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Tópico para as ecas da esquerda .

Os 'cães de guarda' contra-atacam
“Neoconservadores” à brasileira atacam ideias distributivas da esquerda, na defesa do capitalismo.

Apresentador do Jornal da Globo, William Waack: visão geopolítica pós-militarista.
Por Reinaldo Lobo*

Eles estão em toda parte. Como gafanhotos vorazes, ocupam espaços na cultura, nas ciências humanas, na imprensa, na TV, no rádio, nas universidades em geral, entre os chamados "formadores de opinião". São os "neoconservadores" à brasileira, cuja missão é desconstruir o que consideram o pensamento "politicamente correto" de esquerda. Infiltram-se nas brechas e interstícios de vários setores culturais e do poder, porque é isso o que imaginam que a esquerda faz. Seu truque secreto é usar o que pensam ser - depois de uma leitura ligeira de Gramsci - os métodos e a estratégia esquerdista para manter a hegemonia e o mando na sociedade civil e no Estado. Esse é um dos seus grandes equívocos.

Os "neocons", como alguns gostam de ser chamados, reúnem desde filósofos (Denis Rosenfield, Luiz Felipe Pondé), sociólogos e geógrafos (Demétrio Magnoli), historiadores (Marco Antonio Villa), artistas, roqueiros (como o conhecido Lobão), adeptos da geopolítica pós-militarista (como ocorre com um apresentador da Rede Globo, William Waack), humoristas do "infoentretenimento" (Danilo Gentili, Jô Soares) até ensaístas de ocasião (Arnaldo Jabor) e jornalistas da imprensa mais conservadora do País (como Reinaldo Azevedo). Jô Soares uma vez chamou Jabor de "comunista de direita". Essas personagens têm, obviamente, qualificações e talentos diferentes entre si, mas é possível traçar um fio comum - o repúdio às políticas distributivistas e desenvolvimentistas do PT e de quaisquer outros grupos mais socializantes. O máximo que aceitam é a social-democracia à maneira tucana, aliada aos "liberais" dos Democratas (ex-ditadura civil-militar) e com uma base de centro direita.

O neoconservadorismo, como muitos sabem, é uma visão política do mundo inaugurada nos Estados Unidos. Essa corrente ideológica surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial, quando surgiu a Guerra Fria. Desenvolveu-se entre ex-comunistas que passaram da crítica à burocracia soviética e aos horrores do stalinismo para uma posição de direita. Nasceu num meio de jornalistas trotskistas, ao redor da revista "Commentary". Dois dos seus primeiros intelectuais convertidos foram Irving Kristol e James Burnham, esse último autor de um best-seller intitulado "A Revolução dos Gerentes", onde defendia a tese de que as sociedades capitalista e comunista tendiam a se tornar uma coisa só, sob uma administração tecnoburocrática e gerencial. Essa mesma teoria foi defendida na França por Raymond Aron, um franco conservador. Foi a raiz da ideologia da "terceira via", que ressurgiria recentemente na Inglaterra com Anthony Giddens e o primeiro ministro Tony Blair. Mas os neocons dos EUA não hesitavam em aderir ao "modo de produção menos ruim", o capitalismo no sentido estrito. Não é preciso dizer que o auge de seu prestígio foi sob os governos de Reagan e Bush (pai e filho).

Os neocons brasileiros, diferentes dos norte-americanos, são mais sutis na defesa do capitalismo. Preferem apresentar-se como os verdadeiros transformadores e democratas, a partir de uma crítica pretensamente demolidora das ideologias em geral e do socialismo petista em particular. A sua ideologia consiste em se declararem anti-ideológicos. E os seus procedimentos argumentativos são de dois tipos.

O primeiro é a teoria do aparelhamento do Estado, pois o Partido tenderia a se confundir com o poder estatal, como na URSS, sem se considerar que todos os partidos no Brasil colocam, sem exceção, os seus aliados e militantes nos cargos mais importantes. Como o regime do PT e do País está longe de ser uma URSS, esse argumento se liquefaz. Fazem parte da base do governo e da burocracia estatal mais de dez outros partidos e estamos numa democracia. Os atuais membros petistas do governo sempre disputaram eleições livres e assim se mantiveram em uma parte do poder coligado.

O segundo procedimento dos neocons deriva do fato de muitos deles terem migrado da esquerda para a direita, talvez por motivos até semelhantes aos norte-americanos -- "o peso da realidade" da vitória do capitalismo na Guerra Fria e os horrores do stalinismo. Concedamos que seja assim. O seu truque consiste, porém, em inverter os argumentos da esquerda contra ela própria. Assim, tivemos há pouco um artigo do colunista da Folha, R. Azevedo, em que inventa um "racismo de segunda ordem" a ser atribuído a qualquer petista que criticar as decisões erradas do ministro do STF, Joaquim Barbosa. Todos sabem que a luta contra o racismo é uma bandeira histórica da esquerda. O próprio Barbosa já foi chamado pela direita de ministro da "cota de Lula". Nada melhor para os propósitos ideológicos do colunista Azevedo do que "informar", invertendo o racismo da elite, dizendo à população que "racistas" são Lula e o PT. É como a crítica ao programa de cotas - estimularia o "racismo ao contrário", dos negros contra os brancos e criaria uma "elite privilegiada".

Essas figuras decidiram que a melhor defesa do sistema elitista, escondendo suas mazelas, é partir para o ataque. São os falsos rebeldes que desejam destruir os "mitos" da esquerda para impor seus próprios mitos, como a "captura das mentes" e a "infiltração".

O truque é simples, mas tem funcionado e se repete. Um outro articulista, Jabor, só se refere aos adversários como a "velha esquerda", como se ele fizesse parte da nova, a moderna e vanguardista. É bem conhecida a relação de Jabor com a "social-democracia" tucana. E sua luta para se tornar Ministro da Cultura numa pretendida volta dos tucanos ao poder. Há algo de mais velho na praça do que a social- democracia?

Uma característica dos neocons é a de se mostrarem os defensores da modernidade (capitalista, é claro). Ou como a encarnação da pós-modernidade. Todos falam do "atraso" da esquerda e de seu ultrapassamento. Mas as ideologias dos "novos conservadores", em alguns casos, lembram demais a Velha Direita de Joseph de Maistre, da Action Française e das falanges de Mussolini.

Autores um pouco mais sofisticados, como Luis Felipe Pondé, reproduzem aqui no Brasil as idéias do filósofo pessimista inglês John Gray, para quem não existe progresso real na história e a "natureza humana" predatória e violenta só se coaduna com regimes de "alta competição" - como se o capitalismo atual, de monopólios, fosse competitivo! Essa pequena teoria "hobbesiana", evidentemente distorcida, vale para tudo: o capital, o combate ao crime, etc. O paradoxo de Gray -- ele defende a modernidade, mas sustenta, ao mesmo tempo que ela não tem sentido, pois é a maior ilusão vinda do Iluminismo e da noção de progresso. Em seu livro "Straw Dogs (Cachorros de Palha): Thoughts on Human and other Animals", Gray diz que, de Platão à Cristandade, do Iluminismo a Nietzsche, a tradição ocidental tem sido baseada em crenças arrogantes e errôneas sobre os seres humanos e o seu lugar no mundo. Quer retirar o "privilégio" concedido por essa tradição ao homem em relação aos animais e à sua própria animalidade. Filosofias como o liberalismo e o marxismo pensariam a humanidade como uma espécie cujo destino é transcender seus limites naturais. Gray argumenta que essa crença na diferença humana é uma ilusão perigosa. Propõe investigar a vida do homem "da forma como ela se parece", uma vez que o "humanismo foi finalmente abandonado" ( pelo pós-modernismo). Ele pensa ter perturbado nossas mais profundas crenças, mas nada mais faz, na melhor das hipóteses, do que propor uma natureza humana ao modo do século XVIII ou, na pior das hipóteses, à maneira do ultra-conservadorismo pessimista do fascismo. Sua teoria quer-se moderna ou até pós, mas é mais antiga do que andar para a frente.

O filósofo Pondé importa até os cacoetes e ironias de autores como Gray. A frase mais espirituosa do brasileiro é também uma contradição em termos - "O Viagra fez mais pela humanidade do que 200 anos de marxismo". Ora, para quem vê o progresso como ilusão, cabe a pergunta - o Viagra não é progresso? Tecnológico, é verdade, mas progresso? Saibam que o Viagra é perfeitamente compatível com o marxismo e até com o liberalismo. A incompatibilidade só pode ser uma brincadeirinha de mau gosto do filósofo da PUC.

Pessimismo sempre foi uma marca registrada do conservadorismo. É regressivo. Seu corolário é a antiutopia e o conformismo. Mas essa turma tem prestígio e muitos ganham bem para cumprir a função que outrora Paul Nizan, escritor de esquerda vítima do fascismo, chamou de "cães de guarda" do sistema.

* Reinaldo Lobo é psicanalista e jornalista. Tem um blog -imaginarioradical.blogspot.com.

http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=728772&fb_action_ids=10201691257949197&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline&action_object_map=[310651612416424]&action_type_map=["og.recommends"]&action_ref_map=[]
A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
Eu quero a Verdade .
A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
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Comentários

  • 244 Comentários sorted by Votes Date Added
  • Proponho que quem postar a merda mais fedorenta ganhe um prêmio
    A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
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    A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
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  • emmedradoemmedrado Membro
    edited março 2014 Vote Up0Vote Down
    Proponho que quem postar a merda mais fedorenta ganhe um prêmio

    Acho que com esse vídeo eu já venci



    Ironia idiota
    Post edited by emmedrado on
    A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
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    A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
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  • emmedradoemmedrado Membro
    edited março 2014 Vote Up0Vote Down
    er
    Post edited by emmedrado on
    A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
    Eu quero a Verdade .
    A realidade é um conjunto de possibilidades que se concretizou dentro de um universo infinito de possibilidades.
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  • AcauanAcauan Administrador, Moderador
    sybok disse: respeitáveis corporações foram envolvidas em denúncias relacionadas a esse crime.

    E pelo malabarismo com as palavras "envolvidos em denúncias relacionadas a esse crime" se torna equivalente a culpado do crime...
    Acauan dos Tupis
    Nós, Indios.
    Lutar com Bravura, morrer com Honra!
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Judas disse: E de bônus tem o Zé De Abreu cagando pela boca. Esse tópico não terá um ganhador...
    Postei no Facebook o Ferreira Gullar, o Nelson Motta e outros criticando o PT. Reação: "Que autoridade tem esse escritor/ produtor/ etc. de merda para falar de política?!"

    Mas o Zé de Abreu, um simples ator, pode falar as merdas que quiser que será aplaudido.

  • As duas faces do domínio do fato, por Nilo Batista

    sab, 15/02/2014 - 17:43 - Atualizado em 16/02/2014 - 07:33



    Nilo Batista: As duas faces do domínio do fato

    As duas faces do domínio do fato

    Nilo Batista(*)

    Em corajoso artigo, que analisou percucientemente a argumentação expendida pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ação penal nº 470 (ou do assim chamado “caso mensalão”), Alaor Leite demonstrou como o corpus teórico elaborado em torno do conceito jurídico-penal de domínio do fato foi mal utilizado para estabelecer a responsabilidade de acusados que ocupavam postos de comando, e não para intervir em seu próprio campo dogmático de aplicação, ou seja, na caracterização e atribuição da qualidade de autor[1].

    O recente e desventurado episódio que culminou na morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão ativado e lançado ao solo por dois manifestantes, também envolverá a teoria do domínio do fato, como veremos em seguida. Mas é quase certo que a imprensa conservadora, tendo adorado a versão abastardada dessa teoria na fundamentação de condenações no “caso mensalão”, agora já não se entusiasmará com ela.

    Ao lamentável óbito do desventurado repórter seguiu-se implacável campanha pela imediata prisão dos dois manifestantes. Afiaram-se as facas longas para uma noite agitada. O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (rectius: Jornalismo Judicante) pedia a condenação dos manifestantes antes mesmo de que as circunstâncias mais elementares do acontecimento estivessem minimamente investigadas. O Presidente do Senado resolveu incluir na pauta de votações uma absolutamente desnecessária (como procurei demonstrar em outra ocasião[2]) lei sobre terrorismo, cuja única utilidade residirá na criminalização de movimentos sociais e reivindicações políticas. O Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro retornou a sua tese de criminalizar o uso de máscaras, tal como Carlos V fez em Valladolid há quase cinco séculos atrás[3]. Editoriais, entrevistas e artigos, às vezes permeados por um olhar suspeitoso sobre a advocacia dos manifestantes, completam a irrespirável atmosfera do fascismo punitivista operando a todo vapor na grande causa que supõe ter em mãos.

    O sistema penal emite sinais de que está disposto a exercer o papel que a mídia – não a Constituição da República – lhe prescreve. A prisão cautelar de um suspeito que se apresentou à polícia, concedeu entrevista à TV Globo – sem qualquer advertência acerca de seu direito de ficar calado, de não produzir prova contra si mesmo – e confessou em rede nacional que passou a outro manifestante o rojão, essa prisão cautelar não tem as orelhas, os olhos e o focinho de uma pena antecipada? E o que dizer da espetaculosa condução coercitiva de familiares do outro indiciado, o que acendeu e colocou no chão o rojão, só explicável como aterrorização para que ele se entregasse logo?

    Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a mais delicada questão jurídico-penal que este caso oferece não residirá no dilema dolo eventual/culpa temerária. O Delegado não hesitou um segundo: indiciou-os por homicídio doloso qualificado pelo meio explosivo (art. 121, § 2º, inc. III CP). Insatisfeito, indiciou-os também pelo crime de perigo comum explosão (art. 251 CP). Ou seja, na opinião da autoridade policial a explosão de fogos de artifício, independentemente de algum dano ou perigo que venha concretamente a infligir a outrem, configura o crime de explosão. No réveillon, teríamos que usar o novo Maracanã como primeira carceragem privada do Rio de Janeiro para atender à demanda.

    Suprimir as fronteiras entre o dolo eventual e a culpa temerária é um dos dispositivos mais recorrentes no ativismo punitivista. De modo geral, no noticiário policial e na crônica forense, o “assumir o risco de produzir o resultado” (art. 18, inc. I CP) é interpretado como “correr o risco” (no que o dolo eventual não se diferenciaria em nada da culpa temerária) e não, como preconiza Zaffaroni, “em sua acepção forte de ‘avocar’, ‘apropriar-se’, ‘imputar-se’, a única compatível com a incorporação à vontade realizadora do agente de um efeito possível dos meios por ele escolhidos”[4]. Na verdade, a insustentável opção teórica pelo dolo eventual frequentemente está encobrindo uma opção ideológica pela pena mais grave, ainda que o delito tenha sido mais leve.

    A mais delicada questão que o caso oferece, contudo, reside nas dificuldades para imputar objetivamente ao manifestante que acendeu e lançou ao solo o rojão o resultado morte do cinegrafista. Sem dúvida está presente o mais elementar requisito para que a morte seja imputada ao manifestante: o nexo causal entre sua conduta e o resultado, requisitado pelo artigo 13 CP. No entanto, se perante uma visão baseada apenas na equivalência dos antecedentes (critério da conditio sine qua non) a conduta do manifestante foi causal, saltam aos olhos certas características do caso que questionam seriamente a imputação do resultado, a partir de um arco doutrinário que se iniciou historicamente com a categoria da causalidade adequada e hoje se espraia nas teorias pós-finalistas de imputação objetiva. Quem deixa de lado as paixões que conduzem o debate público do caso tem que deter-se sobre essas características, que permitem reconhecer ali um curso causal irregular ou inadequado. Arrolemos algumas dessas características. a) Rojões não são propriamente armas (ainda que possam ser utilizados como armas: para ficar num exemplo claro, A obriga B a abrir a boca e nela introduz e acende o artefato); b) rojões são licitamente comercializados, com a única proibição de serem vendidos a adolescentes; c) rojões são licitamente utilizados em muitas situações, dos festejos juninos a comemorações esportivas; d) o trajeto dos bólidos é desorientadamente errático e flexuoso, mesmo se o foguete for apontado para um alvo; e) no caso, o artefato foi, após aceso, colocado no chão, onde se concluiu automaticamente o procedimento de disparo; f) o objetivo do manifestante era que o rojão se deslocasse na direção dos policiais militares[5], não só protegidos por escudos como adestrados para proteger-se, tal como acontecera em tantos conflitos no país: a PM, atrás de seus escudos, disparando armas de fogo municiadas com balas de chumbo ou de borracha e também de gás lacrimogêneo ou de efeito moral, e os manifestantes, atrás de suas máscaras, disparando rojões e mais raramente coquetéis molotov; g) ressalvados acidentes juninos, nos quais preponderam auto-lesões, estamos diante de um raro – quiçá o primeiro – caso de um homicídio doloso cometido com o emprego de um rojão. Pois este curso causal evidentemente irregular ou inadequado está sendo açodada e levianamente equiparado ao homicídio de quem aponta, mira e dispara uma pistola a poucos metros de sua vítima, atingindo-a na cabeça.

    Nos crimes comissivos dolosos, é autor quem dispõe do domínio do fato, ou seja, quem decide – solitária ou compartilhadamente com algum coautor – sobre o “se”, o “quando” e o “como” do feito típico. Mas o domínio do fato abrange o domínio do curso causal que produzirá o resultado típico. Quando este curso causal, por sua irregularidade ou inadequação, não é dominável, é desnecessário investigar o domínio do fato, ou seja, a autoria. A dominabilidade do curso causal constitui o pressuposto objetivo do domínio do fato.

    O exemplo mais surrado da doutrina[6] (o sobrinho que estimula o tio a passear na montanha onde caem raios) será aqui “carioquizado”. A, sobrinho e herdeiro único de B, observando que em determinada ocasião toda semana explodia um bueiro da Light – que pena que nosso Delegado e nossa mídia estivessem então distraídos, porque ninguém se recorda da notícia de instauração de inquéritos policiais por aquelas explosões – convence-o, com o intuito de matá-lo, que o melhor lugar para assistir ao pôr-do-sol no Arpoador é postado sobre um enorme bueiro na calçada, sucedendo-se uma explosão e a morte de B. Pode este resultado morte ser imputado a A?

    A resposta negativa proveio, em primeiro lugar, da teoria da causação adequada, e para além dos trabalhos pioneiros de Von Bar e von Kries, na segunda metade do século XIX, podemos recorrer à filosofia de Spinoza: “chamo de causa adequada aquela cujo efeito pode ser percebido clara e distintamente por ela mesma; chamo de causa inadequada ou parcial, por outro lado, aquela cujo efeito não pode ser compreendido por ela só”[7]. Ao lançamento de um rojão associa-se clara e distintamente como efeito a morte de um homem?! Uma segunda resposta negativa proviria da consideração de que não se poderia reconhecer no sobrinho ambicioso a vontade de matar que é – e no direito penal brasileiro por imposição legal, releia-se o artigo 18, inc. I CP – a essência do dolo, e sim um mero desejo de que o tio morresse. Como lembrava Welzel, um dos inúmeros defensores dessa solução, em direito penal “querer” não significa “querer ter” ou “querer alcançar”, e sim “querer realizar”[8].

    Mas a superioridade dogmática da resposta negativa fundada na falta de dominabilidade (por alguns chamada “controlabilidade”, por outros “planejabilidade racional”) parece irrecusável. Diante de um curso causal irregular ou inadequado, insusceptível de domínio, a imputação do resultado ao autor é inadmissível devido – valham-nos palavras de Roxin – “ao caráter objetivamente casual (objektiven Zufälligkeit) do acontecimento”[9]. Se o nosso Delegado resolvesse fazer uma reconstituição do fato – a mídia gostaria muito – poderíamos verificar empiricamente se um rojão lançado naquelas condições, do solo, implica um curso causal dominável. A irrepetibilidade do fato confirmaria seu caráter casual.

    Nenhum desses problemas, aqui apressadamente esboçados, se apresentaria na imputação a título de culpa, ou seja, da produção por imprudência de resultado. O autor do crime culposo é apenas um causante (art. 18, inc. II CP) que não observou o cuidado exigível, e não um autor que domina o fato – inclusive o curso causal –, como nos crimes comissivos dolosos. Porém, como os âncoras poderiam encher a boca com a palavra “assassinos”, se o enquadramento jurídico-penal do caso fosse corretamente efetuado?

    O domínio do fato, que fez as delícias de muita gente no “caso mensalão”, pode ser agora um artefato teórico perigoso, se lançado ao caso do momento. Até quando as forças políticas progressistas não se darão conta dos perigos que a hipertrofia do sistema penal traz para a democracia? O sistema penal, Presidenta, também pratica, e massivamente, seus mal-feitos...


    (*) Professor titular de direito penal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    [1] Leite, Alaor, Domínio do fato, domínio da organização e responsabilidade penal por fatos de terceiros – sobre os conceitos de autor e partícipe na APn 470 do STF, em Revista Brasileira de Ciências Criminais, S. Paulo, ed. RT, v. 106, pp. 47 ss.
    [2] Reflexões sobre terrorismos, em Passetti, Edson e Oliveira, Salete (orgs.), Terrorismos, S. Paulo, 2006, ed. PUC-SP, pp. 13 ss.
    [3] Novisima Recopilación de las leys de España, liv. XII, tit. XIII, lei I: “Porque del traer de las máscaras resultan grandes males, y se disimulam con ellas y encubren; mandamos, que no haya enmascarados en el reyno, ni vaya con ellas ninguna persona disfrazada ni desconocida”. As penas eram, se se tratasse de “persona baxa”, cem açoites públicos; se se tratasse de “persona noble o honrada”, desterro por seis meses. No uso noturno da máscara, penas dobradas.
    [4] Zaffaroni, Raul et al, Direito Penal Brasileiro, Rio, 2010, ed. Revan, v. II, t. I, p. 276.
    [5] Não ingressarei no debate, que também interessará ao caso, acerca da aberratio ictus (art. 73 CP).
    [6] Não o mais antigo. Em 1894, Thyrén formulava o seguinte exemplo: A, totalmente desajeitado no manejo de armas dispara contra B, querendo matá-lo, a uma distância na qual nem mesmo um campeão de tiro conseguiria acertar, e não obstante B é atingido e morre. Cf. Gimbernat Ordeig, Delitos Cualificados por el resultado y causalidad, Madri, 1966, ed. Reus, p. 39.
    [7] Spinosa, Bento de, Ética, trad. T. Tadeu, B. Horizonte, 2007, ed. Autêntica, p. 163.
    [8] Welzel, Hans, Das Deutsche Strafrecht, Berlim, 1969, ed. W. de Gruyter, p. 66.
    [9] Roxin, Claus, Strafrecht A.T., Munique, 2006, ed. C. H. Beck, v. I.

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    Ivan de Union
    "Na verdade, a insustentável
    sab, 15/02/2014 - 18:09

    "Na verdade, a insustentável opção teórica pelo dolo eventual frequentemente está encobrindo uma opção ideológica pela pena mais grave, ainda que o delito tenha sido mais leve":

    O nome desse "ativismo punitivista" eh GIGOLAGEM DO ESTADO. Comunissimo nos Estados Unidos, que nao funcionaria sem ele, literalmente.

    http://jornalggn.com.br/blog/affon/as-duas-faces-do-dominio-do-fato-nilo-batista
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  • Isso se chama política de defesa dos Direitos Humanos. MST & Cia Bela organizam-se para fazer depredações, roubos e esbulhos, mas é ABSURDO CRIMINALIZAR um movimento social. Mascarados depredam, incendeiam e roubam, mas é ABSURDO CRIMINALIZAR O USO DE MÁSCARAS, o cidadão tem o direito de manter-se anônimo se assim o decidir. Frigir dos ovos: política de defesa dos Direitos Humanos implica em defender, proteger, amparar e justificar a prática de atos criminosos. A palavra do criminoso, quando alega "não ter tido a intenção" VALE SEMPRE.
  • Deixem-me ver se entendi:
    O tal Betto está dizendo que a CIA pagou a cada um dos 100.000 da dita marcha uma "baba" para saírem de casa, empunharem os cartazes e faixas, também pagos pela CIA, e dizerem que estavam com a família, com Deus e com a liberdade? Se A CIA não houvesse feito tal pagamento, tal marcha jamais aconteceria?
  • Um Regime de Fome
    Sempre houve fome no Brasil, desde a Colônia. A partir de 1964, mudanças profundas no modelo de desenvolvimento do País iriam agravar sensivelmente esta calamidade antiga. E, no começo dos anos 80, ao mesmo tempo em que se anunciavam safras recordes e o País se alçava à posição de quarto exportador mundial de alimentos, o Brasil passava ao sexto lugar no campeonato de desnutrição - atrás apenas da Índia, Bangladesh, Paquistão, Filipinas e Indonésia. Em abril de 1983, até mesmo São Paulo perdia o aspecto ordeiro de capital econômica do País: ocorrem movimentos espontâneos de saques a lojas e supermercados, principalmente nos bairros operários da zona Sul da cidade, envolvendo milhares de pessoas desesperadas pela falta de comida.

    Na verdade, a escassez de alimentos está ligada ao modelo de desenvolvimento do País. Voltando o seu lado mais moderno para os mercados do Exterior, a agricultura brasileira não se dedica, principalmente, a alimentar a população. A soja, por exemplo, desenvolveu-se com eficiência, mas seus primos pobres, como o arroz e o feijão - ao contrário dela, sem vez no mercado internacional-, apenas herdaram velhas mazelas, como a baixa produtividade e o crédito escasso, que ainda seriam agravadas por novas distorções.

    Até o começo da década de 60, a produção de alimentos cresceu constantemente no Brasil, pela simples expansão das terras cultivadas. Na década de 20, havia no Brasil 600 mil estabelecimentos agrícolas, numa área global de 170 milhões de hectares. Em

    1960, eram 3 milhões de propriedades, com uma área de 250 milhões de hectares. Mas a produtividade no campo era baixa. Um simples arado puxado por boi ou cavalo era raro. A imensa maioria dos proprietários usava enxada e foice no trato miúdo com a terra. As plantações eram abertas através de grandes "queimadas". O solo, usado até a exaustão, tinha de ficar em repouso por uns tempos, entre certos períodos. Repleta de imensas "manchas" improdutivas, a agricultura brasileira empregava, em 1962, 38 milhões de pessoas para alimentar uma população de 70 milhões. Nos EUA, 20 milhões produziam para 150 milhões de habitantes, e ainda com folga suficiente para tornar seu país a maior potência exportadora de alimentos do mundo.

    O Brasil colonial nunca teve uma política de abastecimento interno. Os trabalhadores dos engenhos - escravos - não eram preocupação: havia apenas uma recomendação do governo aos grandes senhores de terra para que permitissem aos escravos trabalhar para si mesmos um dia da semana - o sábado -, em uma pequena parcela da propriedade. Essa produção fornecia o alimento dos trabalhadores, geralmente mandioca. Além dos engenhos - o único interesse da metrópole portuguesa -, desenvolvia-se uma agricultura muito reduzida, para abastecer as cidades.

    Bóia fria 1

    No período imperial, com o crescimento da população, o abastecimento precisou crescer também. Mesmo com a proclamação da República, os grandes fazendeiros preservavam a mentalidade patriarcal do escravismo, repudiando qualquer regulamentação do Estado em suas relações com os trabalhadores. Uma política de nutrição, assim, só se tornaria uma preocupação real após a ascensão do empresariado industrial e o declínio das oligarquias latifundiárias, já na década de 30.

    Antes mesmo da revolução de 30, surgira a idéia de garantir um preço mínimo como forma de incentivar os produtores de artigos para o abastecimento interno, como feijão e trigo. A partir de 30, amadureceu uma idéia mais nova: garantir um salário mínimo ao trabalhador, já que, se este pudesse comprar, dificilmente a produção deixaria de ser estimulada. A idéia de preço mínimo fracassou, mas a garantia do salário transformou-se em uma importante conquista, concretizada através do Decreto-lei No. 399, de 1938. O Decreto-lei do salário mínimo exigia que este fosse suficiente para comprar uma ração básica, nutricionalmente satisfatória. Nos anos seguintes, porém, o salário mínimo foi perdendo grande parte do poder de compra que devia ter, por lei.

    No período que vai de 1945 até o golpe, as conquistas no campo da nutrição foram aprofundadas. A agricultura de consumo interno recebeu um relativo apoio. A produção de feijão, por exemplo, dobrou entre 1947 e 1963. Ao mesmo tempo, os salários recuperaram boa parte do seu valor, principalmente a partir de 1952. De modo que, a despeito do atraso que persistia no campo e das grandes proporções da fome (cerca de 30$ da população), nesse período, parte dos brasileiros pôde gozar de relativa fartura à mesa.

    Após 1964, a agricultura mudou para pior. E o grande surto de desnutrição dos anos 80, paradoxalmente, liga-se a uma série de melhorias técnicas importantes na produção de alimentos, possibilitadas pelas reformas iniciadas após o golpe.

    O Brasil tinha, por exemplo, uma sólida infra-estrutura técnica de centros de pesquisa agrícola, criados na década de 70. O Planalsucar, voltado para o desenvolvimento da cana, era um deles e serviu de base para uma extraordinária conquista, a do álcool combustível. Única no mundo, essa tecnologia permitiu substituir a gasolina importada a tal ponto que, em agosto de 1983, 89,9% da produção brasileira de carros era de motores a álcool.

    Em 1972, foi criada a Embrapa. Então, tinha nos seus quadros apenas três pós-graduados em universidades. Nos dez anos seguintes teria 175 profissionais com curso superior. Em 1964 havia apenas mil técnicos agrícolas e assistência rural abrangia 20% dos municípios nacionais; em 1982, se havia chegado a dez mil técnicos e 70% dos municípios. A produção de sementes, que é um fator-chave da modernização, cresceu 9.900% em apenas 20 anos. E novas variedades genéticas multiplicam enormemente o rendimento das safras.

    Com o crescimento da produção agrícola de exportação, o Brasil pôde explorar com mais agilidade os mercados internacionais. Foi assim que o café - campeão imbatível da pauta brasileira desde meados do século passado - foi destronado pela soja. Com melhores preços no mercado externo, sua produção subiu vertiginosamente: de quase zero, em 1963, para 15 milhões de toneladas em 1983. Em 1978, da já abocanhava sozinha 22% de toda a renda de exportação do País.

    Bóia fria 2

    Além disso, a nova orientação abriu o leque da produção agrícola. A produção da laranja cresceu cinco vezes nesse período. A produção de aves, também exportadas, cresceu três vezes e meia. Ao seu lado, cresceram também produtos de exportação, mais tradicionais, como o açúcar, o cacau e o algodão - todos importantes esteios do modo. De modo geral, a produção agrícola passou a crescer em ritmo significativamente mais rápido do que nos períodos anteriores a 1964.

    Ao mesmo tempo, começaram a despontar as fraquezas da modernização seletiva. Rapidamente, as novas prioridades passaram a afetar negativamente os artigos encontrados mais comumente à mesa do brasileiro: o arroz, o feijão, a mandioca, o milho, a cebola, a batata.

    Em 1983, em função de secas e inundações impiedosas, houve uma redução geral de 3 milhões de hectares na área plantada do país. No balanço final, porém, enquanto os produtos de abastecimento interno perderam quase 12% de área, os "exportáveis" arcaram com uma redução de menos de 1$. A cana, na verdade, ampliou seu território em mais de 14%.

    A política salarial pos-64 prejudica a alimentação das camadas pobres

    O descaso com o feijão - talvez o mais conhecido e generalizado componente da alimentação do brasileiro pobre - foi particularmente escandaloso. No começo dos anos 80, sua taxa de expansão já não acompanhava o ritmo de crescimento da população.

    O vilão não foi difícil de achar: entre 1970 e 1973, período inicial da meteórica ascensão, da soja, esta avançou principalmente à custa do milho, feijão e arroz.

    Entre 1967 e 1979, a agricultura de exportação cresceu à taxa formidável de 8,1%; mas os produtos da nutrição popular, apenas 0,9% ao ano.

    Além disso, a modernização pós-64 não foi tão longe quanto se pretendeu.

    Embora se anunciasse uma reforma agrária, as mudanças promovidas depois do golpe terminaram agravando a situação, concentrando ainda mais a propriedade da terra. O principal instrumento de apoio à lavoura - o crédito - atingiu apenas 34$ dos proprietários. O uso de fertilizantes era acessível a menos de 20%. A mecanização atingia somente 4,3$ dos estabelecimentos agrícolas. Em um Estado como São Paulo, o uso de tratores estava disseminado por 23,3$ dos estabelecimentos, enquanto no Nordeste apenas 0,4% tinha acesso a esse avanço.

    Para a grande massa da população, essas disparidades tiveram como conseqüência o aumento do preço dos alimentos. E a despesa com comida passou a consumir parcelas cada vez maiores dos salários mais baixos. Além do mais, uma das primeiras medidas tomadas após 64 havia sido a criação de uma nova e drástica lei salarial, com base na qual, pela primeira vez em muitos anos, os salários passaram a ser reajustados abaixo do aumento no custo de vida.

    A política salarial prejudicou o consumo das camadas mais pobres de outro modo ainda: com o crescimento de uma camada de altos salários, o mercado encheu-se de artigos mais caros - mais lucrativos -, que ocupavam o lugar dos mantimentos mais baratos. Resultado: o leite natural entrou em concorrência com grande número de seus derivados: queijos especiais, iogurtes e outros produtos industrializados.

    A maior participação do trigo no cardápio nacional também foi uma conseqüência do novo modelo agrícola. O pão e o macarrão, de fato, impediram uma fome ainda maior.

    O problema é que o trigo tinha que ser importado. Em 1984, aproximadamente 72% do trigo consumido no país ainda vinham de fora a um custo de 600 milhões de dólares, a despeito do crescimento do trigo nacional.

    Também não foi eliminado um dos mais graves desvios da agricultura brasileira o das "crises cíclicas". Entre 1964 e 1984, o País teve desde a crise do chuchu, da cebola_ e do quiabo até uma crise do milho, uma das mais saudáveis e mais antigas culturas nacionais, plantada desde os índios.

    Em 1983, os produtos agrícolas aumentaram seus preços quase duas vezes mais que os produtos industriais: 300% contra 170%. Ao longo de vinte anos, segundo mostram as estatísticas, os aumentos se acumularam preferencialmente nos artigos de consumo popular: e os que ganhavam menos foram também os que arcaram com os maiores aumentos.

    Em 1975, foi realizada a mais completa investigação sobre a nutrição no Brasil, coordenada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conhecida como ENDEF (Estudo Nacional de Despesa Familiar), essa pesquisa recolheu dados em 56 mil domicílios brasileiros e seus resultados puderam ser comparados aos da única outra grande investigação do gênero no País: o levantamento do Instituto Brasileiro de Economia (IBE), promovido em 1961/63 com a ajuda do Departamento da Agricultura dos EUA. A comparação mostrou que, de um terço, a desnutrição havia saltado para dois terços da população, entre as duas datas - de 27 para 72 milhões de pessoas. O ENDEF dizia ainda que havia um grande contingente de 13 milhões de pessoas que sofria de "desnutrição absoluta" em 1975, ingerindo menos de 1.600 calorias diárias. Eram pessoas cuja fraqueza já não lhes permitia sequer mover-se com desenvoltura.

    Com o êxodo rural fome aumenta nas regiões mais ricas do país

    Além disso, a fome deixara de ser um fenômeno basicamente nordestino, como indicava a primeira pesquisa. As mudanças econômicas haviam incentivado milhões de trabalhadores a deixarem suas terras, principalmente no Nordeste, concentrando-os na periferia das grandes cidades industriais. Em 1979, essa estratégia de desenvolvimento foi defendida pelo então ministro do Planejamento, Delfim Netto, sob a alegação de que o êxodo era um valioso incentivo industrial: o crescimento da oferta de mão-de-obra pressionaria os salários para baixo, reduzindo os custos de produção. Entre 1960 e 1980, 28 milhões de pessoas rumaram para o Sul. Apenas nos anos 70 migraram 16 milhões.

    Na mesma época, o ministro do Planejamento havia prometido "encher a panela dos brasileiros". Mas o que estava ocorrendo era o oposto: a fome se estava espalhando. Segundo o ENDEF, a parcela de desnutridos restrita ao Nordeste havia caído de 59% para 35%, entre 1961 e 1974. Isso não significa que a situação do Nordeste se tinha tornado melhor em termos absolutos: ali ainda se encontravam metade dos desnutridos do País; ocorre que os nordestinos, já não eram, porém, os únicos a passar fome no País: em 1975, 52% dos desnutridos estavam na região sul. Ainda de acordo com as pesquisas do ENDEF, uma análise das condições de nutrição no Brasil a partir de 1974 mostrava que uma em cada três famílias do Nordeste sofria de carência nutricional.

    Para São Paulo, a proporção era de uma em quatro famílias, e para o Rio uma em cinco. Até 47% das crianças nordestinas podiam ser consideradas carentes, e as taxas para São Paulo e Rio eram respectivamente 42% e 39%. Na época, concluía-se ainda que 12,6% das crianças nordestinas precisavam de "tratamento urgente" e 34% deviam ser mantidas sob "vigilância epidêmica" constante (os números respectivos para o Rio e São Paulo eram: 6,2% e 23%; 4,5% e 19%). Um estudo do Instituto de Planejamento Econômico e Social (IPEA) calculou que, em 1984, a fome atingia milhões de pessoas e podia estar gerando uma sub-raça de brasileiros, cujos filhos eram 16% menores e pesavam 20% a menos que a média das crianças no País. O ministro do Exército, General Walter Pires, alarmara-se ao constatar que até 47% das dispensas do serviço militar se deviam à carência nutricional dos convocados.

    Texto de "Retratos do Brasil" Vol 1 - págs 61 a 64
    Fotos de Sebastião Salgado
    http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=621
    A nossa realidade é moldada pelo que acreditamos ou preferimos não acreditar.
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    A Marcha com a Família foi a maior e a que ficou na memória das pessoas, mas houve trocentas passeatas de repúdio ao comunismo em 1964, em várias cidades e estados.
  • "Não entendi---Fidel Castro é Militar Cubano e Ditador.Voces querm Ditadura Militar?Apoiam então Fidel Castro? "
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Judas disse:
    Doente mental:
    O comunismo não falhou porque ele não existiu.O que falha todos os dias é o capitalismo, simples assim.
    Se o comunismo não existiu em lugar nenhum, como eles podem afirmar, cheios de certeza, de que ele é melhor que o capitalismo?
    Judas disse: Ou o mexicano que entra ilegalmente nos Estados Unidos. Esses também entram e saem livremente, não é... faça-me um favor.
    O ponto não é se o mexicano entra livremente nos EUA e sim que ele quer entrar, a ponto de arriscar sua vida.
    Judas disse: E como disse, só não vê quem não pensa ou não quer ver, porque sabe que a sua vida de trabalhador honesto e capitalisa só é possível porque outros morrem de fome por não terem oportunide de emprego, educação, saúde, e quando tem emprego, ganham um salário de fome.
    A velha escrotidão do "você só tem uma vida boa porque outros estão na miséria".


  • DIREITA02/MAY/2013 ÀS 18:13

    COMENTÁRIOSPor que Lobão e Roger se transformaram em dois derrotistas explícitos?
    Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar conservador? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família

    Cynara Menezes, em seu blog
    Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista. Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.
    Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido: os roqueiros Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Eu ia citar também Leo Jaime, outro direitoso do rock nacional, mas não posso classificá-lo como um derrotista típico –fora isso, no entanto, cabe perfeitamente no figurino que descreverei aqui. Os três são cinquentões: Lobão tem 55, Roger, 56 e Leo, 52.
    lobao-roger
    Lobão e Roger. A volta do filho (de papai) pródigo ou a revolta do roqueiro burguês? (Foto: Edição – Pragmatismo Politico)
    Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro. E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.
    Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido. O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo hidrófobo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”. No twitter (@lobaoeletrico), se diverte esculhambando o país e os brasileiros, sempre nos colocando para baixo. “Antigamente éramos um país pobre e medíocre… terrível. Hoje em dia somos um país rico e medíocre… pior ainda”, escreveu dia desses.
    LEIA TAMBÉM: MANO BROWN RESPONDE LOBÃO: “AGE COMO UMA PUTA PARA VENDER LIVROS”
    Os anos não foram mais generosos com Roger Moreira, do Ultraje. O cara que cantava músicas divertidíssimas como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Marylou ou Inútil virou um coroa amargo que deplora o Brasil e vive reclamando de absolutamente tudo com a desculpa de ser “contra os corruptos”. É um daqueles manés que vivem com a frase “imagine na Copa” na ponta da língua para criticar o transporte público, por exemplo, sem nem saber o que é pegar um ônibus. Os brasileiros, segundo Roger, são um “povo cego, ignorante, impotente e bunda-mole”. Sofre de um complexo de vira-lata que beira o patológico. Ao ver a apresentação bacana dirigida por Daniela Thomas ao final das Olimpíadas de Londres, tuitou, vaticinando o desastre no Rio em 2014: “Começou o vexame”. Não à toa, sua biografia na rede social (@roxmo) é em inglês.
    Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens. Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” –Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.
    O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia. O paulistano Roger estudou no Liceu Pasteur, na Universidade Mackenzie e nos EUA. Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo –infelizmente junto com o vigor criativo– o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivessem causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Roger e Lobão? Eu nunca mais ouvi nem sequer uma música nova vinda deles. O Ultraje, inclusive, se rendeu aos imbecis politicamente incorretos e virou a “banda do Jô” do programa de Danilo Gentili.
    Enfim, incrível seria se Mano Brown ou Emicida, nascidos na periferia de São Paulo, se tornassem, aos 50, uns reaças de marca maior. Pago para ver. Mas Lobão e Roger? Normal. O bom filho de papai à casa torna. A família deles, agora, deve estar orgulhosíssima.

    http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/por-que-lobao-e-roger-se-transformaram-em-dois-derrotistas-explicitos.html
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  • Essa é para o Acauan

    A história sinistra das milícias indígenas treinadas pelo exército para torturar índios



    Postado em 02 Apr 2014por : Diario do Centro do Mundo



    A história dos índios treinados para reprimir índios pelo exército é um dos capítulos mais sinistros e menos conhecidos da ditadura. As chamadas GRINs, Guardas Rurais Indígenas, eram milícias responsáveis pelo policiamento em áreas de Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Minas. Nos 50 anos do golpe, o DCM reproduz uma matéria publicada pelo Última Instância sobres as GRINs.



    O Reformatório Agrícola Indígena Krenak e Fazenda Guarani, dois centros de detenção de índios criados nas décadas de 1960 e 1970, representam apenas um dos aspectos do modelo de vigiar e punir imposto às aldeias nos anos de chumbo da ditadura. Nessa mesma época, a Ajudância Minas-Bahia da Funai também iniciou o treinamento das GRINs (Guardas Rurais Indígenas), em parceria com a Polícia Militar mineira. Elas eram, basicamente, milícias armadas com revólveres e cassetetes, integradas exclusivamente por índios, e responsáveis por ações de policiamento nas áreas indígenas. Foram instaladas GRINs em Goiás, Mato Grosso, Maranhão e Minas Gerais.

    A criação das Guardas foi amparada por uma portaria da Funai de setembro de 1969. Cabiam aos policiais indígenas prerrogativas como impedir invasões de terras, o ingresso de pessoas não autorizadas e a exploração criminosa dos recursos naturais nas áreas indígenas. Além disso, as Guardas também eram responsáveis por “manter a ordem interna”, coibir o uso de bebidas alcoólicas, “salvo nos hotéis destinados aos turistas”, e evitar que os índios abandonassem suas áreas para “praticar assaltos e pilhagens nas povoações e propriedades rurais próximas”.

    Orgulho nacional

    Em fevereiro de 1970, com pompa e cobertura de diversos órgãos de imprensa, foi realizada em Belo Horizonte a formatura das 80 primeiras GRINs. O evento teve como paraninfo o então ministro do Interior, José Costa Cavalcanti. Outras autoridades, como o governador de Minas Gerais Israel Pinheiro, e o ex-vice-presidente da República José Maria Alkmin, também estavam presentes.

    Vestindo o uniforme oficial da Guarda, em patrióticos tons de verde e amarelo, índios de diversas etnias – gavião, kraho, karajá, maxacali e xerente – cantaram o hino nacional, juraram à bandeira e fizeram demonstrações das técnicas de judô aprendidas nos três meses de curso. Noções de armamento, defesa e ataque, moral e cívica e até mesmo higiene estavam, de acordo com reportagem publicada no jornal O Globo, entre os tópicos ministrados aos guardas indígenas.

    Redescoberto somente no ano passado, o filme “Arara”, do documentarista Jesco von Puttkamer, traz imagens dessa cerimônia. Em determinado momento, desfilando em frente a autoridades, surgem dois índios, num ato de demonstração, carregando um homem no pau de arara – instrumento de tortura fartamente denunciado como um dos principais mecanismos empregados nos porões da ditadura militar brasileira.

    “Até hoje nunca tínhamos encontrado uma cena de tortura dessa forma, em público”, disse Marcelo Zelic, vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais em São Paulo, em entrevista concedida à TV Folha. Zelic localizou as imagens pesquisando nos arquivos do Museu do Índio, no Rio de Janeiro.

    Espancamentos e violência cultural

    Não demoraria muito para que as GRINs voltassem aos jornais, só que em circunstâncias menos festivas. Quatro meses depois da formatura de sua primeira turma, uma matéria do Estado de São Paulo relatou histórias escabrosas de espancamentos e arbitrariedades cometidos pelos índios-soldados na Ilha do Bananal, habitada pelos karajás.

    Entre elas, a de um caboclo residente nas proximidades, acusado de vender bebida aos índios. Ele teria sido obrigado, em retaliação, a praticar orgias sexuais dentro da aldeia. A Guarda também teria tentado instituir no local uma casa de prostituição, com índias treinadas por uma companheira que exercia o ofício em uma fazenda. Dois dias depois, em uma nova reportagem do Estadão, os policiais responsáveis pelo treinamento da milícia atribuíram tais denúncias a uma campanha de desmoralização contra as GRINs.

    Ao enxertar uma nova autoridade nas aldeias, completamente estranha às suas tradições, os mentores da Guarda Indígena acenderam um barril de pólvora no ambiente de conflitos internos envolvendo caciques, conselhos tribais e outras lideranças tradicionais.

    “Foi uma experiência desastrosa, das mais infelizes, porque subverteu toda a ordem social do grupo”, testemunharia em 2002, num depoimento para uma revista eletrônica da Funai, o então chefe substituto do Departamento de Assuntos Fundiários, Alceu Cotia Mariz. “Elementos que eram escolhidos por critérios que nada tinham a ver com os critérios da organização social do grupo e já não respeitavam ninguém, não respeitavam os líderes. Ele mesmo se tornava um líder, imbuído de autoridade. Evidentemente, isso levou a uma violência interna crescente.”

    Além disso, guardas de uma etnia eram colocados para vigiar outras tribos, acirrando conflitos étnicos históricos – foi o que ocorreu com os Avá-Canoeiros, policiados por Karajás. “Chegou-se ao desplante de criar as vilas GRINs nas reservas, com luz e água encanada”, completa João Geraldo Itatuitim Ruas, também ex-funcionário da Funai, descrevendo a segregação que se formava. “Naquela época, um GRIN ganhava 400 cruzeiros e a professora recebia 80.”

    Apesar de negativas públicas sobre eventuais arbitrariedades, ofícios da própria Ajudância Minas-Bahia não deixam dúvidas de que o órgão tinha conhecimento sobre atitudes inaceitáveis. Eles descrevem diversas situações de guardas que foram encaminhados para períodos de “reenquadramento disciplinar” no Reformatório Krenak.

    Casos como o do GRIN maxacali que, em maio de 71, foi acusado de forçar relações sexuais com uma índia casada, em avançado estado de gravidez, por meio de ameaças de prender seu marido. “Mediante tal ameaça, a índia acabou por aceitar e praticar a consumação do ato”, descreve relatório assinado pelo chefe de posto local.

    Como penalização pelo estupro, o então chefe da Ajudância Minas Bahia, Capitão Manoel dos Santos Pinheiro, determinou a permanência do guarda por 30 dias no Reformatório Krenak – dez deles preso e, no restante do tempo, prestando serviços de vigilância. Ele continuou entre os quadros da Guarda Indígena.

    Por mais estranho que pareça, alguns dos membros das GRINs foram recrutados diretamente entre os ex-internos do reformatório – mais precisamente, entre aqueles que eram considerados leais, trabalhadores e disciplinados. Para esses índios, sugerem ofícios da Funai, o desejo de se tornar policial remete a tal função ser vista como uma porta de saída para o confinamento. “O elemento está se recuperando dia a dia, tem trabalhado muito bem em todos os serviços braçais. Está ansioso para ser colocado na Guarda Rural Indígena”, escreve o chefe do Posto sobre um índio Fulni-ô lá chegado há 14 meses, sob acusação de vadiagem e uso de drogas.

    “Eu gostava de ser policial, só que os índios não gostavam”

    Na segunda metade da década de 1970, a estrutura das GRINs morreu de inanição: deixou de receber recursos e muitos dos seus membros foram incorporados ao corpo de servidores regulares da Funai.

    Ainda hoje, em algumas comunidades, é possível encontrar ex-integrantes da milícia. E, mesmo entre eles, há sentimentos dúbios sobre a Guarda. “Eu gostava de ser policial, pois recebia as roupas e todos os materiais. Só que os índios não gostavam. Polícia não é cultura do índio, é do pessoal branco”, comenta o ex-GRIN Totó Maxacali, em sua casa na Aldeia Verde, município de Ladainha (MG), onde hoje ele vive, com dezenas de famílias da etnia.

    Por incrível que pareça, para falar com ele preciso recorrer a um maxacali mais jovem, que faz às vezes de intérprete. Apesar dos meses de treinamento militar, e de ter jurado à bandeira em Belo Horizonte, Totó ainda mal consegue, 40 anos depois, se comunicar em português. “Imagina só a violência que foi pegar esse pessoal e levá-los para serem treinados como polícia repressiva?”, diz Geralda Chaves Soares, pesquisadora da história indígena em Minas Gerais. Ela viveu com os maxacalis na década de 1980, quando era integrante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

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  • emmcri disse: integrante do Cimi (Conselho Indigenista Missionário).

    Por que não estou surpreso?

  • “Preconceito contra Bolsa Família é fruto da imensa cultura do desprezo”, diz pesquisadora.
    Com Isadora Peron

    O Programa Bolsa Família fez 10 anos no domingo, dia 20. Quando foi lançado, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, atendia 3,6 milhões de famílias, com cerca de R$ 74 mensais, em média. Hoje se estende a 13,8 milhões de famílias e o valor médio do benefício é de R$ 152. No conjunto, beneficia cerca de 50 milhões de brasileiros e é considerado barato por especialistas: custa menos de 0,5% do PIB.
    Para avaliar os impactos desse programa a socióloga Walquiria Leão Rego e o filósofo italiano Alessandro Pinzani realizaram um exaustivo trabalho de pesquisa, que se estendeu de 2006 a 2011. Ouviram mais de 150 mulheres beneficiadas pelo programa, localizadas em lugares remotos e frequentemente esquecidos, como o Vale do Jequitinhonha, no interior de Minas.
    O resultado da pesquisa está no livro Vozes do Bolsa Família, lançado há pouco. Segundo as conclusões de seus autores, o incômodo e as manifestações contrárias que o programa desperta em alguns setores não têm razões objetivas. Seria resultado do preconceito e de uma cultura de desprezo pelos mais pobres.
    Os pesquisadores também rebatem a ideia de que o benefício acomoda as pessoas. “O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida como qualquer pessoa”, diz Walquiria, que é professora de Teoria da Cidadania na Unicamp.
    Na entrevista abaixo – concedida à repórter Isadora Peron – ela fala desta e de outras conclusões do trabalho.
    Como surgiu a ideia da pesquisa?
    Quando vimos a dimensão que o programa estava tomando, atendendo milhões de famílias, percebemos que teria impacto na sociedade. Nosso objetivo foi avaliar esse impacto. Uma vez que o programa determina que a titularidade do benefício cabe às mulheres, era preciso conhecê-las. Então resolvemos ouvir mulheres muito pobres, que continuam muito pobres, em regiões tradicionalmente desassistidas pelo Estado, como o Vale do Jequitinhonha, o interior do Maranhão, do Piauí…

    walquiria544.jpg

    E quais foram os impactos que perceberam?
    Toda a sociologia do dinheiro mostra que sempre houve muita resistência, inclusive das associações de caridade, em dar dinheiro aos pobres. É mais ou menos aquele discurso: “Eles não sabem gastar, vão comprar bobagem.” Então é melhor que nós, os esclarecidos, façamos uma cesta básica, onde vamos colocar a quantidade certa de proteínas, de carboidratos… Essa resistência em dar dinheiro ao pobres acontecia porque as autoridades intuíam que o dinheiro proporcionaria uma experiência de maior liberdade pessoal. Nós pudemos constatar na prática, a partir das falas das mulheres. Uma ou duas delas até usaram a palavra liberdade. “Eu acho que o Bolsa Família me deu mais liberdade”, disseram. E isso é tão óbvio. Quando você dá uma cesta básica, ou um vale, como gostavam de fazer as instituições de caridade do século 19, você está determinando o que as pessoas vão comer. Não dá chance de pessoas experimentarem coisas. Nenhuma autonomia.
    Está dizendo que essas pessoas ganharam liberdade?
    Estamos tratando de pessoas muito pobres, muito destituídas, secularmente abandonadas pelo Estado. Quando falamos em mais autonomia, liberdade, independência, estamos nos referindo à situação anterior delas, que era de passar fome. O que significa dizer de uma pessoa que está na linha extrema de pobreza e que continua pobre ganhou mais liberdade? Significa que ganhou espaços maiores de liberdade ao receber o benefício em dinheiro. É muito forte dizer que ganhou independência financeira. Independência financeira temos nós – e olhe lá.
    O que essa liberdade significou na prática, no cotidiano das pessoas?
    Proporcionou a possibilidade de escolher. Essa gente não conhecia essa experiência. Escolher é um dos fundamentos de qualquer sociedade democrática. Que escolhas elas fazem? Elas descobriram, por exemplo, que podem substituir arroz por macarrão. No Nordeste, em 2006 e 2007, estava na moda o macarrão de pacote. Antes, havia macarrão vendido avulso. O empacotamento dava um outro caráter para o macarrão. Mais valor. Elas puderam experimentar outros sabores, descobriram a salsicha, o iogurte. E aprenderam a fazer cálculos. Uma delas me disse: “Ixe, no começo, gastei tudo na primeira semana”. Depois aprendeu que não podia gastar tudo de uma vez.
    A que atribui a resistência de determinados setores da sociedade ao pagamento do benefício?
    O Bolsa Família é um programa barato, mas como incomoda a classe média (ela ri). Esse incômodo vem do preconceito.
    Fala-se que acomoda os pobres.
    Como acomoda? O ser humano é desejante. Eles querem mais da vida, como qualquer pessoa. Quem diz isso falsifica a história. Não há acomodação alguma. Os maridos dessas mulheres normalmente estavam desempregados. Ao perguntar a um deles quando tinha sido a última vez que tinha trabalhado, ele respondeu: “Faz uns dois meses, eu colhi feijão”. Perguntei quanto ele ganhava colhendo feijão. Disse que dependia, que às vezes ganhava 20, 15, 10 reais. Fizemos as contas e vimos que ganhava menos num mês do que o Bolsa Família pagava. Por que ele tem que se sujeitar a isso, praticamente à semiescravidão? Esses estereótipos tem que ser desfeitos no Brasil, para que se tenha uma sociedade mais solidária, mais democrática. É preciso desfazer essa imensa cultura do desprezo.
    No livro a senhora diz que essas mulheres veem o benefício como um favor do governo.
    Sim, de 70% a 80% ainda veem o Bolsa Família como um favor. Encontramos poucas mulheres que achavam que é um direito. Isso se explica porque temos uma jovem democracia. A cultura dos direitos chegou muito tarde ao Brasil. Imagino que daqui para a frente a ideia de que elas têm direito vai ser mais reforçada. Para isso precisamos, porém, de políticas públicas específicas. Seriam um segundo, um terceiro passo… Os desafios a partir de agora são muito grandes.

    Qual é a sua avaliação geral do programa?
    Acho que o Bolsa Família foi uma das coisas mais importantes que aconteceram no Brasil nos últimos anos. Tornou visíveis cerca de 50 milhões de pessoas, tornou-os mais cidadãos. Essa talvez seja a maior conquista.
    Entre as mulheres que ouviu, alguma foi mais marcante para a senhora?
    Uma das mais marcantes foi uma jovem no sertão do Piauí. Ela me disse: “Essa foi a primeira vez que a minha pessoa foi enxergada”. Tinha uma outra, do Vale do Jequitinhonha, que morava num casebre, sozinha com três filhos. Quando começou a contar a história dela, perguntei qual era a sua idade, porque parecia que já tinha vivido muita coisa. Ela respondeu: “29 anos”. E eu: “Mas só 29?” Ela: “Mas, dona, a minha vida é comprida, muito comprida.” Percebi que falar que “a minha vida é muito comprida” é quase sinônimo de “é muito sofrida”.
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  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Lula, já demonstrei aqui, não gostava do que chamou depois de “Bolsa Família”. Era ele quem chamava o programa de “Bolsa Esmola”. Provo também. Segue o filme.

    Lula já era presidente em 9 de abril de 2003. Num evento no agreste nordestino, em companhia de Ciro Gomes, afirmou que o Bolsa Família deixava os pobres vagabundos, sem vontade de plantar macaxeira. Leiam. Encerro depois.



    ‘Eu, um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.”


    http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-mentiras-sordidas-de-lula-em-salvador/
  • Ouvi falar que gente que recebe o bolsa família, ao conseguir um emprego, exige que o patrão NÃO O REGISTRE. Assim ganha duas fontes de renda... É verdade ou mentira?
  • Leandro_Leandro_ Membro
    edited abril 2014 Vote Up0Vote Down
    Botanico disse: Ouvi falar que gente que recebe o bolsa família, ao conseguir um emprego, exige que o patrão NÃO O REGISTRE. Assim ganha duas fontes de renda... É verdade ou mentira?

    Conheço pessoas que trabalham informalmente, faturam até mais que um salário e mesmo assim não abrem mão do BF.


    Post edited by Leandro_ on
  • Maconha deve ser legalizada, e traficantes da droga, anistiados1542
    Jean Wyllys
    Jean Wyllys
    Especial para o UOL
    30/04/201406h00
    http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/04/30/maconha-deve-ser-legalizada-e-traficantes-da-droga-anistiados.htm

    Legalizar a cannabis e acabar com a guerra às drogas não é somente uma questão de liberdades individuais. É também uma questão de segurança pública e de direitos humanos.

    A guerra às drogas está dizimando a juventude mais pobre das periferias, que morre vítima das lutas de facções, da repressão ao tráfico, da violência policial e das milícias. Ou é encarcerada pelo comércio ilegal de drogas ou, em muitos casos, pelo uso delas.

    Dependendo da cor e da classe social, a mesma quantidade de substância pode ser considerada para uso ou para tráfico, e a pessoa pode ir parar em presídios superlotados, que são verdadeiros infernos e escolas do crime.

    Por isso, o projeto de lei 7270/2014, que protocolei na Câmara dos Deputados, faz muito mais do que legalizar a maconha: ele propõe uma série de mudanças radicais na política de drogas do Brasil.

    A legalização tem sido o aspecto mais comentado do projeto, tanto por aqueles que são a favor quanto por aqueles que se opõem, mas a proposta vai além. Entre a lei e sua justificativa, são 60 páginas que recomendo ler a quem quiser criticá-lo. E neste artigo quero falar sobre um ponto do projeto em particular: a anistia.

    Números

    Mas antes disso, como diz o mestre Eugênio Raul Zaffaroni (jurista argentino), "vamos ouvir a palavra dos mortos". De acordo com o Ministério da Saúde, o uso de drogas matou 40.692 pessoas entre 2006 e 2010. Desse total, 34.573 (84,9%), morreram em decorrência do abuso (não confundir com o uso) do álcool, e 4625 (11,3%), do tabaco.

    Quer dizer: 96,2% das mortes diretamente relacionadas ao uso de drogas foram causadas por duas substâncias que, na atualidade, são lícitas. A droga cujo abuso mais mata, o álcool, não só é comercializada legalmente, como também tem propaganda na televisão — feita até por deputados!

    E a maconha? No relatório, ela sequer é mencionada porque é raro alguém morrer por overdose de cannabis, que, no entanto, é ilegal. Vejam que contradição! Mas tem uma série de dados em que os números se invertem: quando falamos das mortes decorrentes do tráfico ilegal e da guerra às drogas.

    Lula Marques/Folhapress
    A droga cujo abuso mais mata, o álcool, não só é vendida legalmente, como também é vendida na televisão - até por deputados!
    Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), sobre a diferença de mortes por abuso de álcool e drogas ilícitas
    A proibição mata muito mais do que o uso de qualquer droga. E como a maconha, segundo a ONU, é a droga consumida por 80% dos usuários de drogas ilícitas, podemos dizer que a proibição da maconha é o que mais mata.

    De acordo com um relatório dos repórteres Willian Ferraz, Hugo Bross, Kaio Diniz e Vanderson Freizer, 56% dos assassinatos no Brasil têm ligação direta com o tráfico. Os mortos, em sua grande maioria, são jovens pobres de 15 a 25 anos. E são mais de 50 mil mortes por ano.

    Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), só no Rio de Janeiro, em 2013, houve 4761 homicídios, 16,7% mais que em 2012. Desse total, 416 foram assassinatos cometidos pela polícia e registrados sob o eufemismo de "auto de resistência". O panorama é assustador em todo o país.

    Entre 1980 e 2010, a taxa de mortalidade por armas de fogo no Brasil cresceu de 7,3 a 20,4 por cada 100 mil habitantes, mas esse número, já altíssimo, dobra quando falamos dos jovens: quando as vítimas têm entre 15 e 29 anos, a taxa é 44,2. E a principal causa disso é a guerra às drogas.

    Mas essa "guerra" impediu que as pessoas consumissem drogas ilícitas? Não. De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas da Unifesp, a maconha é consumida por mais de um milhão de brasileiros, e 7% dos adultos já fumaram alguma vez. Dentre eles, 62% tiveram o primeiro contato com a maconha antes dos 18 anos de idade.

    Hoje, como a maconha é liberada, não tem maneira de impedir que um menor de idade vá comprar numa "boca". E todo o mundo sabe onde fica a boca mais próxima.

    A política de guerra às drogas - além de não diferenciar o uso do abuso de drogas e nem reduzi-los, não regular o comércio, não controlar a qualidade das drogas que são vendidas, não recolher impostos, não impedir o acesso a elas dos menores de idade, gastar fortunas e matar milhares de pessoas a cada ano - também envia milhares de jovens para os presídios.

    A guerra às drogas, além de ser cara e inútil, está produzindo uma tragédia
    Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), sobre a política de combate ao tráfico de entorpecentes
    De acordo com dados coletados pelo portal G1, o total de pessoas encarceradas no Brasil é de 563.723 (bem mais que a capacidade das prisões, que é de 363.520 vagas), e em 20 anos esse número aumentou em 450%.

    O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, depois da China, dos EUA e da Rússia, e, de acordo com dados do Ministério da Justiça de dezembro de 2012, a maioria dos presos é jovem (52% têm entre 18 e 29 anos), negro ou pardo (58%), e quase um de cada quatro (24%) está preso por comércio de drogas ilícitas.

    O que esses números e outros que poderiam ser mencionados mostram é que a guerra às drogas, além de ser cara e inútil, está produzindo uma tragédia. Por isso, além de legalizar e regulamentar o comércio de maconha, meu projeto propõe duas medidas que, eu sei, serão polêmicas — e peço atenção, porque provavelmente serão distorcidas pelos fundamentalistas de sempre —, mas considero que sejam imprescindíveis para reduzir a violência e a criminalidade (e a criminalização muitas vezes desnecessária).

    O projeto

    Em primeiro lugar, proponho uma anistia geral para todas as pessoas presas, processadas ou indiciadas por tráfico de maconha. Isso não inclui aqueles que tenham praticado outros crimes (por exemplo, quem tiver matado), e nem os policiais e outros agentes públicos envolvidos no tráfico.

    O objetivo dessa primeira anistia, que é uma consequência lógica da descriminalização do comércio de cannabis (mas, por uma questão de técnica legislativa, precisava ser explicitada), é liberar aqueles que tenham sido presos ou acusados apenas por vender maconha. A maioria é composta por vapores, aviões, pequenos assalariados do tráfico, jovens e adolescentes que moram nas periferias e nas favelas e que entraram no "movimento" porque era o que o país lhes oferecia para ser alguém na vida.

    Leo Franco/Agnews
    Proponho uma anistia geral para todas as pessoas presas, processadas ou indiciadas por tráfico de maconha, exceto para policiais e para aqueles que tenham praticado outros crimes
    Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), sobre um dos pontos do projeto de lei que protocolou na Câmara dos Deputados
    O conceito de traficante está inchado porque inclui, como se da mesma coisa se tratasse, o chefe de uma quadrilha internacional e o menino pobre que trabalha (sim, trabalha) no último elo da cadeia do tráfico. E somente esses últimos é que são presos, na maioria dos casos, e têm a vida estragada quando ela apenas começou.

    Inserção na sociedade

    O Estado é culpado por esses meninos terem se envolvido no tráfico, porque a escolha deles é consequência direta de outras muito mais erradas que o Estado tem feito nas últimas décadas. Em vez de trancafiá-los num presídio e condená-los à marginalidade e ao crime, o país deveria lhes oferecer uma alternativa de vida.

    A lei que proponho dá o primeiro passo, deixando esses jovens em liberdade e apagando seus antecedentes, que são a marca que o sistema punitivo deixa neles para sempre, para que nunca mais deixem ser rotulados como "bandidos". O poder público deverá completar a tarefa, fazendo da legalização uma transição entre o velho e o novo, mudando o contexto em que esses jovens vivem.

    A segunda anistia explica por que não seguimos o modelo uruguaio de legalização da maconha, que estabelece o controle estatal da produção e comercialização: esse modelo resolveria a questão das liberdades individuais (o direito dos usuários de maconha a comprar a planta e seus derivados legalmente), mas de nada servia para acabar com o tráfico ilegal e oferecer uma saída a esses jovens.

    Luis Macedo/Câmara dos Deputados
    O conceito de "traficante" está inchado, porque inclui o chefe de uma quadrilha internacional e o menino pobre que trabalha no último elo da cadeia do tráfico
    Jean Wyllys, deputado federal (PSOL-RJ), sobre a política de combate às drogas
    Por isso, estamos propondo que, depois da sanção da lei e por um determinado prazo, outra anistia seja oferecida àqueles que praticam o comércio ilegal da maconha e de outras drogas e não foram ainda indiciados ou condenados por isso, mas querem se inserir na legalidade.

    Isso quer dizer que o dono de uma "boca" poderá se registrar como comerciante legal de maconha, cumprindo todos os requisitos da lei, abandonando as armas e a violência, assim como o comércio das outras drogas ainda ilícitas, e pagando impostos (que, imagino, serão mais baratos que a propina da polícia). E viramos a página.

    Eles não poderão ser presos por terem sido, antes disso, traficantes, desde que não tenham cometido crimes violentos.

    A legalização da maconha é um primeiro passo que, feito dessa maneira, além de garantir as liberdades individuais dos usuários, será uma ferramenta fundamental para reduzir a violência, deixar de encher nossas prisões e acabar com uma guerra que já matou gente demais.

    O resto do trabalho deverá ser feito, a médio e longo prazo, por uma política de Estado diferente da atual, que ofereça outras oportunidades de vida àqueles que hoje têm o comércio ilegal de drogas como única saída. Não vai ser com mais militarização e mais polícia que vamos resolver esse problema.
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  • Mesmo sendo um analfabeto político Lobão deu um baile nos jornalistas no Roda Viva

    http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-baile-que-os-jornalistas-levaram-de-lobao-no-roda-viva/


    Não contribuí para o traço do Roda Viva com Lobão, mas como Kiko Nogueira postou o vídeo em seu artigo sobre o programa acabei vendo.

    O que mais me incomodou no programa foram os jornalistas, para ser franco. Eles acabaram sendo dominados facilmente por Lobão, que é o chamado fanfarrão: fala, fala, fala.

    Ele tem traquejo com o microfone, ao contrário dos jornalistas convidados.

    Mas a falta de familiaridade com tevê não foi o maior defeito deles: foi a falta absoluta de combatividade. Num certo momento, todos estavam rindo das histórias de Lobão, como se estivessem num bar do Leblon.

    Isso não é jornalismo.

    Numa entrevista, aprendi logo em minha carreira, você não pode ficar aquiescendo com o rosto a cada resposta do entrevistado. Você o eleva e se rebaixa.

    Ninguém, na mídia, fez entrevistas como a Playboy, e estou me referindo, naturalmente, à edição original, a americana de Hugh Heffner.

    Uma entrevista com o então jovem Robert de Niro teve que ser interrompida porque, conforme depois explicaria no texto o entrevistador, de Niro diante de uma questão aguda pegou o gravador e atirou na parede.

    Isso é jornalismo.

    Houve tímidas tentativas de jornalismo de dois entrevistadores de Lobão: Julia Dualib, do Estadão, e Alex Solnik, da Retratos do Brasil.

    Mas não houve continuidade.

    A melhor pergunta foi de Julia. Agora que se tornou um repetidor tagarela do arquidireitista Olavo de Carvalho, que Lobão tem a dizer de coisas como o aborto?

    Ele enrolou, não respondeu – e não foi cobrado por Julia ou qualquer outro dos entrevistadores.

    Defender o aborto poderia fazer Lobão, hoje uma olavete, cair no desagrado de seu mentor. Criticar seria mostrar que ele vive num planeta paralelo.

    Algumas oportunidades boas de enriquecer a conversa foram deixadas de lado. Se é verdade que Lobão foi banido da Globo por ordens do próprio Roberto Marinho por ter defendido Lula em 1989, como ele disse, isso tinha que ser debatido calmamente.

    Lobão fez ali uma denúncia involuntária, mas ninguém percebeu, entre os risos cúmplices pela graça com que a história foi contada.

    O despreparo ficou claro em outras passagens: Lobão, por exemplo, fez a apologia do livre mercado.

    Ele faz ideia de que não vigora o livre mercado na mídia que o louva tanto depois que ele virou de direita?

    Vigora na mídia – e isso é indecente – uma reserva de mercado que veda aos entrangeiros entrar no Brasil. Eles podem ter apenas 30% das ações.

    Seria bom ver o que Lobão pensa disso, mas para tanto os jornalistas teriam que perguntar (e saber também).

    Augusto Nunes fez sua parte, também. Perguntou, do nada, o que Lobão pensa de Dilma.

    Todos sabemos o que ele pensa de Dilma. Ou o que ele pensa hoje, porque é um sujeito que muda de opinião com frequência.

    Também sabemos o que Lobão pensa de Chico, e ele mais uma vez repetiu extensamente suas opiniões contra Chico.

    Lobão criticar Chico equivale a Olavo de Carvalho criticar Platão, tamanha a diferença da obra, da estatura e da importância histórica.

    Gosto de algumas músicas de Lobão, mas toda a sua obra é menor que uma só canção de Chico, e isto é simplesmente indiscutível. Roda Viva, para citar uma música apropriada ao tema de que tratamos aqui.

    Lobão é o chamado analfabeto político: fala coisas sem sentido que ouviu de terceiros. Disse que Jango fugiu: que ele queria, que Jango promovesse uma guerra civil na qual milhares de brasileiros morreriam?

    Justifica a ditadura militar sob a “ameaça” do golpe comunista. Ora, os Estados Unidos cansaram que derrubar governos populares apenas para preservar seus interesses, e sempre usando aquela falácia.

    O primeiro da lista foi Jacobo Arbens, da Guatemala, em 1954. Arbens cometeu o pecado de desapropriar parte das plantações de banana de uma empresa americana para promover uma reforma agrária. A partir dali, o mundo conheceria a Guatemala, e a todos nós latino-americanos, como Repúblicas das Bananas.

    Lobão repete, com graça, o bestialógico de Olavo de Carvalho, até na parte em que vê um Obama socialista, aspas e pausa para rir.

    Mas duro mesmo foi ver o comportamento dos jornalistas. Não falo do moderador, que deixou de ser jornalista há décadas, mas da bancada dominada por Lobão como se fosse um rebanho de fãs.
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  • emmcri disse: Defender o aborto poderia fazer Lobão, hoje uma olavete, cair no desagrado de seu mentor. Criticar seria mostrar que ele vive num planeta paralelo.

    E desde quando o "aluno" precisa concordar 100% com seu "mestre"?
  • Fernando_SilvaFernando_Silva Administrador, Moderador
    Judas disse: Valeu a pena, a petralhada está desesperada. Se o "PIG" e a oposição não ferrarem com tudo de novo eu acredito que o PT se vai ainda nessa eleição.
    Não exatamente. Pode até perder a presidência, mas vai continuar sabotando quem ganhar através dos parlamentares petistas e aliados, como fez durante o governo FHC.

    E agora vai ser pior, já que a máquina do Estado foi aparelhada com milhares de pelegos petistas que entraram por concurso e não podem ser demitidos. Vão apelar para "manter as conquistas" e "combater o neoliberalismo" e impedir qualquer avanço.
  • Judas disse: O jeito é quem ganhar se aliar ao PMDB e fazer do PT e aliados minoria absoluta.

    Eu estava pensando o seguinte, se o PT não ganhar esta eleição a merda pode ser pior. É evidente que vai ter que haver medidas nada populares para se colocar ordem na casa .Se o PT continuar ele terá que tomar essas medidas , se outro partido ganhar eles vão ficar metendo o pau e podem voltar com mais força ainda para acabar de fuder com o País .
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  • "Por que o número de beneficiários do Bolsa Família só cresce?"
    "O governo usa o Bolsa Família como exemplo de uma medida bem sucedida. Mas como um programa criado para tirar pessoas da pobreza pode ser elogiado se o número de dependentes aumenta a cada ano?"

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/numero-de-beneficiarios-do-bolsa-familia-so-cresce



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