiga Ann-Kathrin fala alemão. Cada um de vocês fala a língua que lhes permite “nadar” no seu “mar de pessoas”. A linguagem é transmitida por tradição. Não há outra alternativa. Na Inglaterra, Pepe é "a dog". Na Alemanha, ele é "ein Hund". Nenhuma dessas palavras é mais correta ou verdadeira do que a outra. As duas foram transmitidas ao longo do tempo, só isso. Para serem boas em “nadar no seu mar de pessoas”, as crianças têm que aprender a língua de seu país, e muitas outras coisas sobre o seu povo; e isso só quer dizer que elas precisam absorver, como papel mata-borrão, uma enorme quantidade de informações sobre tradições (lembre que essas informações são aquelas passadas dos avós para pais e deste para filhos). O cérebro da criança tem que absorver informações sobre tradições. Não é de se esperar que a criança consiga separar a informação boa e útil, como as palavras de uma língua, das informações ruins e tolas como acreditar em bruxas, demônios e virgens imortais.
É uma pena — mas não deixa de ser assim — que, por serem sugadoras da informação sobre tradições, as crianças possam acreditar em qualquer coisa que os adultos lhes digam. Não importa se é falso ou verdadeiro, certo ou errado. Muito do que os adultos dizem é verdadeiro e baseado em evidências ou, pelo menos, sensato. Mas se parte do que é dito é falso, tolo ou até malvado, não há nada para impedir as crianças de acreditarem naquilo também. E quando as crianças crescerem o que farão? Bom, é claro que contarão as histórias para a próxima geração de crianças. Então, uma vez que uma ideia se torna uma crença arraigada — mesmo que seja completamente falsa e nunca tenha havido uma razão para acreditar nela —, pode durar para sempre.
Será isso o que aconteceu com as religiões? A crença de que há um Deus ou deuses, crença no Céu, crença em que Maria nunca morreu, que Jesus nunca possuiu um pai humano, que as rezas são respondidas, que vinho se torna sangue — nenhuma dessas crenças é apoiada por boas evidências. E, no entanto, milhões de pessoas acreditam nelas. Talvez isto ocorra porque elas foram levadas a acreditar nessas coisas quando eram tão jovens que aceitavam qualquer coisa.
Milhões de pessoas acreditam em coisas bem diferentes, porque diferentes coisas lhes foram ensinadas quando eram crianças. Coisas diferentes são ditas para crianças muçulmanas e cristãs, e ambas crescem totalmente convencidas de que estão certas e as outras erradas. Mesmo entre cristãos, católicos romanos acreditam em coisas diferentes dos anglicanos ou de pessoas como os shakers [adeptos da Igreja milenarista] ou quacres, mórmons ou Holy Rolers, e todos estão plenamente convencidos de que estão certos e os outros errados. Acreditam em coisas diferentes exatamente pela mesma razão que você fala inglês e Ann-Kathrin fala alemão. Ambas as línguas são, em seu próprio país, a língua certa para se falar. Mas não pode ser verdade que religiões diferentes estão corretas em seus próprios países, pois religiões diferentes afirmam que coisas opostas são verdadeiras. Maria não pode estar viva na Irlanda do Sul (um país católico) e morta na Irlanda do Norte (que é protestante).
O que podemos fazer sobre tudo isso? Não é fácil para você fazer alguma coisa, porque você só tem dez anos. Mas você pode experimentar o seguinte. Da próxima vez que alguém lhe disser algo que parecer importante, pense: “Será que isso é o tipo de coisa que as pessoas sabem por causa de evidências? Ou será o tipo de coisa em que as pessoas acreditam só por causa de tradição, autoridade ou revelação?”. E, da próxima vez que alguém lhe disser que uma coisa é verdade, por que não perguntar: “Que tipo de evidências há sobre isso?”. E, se ela não puder lhe dar uma boa resposta, eu espero que você pense com muito carinho antes de acreditar em qualquer palavra daquilo que foi dito.
De seu Papai que a ama"
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Comentários
De qualquer forma, esse se trata de um belo texto para pais não-religiosos modelarem quando suas crianças começarem a fazer perguntas sobre religião.
Dei uma corrigida.
A Eugenia é o melhor exemplo disso tudo. Dela surgiram as políticas de esterilização forçada dos "geneticamente inferiores" e dela se serviu o Adolf Hitler pra liquidar as raças inferiores...
E antes de acusar a ciência como causa de horrores humanos talvez devesse se perguntar, se a eugenia não existisse isso significaria que Hitler e seus asseclas teriam sido pessoas de bem? Duvido muito.
A ciência é apenas uma ferramenta, o uso que se faz dela pode ser bom ou ruim, mas duvido muito que evitaríamos algum mal cerceando de alguma forma o desenvolvimento científico.
A eugenia não chega a ser uma 'verdade científica' ou, pelo menos, um conceito moderno. Suponho que desde que o homem percebeu que os filhos tinham as características dos pais que se programam acasalamentos com certos objetivos em vista.
A genética só explicou como funciona essa transmissão de características, mas não estabeleceu que esta ou aquela característica é inferior e deve ser eliminada, mesmo porque 'inferior' e 'superior' dependem do contexto e do critério de avaliação.
Quem decide impor sua vontade aos outros procura justificativas, que não precisam ser racionais ou éticas.
O objetivo da ciência é o de estabelecer e validar declarações sobre o que é, e não sobre o que deve ser. Prescrições políticas (como o da política de eugenia) pressupõem valores epistemicamente subjetivos, e esses estão fora do escopo da ciência. As conclusões com "deve" não se seguem logicamente de afirmações com "é".
Ok, deixando de lado minhas antipatias, até que o texto é coerente.
Aproveitando a deixa, alguem ja leu alguma coisa sobre os conflitos nas ex-republicas Iugoslavas? É interessante observar que ninguem (quase ninguem) comenta sobre o papel das igrejas ortodoxa e católica no conflito, que tinha forte natureza etnico-religiosa. Lembram-se somente dos muçulmanos e se esquecem das metrancas com imagens de nossa senhora, nome de deus e do comportamento assaz peculiar daqueles que as portavam, bem como das declarações estranhas de certos lideres católicos/ortodoxos sobre o conflito...
Há coisas ali de arrepiar os cabelos, é leitura bem pesada.
Estou tentando me lembrar de uma citação que dizia mais ou menos que somente motivos religiosos poderiam transformar um sujeito, de outra forma pacato, em um assassino sádico.
Mas transfira essa política para uma questão muito científica que já citei: a Eugenia. Em princípio é uma coisa lógica e sensata. Quem não gostaria de ter uma descendência saudável, bonita e inteligente? Mas como garantir isso? Os Estados Unidos e Adolf Hitler indicaram o caminho: promova a reprodução dos "bons" e acabe com os "maus". Vai querer me dizer que a Eugenia não é (ou pelo menos era) científica?
Claro que não, Camarão! Hitler & Cia Bela eram mesmo maus. Só que sem a Eugenia, ficariam privados de um argumento científico válido e aceito por todos para aplicar a sua política. Isso não impediria Hitler de fazer o que fez. Já dizia um colega dele que se o judeu não existisse, teria de ser inventado. O antissemitismo era parte integrante do sistema nazista para conquista do poder. Hitler era pragmático: a partir do resultado de uma medida, já partia para a medida seguinte. Primeiro mandou que os alemães boicotassem as lojas dos judeus. E eles o fizeram. Não houve reação, nem protesto. Depois foi tomando medidas cada vez mais restritivas, confiscando seus bens e redistribuindo-os aos alemães raciais, que ficaram felizes da vida e se tornaram fiéis nazistas e assim foi rolando a bola de neve montanha abaixo.
Pois é, Camarão. Filosofia e Religião também são ramos do conhecimento humano. Fazem parte das nossas vidas e das sociedades. O uso delas pode ter resultados bons ou ruins, mas não é rogando pragas nelas, dizendo que são tolices e absurdos quando comparadas com a Ciência, que vamos evitar o mau uso delas...
Mas Fernando... A Eugenia foi inventada por um cientista: Francis Galton, primo do Charles Darwin. E foi encampada e aceita amplamente pela comunidade científica, ao menos até a década de 1980. Certo, devido ao nazismo, os eugenistas perderam um pouco do seu cacife, mas o conceito científico da Eugenia não foi posto em dúvida.
Exatamente nestes contexto e critério subjetivos é que mora o perigo...
Não, mas se tiverem alguma justificativa de fé, filosófica e PRINCIPALMENTE científica, a aceitação desta imposição de vontade torna-se mais palatável à maioria.
Acho que filósofos e clérigos podem apresentar argumentos semelhantes quanto às áreas de conhecimento em que atuam, caro Huxley...
Mas Fenrir, o fato de supostamente não ser a causa inicial a torna menos "culpada" se servir de justificativa? A Eugenia não começou o nazismo, nem a II Guerra, mas foi usada como desculpa para a aplicação das medidas de extermínio e hostilidade contra as "raças inferiores".
Sem dúvida. É como já dizia em algum capítulo de algum livro do Chico Xavier, cujos nomes não me recordo. Mas num dos versos do poema havia este: Religião sem amor gera fanáticos.
Discordo TOTALMENTE. Essa citação aí é como aquele mesmo ditado que diz: _ A ocasião faz o ladrão. _ NADA DISSO! A ocasião não faz o ladrão: ela REVELA o ladrão. Os motivos religiosos, invocados por um fanático desumano, não transforma os seus fãs em assassinos sádicos: apenas faz revelar o que levam no íntimo.
Você quer dizer "a eugenia aplicada aos humanos", porque ela vem sendo aplicada a animais e plantas há dezenas de milhares de anos. Parece-me que Francis Galton apenas teve a ideia de manipular a espécie humana assim como já era feito com o resto.
O que ele fez foi tentar justificar seus preconceitos usando a ciência. O fato de ele ser um cientista não muda nada. Quando muito, lhe deu acesso a conhecimentos que o inspiraram.
Isto não torna os conceitos científicos por trás da eugenia nem melhores nem piores. A genética é uma ferramenta, é um conjunto de conhecimentos. Assim como o bisturi, pode ser usada para o bem ou para o mal.
Eu diria que a eugenia não é um conceito científico e sim uma ideologia que, por acaso, usa conhecimentos científicos para atingir seus fins.
Pois eu diria que foi. Afinal, apenas pessoas cegas por ideologias de superioridade da 'raça pura' ignoram o fato de que a variedade ajuda a sobrevivência de uma espécie e que espécimes mais rústicos podem até ser mais feios, mas são mais resistentes a doenças e condições extremas e ajudam na sobrevivência da espécie como um todo.
Não, os clérigos não podem. As religiões que são alvos da crítica de Dawkins INVARIAVELMENTE tem sistemas de preceitos que EXPLICITAMENTE fazem reivindincações normativas, algumas das quais já levaram às guerras e matanças. Por outro lado, a ciência é um tipo de busca pelo conhecimento que é EXCLUSIVAMENTE descritivo. Portanto, não tem o menor fundamento dizer que "a ciência pode levar a guerras e matanças tanto quanto a religião". Achar que a ciência tenha implicações éticas não passa de uma inacreditável incapacidade de distinguir o DESCRITIVO do NORMATIVO.
Só a cieência tem a verdade, a Religião é má, pois cometeu muitas atrocidades.
- mas papai Dawkins, e a bomba atômica, não foi criada pelos cientistas? Então a ciência também é má?
- E os mísseis e as armas químicas e armas nucleares? foram criadas pelos religiosos ou pelos cientistas?
PAPAI, NÃO SERIA VERDADE QUE O MAU NESSA HISTÓRIA É O HOMEM, INDEPENDENTE DELE SER RELIGIOSO OU NÃO?
...
Historinha para boi dormir essa Fernando...
Isso é um comentário decente e desprovido de desonestidade. É saber enxergar os dois lados da moeda!
Se tiver eu ganho fácil.
Sim, e são os homens que impõem as coisas uns aos outros, não a ciência. A ciência é apenas um conjunto de conhecimentos. Um bisturi pode ser usado para curar ou matar. Ele, em si, é neutro: nem bom nem mau.
Já as religiões costumam ter, entre seus mandamentos, o "Ide e convertei a todos" (leia-se: "Você é obrigado a pensar como eu").
Porem, pense no seguinte: se todas as religioes pregam principios eticos e morais, condutas anti-eticas de seus partidarios deveriam ser punidas ou ao menos repudiadas publicamente pelas instituições religiosas, e tais acontecimentos deveriam causar uma reação no sentido de coibir estes atos no futuro.
Mas, no mais das vezes, isto não acontece! O que se vê são tentativas de encobrir os fatos, de ignora-los ou omiti-los cinicamente, de atribuir a responsabilidade a outros
ou pior, de justificar o injustificavel com base nas crenças e principios que a propria religião prega/divulga!
Vejamos o cristianismo, por exemplo: como conciliar o "não matarás" e o "amai vossos inimigos..." com o apoio e aprovação de ações que tem como objetivo justamente o oposto?
Isto é um erro tão fundamental (posto que diz respeito a crenças que estão no cerne de religiao) que fico estupefado ao constatar que nada de efetivo é feito a respeito.
Já se vão mais de 10 séculos (do islamismo para trás) e ainda vemos pessoas matando, roubando, sacaneando em nome de deus, deuses ou de uma ideia religiosa qualquer. Onde esta a ação reparadora das instituições religiosas? São elas tão incompetentes ou complacentes que não comseguem erradicar um problema grave e fundamental mesmo passado tanto tempo?
Fenrir, seu asno, voce falou de instituições. Não devemos tambem separá-las de suas respectivas religiões? Não estou certo disso, pois se dispormos do individuo e da instituição, o que sobra? Sobra a doutrina, as idéias.
Porem, se as ideias ou doutrinas religiosas contem algum ponto ambiguo ou alguma brecha (e estes são muitos) que possa justificar atos execraveis, muitas vezes condenados pela propria religião, porque estes pontos/brechas não foram retificados/eliminados como a ciencia faz com idéias que o tempo e a experiencia demonstra que estão equivocados?
Então, vemos que neste imbroglio podem não escapar nem o individuo religioso, nem a instituição religiosa, nem as ideias religiosas. Disponha dos tres e o que sobra?
A Bíblia diz claramente:
¨Matem seus familiares se eles adorarem outros deuses"
"Matem seus filhos se eles se comportarem mal"
"Matem quem trabalhar no dia de sábado"
"Matem as meninas que perderem a virgindade fora do casamento"
"Mulheres, calem a boca, obedeçam a seus maridos e tenham filhos sem reclamar".
Em nenhum lugar da Bíblia isto foi claramente revogado. Pelo contrário, Jesus disse que estava tudo valendo.
Você não entendeu o contexto.
Até que esse não é de todo inútil...
(Vou ser apedrejado)
Caro, tire "deus" e "deuses" e tudo vai continuar do mesmo jeito. A minha opinião é que o homem é o maior culpado de tudo, independente se tem religião ou não!
O erro que aponto no site de vocês está no próprio nome: Religião é Veneno!
Mudem para: "Homem é veneno" ficaria mais apropriado!
Ou acaso cogitam que se houver uma educação toda fundamentada sem base religiosa alguma, e essa criançada crescer e multiplicar, no futuro o mal vai se extinguir? o mal vai diminuir consideravelmente?
Realmente vocês crêem nisso?
Na sua concepção!
pois ele disse: "Não vim ab-rogar, Eu vim para cumprir" e ele cumpriu!
Por acaso você vê algum cristão fazendo isso hoje em dia? na realidade esse nem é o conceito do cristianismo e sim do judaísmo fundamentalista!
Como sempre, perfeito.
Você vê algum cristão dando tudo o que tem aos pobres para seguir a Jesus? Deixando o pai insepulto?
Acontece que ninguém segue tudo o que a religião decreta. Sem perceber, cada um decide que 'isto é importante, isto é só um costume antigo'. A religião acaba sendo modelada pelo bom senso pessoal.
Em resumo: Jesus disse que estava tudo valendo. Inclusive as barbaridades que eu citei.