uando você argumenta que seus pais só pagam seu cursinho porque trabalham muito, eu não me comovo. Porque o que me comove são as pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais, ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para os filhos
Por Tamara Freire, em seu blog
Querido estudante branco, de classe média, que faz cursinho pré-vestibular particular: eu sei que é difícil quando alguém nos faz enxergar nossos próprios privilégios, mas deixa eu tentar mais uma vez.
Eu (e mais uma penca de gente, me arrisco a dizer) não me importo com o quão “difícil” será para você entrar naquele curso de medicina mega concorrido com o qual você sonha, porque, simplesmente, esta conversa não é sobre você.
Eu sei que praticamente todas as conversas deste mundo são sobre você e você está acostumado com isso, então deve ser um baque não ser o centro das atenções. Mas, seja forte! É verdade: nós não estamos falando sobre você.
Quando você chora pelo sonho que agora parece mais distante de se realizar, suas lágrimas não me comovem. Porque o que me comove são as lágrimas daqueles que nascem e crescem sem qualquer perspectiva para alimentar o mesmo sonho que você. É sobre essas pessoas que estamos falando e não sobre você.
Quando você esperneia pelos mil reais gastos todos os meses com a mensalidade do seu cursinho e que agora se revelam “inúteis”, eu não me comovo. Porque o que me comove são as milhares de famílias inteiras que se sustentam durante um mês com metade da quantia gasta em uma dessas mensalidades. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você argumenta que, na verdade, seus pais só pagam seu cursinho porque trabalham muito ou porque você ganhou um desconto pelas boas notas que tira, eu não me comovo. Porque o que me comove são as pessoas realmente pobres, que mesmo trabalhando muito mais do que os seus pais, ainda assim não podem dispor de dinheiro nem para comprar material escolar para os filhos, quem dirá uma mensalidade escolar por mais barata que seja. É sobre essas pessoas que estamos falando, não sobre você.
Quando você muito benevolente até admite que alunos pobres tenham alguma vantagem, mas acredita ser racismo conceder cotas para negros ou outros grupos étnicos eusa até os dois negros que você conhecem que conseguiram entrar numa universidade pública sem as cotas, como exemplo de que a questão é puramente econômica e não racial, eu não me comovo.
Na verdade, eu sinto uma leve vontade de desistir da raça humana, eu confesso, mas só para manter o estilo do texto eu preciso dizer que o que me comove é olhar para o restante da sala de aula onde esses dois negros que você citou estudam e ver que os outros 48 alunos são brancos. E olhar para as estatísticas que mostram a composição étnica da população brasileira e contatar a abissal diferença dos números. É sobre os negros que não estão nas universidades que estamos falando, não sobre você ou seus amigos.
Se a coisa está tão ruim, que tal propormos uma coisa: troque de lugar com algum aluno de escola pública. Já que não é possível trocar a cor da sua pele, pague, pelo menos, a mensalidade para que ele estude na sua escola e se mude para a dele. Ou, seja a cobaia da sua própria teoria. Já que você acredita que a única ação que deveria ser proposta é melhorar a educação básica: peça para o seu pai investir o dinheiro dele em alguma escola, entre nela gratuitamente junto com alguns outros alunos, estude nela durante 12 anos e então volte a tentar o vestibular. Ah, você não pode esperar tanto tempo?
Então, porque os negros e pobres podem esperar até mais, já que todos sabemos que o problema da má qualidade da educação básica no Brasil não é algo que pode ser resolvido de ontem pra hoje?
Então, por favor, reconheça o seu privilégio branco e classe média e tire ele do caminho, porque essa conversa não é sobre você. Já existem espaços demais no mundo que têm a sua figura como estrela principal, já passou da hora de mais alguém nesse mundo brilhar.
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/08/cotas-estudante-branco-classe-media-conversa-nao-sobre-voce.html
Comentários
Agora "classe média" virou sinônimo de "branco"? Negro de classe média e branco de classe baixa não existem? É engraçado que no Brasil "negro" virou uma espécie de figura de salvação do mundo, como se eles fossem donos do monopólio do sofrimento.
Sou contra a Lei de Cotas, porque é mais uma merda socialista anti-meritocracia e que gerará:
1. Maior risco de piora do nível da pesquisa acadêmica;
2. Os pais, em média, terão mais incentivos para matricularem seus filhos nas porcas escolas públicas. Mais crescimento de matrículas em escolas públicas enfraquecerá nosso avanço no ranking internacional do PISA em relação ao que existiria sem a Lei de Cotas, o que significa piorar o avanço da cura dos males do analfabetismo funcional e de falta de cultura dos brasileiros.
Privilégio de quê, cara pálida? Privilégio é direito, vantagem ou imunidades especiais gozadas por uma ou mais pessoas, além dos direitos comuns dos outros. Nascer numa família mais abastada e depois ser aprovado numa universidade boa é privilégio de quê, se ele (a) não rouba algo de alguém? Isso é como dizer "Oh, meu Deus, Michael Phelps acumulou sozinho dezenove medalhas de ouro, vamos garantir uma distribuição mais democrática das medalhas entre os competidores, vamos obrigar Phelps a só cair na piscina quando os outros já estiverem na metade do percurso. Afinal, ele nasceu nos EUA e só teve bons treinadores e infra-estrutura excelente, blablablá".
Ninguém deve se sentir culpado por ser mais bonito, mais forte, mais alto, mais rápido, mais inteligente. Ou ter nascido numa família que foi capaz de lhe dar casa, comida e escola.
O mundo é naturalmente desigual, sempre será e isto não é culpa de ninguém.
Podrezinhoooooooooooooosssssssssss, ó deus que injustiçaaaaaaaaaaaaaaaaa, vamos matar todas essas pessoas abastadas que podem estudar numa escola melhor, vamos matar também qualquer pobre que lutar e conseguir bolsas de estudo em escolhas particulares, afinal que direito eles tem de ter educação melhor se um monte de outros não tem a mesma capacidade de conseguir bolsas e vão ficar nas porcas escolas publicas?
Pra que lutar pra melhorar a educação publica, que um certo governo incompetente, já a 12 anos no poder não ergueu uma palha para melhorar, apesar de ser sua obrigação por ser um "governo do povo", quando podemos simplesmente nivelar por baixo não?
Acho realmente engraçado como palhaças cheias de falsa piedade como a autora desse texto e os idiotas cheios de suposta "consciencia social" que o divulgam, perdem seu tempo expalhando baboseira patética como esses pela internet, ao invéz de cobrar o governo que eles apóiam, em melhorar a educação publica, pela qual todos pagamos caro em impostos, para que não exista esse cenário de discrepância tão grande no nível do aprendizado.
Honestamente querosaber e Tamara Freire (parente do outro Freire que também fode a educação?) vão tomar naquele lugar, novamente: O GOVERNO E PARTIDO QUE VOCÊS APÓIAM ESTÁ A 12 ANOS NO PODER, QUE MERDA ELE FEZ PELA EDUCAÇÃO ATÉ AGORA? RESPONDE POR FAVOR!
Já que não conseguem fazer nada para melhorar a educação do povão "inguinnoranti", vamos é atacar quem não precisa se submeter a esse sistema falido de educação publica né?
Ser pobre e miserável no Brasil virou moeda de prestigio, se você tem algum problema que possa causar peninha em alguém, ótimo, quem sabe na piedade alguém te dá uma esmolinha né? E ainda dá pra sair por ai falando pra meio mundo cheio de orgulho o como você é um coitadinho.
Puta merda viu, essa gente só pode ser retardada, a gente se mata pra ter uma vida melhor, paga imposto pra caralho, não tem nenhum beneficio de volta e ainda leva bordoada porque quer dar uma vida melhor pros nossos filhos, ainda tenho que ouvir uma ridícula dessas me dizer que eu ou supostamente as outras pessoas como eu estão dando a minima se ela se comove comigo ou não, tomar no meio do orificio, eu não quero comoção nem pena de ninguém, corro atrás do que preciso ao invéz de ficar esperando esmolinha.
Agora não é mais ricos x pobres, é qualquer um que não seja pobre contra os pobres, se eu não sou pobre devo me sentir uma merda por ter melhores condições, por ter melhor educação, por ser melhor em qualquer coisa. O certo é ser que nem os artistinhas da Grobo, moram em apartamento de mais de 1 milhão em bairro nobre e fica fazendo propagandinha socialista pra sentir menos peso na consciência.
De novo: VAI TOMAR NO SEU TUBO.
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
Corte seus braços e pernas e de pra ele, assim você se sentirá melhor.
É impressionanente a cada texto seu você consegue de novo e de novo mostrar o tipo de lixo humano que você é, não passa de um merdinha cheio de falsa piedade pelos menos afortunados, só faz isso pra se sentir menos culpado pelo que quer que tenha de melhor na sua vida que eles não tem!
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
As pessoas gostam de pensar em termos de uma justica cosmica, mas a realidade e feita por circunstancias que nem sempre sao justas.
Algumas pessoas sao mais inteligentes, atraentes, talentosas, sociaveis, comunicativas ou simplesmente nascem em familias mais ricas e melhor equipadas para prover educacao e contatos sociais do que outras pessoas.
Isso talvez nao seja politicamente bonitinho, mas e a realidade. E e uma realidade que afeta as oportunidades que cada pessoa encontra.
Negar essa realidade, ou tentar contorna-la atraves de politicas de equalizacao de oportunidades, e incidir sobre todos um enorme custo que nao pode ser ignorado.
O candidato rico a faculdade de medicina, por exemplo, provavelmente recebeu um enorme investimento privado em termos de educacao, investimento que seria jogado no lixo se esse candidato fosse preterido em nome de um candidato menos preparado.
Nao importa que ele em si nao tenha todo o “merito” de ser o melhor candidato, as circunstancias de sua infancia sendo mais favoraveis. O que importa e que ele esta melhor preparado e que em virtude disso demandara menos esforco para se transformar num medico capacitado a atender a populacao.
Resultados no mundo real sao uma mistura complexa de merito e circunstancias, e isso nao pode ser modificado por simples vontade politica.
O livre mercado permite que individuos acessem essas circunstancias e aloquem recursos de maneira eficaz, i.e., minimizando desperdicios desnecessarios de recursos escassos. Essa alocacao pode ate considerar o merito na forma de esforco pessoal como um fator, mas de certo nao e o que e mais determinante na maioria dos casos. Entre um medico esforcado porem incompetente e um cirurgiao playboy brilhante a escolha e obvia.
Educacao e um recurso escasso. Leva-se tempo e recursos humanos e materiais para que um individuo saia do estado de ignorancia e percorra todo o caminho ate se tornar um doutor em medicina. Nao e uma simples questao de escolha social.
Tentar mudar isso na porta da faculdade apenas prejudica as coisas.
Está caricato demais. Muito forçado. Estou começando a desconfiar que o Nãoquerosaber é um brincalhão, um gozador, que se diverte vendo as reações que suas postagens provocam. Ninguém pode ser tão tolo assim...
Pois é. A imbecilidade do texto não merece tanto esforço. Existem milhões de brancos pobres, que nunca terão a oportunidade de estudar em boas escolas ou fazer cursinhos, mas essas pessoas são completamente ignoradas por idiotas politicamente corretos.
Não querendo defender o governo federal, mas uma coisa precisa ser dita: Se o governo federal está a doze anos sem se importar com a educação, o governo estadual esta a VINTE ANOS tendo descaso com a educação. Nao se esqueça que foi no governo PSDB que se instaurou a progressão automatica onde os alunos passam de ano sem saber absolutamente NADA!!. Foi a partir do governo PSDB que os alunos passaram a ter mais importancia e autoridade que os professores.
Portanto, sem defender nem um nem o outro, temos que ver o que os dois lados fizeram de errado e denunciar. Eu não morro de amores pelo PT, mas o PSDB, em minha visão, é um mal muito pior.
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O PT é um partido formado por ex-terroritas e pela corja mais corrupta que já ocupou cargos publicos e ainda se disfarça sob a bandeira de "governo do povo", o PSDB por mais que seja mais do mesmo lixo, pelo menos não mostra os indicios de totalitárismo e vontade de destruir qualquer partido ou oposição como o PT faz.
O PSDB fez merda e muita, FHC fez merda e muita, PT até agora não ergueu um dedo pra concertar, ambos preferem cidadão burro e fácilmente manipulável.
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
Amém.
OS 10 MITOS SOBRE AS COTAS
1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.
Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação de direitos são, portanto, constitucionais e absolutamente necessárias.
2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.
Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.
3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade do ensino público no país.
É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenciais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a universidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfaticamente de forma simultânea.
4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades.
Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. Por outro lado, como também evidenciam numerosas pesquisas, o estímulo e a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico.
5- a sociedade brasileira é contra as cotas.
Diversas pesquisas de opinião mostram que houve um progressivo e contundente reconhecimento da importância das cotas na sociedade brasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidades federais, segundo ANDIFES, já é favorável às cotas. Pesquisas realizadas pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas das mais importantes associações científicas do Brasil, bem como em diversas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade acadêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursos denominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenharia etc). Alguns meios de comunicação e alguns jornalistas têm fustigado as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso não significa, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.
PARA LER MAIS http://marivalton.blogspot.com.br/2012/08/os-10-mitos-sobre-as-cotas.html
Concordo com você em muitos aspectos, mas sou obrigado a discordar dessa última frase. Creio não ser possível existir um mal maior que o PT, em se tratando de democracias. Cruzando essa linha, estaríamos falando de ditaduras, aí sim, um mal maior.
Essa conversa sim é sobre vocês
O meu texto defendendo a adoção das cotas recebeu uma avalanche de comentários. De início, eu prometi responder a todos, mas nunca imaginei que seriam tantos. De modo que escrevo este texto para esclarecer pontos comuns que grande parte dos comentaristas questionou ou não entendeu.
Primeiro, a respeito da própria natureza do texto. Ao contrário do que pode parecer, não foi um texto sobre as cotas em sua totalidade, mas um texto com um recorte, a respeito do privilégio branco e classe média e o comportamento de tais privilegiados diante da política de cotas. Este não é o cerne da discussão sobre as cotas, muito menos o único argumento existente para defendê-las.
Segundo, como eu disse, costuma ser bem difícil reconhecer os próprios privilégios e a caixa de comentários não faz nada além de reafirmar isso. Privilégio, aos que não entendem, é basicamente aquilo a que alguém tem direito ou acesso, enquanto outro não tem. Parece simples, mas, na verdade, é preciso, antes, que as pessoas aceitem que não existe ninguém melhor do que ninguém, mais merecedor de nada do que ninguém, especialmente quando falamos de políticas públicas.
Pois bem, na prática, isso significa pensar que o traficante da favela, por ser tão cidadão brasileiro como eu e você, merece ser tratado pela justiça com a mesma lisura que eu e você. Ou que o casal gay, sendo eles tão pessoas como quaisquer outras, merece se beijar em público, adotar filhos e se casar, assim como um casal heterossexual. Mas nós sabemos que a realidade não é essa: o próprio Estado, ao impedir que homossexuais se casem, por exemplo, exclui um sem número de pessoas de direitos que deveriam ser acessados por todos e eu acho que eu nem preciso falar sobre o que o senso-comum diz a respeito de casos como os citados, não é? Pois bem, é nesta realidade que se calcam os privilégios.
Voltando ao assunto do texto anterior. Hoje, estudar em uma universidade pública ainda é um privilégio. Não há vagas para todos, ao contrário: para apenas uma ínfima parte da nossa população. É um privilégio, ao passo que a educação é, na verdade, um direito que deveria ser garantido pelo Estado a todos os seus cidadãos. Quando chegamos a uma universidade (acreditem, senhores comentaristas, eu não sou uma estudante negra de ensino médio que estou defendendo as cotas apenas por que quero uma vaga. Eu já sou graduada em uma universidade federal, inclusive) nós percebemos que esse privilégio, o de estudar em uma universidade PÚBLICA, é da população branca e classe média. Usarei o meu exemplo: quando eu entrei na UFES, fui acompanhada por uma estudante negra e, creio que, por não mais de 15 estudantes pardos. Numa sala de 50 alunos. Entre nós, certamente, não havia nem 5 estudantes provenientes de escolas públicas. As consequências disso, eu não preciso dizer; o IBGE, muito mais gabaritado, faz isso por mim:
“No grupo de pessoas de 15 a 24 anos que frequentava estabelecimento de ensino, houve forte diferença no acesso a níveis de ensino pela população segmentada por cor ou raça. No nível superior, encontravam-se 31,1% dos brancos nesse grupo etário, enquanto apenas 12,8% dos pretos e 13,4% dos pardos.
Ao se observar a posição na ocupação entre brancos, pretos e pardos, observou-se uma maior representação das pessoas que se declararam brancos entre os grupos com proteção da previdência social (empregados com carteira de trabalho assinada, militares e funcionários públicos estatutários), assim como entre os empregadores (3,0% entre brancos, enquanto 0,6% entre pretos e 0,9% entre pardos).”
E isso é o que a gente quer dizer, quando diz que a pobreza tem cara e tem cor. Apesar de eu realmente achar que não há um brasileiro vivo, que não saiba, por vivência, que há mais negros e pardos entres os pobres e mais brancos entre os ricos, parecem que existem sim – entre os comentaristas do último post, por exemplo – ignorantes da realidade brasileira nesta medida, então é sempre bom ter uma estatística da manga E, por favor, não me venham com essa ladainha de “riqueza e pobreza é uma categoria que depende do referencial” ou “como definir quem é negro e quem é branco num país miscigenado como o nosso?”, porque, bom, por favor, eu não vou nem responder.
E é aí que chegamos a vocês, os tais brancos, classe-média, estudantes de cursinho particular. Vocês, vejam bem, são os privilegiados de hoje, pelo sistema absolutamente perverso do vestibular. E, ao que podemos notar pelos depoimentos dados em jornais, na internet, e na caixa de comentários deste humilde blog, não fazem a menor ideia de que estudar em uma universidade pública é um privilégio, não um direito natural da “classe” de vocês. Educação é um direito que deveria ser garantido a todos e o Estado brasileiro falha, há muitos anos, ao não conseguir empreender isso. E, ao instituir o vestibular como porta de entrada para as universidades, falha novamente, ao permitir que, por tal sistema, um recorte de classe e de renda tão grotesco se construa dentro das universidades. E o Estado, meus queridos, tem a obrigação de corrigir esses erros. O mais rápido possível. Ao contrário do que muitos de vocês pensam, os negros e pobres não podem mais esperar.
Aos que vaticinam que, então, o Estado deveria melhorar o ensino básico para que esses estudantes pudessem chegar em pé de igualdade com os de escola particular ao vestibular, eu pergunto: porque tanto apego ao maldito do vestibular? Se alguém ainda acredita que a prova de vestibular e seus montes de “conhecimentos” decorados é baliza do conhecimento de alguém, eu tenho alguns educadores muito sérios prontinhos para discordar de você. A educação no mundo inteiro está se adaptando para ser mais inclusiva, mais reflexiva, menos avaliativa e você ainda está aí achando que o bom mesmo é fechar a prova de física? Será que você não reparou que até o vestibular brasileiro está mudando, e abraçando mais o formato de prova do Enem, por exemplo, que valoriza mais o raciocínio e a interpretação e menos o decoreba? De resto, é óbvio que o Estado precisa melhorar o ensino básico, o curioso é vocês estarem batalhando tanto por isso ultimamente, justamente no momento em que sentem suas preciosas vaguinhas sendo ameaçadas por esses “coitadinhos” que estão é com preguiça de estudar as mesmas 10 horas diárias que vocês.
Pra concluir, um esclarecimento: não sei quem disse para vocês que a função primordial da universidade é formar eficientes “engenheiros, médicos e advogados” (curiosamente só são citadas essas profissões, as tais “úteis” para a nossa sociedade). E não sei também quem disse que o requisito indispensável para que isso aconteça é tirar boas notas numa prova de vestibular. A função da universidade é fomentar o conhecimento, é contribuir para a formação plena do cidadão, portanto, caso alguém chegue “despreparado” até suas cadeiras (defina despreparado) não é mais do que obrigação dos profissionais ali lotados, prepará-lo! E não é mais do que obrigação da universidade se abrir de todas as formas possíveis para todas as parcelas da população, com ênfase nos que estão hoje excluídos dela, senão, eu me pergunto: para quem está se fomentando o conhecimento? Que cidadãos, nesse universo excludente, estão sendo formados?
Engana-se quem pensa que a política de cotas trata-se, exclusivamente, de dar oportunidades aos que não têm. É também sobre oportunizar às próprias universidades que reescrevam sua história, que representem, de fato, a sociedade brasileira como ela é e que ajudem, assim, a mudá-la para melhor. Afinal de contas, para que serve o conhecimento, senão para nos levar adiante?
http://tamarafreire.wordpress.com/2012/08/20/essa-conversa-sim-e-sobre-voces/
Concordo com voce em genero, numero e grau.
Sinto dizer que os funcionarios da Secretaria da Educação e da Saúde discordem de voce. Nós somos a categria que mais sofre com esse governo voltado somente para o empressariado.
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Se acha que profissionais eficientes não são necessários, favor ir morar num prédio construido por cotistas que irá desabar, se tratar com um médico que vai te falar que você tem "virose" mesmos se for cancer e contratar um advogado que nunca soube interpretar direito a lei pois nunca soube interpretar textos em primeiro lugar.
Diploma de qualquer tipo é algo que precisa ser merecido, é um reconhecimento ao mérito, não algo que se deve ganhar porque ficou sentado por tempo suficiente, numa cadeira que está em uma sala especifica de um lugar chamado escola.
Eu pessoalmente não fiz superior em estabelecimento publico, paguei parte do meu bolso e a outra parte consegui bolsa, honestamente não vejo porcaria nenhuma de vantagem numa educação superior federal ou o que seja, onde trabalho tem pessoas que estudaram comigo que são as melhores no que fazem e já vi aluninhos de badaladas universidades publicas serem despedidos por completa incompetencia de não saber o básico do básico no trabalho para que foram contratados.
O sistema de ensino publico está todo fodido, FATO. Enquanto isso não for resolvido, pode enfiar quantos cotistas quiser onde quiser que a saida vão continuar sendo profissionais incompetentes. Agora é cota pra entrar, logo vão falar: "Mas os pobres não tem condições de ser aprovados no curso superior que receberam na cota, sua educação básica foi muito ruim, vamos dar o diploma pra eles! Aprovação automática para cotistas já!". No dia que isso acontecer, antes de contratar serviços de qualquer profissional, vou perguntar onde ele se formou, se for em faculdade/universidade publica, não contrato, pois pode ser cotista com diploma esmola.
Não sei quem é pior quem defende a esmola ou quem aceita a esmola.
Também acho engraçado que todo mundo reclama do ensino publico, mas os que mais precisam que ele seja bom, são os mesmos que votam no mais podre lixo para governar o pais. Exmplo: querosaber. Vem aqui postar esses textinhos, mas enquanto for seu partido do coração no poder a não fazer nada para resolver o problema, nenhuma critica dele será ouvida, e ainda vai votar e defender os mesmos merdas para dar continuidade a essa palhaçada.
Pra construir obra faraonica para copa do mundo e olimpiadas tem dinheiro, para dar aumento aos bons professores, não tem né!
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
O vestibular não é perverso. O que está errado é o sistema de educação que faz com que poucos cheguem ao vestibular em condições de concorrer.
Não se deve rebaixar o nível do ensino superior para se adaptar ao nível baixíssimo do ensino básico e sim melhorar o ensino básico.
No mundo inteiro, os candidatos às universidades passam por um processo de seleção. Não vejo por que aqui deveria ser diferente. E a solução, repito, não é baixar o nível e sim melhorar o ensino básico para que, daqui a alguns anos, tenhamos candidatos capacitados.
Se for o Paulo Freire ou similares, esqueça.
Supõe-se que esses alunos cheguem lá já com um mínimo de conhecimentos. Ou vamos começar ensinando a eles as 4 operações?
E como ficam os alunos preparados? Vão ter que aguentar aulinhas baixo nível, adaptadas aos alunos mais fracos?
A universidade NÃO É para todos. Não é necessário que todos consigam um diploma para se tornarem cidadãos plenos. E, sim, a função da universidade é formar bons profissionais e não apenas "cidadãos conscientizados" (leia-se "lavagem cerebral esquerdista") ou coisa assim.
Que cirurgião você escolheria para se operar? O coitadinho que conseguiu se formar a muito custo ou o cara que mostrou capacidade e tirou as melhores notas, independente de como ele conseguiu esta excelência?
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
Minha esposa está penando para ensinar equação à sua sobrinha de 15 anos que está no 8º ano mas mal sabe resolver as 4 operações básicas (sem exagero!).
Disse que quando tirava nota baixa a professora passava "trabalho". Sem contar que escreve igual crinça de 2º ano. Ela veio do interior mas não é desculpa pra chegar no 8º ano com conhecimento de 2º.
E falando sobre cotas...
Ontem meu professor contou sobre cegos que fizeram cursinho e passaram no vestibular em medicina, aí fui contar essa história pra minha irmã, e a primeira pergunta que ela fez foi: "Mas eles não tem cotas?" e eu:"não..." aí veio a segunda pergunta: "Por que eles não tem cotas se deficientes físicos tem muito mais dificuldades do que negros e pobres?"...
Estão tratando pobres e negros como incapazes ao invés de dar uma educação de qualidade.
Me causa asco!
Deveriamos a esta altura já ter entendido a imoralidade e repugnância de tal argumento da inferioridade, mas não, agora o usamos para continuar a discriminar com a desculpa da "justiça social", justiça social é prover as mesmas condições a TODOS, independente de qualquer adjetivo (cor de pele, sexo, religião, a porra que for) que seja colocado no indíviduo. Permita que o negro/branco/amarelo/azul/verde/sei-lá-o-que, pobre e favelado tenha a mesma educação que o filho de magnata e a desigualdade desaba na hora.
Bons professores corretamente remunerados, escolas descentes, aprovação por mérito, matérias aplicadas corretamente sem baboseira ideológica pra ocupar espaço de conteúdo útil. Junte tudo isso e ai sim dá pra começar a falar de acabar com esse poço de ignorância que se tornou esse Brasil.
Mas progressista gosta mesmo é de de pobre burro pra continuar votando neles, assim eles continuam prometendo sem nunca cumprir e o povão nem capaz de perceber isso é!
- “É isto que dá ao comunismo seu peculiar caráter fanático. Tem sido observado que se trata de uma religião secular (ou de uma fé?) que tem seu céu e seu inferno, seus eleitos e seus malditos, seus livros sagrados e os ungidos que podem interpretá-los. De qualquer maneira, o comunismo é um remanescente das seitas religiosas da Idade Média”. Carew Hunt (A Guide to Communist Jargon).
Eu continuo respondendo porque outras pessoas nos lêem e, como já constatei na vida real, este tipo de burrice está muito difundido por aí.
O ponto que todo mundo erra aqui e que se discute o que e “mais justo” num sentido metafisico abstrato, ao inves de se discutir o que concretamente funciona no mundo real.
Meritocracia e em grande parte um artefato retorico. Nocoes meritocraticas podem ser empregadas para a defesa de qualquer tipo de visao, bastando apenas alterar as condicoes de atribuicao de merito.
Por exemplo, a questao do merito na entrada da universidade. O branco de classe media bem escolarizado pode ter mais ou menos merito do que o negro de classe baixa e pouca instrucao, dependendo de como cada avaliador atribua os pesos para as diferentes dificuldades que cada um deles enfrentou.
Mas a questao importante no mundo real nao deveria ser como determinar um criterio objetivo para atribuicao de merito. Isso e um debate completamente esteril.
O que importa e como melhor aproveitar os recursos ja existentes.
No caso temos um estudante A que esta melhor preparado do que B para se tornar um medico, ou seja, que exigira uma menor mobilizacao de tempo, pessoal e outros recursos escassos, para adquirir uma formacao profissional.
Guardadas constantes outras variaveis, A, por simples decisao racional, deve ser prioritariamente educado, caso disponhamos de apenas uma vaga disputada por ambos.
Em outras palavras: custa menos caro fazer os pequenos ajustes que tornam um adolescente playboy com uma educacao privada razoavel num medico do que um favelado com grandes lacunas no seu aprendizado.
Essa logica parece fria mas e a forma mais eficaz de se aproveitar algo que ja existe: o diferencial de educacao.
As universidades deveriam ocupar-se justamente disso: de fornecer educacao superior aos que estao melhor preparados para ela.
O percuso academico de um estudante ate a universidade nao e insignificante. Os exames de qualificacao e processos de selecao permitem distinguir quais estudantes estao melhor adequados aos ensinamentos que seriam ministrados nos cursos daquela instituicao. Acreditar que apenas forca de vontade e merito pessoal fariam um pobre coitado esforcado sobreviver as demandas de um curso de medicina de elite nao esta muito distante de acreditar em contos de fadas.