Clique AQUI para voltar ao forum NOVO!

Como vai, Forasteiro?!

Parece que você é novo por este pedaço. Se você quer se envolver, clique em algum destes botões!

Usuários nesta discussão

Adam Smith queimaria esta malta

Mig29Mig29 Membro
Adam Smith queimaria esta malta

Os magos matemáticos do mundo financeiro não são os únicos culpados pela crise de 2008, mas estão, sem dúvida, no pódio da culpa. Estes geeks dos modelos matemáticos criaram um mar de dinheiro irreal, sem relação com a actividade económica. Este planeta da abstracção financeira, habitado por algoritmos e derivados, chegou a ser 40% mais rico do que o PIB real do mundo inteiro. Em 2006, o PIB de todos os países do mundo era de 48,6 triliões de dólares, mas o valor de acções e derivados estava nos 67,9 triliões (contas de Niall Ferguson). Os famosos "activos tóxicos" escondiam-se - e escondem-se - nestes 40% de malabarismo financeiro. De forma surreal, esta feitiçaria matemática criou uma torre de marfim que está tão distante de Adam Smith como de Marx. Isto já não é liberalismo ou "capitalismo". Isto é geekismo.

Antes de 2008, os tais modelos matemáticos diziam que uma crise de liquidez era virtualmente impossível. Resultado? A relação entre dinheiro-em-caixa e activos-financeiros-garantidos-por-dívida podia ser de 1 para 19. Foi o que aconteceu à Long-Term, empresa de dois prémios Nobel de Economia, Scholes e Merton. Esta empresa tinha 6,7 mil milhões em depósito, mas possuía 126 mil milhões em bens gerados na ficção financeira. Porquê? Porque os computadores diziam que uma crise de liquidez era uma impossibilidade até ao fim do universo. Problema? Estas fórmulas funcionavam com dados dos últimos cinco anos. Portanto, aquela absoluta certeza científica (repito: a crise do subprime era impossível até ao fim do universo) assentava num cálculo que apenas contemplava dados dos últimos cinco anos. Como é que um cientista pode ser tão irracional? Depois do caos de 2008, um dos geniozinhos da Long-Term disse o seguinte: "se eu tivesse vivido a crise de 1929, estaria em melhores condições para perceber os acontecimentos". Os geeks sabem muito de matemática, mas nada de história. E o habitat da economia é a história, e não a matemática.

Após 2008, seria de supor que esta arrogância científica desaparecesse do centro da finança. Mas isso não aconteceu. Aliás, o cenário ficou ainda mais lunático. De 2008 para cá, os algoritmos aumentaram a sua presença. O que é um algoritmo? É uma fórmula matemática do tamanho de um camião TIR, uma sucessão de instruções matemáticas que cria um mecanismo-que-pensa-por-si, uma máquina que toma decisões sozinha. O sistema de algoritmos (High Frequency Trading - HFT) controlava menos de 25% das transacções dos EUA em 2008; em 2012, já controla 70% das transacções americanas e 40% das europeias. Até parece piada. O factor que nos conduziu ao abismo de 2008 (modelos matemáticos) aumentou a sua dimensão e complexidade. Estamos a curar o doente com mais uma dose da doença. Chegou-se ao ponto em que os fluxos financeiros já não estão em mãos humanas. A matemática em forma de máquina (algoritmo) expulsou os corretores, aqueles humanóides que gesticulavam nas bolsas.

Tal como Jorge Nascimento Rodrigues escreveu nestas páginas, esta situação parece um filme de ficção científica. Eu acrescentaria que tudo isto soa a distopia científica. Quando a venda e a compra de milhões de obrigações é feita num micro-segundo e sem intervenção humana, é sinal de que já estamos num Admirável Mundo Novo, ou seja, já estamos para lá da moralidade humana, a beijar um mundo pós-humano liderado por uma mentalidade técnica e científica que é intrinsecamente amoral. Aliás, esta amoralidade científica ficou evidente numa reportagem do Financial Times (bastante crítica em relação ao domínio do algoritmo no sistema financeiro). Na Terra do Nunca do geek financeiro, a Financial Computing Centre, em Londres, o repórter do FT encontrou um grupo de matemáticos que vive num mundo virtual de fórmulas e linguagem de computador. Muitos destes matemáticos assumem que este paradigma financeiro cria enorme volatilidade, mas também dizem que não estão preocupados com isso. Porquê? Porque só eles podem resolver essa instabilidade provocada por modelos matemáticos. Um dos alunos chega mesmo a declarar que essa instabilidade o coloca "numa situação muito boa". Ou seja, aquelas cabeças criam a doença e o antídoto ao mesmo tempo. Pior: naquelas cabeças, as economias e as sociedades reais não existem, porque tudo é um jogo de abstracção matemática. É chocante a forma como desprezam as consequências que as suas fórmulas têm na vida real (o subprime não lhes pesa na consciência). E tudo isto vem embrulhado na típica arrogância tecnológica da espécie. Um aluno anuncia um futuro em que os bancos serão controlados por algoritmos: "não será precisa qualquer intervenção humana", diz Michal Galas. O facto de a crise de 2008 ter sido causada por esta arrogância informática e matemática é algo que não afecta a fé científica destes indivíduos. Não por acaso, o director da escola, Philip Treleaven, revela a velha snobeira epistemológica das ciências quantitativas. Segundo o rei dos geeks, apenas os algoritmos e demais bicheza matemática garantem um conhecimento efectivo não apenas da finança, mas de qualquer campo de estudo, inclusive música e política ("computational politics"). Esta petulância quantitativa não é nova. O que é novo é o contexto: o centro financeiro do Ocidente deixou-se tomar por cientistas que produzem fórmulas que, como já vimos, são válidas em qualquer parte do universo com a excepção de um lugar: a sociedade humana, a história humana.

O velho debate girava em torno de quem defendia a superioridade moral da economia aberta e em torno de quem apontava o dedo à imoralidade intrínseca do "capitalismo". Sucede que esta finança de geeks e algoritmos não toca no debate moralidade/imoralidade. Porquê? Porque é um sistema intrinsecamente amoral. O seu problema não é a imoralidade da ganância, mas a amoralidade da hubris científica. E isto é um desafio novo. Um desafio que, além de causar desastres financeiros, coloca em causa dois pressupostos clássicos das sociedades liberais. Em primeiro lugar, destrói o princípio da fiscalização. Nós sabemos como fiscalizar a boa e velha ganância dos Gordon Gekkos: a montante, existem reguladores e, a jusante, existem tribunais. Mas como é que se fiscaliza um algoritmo que é incompreensível para 99,9999% dos seres humanos? A opacidade do HFT corrói a necessária transparência e previsibilidade da sociedade liberal. Em segundo lugar, a superioridade da economia aberta, cosmopolita e comercial ("capitalismo" no calão marxista) sempre assentou na sua intrínseca humildade. Adam Smith não inventou nada, apenas constatou um facto: o ser humano procura acumular riqueza para proteger a sua família ("propriedade privada" no calão marxista). Quando desprezam esta simplicidade moral do ser humano, os sistemas económicos falham. O marxismo falhou, porque era um modelo inadequado a seres humanos. Talvez a arrogância científica do marxismo funcione noutro planeta, tal como este mundinho financeiro de geeks e algoritmos.



Ensaio publicado no Expresso de 27 de Abril



Ler mais: http://expresso.sapo.pt/adam-smith-queimaria-esta-malta=f725792#ixzz1urXGUK18

«134

Comentários

  • 81 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    O problema não está no capitalismo, (neo)liberalismo e outras definições vagas e sim na ganância humana. Sempre haverá esquemas de pirâmides e correntes criados por espertos e muitos otários para se deixar iludir.

    Ou governos achando que podem criar prosperidade com financiamentos sem garantia, com aconteceu nos EUA e levou à atual crise (o governo obrigou as financeiras a emprestar dinheiro mesmo a quem não tinha como dar garantias).

    Ou governos demagógicos que distribuem dinheiro sem garantias de que ele será usado para finalidades produtivas ou para construir o futuro. Adivinhem quais países europeus estão em pior situação nesta crise?

    O capitalismo existe há mais de 500 anos, passou por muitas bolhas especulativas ao longo da história e vai passar por outras.

    Post edited by Fernando_Silva on
  • Fernando, suas palavras são conhecidas mesmo se não as estivesse escrito agora. Mostra coerência, mas evita pensar sobre o que foi exposto neste texto especifico

    Nota: 500 anos ou 800 anos, Roma ruiu. Homens livres acabaram servos (feudalismo).
    Você prevê o futuro? Digo já que eu não prevejo o futuro.


    Fernando_Silva disse: O problema não está no capitalismo, (neo)liberalismo e outras definições vagas e sim na ganância humana. Sempre haverá esquemas de pirâmides e correntes criados por espertos e muitos otários para se deixar iludir.

    Esqueça a guerrilha que existe por aí contra o capitalismo, não o necessita defender.

    A ganância humana à luz do que é dito no texto tem consequências devastadoras para toda a humanidade.
    Temos o dever moral de pensar um sistema que limite os efeitos desta ganância.
    Nem necessitamos ir muito longe, basta pegar o liberalismo.
    Dizem que vivemos numa sociedade liberal, mas será verdade?
    O titulo do texto diz tudo: Adam Smith queimaria esta malta



  • Mig29Mig29 Membro
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Fernando_Silva disse: Ou governos achando que podem criar prosperidade com financiamentos sem garantia, com aconteceu nos EUA e levou à atual crise (o governo obrigou as financeiras a emprestar dinheiro mesmo a quem não tinha como dar garantias).

    Porquê isto foi possível?

    Porquê continua sendo possível?

    Fernando_Silva disse: Ou governos demagógicos que distribuem dinheiro sem garantias de que ele será usado para finalidades produtivas ou para construir o futuro. Adivinhem quais países europeus estão em pior situação nesta crise?

    Você parece um comunista europeu a falar. Sirva-lhe de lição seu comuna.
    Brincadeira à parte. Na Europa a ordem era apostar numa economia do futuro, dita de serviços. Os opositores eram essencialmente os comunistas.
    Os factos vieram dar-lhes razão.

    A grande falha na Europa é ausência de estrutura federal. Na UE tomaram-se medidas estratégicas como se existisse esta estrutura federal para as suportar. Deu no que deu.
    Post edited by Mig29 on
  • Pergunto se o seguinte vos faz sentido.

    Na Europa é um erro tentar limitar o déficit a uma % do PIB invés de gastar-se menos do que a receita disponível.

  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse: Nota: 500 anos ou 800 anos, Roma ruiu. Homens livres acabaram servos (feudalismo).
    Você prevê o futuro? Digo já que eu não prevejo o futuro.

    Não tenho como prever o futuro, mas o passado mostra que, sem livre iniciativa e sem propriedade privada, a coisa não funciona.

  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse: Pergunto se o seguinte vos faz sentido.

    Na Europa é um erro tentar limitar o déficit a uma % do PIB invés de gastar-se menos do que a receita disponível.

    Acho que sempre fará sentido gastar só o que se tem. É o que no Brasil se chama a Lei de Responsabilidade Fiscal.

    Ou o que era conhecido por aqui como "economia de português de botequim": 'Entrou X, minhas despesas são Y, só posso dispor de X-Y. Ponto final".
  • Porra, Mighell, não esperava um texto tão sensato e coerente.
    "In any case, what westeners call civilization, the others would call barbarity, because it is precisely lacking in the essential, that is to say a principle of a higher order." - René Guénon
  • Fernando_Silva disse: Não tenho como prever o futuro, mas o passado mostra que, sem livre iniciativa e sem propriedade privada, a coisa não funciona.

    Nem que seja escravizando os homens, tornando-os propriedade privada :)

    Fernando, a livre iniciativa é inerente à natureza humana. Todos somos empreendedores na auto-sobrevivência. Temos um fim em si não um meio.
    A propriedade privada é menos relevante. Vejo-a como instrumento organizacional.
    Um meio necessário e não um fim em si.




  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse: A propriedade privada é menos relevante. Vejo-a como instrumento organizacional.
    Um meio necessário e não um fim em si.

    Já dizia Aristóteles: "Ninguém cuida direito daquilo que é de todos".
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse: Mas como é que se fiscaliza um algoritmo que é incompreensível para 99,9999% dos seres humanos? A opacidade do HFT corrói a necessária transparência e previsibilidade da sociedade liberal.

    Talvez fiscalizando-se os ganhos e não as operações. Mas nada impede que, a despeito da velocidade das transações, o algoritmo seja analisado.

    Por outro lado, não há nada de intrinsicamente errado em se ganhar dinheiro com compra e venda de ações, seja no grito, como antigamente, seja por meio de um algoritmo, e sim nas possíveis consequências deste método se usado sem limites. E isto se aplica a qualquer outra atividade humana legítima.
  • Mig29Mig29 Membro
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Fernando_Silva disse: Por outro lado, não há nada de intrinsicamente errado em se ganhar dinheiro com compra e venda de ações, seja no grito, como antigamente, seja por meio de um algoritmo, e sim nas possíveis consequências deste método se usado sem limites. E isto se aplica a qualquer outra atividade humana legítima.

    Existe uma diferença entre o agir grito e deixar rolar um algoritmo.
    Você não intui nenhuma importante diferença?

    Post edited by Mig29 on
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Mig29 disse:
    Existe uma diferença entre o agir grito e deixar rolar um algoritmo.
    Você não intui nenhuma importante diferença?
    O algoritmo é mais eficiente, o que não é um problema. Talvez você queira dizer que ele foge ao controle humano.

  • O grande problema, a meu ver, é a criação de produtos complexos, aplicações que na verdade são criadas de forma a ficarem impossíveis de serem compreendidas por qualquer pessoa. Como os tais derivativos. A coisa chegou num ponto tão absurdo que várias carteiras de títulos compravam títulos podres apenas para ganhar no seguro de inadimplência. Ora, isso, além de ilegal, é como o esquema da pirâmide, onde se lucra num primeiro momento e se joga o prejuízo para os que vem depois. Isso não é capitalismo e sim roubalheira pura e simples (talvez não tão simples, mas roubalheira igualmente).
    Assistam o filme "Inside Job", para entender como o mesmo grupo de causou a quebra de 2008 ainda se mantêm no poder.
  • ufka_Cabecaoufka_Cabecao Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Os magos matemáticos do mundo financeiro não são os únicos culpados pela crise de 2008, mas estão, sem dúvida, no pódio da culpa. Estes geeks dos modelos matemáticos criaram um mar de dinheiro irreal, sem relação com a actividade económica. Este planeta da abstracção financeira, habitado por algoritmos e derivados, chegou a ser 40% mais rico do que o PIB real do mundo inteiro. Em 2006, o PIB de todos os países do mundo era de 48,6 triliões de dólares, mas o valor de acções e derivados estava nos 67,9 triliões (contas de Niall Ferguson). Os famosos "activos tóxicos" escondiam-se - e escondem-se - nestes 40% de malabarismo financeiro. De forma surreal, esta feitiçaria matemática criou uma torre de marfim que está tão distante de Adam Smith como de Marx. Isto já não é liberalismo ou "capitalismo". Isto é geekismo.


    O mercado de derivativos e um bode expiatorio facil, uma vez que instrumentos complexos foram usados nas transacoes que precederam a crise e que a maioria das pessoas nao entende como eles funcionam.

    Isso nao quer dizer que eles sirvam apenas para executar fraudes e/ou transacoes excessivamente arriscadas.

    Eles sao veiculos que podem ser usados para diversos fins. Assim como um carro pode ser usado como carro bomba, opcoes exoticas podem ser usadas para encobrir grandes trapacas. Mas isso nao quer dizer que sejam usadas apenas para isso.

    Existem varios erros comuns que decorrem de comparacoes estapafurdias.
    Nao faz sentido comparar o PIB com a soma dos valores nominais constando em contratos contingenciais.
    Criar um contrato contingencial nao cria valor, porque eles sao apostas. Se eu aposto 10 reais com voce sobre o resultado de um jogo, e nos criamos um papel dizendo que o valor apostado e 10 reais, voce pode dizer que o valor do mercado de apostas que nos criamos e 10, mas na verdade ele e zero. Alguem vai ganhar o que o outro vai perder. Isso fica mais facil de entender se considerarmos o seguinte.
    Imagine que nos facamos outra aposta. Agora eu aposto 10 reais no seu time, e voce 10 reais no meu time. Qualquer resultado que ocorra ninguem ganha mais nada, pois as duas apostas obviamente se anulam. Mas existem dois documentos no valor nocional de 10 reais cada um. Num certo sentido (idiota) o mercado de apostas tem 20 reais em valor agora, mesmo que na verdade ele se cancele completamente.

    O mercado de derivativos funciona exatamente assim. Bancos ou outras entidades emitem "instrumentos" que sao basicamente apostas em certos cenarios. E para se proteger dos riscos eles criam outros instrumentos que consistem em apostas contrarias aquelas que eles fizeram. Isso e o que se chama "hedging". Hedging significa eliminar ou reduzir o risco das suas posicoes fazendo operacoes opostas.
    Porque eles fazem isso? Porque existem pessoas que estao interessadas em comprar certos riscos por razoes especificas a elas. O que o banco de investimentos faz e apenas redistribuir o risco, tentando guardar o minimo de risco para si mesmo, e ganhando ao cobrar uma taxa extra em cada uma dessas operacoes.

    Redistribuir risco e de certa forma criar riqueza, se feito de forma eficiente. Certos riscos sao melhor absorvidos por alguns setores do que por outros, devido a natureza do que cada setor faz. A possibilidade de comprar ou vender risco permite a setores usar suas informacoes privadas de maneira mais eficiente.
    Por exemplo, uma empresa de avioes pode se proteger de uma alta de combustiveis comprando opcoes de petroleo. E elas fazem exatamente isso. E exatamente o mesmo principio por tras da compra de diversas apolices de seguros por individuos e empresas. A diferenca e que sao seguros baseados em quotacoes financeiras de comodities, dividas ou acoes. (E que voce pode comprar seguros para eventos que nao te dizem respeito, e comprar uma quantidade indefinida de seguros para o mesmo evento...)

    Em principio esse mercado pode adquirir qualquer volume nominal. Ele nao precisa guardar qualquer proporcao com o PIB real. Assim como eu e voce podemos fazer infinitas apostas que se cancelem mutuamente, criando um mercado de apostas de trilhoes de dolares sem que cada um possua um patrimonio de trilhoes.

    Na crise varios erros foram cometidos. E talvez os derivativos tenham servido para tornar esses erros menos detectaveis. Isso tudo e discutivel. Mas dizer que o mercado de derivativos nao gera valor sem ao menos entender o que ele faz e completamente despropositado.

    Num sentido geral, nao ha valor num contrato. Um contrato e um documento criado quando duas partes valorizam alguma coisa de maneira diferente, e decidem fazer uma troca baseada nessa avaliacao.
    Afetar valor monetario nominais a contratos e uma operacao que faz sentido para a contabilidade de um agente individual ou de uma empresa, mas nao faz sentido numa economia inteira, pois a "economia" inclui a contra-parte do contrato, para quem o contrato tem valor simetrico.

    E incrivelmente irritante ver economistas fazendo esse tipo de erro babaca.

    Post edited by ufka_Cabecao on
  • ufka_Cabecaoufka_Cabecao Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Antes de 2008, os tais modelos matemáticos diziam que uma crise de liquidez era virtualmente impossível. Resultado? A relação entre dinheiro-em-caixa e activos-financeiros-garantidos-por-dívida podia ser de 1 para 19. Foi o que aconteceu à Long-Term, empresa de dois prémios Nobel de Economia, Scholes e Merton. Esta empresa tinha 6,7 mil milhões em depósito, mas possuía 126 mil milhões em bens gerados na ficção financeira. Porquê? Porque os computadores diziam que uma crise de liquidez era uma impossibilidade até ao fim do universo. Problema? Estas fórmulas funcionavam com dados dos últimos cinco anos. Portanto, aquela absoluta certeza científica (repito: a crise do subprime era impossível até ao fim do universo) assentava num cálculo que apenas contemplava dados dos últimos cinco anos. Como é que um cientista pode ser tão irracional? Depois do caos de 2008, um dos geniozinhos da Long-Term disse o seguinte: "se eu tivesse vivido a crise de 1929, estaria em melhores condições para perceber os acontecimentos". Os geeks sabem muito de matemática, mas nada de história. E o habitat da economia é a história, e não a matemática.


    Esse trecho nao e completamente falso.

    E preciso ceticismo redobrado com relacao a modelos criados para acomodar fenomenos complexos e calibrados com dados historicos se experimentos controlados nao sao facilmente reproduzidos para testar a robustes dos modelos descritivos.

    Esse e um problema epistemologico bastante conhecido.

    Quando o conhecimento a priori e limitado, e dificil saber o tamanho do risco ao qual se esta exposto.

    No caso do LTCM, a crenca que suportava a posicao altamente alavancada do fundo era a de que os diferentes tipos de junk-bonds que eles tradavam eram fracamente correlados, e que se eles diversificassem seu portfolio eles poderiam eliminar completamente o risco, permitindo assim alavancagens absurdas. Quando a Russia deu default e todo mundo fugiu de tudo que era junk eles perderam a aposta.

    O incidente com o LTCM foi instrumental para ensinar licoes sobre os limites dessas modelizacoes. Mas nao faz sentido crucificar aqueles que erraram, quando ninguem na epoca sabia melhor do que eles para alerta-los ou mesmo apostar contra eles.*

    No final das contas, e muito facil criticar apos o fato.
    Mas no mercado financeiro e facil ganhar muito dinheiro se voce achar que outra pessoa esta fazendo algo estupido.
    Basta fazer um short sintetico das posicoes que ela tomar. Tudo que ele perder voce ganha.
    Mas voce precisa fazer isso ANTES do fato.

    *Ninguem e um exagero. Nassim Taleb e outros aparentemente agiram nesse sentido. As visoes de um sujeito como Taleb podem ser polemicas e discutiveis, mas ao menos ele tem skin in the game. Ele aposta seu dinheiro naquilo que ele percebe ser a irracionalidade de seus colegas. E e por isso que o que ele fala e mais respeitado por todos (ainda que seja completamente distorcido por jornalistas ignorantes avidos para falar mal daquilo que nao compreendem).
    Post edited by ufka_Cabecao on
  • Após 2008, seria de supor que esta arrogância científica desaparecesse do centro da finança. Mas isso não aconteceu. Aliás, o cenário ficou ainda mais lunático. De 2008 para cá, os algoritmos aumentaram a sua presença. O que é um algoritmo? É uma fórmula matemática do tamanho de um camião TIR, uma sucessão de instruções matemáticas que cria um mecanismo-que-pensa-por-si, uma máquina que toma decisões sozinha. O sistema de algoritmos (High Frequency Trading - HFT) controlava menos de 25% das transacções dos EUA em 2008; em 2012, já controla 70% das transacções americanas e 40% das europeias. Até parece piada. O factor que nos conduziu ao abismo de 2008 (modelos matemáticos) aumentou a sua dimensão e complexidade. Estamos a curar o doente com mais uma dose da doença. Chegou-se ao ponto em que os fluxos financeiros já não estão em mãos humanas. A matemática em forma de máquina (algoritmo) expulsou os corretores, aqueles humanóides que gesticulavam nas bolsas.


    Corretores humanos tambem operavam segundo algoritmos.
    Eles executavam ordens que lhes eram passadas por seus clientes.
    "Se o preco passar do 20, vende."
    Esse tipo de instrucao pode ser facilmente executada por um broker eletronico, sem ter que pagar o salario daquele camaradinha que fica gritando no pregao.
    Da mesma forma que computadores baratos tiraram o trabalho de calculadores humanos.
    Computadores tambem permitem que ordens mais complexas sejam executadas, e por isso os algoritmos se tornam maiores.
    Computadores tambem tem tempos de reacao muito mais rapidos aos eventos, o que torna possivel respostas mais rapidas, dai o nome "High Frequency Trading".
    Mas a complexidade dos algoritmos nao muda o fato de que quem os escreve sao seres humanos.
  • Tal como Jorge Nascimento Rodrigues escreveu nestas páginas, esta situação parece um filme de ficção científica. Eu acrescentaria que tudo isto soa a distopia científica. Quando a venda e a compra de milhões de obrigações é feita num micro-segundo e sem intervenção humana, é sinal de que já estamos num Admirável Mundo Novo, ou seja, já estamos para lá da moralidade humana, a beijar um mundo pós-humano liderado por uma mentalidade técnica e científica que é intrinsecamente amoral. Aliás, esta amoralidade científica ficou evidente numa reportagem do Financial Times (bastante crítica em relação ao domínio do algoritmo no sistema financeiro). Na Terra do Nunca do geek financeiro, a Financial Computing Centre, em Londres, o repórter do FT encontrou um grupo de matemáticos que vive num mundo virtual de fórmulas e linguagem de computador. Muitos destes matemáticos assumem que este paradigma financeiro cria enorme volatilidade, mas também dizem que não estão preocupados com isso. Porquê? Porque só eles podem resolver essa instabilidade provocada por modelos matemáticos. Um dos alunos chega mesmo a declarar que essa instabilidade o coloca "numa situação muito boa". Ou seja, aquelas cabeças criam a doença e o antídoto ao mesmo tempo. Pior: naquelas cabeças, as economias e as sociedades reais não existem, porque tudo é um jogo de abstracção matemática. É chocante a forma como desprezam as consequências que as suas fórmulas têm na vida real (o subprime não lhes pesa na consciência). E tudo isto vem embrulhado na típica arrogância tecnológica da espécie. Um aluno anuncia um futuro em que os bancos serão controlados por algoritmos: "não será precisa qualquer intervenção humana", diz Michal Galas. O facto de a crise de 2008 ter sido causada por esta arrogância informática e matemática é algo que não afecta a fé científica destes indivíduos. Não por acaso, o director da escola, Philip Treleaven, revela a velha snobeira epistemológica das ciências quantitativas. Segundo o rei dos geeks, apenas os algoritmos e demais bicheza matemática garantem um conhecimento efectivo não apenas da finança, mas de qualquer campo de estudo, inclusive música e política ("computational politics"). Esta petulância quantitativa não é nova. O que é novo é o contexto: o centro financeiro do Ocidente deixou-se tomar por cientistas que produzem fórmulas que, como já vimos, são válidas em qualquer parte do universo com a excepção de um lugar: a sociedade humana, a história humana.


    Nhenhenhenhem sem sentido.
    Se computadores e matematica tornam operacoes financeiras mais eficazes, eles devem ser usados. Assim como eles sao usados para desenhar avioes mais eficazes.

    Crises tem aspectos endogenos, criados pela difusao e repeticao de expectativas irracionais entre agentes do mercado, e aspectos exogenos, incentivos criados por leis e outros fenomenos exteriores ao mercado e que forcam as pessoas a agir num sentido ou em outro.

    Na crise do subprime que culminou nos episodios de setembro de 2008, diversas leis de incentivo a habitacao, assim como as expectativas existentes de que o governo salvaria dividas impagaveis, criaram a influencia exogena para que diversos negocios absurdos se passassem. E dentro do mercado, a complexidade de certos instrumentos derivativos serviu em varias oportunidades para camuflar riscos, assim como os incentivos produzidos por agencias de notacao interessadas em qualificar qualquer tipo de divida como bom negocio, para aproveitar o volume crescente desse mercado.

    Diferentes escolas de pensamento terao diferentes percepcoes a respeito da medida em que esses aspectos endogenos e exogenos contribuem para uma crise especifica.

    Mas o argumento do autor aqui e um apelo a ignorancia completamente desqualificado.
    Simplesmente porque ele nao entende como funciona a matematica/informatica financeira ele a acusa.

    De fato, eu acho que se incentivos nao forem corrigidos muita cagada sera feita, com ou sem tecnologia.
    Bancos nao devem ser salvos.
    O banco central deve ser extinto.
    O livre mercado deve ser o parametro.

    No livre mercado, a quantidade de tecnologia usada em financas sera ajustada para o ponto onde os retornos sao justificados.

    Nenhum banco vai pagar por um "server-farm" como o do Google se nao houver ganhos a se fazer com isso.
  • O velho debate girava em torno de quem defendia a superioridade moral da economia aberta e em torno de quem apontava o dedo à imoralidade intrínseca do "capitalismo". Sucede que esta finança de geeks e algoritmos não toca no debate moralidade/imoralidade. Porquê? Porque é um sistema intrinsecamente amoral. O seu problema não é a imoralidade da ganância, mas a amoralidade da hubris científica. E isto é um desafio novo. Um desafio que, além de causar desastres financeiros, coloca em causa dois pressupostos clássicos das sociedades liberais. Em primeiro lugar, destrói o princípio da fiscalização. Nós sabemos como fiscalizar a boa e velha ganância dos Gordon Gekkos: a montante, existem reguladores e, a jusante, existem tribunais. Mas como é que se fiscaliza um algoritmo que é incompreensível para 99,9999% dos seres humanos? A opacidade do HFT corrói a necessária transparência e previsibilidade da sociedade liberal. Em segundo lugar, a superioridade da economia aberta, cosmopolita e comercial ("capitalismo" no calão marxista) sempre assentou na sua intrínseca humildade. Adam Smith não inventou nada, apenas constatou um facto: o ser humano procura acumular riqueza para proteger a sua família ("propriedade privada" no calão marxista). Quando desprezam esta simplicidade moral do ser humano, os sistemas económicos falham. O marxismo falhou, porque era um modelo inadequado a seres humanos. Talvez a arrogância científica do marxismo funcione noutro planeta, tal como este mundinho financeiro de geeks e algoritmos.


    A moralidade nao desaparece quando a matematica entra em cena.

    A moralidade desaparece quando a responsabilidade sai de cena.

    O capitalismo funciona na medida que cada um arque com os custos e se beneficie dos ganhos de suas decisoes.

    A crise de 2008 diz muito a respeito disso.
    Quando se forma expectativas no sentido de que tomadores de decisao nao serao responsabilizados, eles tendem a tomar as decisoes so olhando para o upside.

    "Matematicos geeks" tomam poucas decisoes consequentes em um banco. Talvez em alguns hedge funds eles tomem mais decisoes, mas em geral seu trabalho e "back office".
    Eles propoe sistemas e modelos e produtos, mas o gatilho e puxado por outros caras.
    E esses caras muitas vezes sabem que num cenario de perdas, eles nao sofreram as consequencias.

    E o mais obvio fator de remocao de responsabilidade no sistema financeiro e o monopolio monetario exercido pelas autoridades dos bancos centrais, que sao colocadas la pelos proprios bancos que elas deveriam regular.

    Isso e tao grotescamente obvio que chega a ser evasivo. E o elefante no salao, que ninguem quer ser o primeiro a mencionar.
  • O grande problema, a meu ver, é a criação de produtos complexos, aplicações que na verdade são criadas de forma a ficarem impossíveis de serem compreendidas por qualquer pessoa. Como os tais derivativos. A coisa chegou num ponto tão absurdo que várias carteiras de títulos compravam títulos podres apenas para ganhar no seguro de inadimplência. Ora, isso, além de ilegal, é como o esquema da pirâmide, onde se lucra num primeiro momento e se joga o prejuízo para os que vem depois. Isso não é capitalismo e sim roubalheira pura e simples (talvez não tão simples, mas roubalheira igualmente).
    Assistam o filme "Inside Job", para entender como o mesmo grupo de causou a quebra de 2008 ainda se mantêm no poder.


    Um aviao a jato tambem nao e compreendido por qualquer pessoa.
    E as vezes um aviao a jato falha.

    A sociedade e complexa e a divisao de trabalho torna cada micro-setor um universo em si.
    Mas confiamos que especialistas aprendam com os erros uns dos outros e aperfeicoem as tecnicas existentes.

    Por alguma razao as pessoas esperam que a aplicacao de certas tecnologias financeiras seja perfeita. Mas ela nao precisa ser perfeita, basta que ela seja melhor do que a nao-aplicacao da mesma.

    Se instrumentos complexos forem mais arriscados do que lucrativos, as pessoas que perdem dinheiro eventualmente parariam de negocia-los.

    Se modelos estatisticos para o comportamento de mercados forem menos precisos do que astrologia, as pessoas que perdem dinheiro parariam de usa-los.

    Se pregoes com corretores gritando forem mais eficazes do que pregoes eletronicos onde algoritmos exeuctam transacacoes, as pessoas migrariam para as versoes antigas.

    Basta que a responsabilidade pelas perdas esteja intrinsecamente atrelada as pessoas que tomam as decisoes para que nao haja necessidade de qualquer debate filosofico a respeito do que e mais moral ou mais justo num mundo ideal.
  • ufka_Cabecaoufka_Cabecao Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Temos o dever moral de pensar um sistema que limite os efeitos desta ganância.


    Sempre que eu escuto esse tipo de imperativo moral se invocado na minha cabeca passa um daqueles filmes relampagos com flashs dos aflitos pelo Holodomor e os cranios do Khmer Vermelho e valas nazistas.

    Essa ideia de dever moral coletivo e o meme mais destrutivo da historia. E a origem de toda violencia politica moderna.

    Ganancia em si nao e um mal. Se a unica coisa que eu posso fazer para ficar rico e trabalhar e oferecer melhores produtos para as pessoas, ganancia e uma excelente coisa.

    Ganancia se torna um problema quando a responsabilidade e removida da equacao. Se eu posso transferir os riscos/custos de minhas decisoes gananciosas para outras pessoas, sem o consentimento delas.

    Isso nao pode ocorrer no liberalismo, exceto atraves de violacao explicita da lei. Mas o mundo das financas esta bem longe de ser o paraiso liberal.
    Ele tem aspectos de livre mercado, no sentido de que certas transacoes explicitas sao livres, mas a elas estao atreladas transacoes implicitas que sao impostas por lei.
    Essas transacoes implicitas sao as garantias que os bancos centrais oferecem aos big shots de que em caso de dificuldades eles podem contar com uma maozinha inflacionaria.

    Como esse poder do banco central subsiste no monopolio conferido pelo governo, os custos inflacionarios sao transferidos para as pessoas, contra a vontade delas.

    Mas isso so e possivel gracas ao cano da arma do governo, e portanto completamente o oposto de um fenomeno de livre mercado.
    Post edited by ufka_Cabecao on
  • ufka_Cabecao disse: Ganancia se torna um problema quando a responsabilidade e removida da equacao. Se eu posso transferir os riscos/custos de minhas decisoes gananciosas para outras pessoas, sem o consentimento delas.
    Aqui se enquadra as instituições financeiras que fizeram grandes apostas especulativas e quando quebraram a cara foram auxiliadas pelo governo com dinheiro público.

    É muito fácil ser ganancioso e apostar alto quando o lucro é privado e o prejuízo é estatizado.


    Come with me if you wanna live.
  • Um aviao a jato tambem nao e compreendido por qualquer pessoa.
    E as vezes um aviao a jato falha.

    A diferença é que um avião a jato NÃO é feito para ser complicado e ininteligível, os derivativos sim. Aquelas equações "sofisticadas" são criadas, única e exclusivamente, para não poderem ser entendidas pelos órgãos de controle governamentais e pelos investidores normais.
  • Cameron disse: Aqui se enquadra as instituições financeiras que fizeram grandes apostas especulativas e quando quebraram a cara foram auxiliadas pelo governo com dinheiro público.

    É muito fácil ser ganancioso e apostar alto quando o lucro é privado e o prejuízo é estatizado.


    Se voce cria um filho de maneira que ele nunca arca com as consequencias de suas acoes, nao e de se admirar que ele desenvolva maus habitos no decorrer do tempo.



  • ufka_Cabecaoufka_Cabecao Moderador
    edited maio 2012 Vote Up0Vote Down
    Rainor disse: A diferença é que um avião a jato NÃO é feito para ser complicado e ininteligível, os derivativos sim. Aquelas equações "sofisticadas" são criadas, única e exclusivamente, para não poderem ser entendidas pelos órgãos de controle governamentais e pelos investidores normais.


    Qual e o seu grau de familiaridade com "aquelas equacoes" para se permitir uma afirmacao dessas?
    Voce ja criou alguma? Aplicou alguma? Resolveu alguma? Leu alguma?

    Nao forme conviccoes absolutas a partir de opinioes de terceira mao.
    Post edited by ufka_Cabecao on
  • Fernando_Silva disse: O algoritmo é mais eficiente, o que não é um problema. Talvez você queira dizer que ele foge ao controle humano.

    Não é. Nenhum algoritmo pode reagir ao verdadeiramente inesperado.
Entre ou Registre-se para fazer um comentário.